Costa já tinha virado várias páginas e a semana passada, a propósito da recuperação das promoções automáticas independentes do mérito dos professores (a que chamam progressão na carreira), virou mais uma, desta vez para trás, e disse: «É muito simples. Não há dinheiro.»
Não sei o que mais admirar, se a desfaçatez de Costa, depois de tudo o que vem dizendo desde que despejou Seguro da liderança, se a lata do ministro da Educação que funcionou como procurador da Fenprof e adjunto de Mário Nogueira até recentemente e agora arreganha os dentes, se o calibre da garganta de comunistas e berloquistas que engolem tudo com medo de expirar o seu seguro de vida e de virem a pagar por isso nas eleições.
Seja como for, a avaria irreparável da geringonça que vem sendo anunciada nestas crónicas está cada vez mais próxima e, lamentavelmente, deixará uma avaria no país que levará muito mais tempo a reparar do que a duração do zingarelho inventado por Costa. São indícios da avaria os cada vez mais frequentes protestos dos comunistas, acompanhados das greves do costume, e os queixumes dos berloquistas receosos de não vir a conseguir a sua maior ambição: uns lugarzitos no governo e à mesa do orçamento e também um módico de respeitabilidade (enfim, a respeitabilidade que é possível obter de um governo com a participação de berloquistas).
Está a ser cada vez mais difícil fechar a caixa de Pandora das reversões. São os professores, são os militares, os juízes, os enfermeiros, os polícias. Os militares até ameaçam «cerrar fileiras» e lutar «até às últimas consequências», ameaças que, contudo, não devem inspirar grandes receios de uma instituição que na sua última intervenção em «defesa da Pátria» teve os seus profissionais em debandada como coelhos do «Ultramar» salazarista, preferindo fazer um golpe ditado por razões corporativas.
A isto acrescente-se o mote de Costa, que prefere mais funcionários públicos a funcionários públicos melhor pagos, os comunistas adoptaram a palavra de ordem «o que é preciso é contratar pessoal, não é respeitar as metas de Bruxelas».
A festa ainda está a ser bonita, pá, mas não pode durar sempre, apesar das exportações, apesar do turismo e até apesar dos vistos gold que entre Outubro de 2012 e Maio deste ano fizeram entrar no país 3,8 mil milhões de euros, dos quais 3,5 mil milhões pela compra de imóveis, o que foi muito bom para os seus proprietários, mas que só uma ínfima parte se converteu em investimento produtivo. É sintomático que dos quase 6.300 vistos concedidos só 11 o foram pela criação de pelo menos 10 postos de trabalho. É igualmente sintomático que os países a cujos cidadão foram atribuídos mais vistos sejam a China (61%), seguida de Brasil, África do Sul, Rússia e Turquia (20% no conjunto).
Uma das consequências indesejadas dos vistos gold, agora mais visível, é o seu contributo (veja-se o peso dos estrangeiros no diagrama seguinte) para a bolha imobiliária, principalmente em Lisboa e Porto.
(Expresso Diário) |
(Expresso Diário) |
Um virar de página para trás, que, compreensivelmente, não foi motivo de celebração, foi a queda no prestigiado ranking Quacquarelli Symonds (QS) de todas as universidades portuguesas com excepção do Minho que se manteve no escalão 651.º-700.º.
Outra ameaça de um virar de página para trás, que não deixará de chegar, é a tendência para o aumento de juros historicamente baixos. Só com os sobressaltos de Espanha e Itália as yields subiram na dívida a médio e longo prazo e a parte com yields negativos reduziu-se a um quinto durante o mês de Maio. E falando de dívida, o Estado português é o 2.º pior caloteiro entre os 29 países europeus de que a Intrum incluiu no seu estudo (fonte: Expresso).
Quanto ao crescimento, voltou a reduzir-se no 1.º trimestre para 2,1%, o terceiro mais baixo da Zona Euro que cresceu 2,5%. E dependendo o crescimento do investimento, as perspectivas com os cortes dos fundos europeus não são risonhas, como reconhece ao ministro Pedro Marques ao dizer ao Expresso que «os próximos fundos são uma bomba orçamental» ao exigiram um esforço maior da participação portuguesa. E dependendo o crescimento da produtividade, com a queda desta as perspectivas ficam ainda menos risonhas.
Uma boa notícia seria a queda mensal de -4,1% e homóloga de -1,2% das vendas a retalho, que poderia significar que os portugueses estão a reduzir o consumo e a aumentar a poupança. Poderia significar isso, mas significa outra coisa: a procura continua a dirigir-se aos bens importados, como os veículos cuja venda aumentou 5,2% até Maio. Episodicamente, o défice da balança comercial reduziu-se ligeiramente de 39 milhões em Abril, em consequência do início da exportação do T-Roc da VW e os mais dois dias úteis em Abril deste ano.
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