A gente percebe que com a sua obsessão manipulativa, o governo se expôs a uma armadilha, ao instilar nas tenras e predispostas meninges dos sujeitos passivos a sua putativa omnipotência para fintar a crise. Apesar disso, não será um exagerado insulto à inteligência, não já da imensa legião dos sujeitos passivos (esses coitados), mas do elaborado córtex cerebral dos banqueiros o governo ameaçá-los por não retribuirem a generosidade governamental concedendo mais crédito?
Saberá o pior ministro da Finanças que:
- Se os bancos usarem as garantias para se financiarem (até agora só a Caixa o fez e, de caminho, aumentou pela 3.ª vez num ano o capital) a última coisa que pretendem será ficar com a grana parqueada, grana que lhes custa os olhos da cara, ou seja o custo do aval do governo e taxas Euribor com spread que reflecte o progressivo endividamento da República e da banca;
- À míngua de volumes de trading suficientes (*) no mercado de capitais e de oportunidades no mercado monetário interbancário (afinal todos os principais bancos tencionam financiar-se com avales do governo), se quiserem aplicar o putativo dilúvio de fundos resta-lhes concederem crédito;
- A não ser que os banqueiros não sejam gananciosos (segundo os defensores da política intervencionista, não podem ser mais), se os bancos não concedem crédito à vontade do governo terão certamente boas razões para isso, por exemplo as seguintes;
- Se as insuficiências de capital já eram notórias, com o aumento do core tier I determinado pelo BdP, mais crédito significa mais aumentos de capital e, com as margens a descer, isso significa menos ROE;
- O risco marginal aumentará porque os novos créditos terão pior qualidade e, face às regras de Basileia II, mais risco significa ainda mais capital e ainda menos ROE;
(*) Vou tratar amanhã deste tema, abordado ontem pelo tele-evangelista professor Louçã.
PS: Depois de ter publicado este post, lembrei-me que já aqui havia tratado do prenúncio da doutora Teodora Cardoso na IV Conferência Anual da Ordem dos Economistas: «vai ser necessário obrigar os bancos a fazerem aquilo para que servem».
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