Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
31/10/2005
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: uma carta com magma
As associações empresarias portuguesas nas suas diferentes encadernações (CIP, AEP, AIP), foram a semana passada à assembleia da República apresentar aos deputados o Relatório da Competitividade e confessar o seu objectivo de conseguir que Portugal seja um dos países «mais desenvolvidos e atractivos da União Europeia» até 2015.
Se ser dos «mais desenvolvidos» significar ter um dos PIBs per capita mais elevados, umas contas de merceeiro mostram que tal só seria possível se a economia portuguesa crescesse 5 a 6% acima da média dos outros países «mais desenvolvidos» a que iríamos fazer companhia. É obra, mas não é coisa para assustar os nossos empresários, que já em 2003 na apresentação da Carta Magna da Competitividade tinham prometido o mesmo para 2013.
Podemos talvez explicar o wishful thinking empresarial pelo ambiente delirante do parlamento, potenciado pelos eflúvios de maconha procedentes do gabinete dos bloquistas - não é verdade que o camarada profeta Anacleto confessou à TSF ter experimentado a erva nos seus tempos loucos da juventude, enquanto cometia atrevidas infracções ao código da estrada?
Com eflúvios ou sem eflúvios, os nossos empresários ganharam o direito a 4 chateaubriands, por tomarem a nuvem dos eflúvios por Juno, e 3 bourbons pela reincidência da Carta Magna.
30/10/2005
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: ver um argueiro no olho próprio e não ver uma tranca no alheio
A semana passada, 30 representantes de pais, professores, autarquias e partidos políticos, certamente também pais a maioria deles, consideraram-se incompetentes para educar os seus filhos numa matéria nuclear ao seu papel de pais: a teoria e a prática da perpetuação da espécie, assegurada por meios gratificantes.
Suspeito que ao reconhecerem a incompetência terão tido carradas de razão. Nada os autorizava, contudo, a falar em nome das outras centenas de milhar de pais dos cachopos que frequentam as nossas escolas secundárias, pedindo ao governo para adoptar a educação sexual como matéria obrigatória.
Acresce que o módico de lucidez que os membros do Conselho Nacional de Educação mostraram ao reconhecerem-se incompetentes, foi prontamente posto em causa pelo facto de reconhecerem competência a um corpo de profissionais reconhecidamente incompetente para instilar nas meninges dos cachopos os rudimentos da língua pátria, da matemática e de outras matérias áridas e comprometedoras da felicidade que as escolas devem proporcionar.
Atribuo 3 afonsos aos conselheiros pelo reconhecimento da incompetência própria e 5 chateaubriands pelo não reconhecimento da alheia.
SERVIÇO PÚBLICO: o private banking sob o foco do vasculhar em curso
Pela banda da banca a novela mostra a sobranceria e expectativa de impunidade com que montaram e mantiveram durante anos um serviço de evasão fiscal para os seus clientes do private banking. Isto é conhecido de muita gente há demasiado tempo.
Pela banda do BdeP mostra que está mais preocupado em produzir sound bites e em fazer fretes ao governo, do que levar a cabo genuínas acções de inspecção e fiscalização como lhe competiria como autoridade de supervisão.
Pela banda da face visível da Judite e do DCIAP, o vasculhar caótico de milhares de contas e a incúria exuberantemente evidenciada (segundo o presidente da APB disse na televisão, há informação confiscada aos bancos nos elevadores do DCIAP), mostram a sensibilidade de um hipopótamo numa perfumaria, o pouco escrúpulo legal e um completo desprezo pelo direito ao sigilo.
Pela banda da face invisível da Judite e do DCIAP, o trombetear para os mídia das acções policiais mostra como também esta parte do aparelho do estado napoleónico-estalinista está infiltrada e ao serviço dos lóbis partidários e corporativos.
Pela parte dos mídia, mostra a mal disfarçada satisfação de ver o «capital financeiro» a escorregar na sua própria lama, aflorando debaixo daquele respeitinho reverencial com que, por diversas razões sobre as quais agora não tenho tempo de discorrer, tratam os senhores da finança, sempre tão educados, elegantes e bem-falantes.
