Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

28/02/2010

O (IM)PERTINÊNCIA FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o pesadelo premonitório

Eu tive um sonho

Traumatizado pelo estado de desertificação das serras do interior da Ilha da Madeira, muito especialmente da região a Norte do Funchal e que constitui as bacias hidrográficas das três ribeiras que confluem para o Funchal, dando-lhe aquela fisiografia de perfeito anfiteatro, aliado a recordações da infância passada junto à margem de uma das mais torrenciais dessas ribeiras – a de Santa Luzia – o mundo dos meus sonhos é frequentemente tomado por pesadelos sempre ligados às enxurradas invernais e infernais dessa ribeira. Tive um sonho.

Adormecendo ao som do vento e da chuva fustigando o arvoredo do exemplar Bairro dos Olivais Sul onde resido, subia a escadaria do Pico das Pedras, sobranceiro ao Funchal. Nuvens negras apareceram a Sudoeste da cidade, fazendo desaparecer o largo e profundo horizonte, ligando o mar ao céu. Acompanhavam-me dois dos meus irmãos – memórias do tempo da Juventude – em que nós, depois do almoço, íamos a pé, subindo a Ribeira de Santa Luzia e trepando até à Alegria por alturas da Fundoa, até ao Pico das Pedras, Esteias e Pico Escalvado. Mas no sonho, a meio da escadaria de lascas de pedra, o vento fez-nos parar, obrigando-nos a agarrarmo-nos a uns pinheiros que ladeavam a pequena levada que corria ao lado da escadaria. Lembro-me que corria água em supetões, devido ao grande declive, como nesses velhos tempos. De repente, tudo escureceu. Cordas de água desabaram sobre toda a paisagem que desaparecia rapidamente à nossa volta. O tempo passava e um ruído ensurdecedor, semelhante a uma trovoada, enchia todo o espaço. Quanto durou, é difícil calcular em sonhos. Repentinamente, como começou, tudo parou; as nuvens dissiparam-se, o vento amainou e a luz voltou. Só o ruído continuava cada vez mais cavo e assustador. Olhei para o Sul e qualquer coisa de terrível, dantesco e caótico se me deparou. A Ribeira de Santa Luzia, a Ribeira de S. João e a Ribeira de João Gomes eram três grandes rios, monstruosamente caudalosos e arrasadores. De onde me encontrava via-os transformarem-se numa só torrente de lama, pedras e detritos de toda a ordem. A Ribeira de Santa Luzia, bloqueada por alturas da Ponte Nova – um elevado monturo de pedras, plantas, arames e toda a ordem de entulho fez de tampão ao reduzido canal formado pelas muralhas da Rua 31 de Janeiro e da Rua 5 de Outubro – galgou para um e outro lado em ondas alterosas vermelho acastanhadas, arrasando todos os quarteirões entre a Rua dos Ferreiros na margem direita e a Rua das Hortas na margem esquerda. As águas efervescentes, engrossando cada vez mais em montanhas de vagas espessas, tudo cobriram até à Sé – único edifício de pé. Toda a velha baixa tinha desaparecido debaixo de um fervedouro de água e lama. A Ribeira de João Gomes quase não saiu do seu leito até alturas do Campo da Barca; aí, porém, chocando com as águas vindas da Ribeira de Santa Luzia, soltou pela margem esquerda formando um vasto leito que ia desaguar no Campo Almirante Reis junto ao Forte de S. Tiago. A Ribeira de S. João, interrompida por alturas da Cabouqueira fez da Rua da Carreira o seu novo leito que, transbordando, tudo arrasou até à Avenida Arriaga. Um tumultuoso lençol espumante de lama ia dos pés do Infante D. Henrique à muralha do Forte de S. Tiago. O mar em fúria disputava a terra com as ribeiras. Recordo-me de ver três ilhas no meio daquele turbilhão imenso: o Palácio de S. Lourenço, A torre da Sé e a fortaleza de S. Tiago. Tudo o mais tinha desaparecido – só água lamacenta em turbilhões devastadores.

