Para a mentira ser segura
E atingir profundidade,
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.
António Aleixo
António Costa adoptou-a e começou a aviar vídeos explicando as políticas da geringonça com a eficácia a que nos habituou ao transformar derrotas em vitórias, mostrando assim dispor de abundantes dotes comuns à maioria dos políticos da 4.ª República: elevada capacidade de mentir (à mistura com tão pouca verdade que lhe retira alcance e profundidade, como sabiamente percebeu o poeta Aleixo) e descaramento.
Como exemplos, vejam-se os vídeos #1 e #2 e leia-se neste post do Insurgente o desmacarar das tretas de Costa, com destaque para o «nós diminuímos o IRS para 99,7% dos portugueses». Jorge Costa no seu post desmonta a coisa lembrando que «52,6% dos portugueses está isento de IRS» e eu acrescento a constatação, conforme aqui se mostra, do saldo das medidas orçamentais (devoluções de salários + reduções de impostos – aumentos de impostos) ser negativo para o 3.º escalão dos agregados familiares que representam mais de 40% do total de agregados. Dito de outra maneira, os 99,7% que Costa diz que desagravou reduzem-se a bem menos de dez por cento.
Costa só não maltratou a verdade porque esteve demasiado afastado para lhe infligir danos. Tal não significa, porém, que a sua manipulação não seja eficaz e o seu descaramento não seja compensador, como se viu com o seu antecessor José Sócrates que, já sem crédito dos credores, depois de ter esvaziado os cofres e à beira de fugir para Paris, ainda desfrutava de crédito junto da opinião pública, crédito dado pela imensa legião de crédulos que povoam o país.
Por falar em Costa e mentiras, vale a pena registar mais uma em entrevista ao Expresso: «os accionistas privados (da TAP) viram-se envolvidos numa aventura irresponsável do Governo anterior, que assinou um contrato já depois de demitido», disse, como se as negociações e o acordo não tivessem sido feitos dispondo o governo de plenos poderes e como se o governo tivesse sido demitido (não foi, terminou o seu mandato e depois das eleições teve os poderes de gestão corrente, onde se enquadra a assinatura de um contrato que fora negociado e aprovado antes das eleições) e como se a venda da TAP não estivesse prevista no Memorando de Entendimento que o governo do PS assinou com a troika, onde se escreveu:
«3.30. The Government will accelerate its privatisation programme. The existing plan, elaborated through 2013, covers transport (Aeroportos de Portugal, TAP, and freight branch of CP), … and is hopeful that market conditions will permit sale of these two companies, as well as of TAP, by the end of the 2011.»
1 comentário:
Infelizmente, este vigaristazeco de meia-tijela sabe bem a que povo de papalvos ignorantes se dirige.
Também o sabia o bicharel - e, por ínvios caminhos, Cavaco igualmente o demonstrou ao condecorar a professora primária "doublée" (meteòricamente)doutorada e posterior ministra...da Educação.
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