Pela parte do populacho, mostra o profundo gozo de ver entalados aqueles «ricos» que levam as «grandes fortunas» de outros «ricos», uns e outros «gatunos», «lá para fora», enquanto os pobres contam as patacas para as esticar até ao fim do mês.
Pela parte do governo, mostra os primeiros sinais de duplicidade. Por um lado, a facção dos vingadores, quer, não tanto a punição exemplar dos culpados, mais o seu opróbrio público. Por outro lado, a facção «pragmática», deseja que tudo isto se resolva deixando o embaraço escorregar para dentro das gavetas da incompetência policial e judicial.
E pela banda dos clientes? Esses fizeram o que lhes competia, adoptando os comportamentos adequados à situação de pilhagem fiscal laxista e incompetente, com tanto escrúpulo como todos os outros. It's just business.
28/10/2005
SERVIÇO PÚBLICO: simplificação administrativa
«Especificações do certificado de matrícula em papel:
2.1 - As dimensões totais do certificado de matrícula não devem exceder as dimensões do formato A4 (210 mm x 297 mm) ou de um desdobrável de formato A4.
2.2 - Sem prejuízo da possibilidade de a entidade emissora introduzir elementos de segurança adicionais, o papel utilizado para o certificado de matrícula deve ser protegido contra a falsificação por meio da utilização de, pelo menos, duas das técnicas seguintes:
a) Grafismos;
b) Marca de água;
c) Fibras fluorescentes; ou
d) Impressões fluorescentes.
2.3 - A primeira página do certificado de matrícula deve conter as informações seguintes:
a) A menção «República Portuguesa»;
b) A letra «P», em maiúscula, como sinal distintivo de Portugal;
c) A indicação das autoridades competentes;
d) A menção «Certificado de matrícula», em corpo grande, podendo esta menção apresentar-se a uma distância adequada, impressa em corpo pequeno, noutras línguas da Comunidade Europeia;
e) A menção «Comunidade Europeia»;
f) A indicação do número do documento.
2.4 - O certificado de matrícula deve igualmente conter as informações seguintes, precedidas dos respectivos códigos comunitários harmonizados:
(A) Número de matrícula;
(B) Data da primeira matrícula do veículo;
(C) Dados pessoais:
(C.1) Titular do certificado de matrícula:
(C.1.1) Apelido(s) ou denominação comercial;
(C.1.2) Outro(s) nome(s) ou inicial(ais) (quando aplicável);
(C.1.3) Morada em Portugal na data de emissão do documento;
(C.4) Se as informações do n.º 2.5, código (C.2), não constarem do certificado de matrícula, referência do facto de o titular do certificado de matrícula:
a) Ser o proprietário do veículo;
b) Não ser o proprietário do veículo;
c) Não estar identificado no certificado de matrícula como proprietário do veículo;
(D) Veículo:
(D.1) Marca;
(D.2) Modelo:
Variante (se disponível);
Versão (se disponível);
(D.3) Denominação(ões) comercial(ais);
(E) Número de identificação do veículo;
(F) Massa:
(F.1) Massa máxima em carga tecnicamente admissível, excepto para motociclos;
(G) Massa do veículo em serviço com carroçaria e, no caso de um veículo tractor de qualquer categoria que não a categoria M1 (quilograma), com dispositivo de engate;
(H) Validade da matrícula, caso não seja ilimitada;
(I) Data da matrícula a que se refere o certificado;
(K) Número de homologação do modelo (se disponível);
(P) Motor:
(P.1) Cilindrada (em centímetros cúbicos);
(P.2) Potência útil máxima (em kW) (se disponível);
(P.3) Tipo de combustível ou fonte de energia;
(Q) Relação potência/peso (em kW/kg) (apenas para os motociclos);
(S) Lotação:
(S.1) Número de lugares sentados, incluindo o lugar do condutor;
(S.2) Número de lugares em pé (se aplicável).