Acordei encharcado. Não era água, mas suor. Não consegui voltar a adormecer. Acordado o resto da noite por tremenda insónia, resolvi arborizar toda a serra que forma as bacias dessas ribeiras. Continuei a sonhar, desta vez acordado. Quase materializei a imaginação; via-me por aquelas chapas nuas e erosionadas, com batalhões de homens, mulheres e máquinas, semeando urze e louro, plantando castanheiros, nogueiras, pau-branco e vinháticos; corrigindo as barrocas com pequenas barragens de correcção torrencial, canalizando talvegues, desobstruindo canais. E vi a serra verdejante; a água cristalina deslizar lentamente pelos relvados, saltitando pelos córregos enchendo levadas. Voltei a ouvir os cantares dolentes dos regantes pelos socalcos ubérrimos das vertentes. Foram dois sonhos. Nenhum deles era real; felizmente para o primeiro; infelizmente para o segundo.

Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente.
Os grandes aluviões são cíclicos na Madeira. Basta lembrar o da Ribeira da Madalena e mais recentemente o da Ribeira de Machico. Aqui, porém, já não é uma ribeira, mas três, qualquer delas com bacias hidrográficas mais amplas e totalmente desarborizadas. Os canais de dejecção praticamente não existem nestas ribeiras e os cones de dejecção etão a níveis mais elevados do que a baixa da cidade. As margens estão obstruídas por vegetação e nalguns troços estão cobertas por arames e trepadeiras. Agradável à vista mas preocupante se as águas as atingirem. Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis (só em sonhos).

Não sei como me classificaria Freud se ouvisse este sonho. Apenas posso afirmar sem necessidade de demonstrações matemáticas que 1 mais 1 são 2, com ou sem computador. O que me deprime, porém, é pensar que o segundo sonho é menos provável de acontecer do que o primeiro.

Dei o alarme – pensem nele.


Lisboa, 11 de Dezembro de 1984
Cecílio Gomes da Silva
Engenheiro Silvicultor

Artigo publicado no dia 13 de Janeiro de 1985 no jornal “Diário de Notícias” do Funchal

[Enviado por JARF]

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (9) – estará a espécie extinta?

As revelações das escutas do caso Face Oculta estão a alastrar como uma mancha de óleo sobre a política e o mundo dos negócios à portuguesa. Só se sabe que começou na sucata e não se sabe até onde chegará. Uma das últimas trapalhadas que emerge das escutas publicadas pelo Sol é o decreto à medida da Associação Nacional de Farmácias (ANF) que o animal feroz José Sócrates ajeitou depois de aprovado no conselho de ministro, pressionado pelos rugidos dum outro animal ainda mais feroz – o presidente vitalício da ANF. Foi mais uma entrada de leão no início de mandato ameaçando os lóbis, e muito especialmente o das farmácias, que terminou com uma saída de sendeiro, com concessões suspeitas, por processos suspeitos e por intermédio de criaturas suspeitas. Entrada de leão, como outras, por exemplo a entrada da avaliação dos professores que deu no que deu.

Outras trapalhadas desvendadas foram as manobras à volta do Taguspark que envolveram também Isaltino de Morais, num exemplo das virtualidades da traficância do bloco central no campo do negocismo parasitário.

Começa-se a duvidar que gente honrada possa ser tão estúpida ou distraída que, chegados onde estamos, ainda acredite em campanhas negras. Talvez devamos chegar à conclusão que a espécie está extinta dentro do PS.

«Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa.»
(Eça de Queirós)

27/02/2010

CASE STUDY: a confiança equívoca

O jornal i fez a seguinte pergunta a 50 luminárias «Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta, mantém a confiança no primeiro-ministro?». 21 criaturas responderam sim, 16 criaturas responderam não e 11 nim. Não me perguntem o que foi feito às 2 criaturas que faltam – pode ser um défice de numeracia da redacção do i – mas podem perguntar-me como explicar que 21 em 48 delas ainda possam acreditar no homem. A resposta simples é: são os novos situacionistas. A resposta complicada vem a seguir.

Cinco (Alípio Dias, Germano Marques da Silva, João Duque, Elvira Fortunato, Loureiro dos Santos) dessas 21 criaturas acreditam até prova em contrário e delegam o juízo deles nos juízes, o que é extraordinário, sendo a confiança algo pessoal e intransmissível.

Pelo menos sete dos 21 não podiam dizer outra coisa por razões de carreira (Luís Nazaré, Emídio Rangel, Delmiro Carreira), fidelidade a terceiros interessados (Eduardo Barroso), de interesses de negócio adquiridos (Joe Berardo) ou a adquirir (Horário Roque sonhando com o banco postal, Soares Franco sonhando com obras).

