Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/04/2022

Denazification and demilitarization according to Tsar Vlad's Grozny model (3)

Continuação de (1) e (2).

Economist

‎The map shows the estimated areas of Mariupol destroyed since the beginning of March. The share of the city that was severely damaged increased by an average of 0.8 percentage points per day and reached 45% by 17 April, representing about 20,000 buildings in the which more than 90% of the damaged buildings were residential. Since 17 April the attacks have intensified and the destruction has also increased significantly.

29/04/2022

ACREDITE SE QUISER: Para os cépticos que pensavam que Guterres não faria diferença nenhuma na ONU (8)

Outras diferenças que Guterres não fez.

Já não é só Franz Baumann, ex-secretário-geral Adjunto da ONU, a criticar a passividade do Sr. Eng. Guterres por andar a encanar a perna à rã para ir a Moscovo. «O ministro russo dos Negócios Estrangeiros fez saber que Guterres não tinha tentado contactar o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, desde o início da “operação militar especial” na Ucrânia. Depois, soube-se que mais de 200 antigos altos funcionários da ONU tinham escrito a Guterres, instando-o a assumir riscos para garantir a paz e acrescentando que a organização enfrenta uma ameaça existencial devido à invasão da Ucrânia por um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.»

Para que não restassem dúvidas de que estamos perante um pamonha, Arora Akanksha, que disputou a eleição com o Sr. Eng, comentou que a criatura esteve «sempre à margem» e de se sentar «confortavelmente em Nova Iorque. Foram necessários dois meses para ele se sentir envergonhado e agir».

Só quem não tivesse tido o privilégio de ver o Sr. Eng. em acção no pântano é que pode estar surpreendido.

28/04/2022

Depois queixem-se do populismo

«Entre salários, prémios, bónus, contribuições para planos de pensões e outras remunerações monetárias, as 15 empresas do PSI pagaram um total de 31,9 milhões de euros aos seus presidentes executivos (atuais e antigos) em 2021, de acordo com os cálculos do ECO com base nos valores recolhidos nos relatórios e contas das empresas do índice português. A soma representa uma forte subida de 89,9% face ao valor de 2020, ano em que os CEO ganharam 16,5 milhões de euros» (Jornal Eco)

Este é apenas um exemplo da crescente desigualdade na distribuição da riqueza e do rendimento nos países, cuja percepção pelos pobres e pela classe média é um dos factores que geram a sua rejeição da democracia liberal e os torna receptivos ao nacionalismo extremo, ao populismo e à admiração de autocratas actuais (como o Putin) ou potenciais (como o Trump). E não adianta fazer-lhes discursos sobre a igualdade de oportunidades que, ouvidos por um morador num bairro da lata que tem os filhos matriculados na escola pública mais próxima, serão ouvidos como profundamente hipócritas.

Na verdade, a percepção da desigualdade é um epifenómeno. O problema está no elevador social que não funciona e quem ganharia que funcionasse não percebe, e quem percebe ou deveria perceber não está interessado em que funcione. E não funciona porque os sistemas educacionais públicos não estão a servir os seus propósitos de niveladores das desigualdades sociais porque foram capturados pelos interesses corporativos dos sindicatos dos professores e pelo áctivismo do género e as elites deixaram de se interessar pela qualidade do ensino público porque matriculam os seus filhos nas escolas privadas.

27/04/2022

Na história do Portugal dos Pequeninos, o século XXI não é assim tão diferente do XIX (1)

Lendo «O Fundo da Gaveta» de Vasco Pulido Valente, dei comigo a pensar que, mudando a época, as modas e os protagonistas, o Portugal do século XIX me faz lembrar o Portugal da III República. Nos posts desta série cito algumas passagens que mais intensamente evocam essa ideia.

A retórica, sempre a retórica, e o reformismo que só poderia vir de fora

Mas não havia nas Necessidades um grupo organizado capaz de tomar o poder. Dos jacobinos franceses, os jacobinos portugueses só tinham a retórica. (…)

Com a «pátria em perigo», decapitavam o partido constitucional e entregavam o futuro aos bons ofícios do rei, a cujo retrato fizeram comovedoras manifestações. Pior: no momento em que se propunham resistir, pretendiam também conciliar. Parte da impopularidade do Governo vinha das medidas repressivas, aliás brandas, com que tentara meter na ordem as franjas mais lunáticas do radicalismo urbano.