2.5 - O certificado de matrícula pode ainda incluir os seguintes dados, precedidos dos respectivos códigos comunitários harmonizados:
(C) Dados pessoais:
(C.2) Proprietário do veículo (repetir o número de vezes correspondente ao número de proprietários):
(C.2.1) Apelido(s) ou denominação comercial;
(C.2.2) Outro(s) nome(s) ou inicial(ais) (se aplicável);
(C.2.3) Morada em Portugal na data de emissão do documento;
(C.3) Pessoa singular ou colectiva autorizada a utilizar o veículo em virtude de um direito legal que não a propriedade do veículo:
(C.3.1) Apelido(s) ou denominação comercial;
(C.3.2) Outros(s) nome(s) ou inicial(ais) (se aplicável);
(C.3.3) Morada em Portugal na data de emissão do documento;
(C.5) (C.6) (C.7) e (C.8) Se a alteração dos dados pessoais a que se referem os n.os 2.4, código (C.1), 2.5, código (C.2), ou 2.5, código (C.3), não der lugar à emissão de um novo certificado de matrícula, os novos dados pessoais correspondentes podem ser inseridos com os códigos (C.5), (C.6), (C.7) ou (C.8). Neste caso devem ser desagregados de acordo com as referências constantes dos n.os 2.4, código (C.1), 2.5, código (C.2), 2.5, código (C.3), e 2.4, código (C.4);
(F) Massa:
(F.2) Massa máxima em carga admissível do veículo em serviço em Portugal;
(F.3) Massa máxima em carga admissível do conjunto em serviço em Portugal;
(J) Categoria do veículo;
(L) Número de eixos;
(M) Distância entre eixos (em milímetros);
(N) No caso dos veículos com massa total superior a 3500 kg, distribuição entre os eixos da massa máxima em carga tecnicamente admissível:
(N.1) Eixo 1 (em quilogramas);
(N.2) Eixo 2 (em quilogramas), quando aplicável;
(N.3) Eixo 3 (em quilogramas), quando aplicável;
(N.4) Eixo 4 (em quilogramas), quando aplicável;
(N.5) Eixo 5 (em quilogramas), quando aplicável.
(O) Massa máxima rebocável tecnicamente admissível:
(O.1) Reboque com travão (em quilogramas);
(O.2) Reboque sem travão (em quilogramas);
(P) Motor:
(P.4) Regime nominal (em min-1);
(P.5) Número de identificação do motor;
(R) Cor do veículo;
(T) Velocidade máxima (em km/h);
(U) Nível sonoro:
(U.1) Estacionário [em dB(A)];
(U.2) Regime do motor (em min-1);
(U.3) Em circulação [em dB(A)];
(V) Gases de escape:
(V.1) CO (em g/km ou g/kWh);
(V.2) HC (em g/km ou g/kWh);
(V.3) NO(índice x) (em g/km ou g/kWh);
(V.4) HC + NO(índice x) (em g/km);
(V.5) Partículas no caso dos motores diesel (em g/km ou g/kWh);
(V.6) Coeficiente de absorção corrigido no caso dos motores diesel (em min-1);
(V.7) CO(índice 2) (em g/km);
(V.8) Consumo de combustível em ciclo combinado (em l/100 km);
(V.9) Indicação da classe ambiental de homologação CE; referência da versão aplicável por força da Directiva n.º 70/220/CEE ou da Directiva n.º 88/77/CEE;
(W) Capacidade do(s) depósito(s) de combustível (em litros).
2.6 - As entidades emissoras podem incluir no certificado de matrícula informações complementares, designadamente acrescentando, entre parêntesis, aos códigos de identificação, conforme estabelecido nos n.os 2.4 e 2.5, códigos nacionais adicionais.»
SERVIÇO PÚBLICO: as coisas nunca estão tão más que não possam piorar
Confessei então que essa minha euforia durou menos do que as bolhas virtuais do champanhe (que não chegou a ser aberto), esvaziada pela Joana do Semiramis, essa jeremias da Bloguilha, com este seu post derrotista.
Uma outra peça ainda mais derrotista, publicada no Público pelo doutor Medina Carreira (pode ser lido aqui nos maçónicos do Grande Loja), despertou-me a atracção pelo abismo e lá fui desenterrar a confirmação pelo ranking do Doingbusiness do World Bank. Quando esquecemos alguns dos indicadores usados pelo World Economic Forum em que a nossa excelência brilha a grande altura, tais como os “custos do terrorismo” (1º lugar), “liberdade de imprensa” (4º), “acesso aos telemóveis” (9º), baixa influência do “crime organizado” (7º) e “independência dos tribunais” (15º), e nos concentramos no business as usual, não podemos esperar grande coisa.