Em três das 21 respostas que o jornalista considerou sim, os inquiridos responderam coisas como:
  • «se não fosse a situação do país, diria que não» (Van Zeller)
  • «dar-lhe-ia mais uma oportunidade» (João Reis)
  • «a sua credibilidade está seriamente abalada» (Júlio Machado Vaz)
A duas criaturas foi creditado o sim só porque o jornalista não conseguiu apanhar a ironia, em respostas como as seguintes:
  • «Confio. Posso dizer que a minha confiança em Sócrates se mantém inalterada desde que descobri que ele não é de confiança.» (Luís Pedro Nunes)
  • «Sim, porque Sócrates não tem culpa que o tio lhe chame Joselito nas televisões. Mário crespo só está interessado em entrevistar o Lobo Antunes e o Medina Carreira. Para além disso, todos sabemos que na Universidade Independente os cursos de inglês são melhores que os do Wall Street Institute» (Fernando Alvim)
É bastante significativo que enquanto os não são todos claros e sem reservas, entre 16 sim que sobram dos equívocos do jornalista na classificação apenas sete são claros e sem reservas (Luís Nazaré, Eduardo Barroso, Inês Pedrosa, Pais do Amaral, Emídio Rangel, Delmiro Carreira, Octávio Machado) e, destes sete, quatro são da casa.

Direitos adquiridos

Direitos adquiridos, define-se no Glossário, são direitos que os seus detentores pretendem manter, essencialmente à custa dos que os não podem adquirir, por já terem sido adquiridos. Pertencem à categoria das chamadas conquistas de Abril e são as nossas vacas sagradas.

Exemplo: 324 empregados da Galp Energia tiveram o ano passado os seus postos de trabalho «eliminados», para usar a linguagem bélica do Jornal de Negócios, levando para casa indemnizações que totalizarem 17,2 milhões de euros ou 53 mil euros por cabeça, ou seja mais do que o volume anual de salários duma empresa média (considerando 1,2 milhões de empresas de todas as dimensões que pagaram em 2007 38,5 mil milhões de euros – cfr dados do INE).

26/02/2010

BREIQUINQUE NIUZ: Henrique Granadeiro, primeiro-ministro executivo?

«Henrique Granadeiro é que convidou Rui Pedro Soares para a administração da Portugal Telecom, em 2006, afirmou hoje o ex-administrador da PT na comissão parlamentar de Ética. Mais uma vez em relação ao convite, remeteu para Henrique Granadeiro as explicações. Rui Pedro Soares garantiu, ainda, que "nunca foi representante do Estado na comissão executiva nem isso foi considerado como tal em momento anterior a estas três semanas".» (Jornal de Negócios)

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (8) - no pasa nada

«Sinto-me chocado por haver pessoas responsáveis do PS a dizer que não se passa nada … Isto faz-me lembrar o Iraque, quando o ministro dizia que a situação era calma e o país estava a ser invadido», disse José António Saraiva, director do Sol, esta manhã à comissão de ética republicana, durante o seu relato das manobras da clique socrática.

Também me sinto chocado, mas não surpreendido, pelo comportamento do pessoal político do PS. Contudo, acho mal comparada a situação do Iraque a ser invadido pelos exércitos aliados com a de Portugal ocupado pelo pessoal do PS. Parecer-me-ia mais apropriada a comparação com a situação do Iraque ocupado pelo pessoal do partido Baath, antes da invasão.

DIÁRIO DE BORDO: em louvor dos especuladores nossos amigos

Imagine-se o que seria o inferno dos cidadãos de países como o nosso ou a Grécia ou a Espanha (para não citar outros continentes) com governos socialistas (ou despesistas, que é um conceito um pouco mais abrangente, onde sem esforço podemos incluir o PSD) sem os especuladores. Sem eles, os cidadãos seriam os sujeitos passivos de políticas de despesa públicas pantagruélicas, défices, endividamento e carga fiscal crescentes, ou seja o caminho para a servidão dos países em vias de subdesenvolvimento.

Os especuladores são os predadores dos mercados. Sentem o cheiro do sangue das feridas que os governos despesistas fazem derramar às economias e na primeira oportunidade atacam, aumentando os spreads e o custo dos CDS, tornando o peso da dívida insuportável e impondo (indirectamente) condições que forçam esses governos a serem demitidos ou a tomar medidas para conter a hemorragia do desperdício de recursos. Se não fossem eles, os nossos filhos e os nossos netos herdariam um passivo que jamais teriam condições de amortizar.

