Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os negacionistas – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.
Um paper recente ("Climate Impacts From a Removal of Anthropogenic Aerosol Emissions") publicado em Janeiro, confirma as conclusões de um outro de Abril de 2016 ("Amplification of Arctic warming by past airpollution reductions in Europe") no sentido de a redução da poluição atmosférica poder ter o efeito indesejado de aumentar o aquecimento global. Citando em linguagem simples o resumo do primeiro paper:
«Para manter o aquecimento global no intervalo 1,5 a 2° C, precisamos de reduções maciças de emissões de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, as emissões de aerossóis serão fortemente reduzidas. O estudo demonstra como a limpeza de aerossóis, predominantemente sulfatos, pode adicionar meio grau de aquecimento global adicional, com impactos que aumentam o aquecimento proveniente dos gases de efeito estufa. O hemisfério norte é mais sensível à remoção de aerossóis do que o aquecimento de gases de efeito estufa, devido à origem actual das emissões de aerossóis. Isso significa que importa não só se alcançamos ou não metas climáticas internacionais. Importa igualmente como chegamos lá.»De onde temos mais um exemplo de que é melhor desconfiar das soluções simplistas baseadas na ciência ambiental de causas.
3 comentários:
Nesta 'lenda' do ambiente estou convosco.
Abraço
"Para manter o aquecimento global no intervalo 1,5 a 2° C, precisamos"
Não precisamos a ponta de um corno porque estamos nesse intervalo. Aliás, nunca saímos dele.
O "acordo de Paris" não foi mais que a besta a pretender que com o seu último suspiro os "neo-liberais" americanos pagassem mais umas toneladas de mordomias a tudo quanto é gente tonta, "ambientalista".
"lysenkoismpos" climatericos...
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