(…)

Este fracasso foi o verdadeiro fim do reformismo, que só podia vir de fora. As reformas fiscais, económicas, administrativas e militares dependiam de uma prévia reforma política. Sem ela, a inércia e os interesses instalados impediriam qualquer tentativa de mudança. Palmela e Subserra ficaram reduzidos à deprimente tarefa de gerir o caos e a miséria. Vila Franca nem ressuscitara a antiga monarquia, nem gerara uma via média «razoável». Produzira apenas um absolutismo mitigado, menos despótico do que arbitrário e, na essência, moribundo.

[Do capítulo A contra-revolução (1823-1824)]

(Continua)

PUBLIC SERVICE: On Tyranny (6)

On Tyranny, Timothy Snyder

26/04/2022

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (12)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Nota prévia

Os posts destas séries têm sido publicados à segunda-feira. Excepcionalmente, este é publicado à terça-feira para destacar o post sobre o 25 de Abril impertinente que se não assino é apenas porque já está assinado.

De volta à madraça do PS

O Dr. João Leão antes de tirar o chapéu das Finanças fez aprovar o financiamento ao ISCTE, onde foi nomeado vice-reitor, para financiar o Centro de Valorização e Transferência de Tecnologias do ISCTE, que ele próprio irá presidir. Para se perceber melhor a tramóia leia-se a estória aqui contada.

Investimento público, a autoestrada mexicana do PS

Há anos que o governo socialista vem usando o expediente da auto-estrada mexicana no investimento público. Uma vez mais, em 2021 o Orçamento previa que o investimento crescesse 49%, o que permitiu fazer os anúncios do costume. No final aumentou apenas 23%.

O FMI não acredita. Faz mal. Não conhece as cativações e a autoestrada mexicana

«FMI não acredita na redução de défice prometida por Medina para 2022» e tem pelo menos uma boa razão – o Dr. Medina em plena guerra não aumentou nem um cêntimo no orçamento da Defesa.

As políticas socialistas ajudam quem menos precisa

Subsidiar os preços dos combustíveis reduzindo os impostos (na circunstância o ISP) talvez pareça uma boa ideia, mas não é. Por várias razões. Primeira porque distorce os sinais do mercado; segunda e mais fácil de entender, o subsídio é financiado por todos os contribuintes, incluindo os mais pobres, mas favorece especialmente os maiores consumidores de combustíveis que são os menos pobres. A alternativa é, evidentemente, o apoio directo às famílias mais pobres. E não se devem subsidiar os preços ainda menos se deve controlá-los administrativamente, como lembra Teodora Cardoso.

Então não estamos a crescer mais do que a Óropa?

Não, não estamos. O que o semanário de reverência celebra são as previsões da convergência com a Zona Euro, ou seja com os países que mais ricos que crescem menos do que os mais pobres que nos vão ultrapassando, ano após ano, o último dos quais a Roménia. Ainda assim, se, como o gráfico seguinte sugere, o diferencial for de 0,6% como o PIB per capita PPP português é cerca de 70% da média da Zona Euro para atingir os 100% precisaríamos de… meio século.


 Outros jornais menos celebrativos titulam «Portugal ficou mais pobre com a pandemia e deve estagnar com a guerra» e dizem-nos que o FMI prevê que o PIB per capita PPP português será ultrapassado em 2022 pelo Porto Rico, Polónia e Hungria.

24/04/2022

ACREDITE SE QUISER: Para os cépticos que pensavam que Guterres não faria diferença nenhuma na ONU (7)

Outras diferenças que Guterres não fez.
 

Observador

Comentando a anúncio da ida do Sr. Eng. Guterres a Moscovo, Franz Baumann, ex-secretário-geral Adjunto da ONU, acrescentou «acho que é uma coincidência curiosa que este anúncio, de pedido de visita a Moscovo e Kyiv, tenha surgido 24 horas após termos enviado uma carta a criticar a sua passividade».

Só se compreende que Baumann  tenha considerado inacreditável a passividade do Sr. Eng. Guterres e tenha achado coincidência ele só ter dado corda aos sapatos por empurrão, por não o conhecer e ter confundido a sua impetuosa verborreia com iniciativa e acção. Afinal estamos perante o picareta falante.

