Secção Perguntas impertinentes
O Comité dos Direitos das Crianças recomendou a proibição pelos governos dos castigos corporais das crianças, inclusive pelos pais. A Dona Dulce Rocha, presidente da Comissão Nacional de Crianças e Jovens em Risco, mal tinha encerrada a conferência internacional sobre o “Abuso Sexual de Crianças” realizada em Lisboa (não, não foi na Casa Pia), apressou-se a comunicar que a sua comissão vai propor ao governo a aplicação dessa recomendação.
Esqueço, por agora, a dilema existencial que costuma surgir nos crânios dos emplastros que nunca tiveram filhos, e talvez até nunca tenham sido filhos, a saber: quando um nosso filho faz borrada devemos cantar com ele em coro we don’t need education dos Who ou devemos fazer leituras em voz alta do Dr. Spock?
Por agora, o Impertinente apenas deixa no ar algumas perguntas to whom it may concern:
- Devemos permitir que um Estado que durante décadas deu (e dá) guarida, protecção e emprego a pedófilos e foi (é?) grossista no mercado da pedofilia, nos ensine como devemos criar os nossos filhos?
- Podemos permitir que esse mesmo Estado, que durante outras tantas décadas usou a escola lúdica, local de eleição da disciplina consentida, para tentar, frequentemente com sucesso, transformar os nossos filhos em idiotas iletrados, regulamente as galhetas que lhes damos?
Enquanto não nos respondem, e aproveitando a boleia do dono do Dicionário do Diabo, que contrapôs, n’O Independente da semana passada, à ideia dos rapazes do radical chic de baixar para 16 anos a idade mínima dos eleitores, em vez disso, aumentá-la para 21 anos, por razões que ele explica e qualquer criatura cuja mente não se tenha evadido percebe perfeitamente, aproveitando a boleia, dizia deu, proponho a extensão do exercício da autoridade paternal, com uso apropriado de galhetas, até à idade do voto.
Deixando de paródia, a coisa só não é inquietante, porque, mesmo que as ideias da Dona Dulce tenham provimento, será sempre mais uma lei a juntar a tantas outras que se esgotam com a ejaculação do órgão legislativo.
Para a Dona Dulce vão 5 merecidos chateaubriands, e para o futuro ejaculante órgão legislativo vão 3 ignóbeis adiantados.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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