30/09/2018
Bons exemplos (127) - Talvez ele não queira ser sócio de um clube com tais sócios (alguns deles deviam estar presos)
Em cem anos, já foi pendurada quase 500 vezes em peitos republicanos, fascistas, socialistas, comunistas e até alguns democratas |
29/09/2018
Mitos (281) - O contrário do dogma do aquecimento global (XIX)
Outros posts desta série
Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os negacionistas – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.
Se o aquecimento global e a consequente fusão das calores polares e aumento do nível dos oceanos resulta exclusiva ou predominantemente das emissões de dióxido de carbono e de outros gases resultantes da acção humana (ou, para apontar o dedo ao "verdadeiro" culpado, resulta do capitalismo que só cá anda há 200 anos), como explicar a seguinte conclusão do estudo «Response of the Great Barrier Reef to sea-level and environmental changes over the past 30,000 years» publicado na Nature?
Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os negacionistas – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.
Se o aquecimento global e a consequente fusão das calores polares e aumento do nível dos oceanos resulta exclusiva ou predominantemente das emissões de dióxido de carbono e de outros gases resultantes da acção humana (ou, para apontar o dedo ao "verdadeiro" culpado, resulta do capitalismo que só cá anda há 200 anos), como explicar a seguinte conclusão do estudo «Response of the Great Barrier Reef to sea-level and environmental changes over the past 30,000 years» publicado na Nature?
O nível dos oceanos depois de ter descido 40 metros há 30 mil anos e se ter mantido estável durante os 8 mil anos seguintes, voltou a descer 20 metros e desde então subiu lentamente até há 17 mil anos, para em seguida subir mais rapidamente durante os 10 mil anos seguintes, reduzindo novamente há 7 mil anos e desde então vir subindo lentamente.E quanto à eficácia das medidas propostas pelos ambientalistas, atente-se nas seguintes estimativas (Economist):
«What is the single most effective way to reduce greenhouse-gas emissions? Go vegetarian? Replant the Amazon? Cycle to work? None of the above. The answer is: make air-conditioners radically better. On one calculation, replacing refrigerants that damage the atmosphere would reduce total greenhouse gases by the equivalent of 90bn tonnes of CO2 by 2050. Making the units more energy-efficient could double that. By contrast, if half the world’s population were to give up meat, it would save 66bn tonnes of CO2. Replanting two-thirds of degraded tropical forests would save 61bn tonnes. A one-third increase in global bicycle journeys would save just 2.3bn tonnes.»Dando de barato as conclusões que a ciência de causas ambientais nos impinge, em alternativa a convencer-nos a plantar arvorezinhas, a comer só couves e a andar de bicicleta deveria concentrar-se em melhorar o rendimento dos aparelhos de ar condicionado.
28/09/2018
O triunfo do Estado Corporativo
As Ordens profissionais com seu quadro estritamente regulado na lei são uma espécie de reminiscência das guildas medievais. Na maioria delas, o acesso à profissão está limitado aos membros da ordem. A este respeito continuamos a viver numa espécie de sequela do Estado Novo.
Como se fosse pouco, em 2013, em pleno mandato de um governo "neoliberal", foi aprovado o regime jurídico de criação, organização e funcionamento das Associações Públicas Profissionais, isto é das Ordens, que autorizou a cobrança das quotas dos membros através do processo tributário.
Mais tarde, em 2015, o mesmo governo "neoliberal" tornou «possível a cobrança de receitas das Ordens Profissionais (quotas e taxas por prestação de serviços) através de processo de execução fiscal, a instaurar pelos serviços competentes da AT». As Ordens aplaudiram e alteraram os seus estatutos nesse sentido e os profissionais ditos liberais saltaram mais uma vez para o colo do Estado. É o triunfo do Estado Corporativo. Se os profissionais liberais não defendem o Estado Liberal, quem deverá fazê-lo?
Mostrando que o Portugal dos Pequeninos é um país sui generis, a "defesa" do Estado Liberal ficou a cargo do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, que repudiou a transformação do fisco «num cobrador do fraque». «As máquinas fiscais existem para cobrar impostos em prol dos cidadãos, não existem para fazer de cobrador de fraque de quem quer que seja».
Como se fosse pouco, em 2013, em pleno mandato de um governo "neoliberal", foi aprovado o regime jurídico de criação, organização e funcionamento das Associações Públicas Profissionais, isto é das Ordens, que autorizou a cobrança das quotas dos membros através do processo tributário.