23/04/2022

Tentando compreender o racional da clique putinesca ao decidir invadir a Ucrânia (3)

Continuação (1) e  (2)

«O resultado‎‎ da guerra da Rússia na Ucrânia permanece em dúvida. Mas não há dúvida de que a decisão de Vladimir Putin de lançar uma invasão em larga escala é uma das piores decisões estratégicas que qualquer líder de um país poderoso tomou em décadas. Não há um resultado plausível na Ucrânia que não deixe o senhor Putin e a Rússia muito piores do que antes de 24 de Fevereiro, quando a guerra começou.‎

O senhor ‎Putin custou ao seu país a vida de milhares de jovens soldados, alguns deles recrutas. Ele afirma que russos e ucranianos são "um só povo", mas sua guerra deu à Ucrânia um senso mais forte de identidade nacional do que nunca e a transformou no inimigo amargo da Rússia. Ele mostrou ao mundo que seu exército é ineficaz, e que bilhões de dólares gastos na modernização militar russa foram desperdiçados. Ele deu à NATO um senso de unidade e propósito que não tem há décadas e não-membros como a Finlândia e a Suécia novas razões para aderir. As suas ações levaram membros, incluindo a Alemanha, a aumentar os gastos com defesa. Outros enviaram tropas perto da fronteira com a Rússia. O senhor Putin convenceu a Europa de que deve parar de comprar as exportações mais valiosas da Rússia. Ele trouxe sanções e controles de exportação ao seu país que infligirão danos geracionais. Para a Europa e a América ele cruzou o Rubicão. Mais gravemente, ele falhou em preparar o público russo para os verdadeiros custos humanos, financeiros e materiais de sua "operação militar especial".‎ (...)

‎‎Ao recusar-se a rebater a dissidência dentro da Rússia, o senhor Putin fez orelhas moucas a avisos importantes e convenceu aqueles ao seu redor de que sua segurança pessoal e prosperidade dependem da lealdade a ele e à sua versão da verdade. Um pequeno, mas importante exemplo: o senhor Putin disse durante os primeiros dias do conflito que "soldados recrutados não estão e não estarão envolvidos em operações de combate". Essa afirmação rapidamente se mostrou falsa. Há três explicações possíveis para isso, e todas prejudicariam o presidente russo. A primeira é que o Senhor Putin mentiu ao povo russo sobre algo que ele deveria saber que não seria capaz de esconder. Segundo, os generais russos mentiram-lhe. Terceiro e, francamente, mais provável: a desinformação atingiu todos os níveis militares da Rússia, e os oficiais superiores não estão cientes do que está acontecendo na cadeia de comando. Mas seja qual for o caso, todas essas explicações minam a credibilidade do senhor Putin, tanto no país quanto no exterior, e comprometem a eficácia das forças armadas russas nos próximos anos.‎ (...)

‎As esperanças ocidentais de que os generais da Rússia, as suas forças de segurança, os seus oligarcas ou seu povo em breve removam o Senhor  Putin do poder provavelmente serão em vão. Os altos preços do petróleo manterão a economia russa à tona por algum tempo, mesmo que os danos a longo prazo à economia russa causados por sanções e controles de exportação sejam severos. Dado o clima político, é impossível saber o verdadeiro estado da opinião pública russa, mas não há evidências de que o senhor Putin enfrente qualquer sério desafio doméstico. O povo russo vê as imagens de guerra que o seu governo quer que eles vejam, e agora estão sendo alimentados com uma dieta constante de atrocidades ucranianas, planos ocidentais para humilhar a Rússia e a determinação de seu presidente e soldados para defender sua pátria.‎

‎Em suma, o senhor Putin, os soldados russos e ucranianos e os líderes ocidentais não devem esperar o tipo de vitória limpa que qualquer um deles deseja. Em vez disso, uma guerra feia está prestes a ficar muito mais feia‎.»

The cost of the war to Vladimir Putin, Ian Arthur Bremmer, cientista político americano especialista no risco político global 

PUBLIC SERVICE: On Tyranny (5)

On Tyranny, Timothy Snyder

 And by the way, don't justify your failures with negative examples of political leaders.

22/04/2022

ESTÓRIA E MORAL: Aldrabou-nos, disse ele

Estória

«O Costa não tem 'tomates' para isso.» «Ele é um merdas.» (*)

Era uma vez um político que como dirigente de um partido e como membro de dois governos desse partido, conviveu de perto vários anos com outro dirigente e primeiro-ministro de um governo a que esse político pertenceu.

