Um dos temas inesgotáveis no pequeno mundo da política portuguesa é a candidatura à presidência da República.
Já tratei do inventário dos candidatos no post Senhor livra-nos deles que careceu de actualização no post Lugares comuns.
Também já tratei no post O ersatz do líder da oposição duma teoria conspirativa que explicaria a irresistível atracção dos nossos políticos por um lugar em Belém.
Retomo agora o tema, depois do anúncio da candidatura do doutor Soares, patrocinada pelo engenheiro Sócrates.
Na idade dele, os anos são sempre um possível handicap, sobretudo face à possibilidade de um segundo mandato. Não obstante, Pacheco Pereira tem razão: «o mais estúpido dos argumentos contra Soares é a idade». O homem está em muito bom estado, lúcido, e tem uma vitalidade notável.
«Soares na Presidência não actuará contra o PS, porque tem uma cultura jacobina de partido, mas será frontalmente contra "este" PS.» Também aqui Pacheco Pereira terá razão - o percurso político do doutor Soares mostra o caminho que inexoravelmente percorreu desde o «socialismo na gaveta» até ao esquerdismo senil, desde mon ami Miterrand até compagnon de route do doutor Anacleto Louçã.
Se assim for, ser contra «este» PS pode ser o mais inteligente dos argumentos a favor de Soares, que enviará doses letais de intriga a partir de Belém e fará a cama ao engenheiro Sócrates. Teremos então uma farsa.
À farsa poderá seguir-se uma nova tragédia com um governo soarista ainda mais despesista que deixará o país exangue e à beira dum ataque de nervos e talvez então preparado para inevitáveis e dolorosas reformas.
Moral
«Hegel observa em uma de suas obras que todos os factos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Caussidière por Danton, Luís Blanc por Robespierre, a Montanha de 1845-1851 pela Montanha de 1793-1795, o sobrinho pelo tio.» (Karl Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte)
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Da tragédia ... à farsa
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