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26/03/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (128)

Outras avarias da geringonça.

Regresso a dois temas já tratados nestas crónicas, ambos exemplificativos de uma governação opaca e focada na manipulação do lobo límbico dos portugueses que, lamento dizê-lo, é muito absorvente.

Da governação opaca são exemplo as orchestral manoeuvres in the dark com vista em fazer passar pela porta do cavalo as ligações de alta velocidade a Madrid, o celebrado TGV, que Costa ainda recentemente classificava de tema «tabu». Os mídia, com excepção do jornal SOL, têm dado pouca atenção a este tema. À pala do TGV lá voltará a terceira travessia do Tejo e tutti quanti como factos consumados indiscutíveis e indiscutidos.

Da governação focada na manipulação do lobo límbico poderia dar como exemplos a maioria dos anúncios do governo de medidas que diz ter tomado ou irá tomar. A limpeza das florestas e as outras medidas visando combater os incêndios florestais, que continuam na gaveta mas a encher os écras e as páginas dos jornais, é apenas mais um a mostrar o governo de Costa a concentrar-se numa espécie de agitprop pós-moderno. Outro, a roçar o ridículo e a fazer lembrar a anedota de que Salazar, já com os seus 60 anos, teria comprado para criar um jovem cágado (70 anos de esperança de vida), foi o ministro do Ambiente a anunciar a renovação da rede de água a cada 50 anos. Ainda outro é o anúncio por uns megafones do PS de que o governo não poderá aumentar os utentes da vaca marsupial pública no próximo ano a que se seguiram umas declarações ambíguas de outras luminárias socialistas, quando todos já sabemos que em ano de eleições Costa abrirá os nossos bolsos para ganhar os votos dos seus principais fregueses eleitorais.

Segundo o BdP, o endividamento do sector não financeiro voltou a aumentar 3,2 mil milhões em Janeiro em relação a Dezembro, aumento quase exclusivamente devido às empresas públicas, e atingiu o total de 721 mil milhões (dos quais 44% do sector público) o que representa 3,74 vezes o PIB de 2017. Se as taxas de juros estivessem aos níveis históricos - aonde hão-de voltar - teríamos de pagar juros correspondentes a um quinto do PIB.

Foi preciso um jovem economista emigrado (Miguel Faria e Castro a trabalhar na Fed St. Louis) vir chamar a atenção no Expresso da exposição do Estado aos passivos contingentes pelas garantias concedidas a empresas públicas e às parcerias público-privadas que, segundo ele, não serão inferiores a 10% do PIB. É mais um prego para o caixão do Estado Sucial.

A agência Standard and Poor que ainda recentemente aumentou a notação de crédito não se deixou comover pelos amanhãs que cantam do Dr. Costa e manteve a notação BBB- com outlook estável

Uma vez que o surto de turismo tem relativamente pouco a fazer com as políticas públicas (e o pouco que tem deve-se ao ex-secretário de Estado do Turismo Adolfo Mesquita Nunes, agora muito celebrado pelas suas preferências sexuais, o que não interessa nada para o caso e é até ridículo que a criatura se torne popular por isso), é evidente que, como disse o presidente da CTP, «não pode ser dado como garantido». 

E, por falar nas preferências sexuais, o governo de Costa que, cedendo ao lóbi gay berloquista reconheceu o direito a contaminarautorizou a dádiva de sangue por homo e bissexuais, deixou na gaveta o estudo do risco associado que tinha anunciado há um ano. De passagem, registemos que os portugueses estão entregues a um governo que primeiro toma uma medida e depois vai estudar (e não estuda) os riscos dessa medida. Quem disse que os portugueses gostam de ser enganados, acertou.

Se há coisas que este governo não deveria deixar dúvidas até a René Descartes, se ainda por aí andasse, é quanto à ausência de ímpetos reformistas. Ainda assim há quem ainda não tenha reparado na ausência de reformas - talvez porque as confunde com reposições e restituições. Não é o caso do socialista Angel Cúrria, secretário-geral da OCDE, que conclui que Portugal só realizou duas das 14 reformas mais importantes.

A confirmar que, por defeito e até prova em contrário, os incentivos, subsídios, donativos e prebendas semelhantes onde os governos decidem torrar o dinheiro os contribuintes são em grande parte inúteis, e por vezes nocivos, leiam-se as irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas que atingem 107 milhões no IAPMEI e 69 milhões de euros na AICEP. Uma sugestão à tropa que se diz keynesiana (abusando do facto do John Maynard já não poder desmenti-los): estimem o multiplicador destes incentivos.

A generosidade com que o governo torra o dinheiro dos contribuintes em projectos falhados é um contraponto à avareza que o mesmo governo dedica a financiar o SNS, deixando «uma quantidade significativa de hospitais em falência técnica» como reconheceu o Adalberto que está a tomar conta do MS sob as ordens do Ronaldo das Finanças, ou a Segurança Social que deixa atrasar até um ano o pagamento dos enterros.

O crescimento de 2,7% de 2017, tão celebrado pelo governo, parece estar a desacelerar, como se previa. O indicador coincidente mensal para a actividade económica continuou a descida iniciada em Setembro do ano passado, bem como o indicador do consumo (quanto a isto podemos dormir para esse lado).

Quanto à balança comercial, não há boas notícias como tem sido costume desde há décadas com um curto interregno encerrado pela geringonça. Em Janeiro registou-se um défice de 482 milhões nas balanças corrente e de capital superior em 306 milhões ao défice de 176 milhões de Janeiro de 2017.

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