17/02/2010

CASE STUDY: PIIGS, iguais mas diferentes ou diferentes mas iguais?

O governo, o PS e o PR, em vez de se excitarem com a patriótica indignação pela odiosa coligação entre os mercados, os especuladores e as agências de rating, deveriam reflectir sobre alguns factos desagradáveis. E deveriam fazê-lo por várias razões, a menos importante das quais não será certamente a mensagem subliminar que estão a transmitir aos agentes económicos domésticos, capitaneados por sucessivos governos, transferindo a responsabilidade pela libertinagem financeira para um conveniente inimigo externo.

O primeiro facto desagradável é que, não obstante as diferenças, os PIIGS (o segundo «I» é o da Irlanda, só para afastar o chauvinismo associado aos PIGS) têm de comum pelo menos um de três sérios problemas que concorrem para o risco de falência: défice orçamental excessivo, dívida pública excessiva e défice das contas externas.


O segundo facto desagradável, que fica patente nos gráficos acima, é que nem todos têm o mesmo número desses problemas, nem a mesma gravidade. Aparecem com todos eles a Grécia e Portugal. Com dois deles a Espanha (défices orçamental e das contas externas). Com apenas um a Itália (endividamento) e a Irlanda (défice orçamental).

O terceiro facto desagradável é a extensão e profundidade das medidas com que cada um dos governos se comprometeu. E aqui o único que se salva é a Irlanda que se comprometeu com o corte efectivo de 10% dos salários dos funcionários públicos. Todos os outros anunciaram propósitos e nenhuma medida significativa para eficazmente inverter a situação.


Não admira por isso que a odiosa coligação avalie diferentemente os PIIGS através dos spreads. Se há alguma coisa que a coligação talvez não esteja a avaliar suficientemente é o risco de Portugal comparativamente com a Irlanda. Voltamos a falar depois da apresentação do PEC e, para o acerto final das contas, falamos novamente em 2013, altura em que, aposto singelo contra dobrado, ficaremos a olhar a Irlanda com um binóculo.

[Gráficos: A very European crisis, Economist Feb. 4th]

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