Mais tarde, em 2015, o mesmo governo "neoliberal" tornou «possível a cobrança de receitas das Ordens Profissionais (quotas e taxas por prestação de serviços) através de processo de execução fiscal, a instaurar pelos serviços competentes da AT». As Ordens aplaudiram e alteraram os seus estatutos nesse sentido e os profissionais ditos liberais saltaram mais uma vez para o colo do Estado. É o triunfo do Estado Corporativo. Se os profissionais liberais não defendem o Estado Liberal, quem deverá fazê-lo?
Mostrando que o Portugal dos Pequeninos é um país sui generis, a "defesa" do Estado Liberal ficou a cargo do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, que repudiou a transformação do fisco «num cobrador do fraque». «As máquinas fiscais existem para cobrar impostos em prol dos cidadãos, não existem para fazer de cobrador de fraque de quem quer que seja».
27/09/2018
CASE STUDY: A indignação artística acerca da alegada censura de pilas e cus vista à luz da teoria do caos (2)
De volta ao furacão das Caraíbas, que, como vimos, não é uma furacão, e começou por ser uma manifestação de quatrocentas personalidades indignadas contra a alegada censura da obra de Mapplethorpe, artista que, desconfio, não teria despertado este culto se não fosse a temática provocatória, a obsessão transgressiva e a legenda que lhe colaram de herói-vítima das suas preferências sexuais (e de uma mãe castradora, acrescento).
À carta aberta das quatrocentas personalidades sucedeu uma imensa diarreia que se derramou pelas colunas e écrans dos mídia ameaçando submergir a administração da Fundação Serralves. Valeu-lhe o facto de Pacheco Pereira dela fazer parte, como reconhecimento de serviços prestados - para não citar outros, recorde-se a presença de Costa durante 6 anos no programa Quadratura do Círculo na qualidade equívoca de candidato in waiting à liderança do PS.
Puxando dos seus pergaminhos em matéria de censura e do seu estatuto de pensador do regime, Pacheco certificou as decisões da administração perante a indignação ululante e poupou-a, até ver, à crucificação pelo cada vez mais numeroso exército do politicamente correcto.
À carta aberta das quatrocentas personalidades sucedeu uma imensa diarreia que se derramou pelas colunas e écrans dos mídia ameaçando submergir a administração da Fundação Serralves. Valeu-lhe o facto de Pacheco Pereira dela fazer parte, como reconhecimento de serviços prestados - para não citar outros, recorde-se a presença de Costa durante 6 anos no programa Quadratura do Círculo na qualidade equívoca de candidato in waiting à liderança do PS.
Puxando dos seus pergaminhos em matéria de censura e do seu estatuto de pensador do regime, Pacheco certificou as decisões da administração perante a indignação ululante e poupou-a, até ver, à crucificação pelo cada vez mais numeroso exército do politicamente correcto.
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (62) - Infantilizando plateias
Outras preces
«Voltemos a nós: Marcelo que é o combustível de si mesmo, impede permanentemente o mínimo de distância e o quanto baste de reserva que tem de haver entre ele e o mundo, comentando até ao limite, promovendo abracinhos compulsivos, infantilizando plateias, enquanto incansavelmente aplaude, amplia e concorda a eito com tudo o resto – sempre o conheci a preferir concordar do que a ser capaz de enfrentar. A verdade é que é difícil descortinar o que de facto – e de sério – determina o Chefe de Estado para além da distribuição do afecto ao domicílio (com o olhar posto numa urna de voto).
Estando em “todas” omnipresentemente, sem que se alcance o critério ou a escala de prioridades com que o faz; beijando com o mesmíssimo afã uma idosa a quem roubaram o cão ou alguém que perdeu os seus num incêndio, tendo intervenção comentada em tudo e sobre tudo, o Presidente sinaliza-nos que fora do palco e da sua estonteante mediatização, as coisas da vida do país talvez não sejam a maior prioridade. (...)
Tudo isto que é pesado, passou porém a ser um pouco mais pesado nos últimos dias, quando subitamente alguma coisa mudou: o Presidente da República saiu-se mal desta história da substituição das senhoras procuradoras. Duplamente: tornou verosímeis algumas dúvidas (reparem que não digo suspeitas mas sim dúvidas) de que poderia estar a acautelar interesses ou circunstâncias pessoais. E saiu-se mal porque tudo, desde o estranhíssimo processo que antecedeu a sua decisão até ao seu “sim”, foi indisfarçável: ficou impresso no país.»