Depois da divulgação extensiva de factos e de suspeitas ao longo de vários anos, o referido primeiro-ministro veio a ser acusado de inúmeros crimes de corrupção activa e passiva, entre outros, num processo baptizado Operação Marquês com 53 mil páginas de provas, às quais se juntam 6 mil páginas do despacho de um juiz e vários milhares de páginas dos recursos do MP, e ainda se adicionarão muitos milhares de páginas nos próximos anos (até 2035 dizem alguns).

O citado político sempre assumiu a inocência do referido primeiro-ministro, a quem visitou na prisão, e perante a evidência dos crimes foi lavando as mãos e usando a fórmula clássica à justiça o que é da justiça. Quinze anos depois dos factos e nove anos depois do início do processo, em entrevista a um biógrafo do fundador do mesmo partido declarou:

«Depois do que vi já, entretanto, e que o próprio Sócrates não desmente, concluo que ele, de facto, aldrabou-nos.»

Moral

Se tivesse sido submetido a um teste "Fit and Proper" para primeiro-ministro, o Dr. Costa chumbaria por uma uma de duas razões (1) por falta de discernimento e défice de julgamento ou (2) por falta de tomates; ou ambas.

(*) José Sócrates nas escutas da Operação Marquês citadas pelo jornal SOL.

21/04/2022

Dúvidas (335) - Afinal qual é versão oficial em que não devo acreditar?

Sou exortado pelo jornalismo de causas e até por comentários neste blogue a não acreditar na "versão oficial" dos acontecimentos da invasão da Ucrânia pela Rússia (a que chamam guerra na Ucrânia), o que me leva a um esclarecimento e me suscita uma dúvida. 

O esclarecimento é que sou pouco dado a acreditar seja no que for. A dúvida é que havendo pelo menos duas "versões oficiais" desses acontecimentos, qual das duas "versões oficiais" me aconselham a não acreditar? 

Por um lado temos a versão oficial da NATO (para simplificar admito que todos os estados-membros têm a mesma versão) que é escrutinada e comentada em milhares de jornais e canais de televisão por dezenas de milhares de jornalistas e comentadores de todas correntes ideológicas e livremente discutida por milhões de cidadãos dos estados-membros, tão livremente discutida que é pública e abertamente contraditada nos mesmos jornais e canais pelos crentes da versão oficial do governo russo.

Do outro lado temos a versão oficial do governo russo que é divulgada quase ipsis verbis por jornais e canais de televisão russos que a reproduzem fielmente, versão que ninguém ousa colocar em causa, sob pena de ser multado, na melhor hipótese, preso na hipótese mais provável e assassinado na pior hipótese.

Quando escrevo ninguém, não é exacto. Há dois tipos de cidadãos russos que colocam em causa a versão oficial russa: (1) os que, como Alexei Navalny, já estão presos, e (2) os que estão no exterior, como Oleg Tinkov, um empresário russo, que escreveu na sua conta Instagram «os generais (russos), acordando de ressaca, perceberam que tinham um exército de merda. E como pode ser bom o exército se tudo no país é uma merda e atolado em nepotismo, bajulação e servilismo?»

E, por falar em invasão e versões, permito-me colocar mas uma dúvida: a líder parlamentar do PCP quando disse «alguém que personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi» estava a referir-se a quem?

20/04/2022

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (97) - E o vencedor é "Não és homem, não és nada ..."

Graças à pachorra de António Araújo que compilou no artigo «Frases de Guerra» no DN umas largas dezenas de pensamentos, factos alternativos e teorias da conspiração produzidos por quase outros tantos eméritos membros do comentariado doméstico, incluindo alguns políticos, ficou disponível um acervo da produção das elites do Portugal dos Pequeninos sobre o presidente Vladimir Vladimirovitch Putin e a sua invasão da Ucrânia.

"Não és homem, não és nada ..."

