«Pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas normais falam sobre coisas, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas.»A primeira observação paradoxal que o pensamento me suscita é que fala sobre pessoas e, consequentemente, segundo o postulado, poderia ter sido escrito por uma pessoa mesquinha. Reparei também ser a citação feita algumas vezes como que para justificar o desconhecimento das coisas que se esperariam suportassem as ideias defendidas. E, noutras, como uma escapatória para não criticar ou denunciar alguém por defender umas ideias e fazer coisas incompatíveis com essas ideias. Porém, admito que estas são ideias de uma pessoa normal nos seus melhores momentos, e mesquinha, nos piores.
Poderia uma pessoa normal aplicar ao aforismo de Eleanor Roosevelt (o autor mais provável) o teste do argumento Reductio ad absurdum, pela primeira vez usado por Xenófanes para pôr em causa uma conclusão de Homero sobre a influência nefasta dos deuses nos humanos? Podendo, imaginemos que o objecto da discussão era o liberalismo e o colectivismo, como doutrinas políticas. Poderíamos então deduzir das premissas do aforismo, por exemplo, os seguintes argumentos?
- As pessoas inteligentes discutem as doutrinas colectivistas e as doutrinas liberais. Porém, à maneira dos habitantes de uma caverna platónica, têm uma ideia limitada dessas doutrinas porque não falam sobre coisas como as experiências históricas concretas de sociedades colectivistas e liberais, pelo que nunca chegam a perceber se tiveram ou não sucesso e se o sucesso ou insucesso se deveu ou não às pessoas que conduziram essas experiências;
- As pessoas normais falam há séculos sobre a evolução de cada país em cada momento mas não falando sobre ideias não fazem ideia do que sejam liberalismo e colectivismo e se o liberalismo ou o colectivismo condicionaram essa evolução, nem sobre se os dirigentes na ocasião tiveram alguma influência relevante;
- As pessoas mesquinhas falam só sobre as pessoas que lideraram certas experiências históricas mas, tal como as pessoas normais, não fazem nenhuma ideia se essas experiências são exemplos de colectivismo ou liberalismo, ou de outra doutrina qualquer, nem de qual o resultado que tiveram.
Quod erat demonstrandum?
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