Contribuintes com número, Maria João Avillez no Observador, dando conta com bastante elegância de juízos que aqui no (Im)pertinências costumamos dar conta com alguma brutidão
26/09/2018
CASE STUDY: É preciso ser muito saudável para resistir a tanta doença (12.º capítulo) - Duas vezes um terço não são dois terços
Outras doenças a que resistimos heroicamente.
Sem esquecer as inúmeras outras maleitas que atacam os portugueses (ver link acima), já sabíamos que «um terço da população sofre de ansiedade ou depressão» e «dois terços dos médicos em Portugal estão em situação de exaustão». Ficámos também a saber através de um estudo da Deco (uma entidade creditadíssima para este tipo de estudos) que «um em cada três trabalhadores está em risco de 'burnout'». Fica a dúvida este último terço faz parte do primeiro que sofre de ansiedade ou depressão ou se devemos somá-los e fica outra dúvida ainda mais angustiante: para tratar o primeiro e o terceiro terços será suficiente o terço de médicos que ainda não estão exaustos?
Dúvidas (234) - A nanny estava de folga?
Uma mãe preocupada e atenta pouparia o seu filho à bagunça de uma assembleia, sobretudo uma assembleia onde a maioria dos membros representam regimes autocráticos. Por isso, levá-lo como uma bandeira a tal evento parece mais um abuso para demonstrar uma qualquer tese.
25/09/2018
SERVIÇO PÚBLICO: Leituras recomendadas
«Os táxis e a essência reaccionária do regime», Rui Ramos no Observador, onde se explica porque, surpreendentemente, os poderes do regime, que habitualmente se dedicam a defender as corporações instaladas, não o fazem neste caso.
«A minha intolerável arrogância moral», João Miguel Tavares no Público, onde se explica porque a renovação do mandato de Joana Marques Vidal não era uma questão do foro jurídico-constitucional.
«A minha intolerável arrogância moral», João Miguel Tavares no Público, onde se explica porque a renovação do mandato de Joana Marques Vidal não era uma questão do foro jurídico-constitucional.
CASE STUDY: A indignação artística acerca da alegada censura de pilas e cus vista à luz da teoria do caos
A teoria do caos
A teoria do caos tenta descrever os sistema caóticos. Um sistema caótico, segundo Gollub & Solomon, é definido como um sistema sensível às condições iniciais. Isto é, qualquer incerteza, por menor que seja, no estado inicial de um sistema conduzirá rapidamente a erros cada vez maiores na previsão do seu comportamento futuro. O seu comportamento só pode ser previsto se as condições iniciais foram conhecidas com grau infinito de precisão, o que é impossível.
Entre os exemplos mais óbvios de sistemas caóticos podemos apontar a meteorologia (não por acaso, chove 9 em cada 10 vezes que saímos sem chapéu de chuva), e as sociedades humanas (não carece de explicação).
Como a teoria do caos só é inteligível por mentes superiores, os cientistas do caos inventaram uma vulgata para a tornar acessível a nós, os seres humanos comuns. De acordo com essa vulgata, os sistemas caóticos são caracterizados por pequenas causas poderem dar lugar a grandes efeitos, sendo o exemplo mais comum o do bater de asas duma borboleta em Pequim poder desencadear uma furacão nas Caraíbas, através duma sequência causal e de interacções complexas no sistema atmosférico.
O estado inicial do sistema
Era uma vez um rapaz nova-iorquino com um certo talento gráfico, uma mente perversa e uma mãe castradora que quis fazer dele um padre. Ainda bem que a mãe não teve sucesso porque provavelmente seria mais uma preocupação para o papa Francisco.
A evolução do sistema
O rapaz foi crescendo confirmando o seu talento para fotografia e o seu gosto pela perversão materializada em práticas bissexuais e numa obsessão pela transgressão dos padrões morais da época. Como seria de esperar, Robert Mapplethorpe, assim se chamava o rapaz, projectou a sua obsessão pela transgressão na sua obra fotográfica que polvilhou abundantemente de pilas e cus. Também sem surpresa, contraiu SIDA e morreu precocemente com 42 anos, juntando-se à colecção de heróis e role models da comunidade gay, gradualmente alargada à comunicada queer, ela própria instrumentalizada pela corrente do marxismo cultural conhecida como politicamente correcto.
O comportamento futuro
Ninguém sabe se, não fosse a temática e a morte sacrificial, a obra de Mapplethorpe despertaria no movimento queer e, por indução, no politicamente correcto, a veneração de que desfruta. Seja como for, no estado actual do sistema, a veneração é real.