Podemos, contudo, consolar-nos da miséria de ficarmos atrás do Bostwana, com a glória de ficarmos à frente do panteão europeu do culto de l'État.
Ainda assim, a nossa medíocre performance na «facilidade de fazer negócios» e convencer os bancos a emprestar a grana, não é acompanhada pela facilidade de começar um novo negócio, quer a tratar da papelada quer a contratar o pessoal (para não mencionar despedi-lo).
27/10/2005
BLOGARIDADES: ainda é cedo para deitar foguetes
Por enquanto trata-se apenas da desorientação da mente das luminárias do colectivismo. Daí até à sua conversão vai uma eternidade, talvez apenas ligeiramente mais curta do que eternidade requerida para enxugar o colectivismo que impregna o nosso bom povo até ao osso mais recôndito.
Talvez se possa começar a anunciar a inversão do ónus da prova. O que não é nada mau.
CONDIÇÃO MASCULINA: o macho conformista
«It may be small comfort to evolutionists, but my wife assures me that I am evidence against intelligent design»(David Unger, leitor de Toronto de The Economist, a propósito deste artigo)
TRIVIALIDADES: descoberto o prião de Creutzfeldt-Jakobs num urinol do palácio de Belém
O bicho ficou lá amodorrado e atacou 10 anos depois o actual inquilino que, para fechar 4 anos a mastigar sound bites contra a intervenção ianque no Iraque, descobriu (depois de saber disto) que «é do interesse de toda a comunidade internacional que os Estados Unidos e seus aliados sejam bem sucedidos naquele país».
Ainda vamos a ver o novo inquilino, contaminado pelo prião, converter-se ao neo-liberalismo.
26/10/2005
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: «Não é bom, nem mau. É assim.»
«A minha teoria é que são necessárias quatro condições para se chegar ao topo, seja-se homem, seja-se mulher: os genes, a educação, a oportunidade e a ambição. Quanto a mim, o que falta às portuguesas é a última condição. Uma executiva de topo ou uma política de topo tem poder, e é preciso gostar-se do poder. O poder acarreta responsabilidade e protagonismo, e é preciso ter-se gosto por isso.(Vera Nobre da Costa, uma executiva bem sucedida, na sua coluna de opinião «Do homem a praça, da mulher a casa?», no Caderno Economia do Expresso de 22-10)
Não é bom, nem mau. É assim.»
O que falta às portuguesas também falta aos portugueses. Não me refiro à ambição - afinal somos nós que temos aquele ditado popular «sol na eira e chuva no nabal». Não me refiro ao protagonismo - todos gostamos dos 15 minutos de fama que o McLuhan disse que temos direito. Refiro-me à responsabilidade.
25/10/2005
CASE STUDY: l'État c'est nous
Percebe-se que receiam a perda de privilégios da legião de empregados do colosso, ainda que à custa dos 60 milhões de consumidores. Mas como perceber o eco que as suas palavras de ordem previsivelmente encontrarão em milhões desses consumidores? É o culto de l'État entranhado há séculos nas meninges daquelas criaturas. Uma relação de dependência e ódio que ciclicamente levanta as pedras da calçada para descobrir praias imaginárias que lá não existem. É um culto que por estas bandas também contamina bastantes almas a que, porém, não chega a convicção para levantar as pedras da calçada.
SERVIÇO PÚBLICO: porventura capital
Como se sabe, essas criaturas são uma tosca adaptação do venture capital à realidade do nacional-colectivismo doméstico. Em muitos casos que pessoalmente tive conhecimento, as SCR entraram no capital de empresas inviáveis, por vezes tecnicamente falidas, em sectores tradicionais, com produtos sem qualquer inovação, frequentemente após intensa actividade de lobbying, geralmente canalizado pela via larga do bloco central (que é uma coisa que os distraídos julgam já não existir).
Por curiosidade, fui dar uma olhada ao sítio da Associação Portuguesa de Capital de Risco e de Desenvolvimento. Vale a pena, em particular este relatório. Dele extraio o gráfico seguinte que dá uma bela ideia da presença sufocante do estado napoleónico-estalinista num domínio em que seria suposto estar completamente afastado, por absoluta, definitiva, demonstrada e irrevogável incapacidade para avaliar e assumir riscos.