A encomenda (Sócrates chamou-lhe um figo)

Relida a esta distância, a entrevista de 7 de Agosto do ano passado de Luís Figo a um diário da manhã focado na informação económica (?), propriedade da Ongoing - a propósito releia-se a série de posts «quem é o deus ex machina da Ongoing?» -, sabido o que sabe a partir das escutas do Face Oculta, é absolutamente transparente, nomeadamente as 3 perguntas que são o leitmotiv da entrevista.

«Faz uma avaliação positiva deste governo?
Ainda há muita coisa a fazer, mas, visto de fora, faço uma avaliação muita positiva do trabalho deste Governo nos últimos quatro anos. No momento em que estamos com as eleições à porta, é preciso garantir a estabilidade e continuidade das decisões que foram tomadas, para que a entrada de um novo governo não signifique que se começa tudo outra vez do início. Não é positivo para o país estar sempre a mudar de rumo e de opções e é sempre necessário algum tempo para as coisas produzirem efeitos.

No seu entender, era desejável que o actual governo ganhasse as eleições legislativas?A implementação de algumas opções políticas não se faz em quatro anos. As pessoas também têm a consciência que algumas das opções foram erradas, porque ninguém é perfeito, mas, havendo mais quatro anos de governação, esses eventuais erros podem ser corrigidos. Aliás, sou defensor de governos com dois mandatos para podermos avaliar a governação.

Fica claro em quem vai votar no dia 27 de Setembro...
Sempre votei em pessoas e não em partidos políticos. Eu vejo a energia de José Sócrates, a capacidade empreendedora, e espero que continue a ter essa capacidade de mobilizar o país. Bem precisamos! »

25/02/2010

CASE STUDY: a China expôs (involuntariamente) a hipocrisia da Google

«Where Google’s new stance on China’s censorship and violation of dissidents’ privacy seems at odds with CEO Eric Schmidt’s recent statement that “If you have something that you don’t want anyone to know, maybe you shouldn’t be doing it in the first place,” an interesting implication of this statement about what information was compromised brings things back into expected focus. That sort of information is exactly the kind of thing that can legally be acquired by United States law enforcement agencies by way of a court order. This suggests that some part of the process of handing over private information to law enforcement personnel serving a court order has been automated, and that security crackers working for the Chinese government found a way to exploit that automated access

[Continuar a ler aqui e ler a entrevista de Bárbara Navarro ao ionline]

SERVIÇO PÚBLICO: a Cassete Sócrates segundo JM do Blasfémias

Estamos a fazer investimento público, como as barragens …” [as barragens são investimento privado. O Estado até recebe dinheiro pelas concessões]

optamos por um défice elevado em 2009 para combater a crise …” [não houve opção nenhuma. As receitas simplesmente caíram a pique]

usamos o défice para investimento público em barragens, hospitais, escolas …” [barragens foram pagas por privados, os hospitais por PPPs e as escolas por desorçamentação via Parque Escolar]

usamos o défice para combater a crise …” [o défice deve-se sobretudo a perda de receita]

já baixei o défice e sei como o fazer …” [de 2005 a 2007 baixou o défice à custa do aumento de impostos]

foi o défice que salvou o mundo do colapso financeiro …” [o défice americano foi usado para salvar empresas falidas e estimular a procura, o português nem isso. O défice português deve-se em primeiro lugar a perda de receita. Aumento das despesas com desemprego, aumento dos salários públicos também ajudaram. Só uma pequena fracção do défice é que serviu de estímulo keynesiano]

o défice salvou a banca …” [em Portugal faliram dois bancos, salvos pela CGD e por garantias públicas, mas nada disso contribuiu significativamente para o défice de 2009]

o endividamento externo resolve-se com energias alternativas … assim não precisamos de nos endividar para comprar petróleo” [energia eléctrica produz-se a partir de gás natural e não de petróleo. O país tem que endividar para importar geradores eólicos]

o saldo da balança tecnológica é positivo” [estamos a falar de um volume de exportações de 1000 milhões de euros (0.065% do PIB) e de um saldo de 65 milhões de euros (0.004% do PIB)]

Ninguém está inocente?

