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Incontáveis inquéritos mostraram a correlação entre o grau de confiança nas relações sociais e o desenvolvimento de um país, e numerosos estudos tentaram explicar a relação causal bidireccional entre ambas. A coisa compreende-se sem dificuldade porque, para a colocar em termos anedóticos, a desconfiança nas relações sociais obriga a que cada um esteja sempre com um olho no burro e outro no cigano, faz perder o foco, gastar mal o tempo e o dinheiro. Não deve surpreender ninguém que o nível de confiança no Portugal dos Pequeninos rivalize com o dos países balcânicos, que, ao contrário do que se passa na nossa Jangada de Pedra, têm a justificativa de não serem sociedades homogéneas do ponto de vista étnico e religioso.
4 comentários:
Quando há uns anos vivi dois meses numa zona rural da Suíça, observei que os lavradores locais deixavam no centro da aldeia sacos de 5 quilos de maçãs com uma caixa ao lado para as pessoas que quisessem comprar aquelas maçãs deixassem uma moeda de 5 francos em troca. As maçãs estavam lá abandonadas e qualquer um as podia roubar. Mas os agricultores confiavam em que quem as quisesse as pagaria.
Também vi vastos campos cultivados de couves sem qualquer proteção. Qualquer pessoa podia, a coberto da noite, saltar da estrada para o campo cultivado e roubar umas couves. Era fácil. Mas os agricultores confiavam, provavelmente com bom fundamento, que ninguém o faria.
Na minha aldeia há uma pessoa que instalou uma plantação de kiwis e colmeias para mel. Teve que rodear tudo com arame farpado, catos com picos, silvas, e câmaras de videovigiância, para evitar que penetrassem na propriedade para roubar ou fazer estragos (ou deitar lixo, uma outra prática muito corrente por ali, atirar lixo para as propriedades de outrém).
O comentário do Luís Lavoura é muito pertinente. Aquilo que seria preciso averiguar nesta questão da desconfiança das populações é o porquê de os portugueses serem mais desconfiados do que outros europeus. Como bem ilustra o caso da plantação de kiwis e colmeias relatado pelo Luís Lavoura, poderá haver motivos válidos para as pessoas serem mais desconfiadas aqui no rectângulo.
Infelizmente, não será nada fácil demonstrar ou não a validade desses motivos. Haver pessoas que se aproveitam da boa vontade das outras não aparece na generalidade das estatísticas oficiais.
Não posso deixar, ainda assim, de ficar algo perplexo com esta passagem do texto desta posta:
«(…) têm a justificativa de não serem sociedades homogéneas do ponto de vista étnico e religioso.»
Mas então o multiculturalismo e a diversidade não eram (são) a nossa força???
Afonso de Portugal,
no caso referido dos roubos (e deposição de lixo) em espaço rural, a minha impressão é que muitos deles radicam na inveja. As pessoas pobres têm inveja das ricas, sentem-se despeitadas e, para se vingarem, roubam ou degradam propositadamente.
Mas isto é somente um palpite, e certamente que não se aplica a todos os casos.
Uma familiar minha, que não é de forma nenhuma rica, queixa-se de batatas que lhe são roubadas de um campo que fica mais longe da aldeia. Nesse caso os perpetradores serão talvez uns ciganos que, já há muitos anos, acampam num local próximo. Esses não roubarão por inveja mas sim para comer.
o multiculturalismo e a diversidade não eram (são) a nossa força?
Creio que nunca ninguém disse tal coisa.
E, qual o espanto? Numa sociedade de mentalidade claramente socialista, qual o espanto dessa inveja dos pobres face aos ricos que refere!? Nenhum! Ser rico neste país ou ser apenas um empresário é quase que sinónimo de se ser um malfeitor nas cabecinhas de muita gente. Bom, bom são as grandoladas e os contos de fadas que os autoproclamados donos do 25 de Abril nos contam. Inveja é o resultado normal desta mentalidade.
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