24/10/2005
BLOGARIDADES: é o odor corporal que divide a esquerda e a direita
ARTIGO DEFUNTO: não havia necessidade
Se a coisa lhe pareceu familiar, é muito provável que seja um assinante ou pelo menos um leitor regular de The Economist, que publicou no número de 1-10 na secção Charlemagne uma peça com o título «Choose your poison» que foi certamente a fonte não citada do «estudo» da jornalista.
Reconheço que, face aos paradigmas vigentes no jornalismo doméstico, não é especialmente grave escrever uma peça colada a outra. Já por cá vimos coisa infinitamente mais vergonhosa. Mas não havia necessidade - a gente lia na mesma, até com mais confiança, se a peça original fosse referenciada.
23/10/2005
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: demais para as corporações, de menos para as reformas
O que se pode dizer deste orçamento? Que é o orçamento possível? Que é o melhor orçamento dos últimos anos? A mim parece-me que é um tiro no pé do governo. Porque já se ouve o rufar dos tambores das corporações, que a seu tempo se maninfestarão, mas não se vislumbra um módico de reformas do estado napoleónico-estalinista, de dietas impostas à voracidade vaca marsupial pública. Onde estão as medidas de reorganização, de emagrecimento das estruturas redundantes e improdutivas que enxameiam a administração pública?
Que este governo ainda não tem responsabilidades na ruptura anunciada da sustentabilidade do sistema de segurança social aceita-se, mas não se compreende que «a mesma equipa que há cinco anos, no governo de António Guterres, garantiu, através de um estudo, que o sistema de previdência em repartição era sustentável até 2100, diz agora que o saldo foi negativo em 2004 e admite utilizar o Fundo de Estabilização da Segurança Social já em 2007. Apesar de tudo, no orçamento para o próximo ano, adia a prometida introdução da capitalização do regime.» (Semanário Económico)
Alguém acredita que as oportunidades que agora se estão a perder para introduzir as reformas necessárias voltarão a surgir à medida que se aproximar o fim da legislatura?
Dois afonsos é uma magnanimidade do Impertinências para premiar o orçamento, na parte que vai chatear os interesses instalados, e quatro chateaubriands porque chatear é quase tudo o que sobra do orçamento, descontado o business as usual.
22/10/2005
BREIQUINGUE NIUZ: o texano tóxico, segundo Bono
«You went from friend of Bill Clinton to flashing a peace sign in a photo op with George W Bush.
I was in a photo with President Bush because he’d put $10 billion over three years on the table in a breakthrough increase in foreign assistance called the Millennium Challenge. I had just got back from accompanying the president as he announced this at the Inter-American Development Bank.
I kept my face straight as we passed the press corps, but the peace sign was pretty funny. He thought so, too. Keeping his face straight, he whispered, “There goes a front page somewhere: Irish rock star with the Toxic Texan.”
I think the swagger and the cowboy boots come with some humour. He is a funny guy. Even on the way to the bank he was taking the piss. The bulletproof motorcade is speeding through the streets of the capital with people waving at the leader of the free world, and him waving back.
I say: “You’re pretty popular here!”
He goes: “It wasn’t always so . . .” — Oh really? — “Yeah. When I first came to this town, people used to wave at me with one finger. Now, they found another three fingers and a thumb.”
So you liked this man?
Yes. As a man, I believed him when he said he was moved to also do something about the Aids pandemic. I believed him. Listen, I couldn’t come from a more different place, politically, socially,geographically. I had to make a leap of faith to sit there. He didn’t have to have me there at all. But you don’t have to be harmonious on everything — just one thing — to get along with someone.»
(entrevista, já com barbas, de Bono ao Sunday Times - via ¡No Pasarán!)
Já aqui escrevi que, não sofrendo de bushfobia, também não sou exactamente um admirador de George Bush, quer da pessoa quer do político. Apenas sinto «uma simpatia mitigada, como contrapartida ao ódio doentio que lhe devotam os crentes do politicamente correcto e a esquerdalhada em geral.»
Ao ler a entrevista de Bono, personagem que me deixa indiferente quando o ouço e me irrita ligeiramente quando o vejo, concluí que ficava a dever-lhe uma (ao Bono, não ao Bush): afinal o homem existe por trás daqueles chapeuzinhos e daqueles óculos ridículos e foi capaz de olhar o George W. por trás do estereotipo que os seus compagnons de route inventaram.
