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22/12/2021

A arte de bem titular toda a notícia (3) - Um exemplo do semanário de reverência

Semanário de reverência

Um marciano lê o título acima e pensa com os seus botões: que bondoso governo têm estes terráqueos que vai "desagregar" o que um malvado Relvas maldosamente agregou, eliminando centenas de lugares outrora disponíveis para colocar regedores de freguesia que de outro modo ficariam sem empregos. Este bondoso governo, continuaria o marciano a pensar, não apenas pretende repor os empregos eliminados como aumentá-los para o que já foi aprovada a «nova lei-quadro de criação, modificação e extinção destas autarquias».

Como os marcianos e muitos aborígenes se ficam pelo título, não chegam a ler umas linhas abaixo que afinal a maléfica "lei Relvas" foi a «reforma administrativa de 2013, feita pelo Governo PSD/CDS-PP (em particular pelo ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas) e negociada com a 'troika', (que) reduziu as freguesias de 4.259 para as atuais 3.092.» Linhas que, certamente por lapso, não mencionam que a reforma administrativa foi imposta pelo Memorando de Entendimento, negociado pelo governo socialista do Sr. Eng. Sócrates e assinado a 17 de Maio de 2011 como condição para ser emprestado dinheiro para resgatar o país da situação de bancarrota criada pelo citado governo do citado Sr. Eng., do qual fizeram parte vários ministros do actual governo. 

A peça do semanário de reverência esqueceu ainda que o Memorando de Entendimento obrigava a
«3.44. Reorganizar a estrutura da administração local. Existem actualmente 308 municípios e 4.259 freguesias. Até Julho 2012, o Governo desenvolverá um plano de consolidação para reorganizar e reduzir significativamente o número destas entidades. O Governo implementará estes planos baseado num acordo com a CE e o FMI. Estas alterações, que deverão entrar em vigor no próximo ciclo eleitoral local, reforçarão a prestação do serviço público, aumentarão a eficiência e reduzirão custos.» 
A peça também não mencionou que o malvado Relva não teve tomates para fazer o mais importante que era «reduzir significativamente o número» de municípios, que essa, sim, seria uma reforma digna desse nome eliminando municípios com menos população do que bairros de algumas cidades.

É claro que se os marcianos e os aborígenes frequentassem o (Im)pertinências teriam lido vários posts sobre este tema (por exemplo CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Depois não se queixem) que o outro contribuinte se deu ao trabalho de publicar, poupando assim a este contribuinte o trabalho de publicar o presente.

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