Se Portugal não fosse, como é, um país que toma a sério o que seria para brincar, brincando com coisas sérias, e os portugueses fossem servidos por um sentido de humor que infelizmente não faz parte da portugalidade, as intervenções "cívicas" do Dr. Soares, o papa do socialismo reviralhista, seriam tomadas como divertidos delírios e os seus artigos publicados não no DN, onde costumam sê-lo, mas no Público – no caderno Inimigo Público, entenda-se.
O último desses artigos intitulado «O Governo, as ondas e a nossa costa» é um bom exemplo. Nele o Dr. Soares lastima que «o ministro Pires de Lima, nunca se ocupou das ondas gigantes que arrasaram a costa portuguesa», acusa o governo «de ter destruído o Estado social, o Serviço Nacional de Saúde e grande parte das nossas universidades e tribunais», de fazer desaparecer «cientistas, escritores, poetas, artistas plásticos, etc.», de desejar «um novo 28 de Maio», de obrigar a sair de Portugal «um grande cantor, Fernando Tordo, tão popular e inteligente para poder ganhar a vida no Brasil» (uma subtil ironia aos ajustes directos que os governos socialistas fizeram para lhe pagar as cantorias).
Louva Sá Carneiro, «um homem de esquerda e só não entrou na Internacional Socialista porque o PS já lá estava» (esta piada é particularmente boa), Capucho, Mota Pinto (o seu companheiro de bunga-bunga), Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira ou «bastantes outros».
Até acusa «a própria ONU (por) ignorar esta situação (mudanças climáticas). Por causa dos mercados e da globalização economicistas», depois de durante anos a ter louvaminhado.
Porém, talvez a sua mais conseguida piada tenha sido pôr na boca do governo de Passos Coelho, a propósito do seu alegado desinteresse pela cóltura, a frase «quando oiço falar de cultura, puxo logo da pistola» de Paul Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do III Reich, que o azougado Dr. Soares atribui a «um dos apaniguados de Franco, em Saragoça, crítico e inimigo do grande Unamuno». Apaniguado (José Millán-Astray, um dos falangistas mais tesos da guerra civil espanhola) que teve com Miguel de Unamuno em 1936, na Universidade de Salamanca e não em Saragoça, uma conhecida discussão onde não puxou da pistola, nem tão pouco gritou a sua conhecida divisa «Viva la muerte!» que já tinha inventado na década anterior para o «Tercio de Extranjeros» que comandou.
Há quem diga que o Dr. Soares sofre de esquerdismo senil, ou é inimputável ou está a ser usado como uma espécie de canhão sem mira por uma facção do PS, ou, pelo contrário, é um político maquiavélico com uma agenda escondida. Não acho nada disso. Para mim, o Dr. Soares é um grande pândego. Cada vez mais, o maior de todos.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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27/02/2014
Pro memoria (161) – O Dr. Soares é um grande pândego
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