Sendo todos pensamentos de altíssimo nível provenientes de personalidades de elevado gabarito, foi difícil a escolha mas resolvi destacar meia dúzia e entre eles premiar pela sua originalidade e profundidade o do Dr Nogueira Pinto:

"Esta guerra anunciada na Ucrânia só tem por objetivo impedir a exportação de gás russo para a Alemanha e, assim, reconfigurar o mapa europeu ao sabor do ditado de Washington." (Francisco Louçã, Expresso, 15/2/2022, dias antes da invasão da Ucrânia pela Rússia)

"Isto à luz do direito internacional está totalmente imaculado." (Alexandre Guerreiro, Record TV Europa, 24/2/2022, no dia da invasão da Ucrânia)

"O modo como o Presidente dos Estados Unidos foi sucessivamente anunciando datas para uma invasão russa da Ucrânia lembra os pueris "Não és homem, não és nada ..." dos tempos em que parecia mal não ser "homem" e se esperava que o acicatado, ofendido na sua masculinidade e sem olhar a consequências, provasse desvairadamente que o era." (Jaime Nogueira Pinto, Observador, 26/2/2022, criticando a política da administração Biden relativamente à Ucrânia)

"E esse ambiente que é típico do "mccarthismo" (...) criou-se um ambiente que ou se papagueia o que diz a NATO ou é-se um agente de Moscovo" (Fernando Rosas, Público, 25/3/2022)

"[crimes de guerra] poderiam ter sido evitados, se não houvesse invasão e, depois disso, se o regime ucraniano não se tivesse decidido por uma resistência suicida" (António Jacinto Pascoal, Público, 29/3/2022)

"A guerra entre a Rússia e a Ucrânia serviu para agudizar análises que já Marx, Engels e, mais tarde, Gramsci, haviam identificado." (Ricardo Meireles Santos, jornal A Voz do Operário, 1/4/2022)

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On Tyranny, Timothy Snyder

Remove swastikas, red stars and all similar stuff.

19/04/2022

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A doença é outra e a terapia não é adequada

O artigo de opinião da economista Teodora Cardoso publicado ontem no Eco é uma pedrada no charco das conversas da treta da maioria dos economistas que se dedicam ao negócio da comentadoria.  

Teodora Cardoso considera inevitável a estaglação, isto é a estagnação do crescimento coexistindo com a inflação, da economia mundial que resulta da «escassez e o correspondente aumento do custo da energia, dos cereais e de matérias-primas essenciais» em consequência da guerra, da pandemia e das políticas «macroeconómicas expansionistas», isto é o alívio quantitativo, confirmando o que escrevi a semana passada no último post da série «O alívio quantitativo aliviará? Unintended consequences».

Sendo a actual uma crise da oferta e não da procura, não farão sentido medidas como o controlo dos preços que terá «o resultado perverso de não incentivar, nem do lado da procura, nem da oferta, a poupança e o uso mais eficiente de recursos escassos, exatamente o objetivo que é necessário promover». Um exemplo, é subsidiar o preço dos combustíveis pela redução dos impostos em vez de apoiar as famílias mais pobres.

Contra a corrente predominante que pretende empurrar o problema com a barriga, Teodora Cardosa entende que «o apelo ao prolongamento da suspensão das regras orçamentais e à mutualização da dívida, no contexto de um vazio programático em todas essas áreas, apenas prenuncia o aprofundamento da estagnação».

Teodora Cardoso critica ainda a política orçamental do governo socialista «baseada num aumento de receitas cada vez menos preocupado com a sua transparência e impacto económico, e em cortes discricionários de despesa, geridos em função do (não) impacto mediático e da miopia dos mercados financeiros» e a falta de «um conjunto coerente de reformas (...) que tenha em vista a competitividade e o crescimento da economia».

18/04/2022

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (11)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

A madraça do PS

Roubo o título muito bem achado a João Miguel Tavares para descrever a situação do ISCTE face ao PS com a reitora Dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues e o vice-reitor Dr. João Leão acabado de nomear, bem como mais sete outros professores com ligações a este ou a outros governos anteriores do PS.

No Estado Sucial não há conflito de interesse. Há interesses em conflito

Por falar nele, o Dr. João Leão, acabado de sair das Finanças, vai gerir o Centro de Valorização e Transferência de Tecnologias do ISCTE financiado pelo OE em que ele providencialmente participou.

O problema do Estado sucial é a “falta de recursos”

O diagrama seguinte ilustra uma das duas grandes realizações do Dr. Costa (a outra é o crescimento da dívida pública).

