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28/05/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (137)

Outras avarias da geringonça.

Até para um amigo de Costa, por ele proposto para assessorar o governo de Macau - o viveiro do PS das negociatas -, é demasiado. Siza Vieira, o «ministro adjunto da EDP» conseguiu destacar-se dentro desse viveiro. Foi sócio de um escritório que assessorou os chineses na OPA à EDP, ajudou a produzir uma alteração da lei que facilitou a OPA, reuniu-se com os chineses antes da OPA, e, ele que é um advogado com 30 anos de experiência, «não tinha noção» da lei que violou, mantendo cargos incompatíveis com a pertença ao governo na Metro Transportes do Sul e na gerência de uma sociedade imobiliária que criou com a mulher na véspera de tomar posse como ministro.

A coisa ameaça tornar-se um hábito, porque o secretário de Estado da Juventude e Desporto foi durante quase dois anos gerente de uma empresa pessoal de exploração de mirtilos. Este disse que só em Janeiro a AR o informou da incompatibilidade. Não é extraordinária a ligeireza desta gente ou o descaramento ou o sentimento de impunidade ou de superioridade moral?

Se a frequência de greve for um indício do grau de comprometimento dos comunistas com a geringonça, então o divórcio já esteve mais longe. Na Madeira, os técnicos de diagnóstico e terapêutica fizeram uma greve com 80% a 90% de adesão - é como as votações nos países comunistas. Os ferroviários têm agendadas greves para 4, 12 e 13 de Junho - cá está, uma vez mais, o expediente de encostar greves aos feriados. Os estivadores do Porto de Lisboa estão em greve ao trabalho extraordinário desde o dia 21 até ao dia 2 de Junho.

Abafados pelo ruído das trombetas a celebrar o sucesso da consolidação orçamental, vão surgindo sinais de derrapagem. O aumento de 165 milhões do défice em contabilidade pública até Abril foi explicado pela antecipação dos reembolsos do IRS. Pois é, mas a verdade é a despesa total cresceu 4,1%. Por esta e por outras, a CE lá vai dizendo que a despesa primária tem de crescer menos de metade do previsto pelo governo em 2019 (ano de eleições).

Entretanto, morreu António Arnault, chamado pai do SNS, deixando-o órfão. Orfandade que culmina o estado de abandono a que a austeridade socialista do Ronaldo das Finanças o deixou, multiplicando-se os sinais da degradação. Até o INEM financiado pelas taxas cobradas pelas seguradoras (estão congelados pelo MF 60 milhões), tem «bases degradadas, viaturas sem manutenção, equipamentos desadequados, fármacos em falta e escassez de profissionais», segundo o Expresso que acompanha a reportagem com fotos muito elucidativas. Tudo isto apesar das cativações até Março serem "apenas" 611.5 milhões, menos de 377 milhões do que o ano passado.

Também a CGA caminha para o desequilíbrio e a insustentabilidade. Numa conjuntura favorável da economia portuguesa, a CGA que o ano passado teve um excedente de 73 milhões, este ano terá um défice de 42 milhões o que obrigará a aumentar em 4% as transferências para este subsector.

Se o endividamento da economia desceu em Fevereiro para os níveis de 2010, isso não é motivo para celebrar por várias razões. A primeira é o montante astronómico da dívida - 720 mil milhões de euros, correspondentes a quase quatro vezes o PIB (370%). A segunda é que essa redução se deveu exclusivamente à redução da dívida privada já que a dívida pública criada pela geringonça continuou a subir, crescendo 1,8% em Abril e atingindo 245,5 mil milhões ou 127,1% do PIB.

Essa tendência para o endividamento é uma das dimensões da cultura de caloteiro. A outra é o incumprimento dos prazos de pagamento onde nos encontramos entre os países que menos cumprem e com maiores prazos de pagamento, como, uma vez mais, mostram os dados divulgados pelo Expresso.

Quanto ao celebrado crescimento que a geringonça se auto-atribui, como se o governo fosse exportador, proprietário de hotéis e tivesse um negócio de alojamento local, é bom lembrar que no 1.º trimestre deste ano só a Bélgica, a Dinamarca, a Itália e o Reino Unido cresceram menos. Todos os outros 23 países da UE cresceram mais.

E se o boom de turismo começar a esvaziar? Ora veja-se o diagrama seguinte.


E o que dizer do PIB per capita em que temos vindo a ser sucessivamente ultrapassados por vários dos sobreviventes dos escombros do Império Soviético? Este ano a CE prevê que nos passem à frente a Eslováquia, a Estónia e a Lituânia fazendo-nos cair para o 21.º lugar apenas à frente, por agora, da Polónia, Hungria, Letónia, Roménia, Croácia e Bulgária todos eles com um ritmo de crescimento que faz prever uma ultrapassagem nos próximos anos.

De onde, poderíamos concluir que ter tido 40 anos de socialismo de diversas tendências pode ser  pior que ter ficado 40 anos sob regimes comunistas. Enfim, resta-nos a companhia da Grécia que depois de ter tido até 2008 um PIB per capita superior ao português em 15 pontos percentuais caiu para 10 pontos percentuais abaixo de Portugal, o que faz recordar a piada involuntária de Costa em Janeiro de há 3 anos: «Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha».

1 comentário:

Anónimo disse...

A com mais graça é «a piada involuntária».

Mas gostaria que me ensinassem (sans blague):
100% do PIB é outro tanto. Contar com 100% é contar o dobro.
370% do PIB não será quase cinco vezes do PIB?
Ajudem-me, please.
Abraço