O governo, o PS e o PR, em vez de se excitarem com a patriótica indignação pela odiosa coligação entre os mercados, os especuladores e as agências de rating, deveriam reflectir sobre alguns factos desagradáveis. E deveriam fazê-lo por várias razões, a menos importante das quais não será certamente a mensagem subliminar que estão a transmitir aos agentes económicos domésticos, capitaneados por sucessivos governos, transferindo a responsabilidade pela libertinagem financeira para um conveniente inimigo externo.
O primeiro facto desagradável é que, não obstante as diferenças, os PIIGS (o segundo «I» é o da Irlanda, só para afastar o chauvinismo associado aos PIGS) têm de comum pelo menos um de três sérios problemas que concorrem para o risco de falência: défice orçamental excessivo, dívida pública excessiva e défice das contas externas.
O segundo facto desagradável, que fica patente nos gráficos acima, é que nem todos têm o mesmo número desses problemas, nem a mesma gravidade. Aparecem com todos eles a Grécia e Portugal. Com dois deles a Espanha (défices orçamental e das contas externas). Com apenas um a Itália (endividamento) e a Irlanda (défice orçamental).
O terceiro facto desagradável é a extensão e profundidade das medidas com que cada um dos governos se comprometeu. E aqui o único que se salva é a Irlanda que se comprometeu com o corte efectivo de 10% dos salários dos funcionários públicos. Todos os outros anunciaram propósitos e nenhuma medida significativa para eficazmente inverter a situação.
Não admira por isso que a odiosa coligação avalie diferentemente os PIIGS através dos spreads. Se há alguma coisa que a coligação talvez não esteja a avaliar suficientemente é o risco de Portugal comparativamente com a Irlanda. Voltamos a falar depois da apresentação do PEC e, para o acerto final das contas, falamos novamente em 2013, altura em que, aposto singelo contra dobrado, ficaremos a olhar a Irlanda com um binóculo.
[Gráficos: A very European crisis, Economist Feb. 4th]
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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17/02/2010
CASE STUDY: PIIGS, iguais mas diferentes ou diferentes mas iguais?
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