+Liberdade

Não há nenhum sector da administração pública que não tenha falta de recursos e a justiça não poderia ser excepção. Segundo o Conselho Superior da Magistratura os tribunais estão em situação crítica por falta de magistrados. Que os tribunais estejam em situação crítica isso é indiscutível visto o processo mais simples consumir anos até ser julgado, mas não será por falta da magistrados porque com 19,3 juízes e 13,5 procuradores por 100 mil habitantes, Portugal está na média europeia. Será antes por excesso de burocracia plantada nos labirintos kafkianos processuais, que ninguém parece interessado em simplificar, uns porque esses labirintos multiplicam as portas de saída e outros porque multiplicam a “falta de recursos”.

Take Another Plan. O legado do amigo do Dr. Costa custou mais de mil milhões

O ano passado a TAP apresentou um prejuízo de 1.600 milhões (num volume de receitas operacionais de 1.389 milhões!), por coincidência quase igual ao montante das ajudas até ao final do ano passado. Mais do que o montante pantagruélico dos prejuízos o que poderia surpreender os distraídos é que cerca de 2/3 desses prejuízos (1.025 milhões) se devem ao fecho da operação de manutenção no Brasil comprada em 2006 à Varig pela TAP, um desastre que já tinha custado à TAP 200 milhões em perdas só nos últimos 5 anos. Convirá acrescentar que essa compra foi agenciada pelo Dr. Lacerda Machado, o melhor amigo do Dr. Costa que o prantou na administração da TAP nacionalizada em 2016 (ver aqui e aqui a estória). Se pensarem que enough is enough e a coisa agora acaba, desenganem-se porque numa empresa pública gerida pelo Dr. Pedro Nuno "Perninhas dos Banqueiros a Tremer" Santos enough is never enough. E a demonstrá-lo aí estão mais 990 milhões a caminho no OE 2022.

17/04/2022

Como poderiam os cidadãos europeus reduzir a renda do Czar Putin

Baixar um grau nos termostatos nas casas europeias reduziria num ano o consumo de gás natural em 10 mil milhões de metros cúbicos, o equivalente a um mês de importações russas.

Baixar em 10 km/hora os limites de velocidade nas estradas reduziria o consumo de combustível em cerca de 15% e adicionalmente subsidiando os transportes públicos, incentivando o trabalho em casa um dia por semana, proibindo o uso de carros nas cidades aos domingos permitiria reduzir um quinto da importação de petróleo russo.   

(Estimativas da  Agência Internacional de Energia, citadas aqui)

Entretanto, o ministro da Economia e vice-chanceler alemão, Robert Habeck, pediu aos alemães que poupem energia para "irritar Putin", o que é uma tolice porque o homem não tem emoções e o que importa é cortar-lhe o financiamento.

Aditamento:

Já depois de ter escrito este post, li o artigo «Combater Putin indo mais devagar» do economista Ricardo Reis no caderno de Economia do Expresso que trata com mais profundidade este tema.

16/04/2022

If it was to impress the world and frighten the neighborhood, so far it's not working

Mariupol - one of the great successes of  denazification and demilitarization

Documenting Equipment Losses During The 2022 Russian Invasion Of Ukraine

Russia - 2897, of which: destroyed: 1545, damaged: 44, abandoned: 237, captured: 1071
Tanks (507, of which destroyed: 257, damaged: 9, abandoned: 40, captured: 201)
Armoured Fighting Vehicles (264, of which destroyed: 129, abandoned: 29, captured: 106)
Aircraft (20, of which destroyed: 19, damaged: 1)
Helicopters (32, of which destroyed: 28, damaged: 2, abandoned: 1, captured: 1)
Naval Ships (4, of which destroyed: 2, damaged: 2)
Logistics Trains (2, of which destroyed: 2)

Ukraine - 789, of which: destroyed: 365, damaged: 23, abandoned: 35, captured: 366
Tanks (112, of which destroyed: 44, damaged: 1, abandoned: 9, captured: 58)
Armoured Fighting Vehicles (74, of which destroyed: 28, abandoned: 4, captured: 43)
Aircraft (17, of which destroyed: 16, damaged: 1)
Helicopters (3, of which destroyed: 2, captured: 1)
Naval Ships (14, of which destroyed: 2, damaged: 1, captured: 11)

Source: Oryx, as of April, 15

Sunk Thursday (they called a Ukrainian missile onboard fire))

40 dead Russian high-ranking officers, as of April, 15.

15/04/2022

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (72) Unintended consequences (XXIV)

Outras marteladas.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais. Mais recentemente, Charles Goodhart, professor emérito na LSE, chamou a atenção para o risco de estagnação com inflação elevada em resultado das políticas dos bancos centrais e no Portugal dos Pequeninos o presidente da CMVM alertou em Novembro do ano passado para a bolha em formação.