Aqui no (Im)pertinências não se dá muito crédito aos diários da manhã (nem ao PGR), mas como interpretar este alegado excerto do despacho do PGR de 18-11-2009:
«Rui Pedro diz a Paulo Penedos que foram vítimas de uma cilada e não sabe se identificaram todos os protagonistas. Foram enganados (?) Rui Pedro diz que a pessoa que mais sabia deste negócio, e não por ele, era a Manuela Ferreira Leite, mas enganou-se quando disse que o negócio estava feito, e o negócio devia estar feito uma hora antes
E, por falar em crédito, tem-me esquecido de perguntar se Santana Lopes recebeu ou não os cheques do sucateiro.

24/02/2010

BREIQUINGUE NIUZ: PCP e BE anunciam manif de solidariedade com vítima da ditadura?

«O prisioneiro político cubano Orlando Zapata Tamayo, de 42 anos, morreu ontem à noite, ao fim de 85 dias de greve de fome que iniciara como protesto contra as condições prisionais no país. … Tamayo, um canalizador oriundo da província de Holguin e membro da organização de defesa civil Directório Democrático cubano (ilegal), foi preso em 2003 e condenado a uma pena de 18 a 25 anos de prisão pelos crimes de desrespeito da ordem pública, desordem e resistência ao Governo da ilha.
A Amnistia Internacional classificou-o como um dos 58 “prisioneiros de consciência” em Cuba.»
(Público)

As coisas não estão tão más que não possam ainda piorar

Em quatro meses o juro das OT a 5 anos aumentou de 2,759% para 3,498% ou seja mais de 20 por cento. Isto significa que esta emissão de mil milhões de euros vai ter custo adicional durante os cinco anos de 36,95 milhões. Se a totalidade da dívida tivesse que ser refinanciada no mesmo prazo e à mesma taxa, o custo adicional em relação a Novembro do ano passado seria de praticamente 3 mil milhões de euros.

É uma visão catastrofista? De modo algum. Muito provavelmente os spreads irão aumentar ainda mais, bem como os CDS. Nem outra coisa poderia ser, face à falta de medidas efectivas para combater o défice e o aumento do endividamento – veja-se o governo a garantir que não aumenta a idade da reforma (a Alemanha, com um défice próximo dos 3%, já anunciou o aumento para 67 anos) nem sobe os impostos. Já nem se fala de reduzir a despesa corrente, coisa que o governo nunca conseguiu fazer. Resta, por isso, a contabilidade criativa e a desorçamentação, atirando para fora do OE o investimento público via PPP.

Ratos abandonando (sorrateiramente) o navio Sócrates

Geralmente os opinion makers percebem antes daqueles cuja opinion é made que a opinion vai mudar. O efeito erosivo que as inúmeras trapalhadas de José Sócrates têm tido na credibilidade do primeiro-ministro não é excepção. Enquanto os indefectíveis cerram fileiras e um terço da opinião publica continua a imaginar campanhas negras, os opinion makers vão criando as suas distâncias.

Quem imaginaria há umas semanas que o director dum diário da manhã, a propósito da entrevista a Miguel Sousa Tavares, pudesse escrever editoriais como este, em que se escrevem coisas como «… a divulgação de contradições sucessivas não está só a provocar um visível desgaste político a este Governo. Está a deixar o País mergulhado num ambiente cada vez mais inviável. E se isso continuar, Cavaco Silva poderá ver-se forçado a avaliar e decidir sem fazer cálculos políticos»?

Desgaste político? Ambiente inviável? Cavaco Silva forçado a decidir? O quê, santo deus?

23/02/2010

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: outra nódoa, desta vez na hipotética honra

Secção Com a verdade me enganas

Como aqui e aqui se relata, a PT injectou liquidez na Ongoing para ajudar a compra da Media Capital (já agora, usando os fundos das pensões dos empregados da PT). E quem foi o executor desta operação? O administrador da PT Fernando Soares Carneiro. O mesmo que ontem renunciou ao cargo com esta explicação:
«Não renuncio ao cargo de administrador da PT SGPS SA para defender a honra hipoteticamente manchada. Na realidade, a minha honra profissional é um bem sólido, com quase 40 anos de prestigiada carreira, e a minha honra pessoal é algo que eu não dou azo a que seja discutido na praça pública
Belas palavras que valem 3 chateaubriands pela confusão acerca das palavras honra e hipotética e 4 ignóbeis pela sua alegada participação na frustrada manobra.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: uma nódoa que se limpa e um ministo anexo que se perde

