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27/08/2021

É cruel dizer isso do idoso Joseph Robinette Biden, mas parece uma boa descrição do presidente dos EUA na retirada do Afganistão

«Mas a própria ideia da retirada, por motivos que Tony Blair explicou melhor do que ninguém, é também, pesadas todas as coisas, errada. Quer em termos idealistas, quer em termos realistas. Em termos idealistas, porque vai contra a intuição, pela maioria de nós partilhada, que há uma continuidade da experiência humana que sobrevive às descontinuidades culturais e que a devemos tentar preservar, o que significa, entre outras coisas, defender os direitos humanos onde eles estão em perigo. Em termos realistas, porque a presença das tropas americanas, mesmo em baixo número (e o seu número já era baixo), contribuía para que a ameaça do terrorismo islâmico fosse, numa certa medida, contida. Quer dizer que, num grau ou noutro, o interesse dos Estados Unidos não parece protegido com esta retirada, antes pelo contrário..

Aparentemente, Biden não teve em consideração nenhum dos dois aspectos. É verdade que ele parece cada vez mais destituído de inteligência emocional, o que, em parte, se pode atribuir à velhice. Com a idade – toleravelmente em certos casos, tendendo para o péssimo noutros —, vamos perdendo certa disponibilidade emocional, o que se percebe, já que o corpo se degrada e arrasta o espírito consigo. E a perda da inteligência emocional diminui grandemente a faculdade de julgar: Biden faz cálculos trôpegos, com toda a obstinação da falta de convicção. Já agora, diminui também a capacidade de se exprimir convenientemente. De facto, parece por vezes que tenta adaptar a técnica literária do cut-up (uma técnica desenvolvida pelo escritor William Burroughs nos anos 60, que consiste em recortar passagens de prosa já escrita, juntando-as depois numa ordem aleatória) à retórica política. Nas entrevistas, sem precisar de papel e tesoura, o sucesso é indisputável, produzindo sequências do tipo: “Os talibãs – A minha mulher disse – Olhe… – Só a América – Trump – Onde está o almoço? – Nada a ver com Saigão — Isso foi há cinco dias – Sejamos claros – Olhe… — A ideia – Olhe, George… – Vinte anos – Corn flakes – O aeroporto — A escolha é simples – Ray Ban — Foi o que aconteceu”. Fascinating!, como diz, na CNN, à média de cinco vezes por programa, Fareed Zakaria. Mas duvido que os afegãos apreciem por aí além esta nova contribuição para a retórica. E que os americanos, se pensarem bem, tenham muitos motivos para a admirar.

Não estou a dizer que Biden está xexé. Mas falta-me pouco para o pensar. Somando tudo, é a melhor das possibilidades.»

Excerto de Realistas, idealistas e Biden, Paulo Tunhas no Observador

3 comentários:

Afonso de Portugal disse...

Só isto? O que o (Im)Pertinente teria escrito se tivesse sido o Presidente Trump a fazer esta grande trapalhada!

Anónimo disse...


Sem dúvida. É muito cruel criticar Biden, um idoso de 78 anos que fez fortuna no tráfico de influências, entre cheirar uma velhinha ou snifar uma criança.
E o filho de Biden, nem se fala. Pobre Hunter, um idoso de 51 anos. O FBI até foge dos seus escândalos de corrupção e do célebre Laptop from Hell.
Eu gosto de malhar é no Trump, um jovem de 75 anos. Um nazi, fassista, negacionista, islamofóbico, misógino, xenófobo, transfóbico, homofóbico, etc. Um verdadeiro Bolsonaro, um Cavaco, um Passos Coelho.

Anónimo disse...

Caro Sr

É um grande artigo doe Paulo Tunhas; mas confesso que me assusta mais um presidente xéxé do que um desastrado.
Acontecia isso com os automóveis e seus condutores quando eu era mais novo: preferia um condutor bêbado do que um que adormecia ao volante...!

Melhores cumprimentos

Vasco Silveira