As políticas de alívio quantitativo dos bancos centrais tiveram várias consequências indesejadas, que venho referindo desde Setembro de 2014, mas até ao ano passado não tiveram efeitos muito significativos na inflação.

Foi o ano passado que esses efeitos na inflação se começaram a sentir mais fortemente porque coexistindo com alívio quantitativo dos bancos centrais, os governos começaram a despejar estímulos fiscais relacionados com as ajudas no contexto da pandemia (ver diagrama seguinte).  

A esses efeitos fiscais veio juntar-se a escassez da oferta de mão-de-obra, sobretudo nos EUA, que veio aumentar os salários após vários anos de estagnação e de perda de poder de compra. As rupturas das cadeias de distribuição resultantes da pandemia e das medidas para a combater vieram adicionar-se aos factores inflacionários. Ainda assim, o wishful thinking era de rigor e quase toda a gente, a começar pelo BCE, garantia que a inflação era um fenómeno transitório. Toda a gente? Não. Já em Novembro do ano passado Jerome Powell considerou que «it’s probably a good time to retire that word (transitory) and try to explain more clearly what we mean».

Isso foi antes da invasão da Ucrânia, cujas consequências estão a potenciar todos os factores inflacionários já referidos. Tudo isso em cima de quantidades gigantescas de dinheiro injectado nas economias pelas políticas dos bancos centrais desde 2008 a Fed, 2009 o BoE e 2012 o BCE vai transformar o fenómeno transitório num fenómeno duradouro, desta vez com pelo menos algumas das economias a estagnarem. Não pode acabar bem.

14/04/2022

CASE STUDY: A atracção pelos tiranos e pela tirania (1)

A aceitação de Putin (podia ser de outro qualquer tirano), ou a devoção nos casos extremos, é mais um exemplo de como a distinção clássica direita-esquerda é em muitos casos inadequada. No caso de Putin, como de outros, encontramos devoção e aceitação da criatura à direita e à esquerda. 

À esquerda é mais a aceitação, ditada geralmente por razões tácticas - o inimigo (Putin) do meu inimigo (Ocidente, Estados Unidos) é meu amigo - e à direita é mais devoção por razões ideológicas - pátria, autoridade e moral, que supõem inspiram o tirano, contra o que chamam o globalismo, a anarquia e a devassidão, que acreditam contaminam o Ocidente, ou a América para ser mais preciso, e inspiram os seus líderes fracos e corruptos. O que há de comum entre uns e outros? A recusa das liberdades, ou mesmo o ódio às liberdades, e em consequência a recusa da democracia liberal como regime político.

Num caso como noutro, para dar um módico de racionalidade e justificar a aceitação ou a devoção pelo tirano e pela tirania, é indispensável construir uma realidade paralela baseada em factos alternativos, isto é, distorções dos factos reais, na melhor hipótese, ou mentiras puras e duras, o mais das vezes. No caso da direita, em que há uma adesão mais emocional e autêntica, e por vezes uma identificação com o tirano e o seu culto pessoal, as teorias da conspiração têm um papel insubstituível.

Na esquerda portuguesa, o PCP é um bom exemplo de construção de uma realidade paralela baseada em factos alternativos. Para poupar no latim, remeto os leitores para o dossier «SOBRE A SITUAÇÃO NA UCRÂNIA - ELEMENTOS PARA A COMPREENSÃO» no site do PCP, seguido da leitura do artigo de opinião de Fernanda Câncio «Os "15 mil mortos no Donbass" e outros factoides do PCP» (sim, essa antiga amiga ou namorada do Eng. Sócrates, que assim resgata alguns dos seus maus passos com o animal feroz), artigo em que, a propósito de uma conversa no Twitter do ex-deputado do PCP Miguel Tiago, Câncio autopsia a versão comunista dos antecedentes e da génese da invasão da Ucrânia pelo exército russo.

(Continua) 

13/04/2022

PUBLIC SERVICE: On Tyranny (3)

On Tyranny, Timothy Snyder

Of Timothy Snyder's «Twenty Lesson From the Twentieth Century», this is the one that seems to me the most important lesson. It should be understood that a one-party state does not mean a state that only has one party. Remember Órban's Fidesz in Hungary.