Secção Assault of thoughts

Destoando do discurso unanimista, laudatório e patrioteiro a propósito da nomeação política de Vítor Constâncio para vice-presidente do BCE, Morais Sarmento expressou na RR opiniões tão desagradáveis quanto verdadeiras:
«Acho que foi, na história do Banco de Portugal, uma nódoa. Uma nódoa na elevadíssima competência, no grau de capacidade e competência técnica a que o Banco de Portugal nos habituou … envergonha o Banco de Portugal, prejudicou objectivamente o país e, portanto, não é uma questão de estados de alma – é uma questão de, como português, manifestar a minha absoluta perplexidade, ainda que todos batam palmas por se tratar de um cargo estrangeiro … Eu não bato palmas».
Eu também não e atribuo a Morais Sarmento 3 afonsos pela sua franqueza. Teriam sido 5 se ele tivesse exprimido esta opinião um bocadinho mais cedo enquanto em pleno mandato de ministro anexo do doutor Constâncio .

Lost in translation (32) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer. (V)

Se a Caixa precisa de aumentar o capital para cumprir os critérios de Basileia II, qual o sentido de pagar ao OE como dividendo quase todo o resultado de 2009 (250 em 279 milhões de dividendos) para de seguida o OE entrar com 1,6 mil milhões de euros de capital? Simples, meu caro Watson. Os 250 milhões são receitas e os 1,6 mil milhões não são despesa, logo esta pequena criatividade abate 0,2% ao défice.

22/02/2010

DIÁRIO DE BORDO: José Sócrates, o maior de todos

Na entrevista a Miguel Sousa Tavares, José Sócrates mostrou uma vez mais que é entre os políticos portugueses no activo o mentiroso mais dotado e o de maior competência retórica, a grande distância de todos os outros. Acresce que tem um domínio quase absoluto da expressão corporal que lhe permite transmitir auto-confiança e aparência de autenticidade ao dizer a maior das mentiras com grande convicção. Não é por acaso que, depois de trapalhadas em que se envolveu, que teriam levado qualquer outro ao colapso psíquico, José Sócrates continua (a parecer) impávido. E não é por acaso que, depois de 5 anos de trapalhadas e de resultados da governação entre o medíocre e o catastrófico, consegue nas sondagens um saldo positivo de 6%, maior do que qualquer líder da oposição.

Habituem-se, porque não vai ser um qualquer aprendiz que tirará o lugar. Ele cairá sim, mas não por o empurrarem. Ele cairá quando o efeito devastador das suas políticas chegar aos bolsos do povo do Estado - os 5 milhões de funcionários públicos, empregados de empresas públicas e semipúblicas, reformados, desempregados, subsidiados, e respectivas famílias que dependem directa ou indirectamente do Estado Social em ruínas.

CASE STUDY: o simplex do combate à crise (2)

«Calar os traidores e afastar os pessimistas, denunciar a conspiração internacional» foram algumas das oportunas recomendações de Nuno Garoupa para «resolver o problema sem grandes custos sociais» que, pelo menos na Grécia, não caíram em orelhas moucas. Grécia cujos serviços secretos estão a procurar os responsáveis pelas desgraças gregas e já encontraram os culpados do costume: especuladores que terão vendido grandes volumes de dívida pública com o propósito de a recomprar a um preço mais baixo.

Não se sabe se os serviços secretos estão a investigar os propósitos dos especuladores quando compraram antes de vender, nem porque se dispuserem a enfrentar a certeza de perder dinheiro nessa venda em troca da incerteza de ganhar na compra seguinte que, para se realizar, teria que ser seguida de uma venda e, para que os especuladores ficassem numa posição mais favorável do que a inicial, seria necessário que a mais-valia realizada com a segunda venda fosse maior do que a menos-valia da primeira.

A defesa dos centros de decisão nacional (2)

Depois da Teixeira Duarte ter vendido todas as suas acções da Cimpor à Camargo, é agora a vez do Millenium bcp vender à CSN 10% detidos pelo fundo de pensões do seu pessoal. Se a Cimpor em vez de fabricar cimento fabricasse notícias já teríamos os instintos patrióticos do governo todos assanhados.