21/10/2005
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Zé Mourinho, um macho alfa
Não é preciso (mas ajuda) frequentar A Causa Foi Modificada e ler o que escrevem os jornais ingleses para perceber o génio de José Mourinho como treinador.
Para ser o melhor treinador do mundo, o homem tem que ser notável a vários títulos. Inteligência espacial (o olho da águia que sobrevoa o campo de batalha e vê por cima o que os outros só vêem por baixo), flexibilidade e rapidez mental, génio táctico, etc., etc. e etc. E, claro, liderança - uma visão (vamos comê-los vivos) e uma influência magnética para a transmitir aos 11 fanatizados que têm a incumbência de destroçar e demolir as tropas inimigas.
Como é que um espécime destes poderia continuar a treinar o FêCêPê, os lampiões ou os lagartos? Não podia.
Como é que ele resistiu aos paradigmas de frouxidão que as mães portuguesas, com a cumplicidade apática dos frouxos pais, inculcam nos filhos? Como sobreviveu ao culto da mediocracia que as escolas alimentam nos alunos e ao caldo cultural fermentado em séculos de decadência? Como não foi derrotado pelos grupos de influência invejosa e medíocre que ensopam o futebol português?
É um num milhão. Só pode ser. Outro qualquer, bem parecido e bem falante como o Zé, e com jeito para os futebóis, já estaria transformado em cabide dos armanis, já seria um metrossexual (que coisa é esta, hem?) a falar futebolês caro e a empertigar-se para as TVs.
Zé, por tudo isto, e outras coisas de que não falo porque me falta o engenho, levas 5 merecidos afonsos.
20/10/2005
CASE STUDY: como conseguir que todos os proprietários de florestas sejam imprudentes e negligentes
(Jornal de Negócios)
SERVIÇO PÚBLICO: Oil for food - the french connection
Jean-Bernard Mérimée, antigo embaixador de França na ONU está a ser acusado por um tribunal francês (hélas) de ter concedido favores a Saddam em troca de «direitos sobre a venda de dois milhões de barris de petróleo». Este escândalo pode estar ligado por pipeline ao outro que envolve o filho de Kofi Annan, visto que essa venda foi feita por uma empresa acreditada na ONU.
Escreve o Público, com alguma ingenuidade, que «o caso constitui um embaraço para as autoridades francesas, acusadas por Washington de não terem apoiado a guerra contra o regime de Saddam devido aos interesses económicos que tinham no Iraque». Na verdade as autoridades francesas há muito que deveriam estar embaraçadas - por exemplo desde que se sabe isto.
19/10/2005
BLOGARIDADES: Freud explicaria
Ao invés de «rentabilizar» a sua notável experiência como homem e como político, procura seduzir esses jovens mostrando o seu monumental ego, o seu pós-modernismo, frescura e irreverência a que podemos chamar irresponsabilidade.
A coisa está a ir bastante longe. Veja-se o símbolo escolhido por alguns dos seus jovens procuradores para o novo blogue SUPERMÁRIO.
A 2ª infância do doutor Mário
DIÁRIO DE BORDO: o homo sinister não é homo sapiens sapiens
Trata-se da livre escolha e da responsabilidade individual. É aqui também, neste campo ético, que a visão liberal, em qualquer das suas variantes, se distingue claramente da visão colectivista, seja ela da direita dinossáurica ou da esquerda totalitária (incluindo nesta algumas facções bloquistas travestidas, por razões tácticas, de respeitadoras das liberdades democráticas).
Os pressupostos éticos do colectivismo decorrem duma visão monstruosa do género humano. O colectivismo, de direita ou de esquerda, vê os humanos como seres irresponsáveis incapazes de fazerem pela sua vida, carecendo constantemente do colo do moloch estatal e da endoutrinação das luminárias ao seu serviço.
A unicidade (est)ética do colectivismo (*)
(*) Um cartaz neo-realista do PCUS? Do PCP? Do MRPP? Da UDP? Da LCI? Veja a resposta aqui. Também pode ler aqui um ensaio impertinente sobre o homo sinister.