O furacão das Caraíbas
Não é uma furacão, é apenas uma manifestação verbosa, sob a forma clássica de carta aberta, de resmas de artistas e outros profissionais da indignação contra uma imaginada censura da obra de Mapplethorpe pelo facto das pilas erectas e os cus estarem expostos numa sala separada da Fundação de Serralves acessível apenas a maiores de 18 anos.
A borboleta
Afinal, neste caso, qual é a borboleta? Se me pedirem para apontar uma, aponto a mãe castradora. Não fora ela e o rapaz não teria tido necessidade de gastar a sua curta vida a épater le bourgeois e logo, entre outras coisas, em vez de pilas e cus nas fotos do rapaz haveria naturezas mortas, por exemplo.
A teoria do caos tenta descrever os sistema caóticos. Um sistema caótico, segundo Gollub & Solomon, é definido como um sistema sensível às condições iniciais. Isto é, qualquer incerteza, por menor que seja, no estado inicial de um sistema conduzirá rapidamente a erros cada vez maiores na previsão do seu comportamento futuro. O seu comportamento só pode ser previsto se as condições iniciais foram conhecidas com grau infinito de precisão, o que é impossível.
Entre os exemplos mais óbvios de sistemas caóticos podemos apontar a meteorologia (não por acaso, chove 9 em cada 10 vezes que saímos sem chapéu de chuva), e as sociedades humanas (não carece de explicação).
Como a teoria do caos só é inteligível por mentes superiores, os cientistas do caos inventaram uma vulgata para a tornar acessível a nós, os seres humanos comuns. De acordo com essa vulgata, os sistemas caóticos são caracterizados por pequenas causas poderem dar lugar a grandes efeitos, sendo o exemplo mais comum o do bater de asas duma borboleta em Pequim poder desencadear uma furacão nas Caraíbas, através duma sequência causal e de interacções complexas no sistema atmosférico.
O estado inicial do sistema
Era uma vez um rapaz nova-iorquino com um certo talento gráfico, uma mente perversa e uma mãe castradora que quis fazer dele um padre. Ainda bem que a mãe não teve sucesso porque provavelmente seria mais uma preocupação para o papa Francisco.
A evolução do sistema
O rapaz foi crescendo confirmando o seu talento para fotografia e o seu gosto pela perversão materializada em práticas bissexuais e numa obsessão pela transgressão dos padrões morais da época. Como seria de esperar, Robert Mapplethorpe, assim se chamava o rapaz, projectou a sua obsessão pela transgressão na sua obra fotográfica que polvilhou abundantemente de pilas e cus. Também sem surpresa, contraiu SIDA e morreu precocemente com 42 anos, juntando-se à colecção de heróis e role models da comunidade gay, gradualmente alargada à comunicada queer, ela própria instrumentalizada pela corrente do marxismo cultural conhecida como politicamente correcto.
O comportamento futuro
Ninguém sabe se, não fosse a temática e a morte sacrificial, a obra de Mapplethorpe despertaria no movimento queer e, por indução, no politicamente correcto, a veneração de que desfruta. Seja como for, no estado actual do sistema, a veneração é real.
O furacão das Caraíbas
Não é uma furacão, é apenas uma manifestação verbosa, sob a forma clássica de carta aberta, de resmas de artistas e outros profissionais da indignação contra uma imaginada censura da obra de Mapplethorpe pelo facto das pilas erectas e os cus estarem expostos numa sala separada da Fundação de Serralves acessível apenas a maiores de 18 anos.
A borboleta
Afinal, neste caso, qual é a borboleta? Se me pedirem para apontar uma, aponto a mãe castradora. Não fora ela e o rapaz não teria tido necessidade de gastar a sua curta vida a épater le bourgeois e logo, entre outras coisas, em vez de pilas e cus nas fotos do rapaz haveria naturezas mortas, por exemplo.
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (84) - Nacional e socialista
Backward, comrades! |
‘And he wants to take control of businesses – so he’s a socialist.
‘Put that together and he’s a national socialist… I just hope he’s checked the Jewish community are OK with that.’
Dito por Matt Forde, um comediante, no Festival de Edinburgo em Agosto, citado pela Spectator
O mesmo poderia ser dito mutatis mutandis a respeito de qualquer das luminárias da extrema-esquerda doméstica, desde o camarada secretário-geral até ao tele-evangelista promovido a figura de cera do regime.
24/09/2018
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (154)
Outras avarias da geringonça e do país.
Começo mais esta crónica citando Francisco Louçã que, com o seu conhecimento profundo da partidocracia doméstica, reconhece na sua coluna de 2/3 da broadsheet posta à sua disposição pelo semanário de reverência que o PS é o único partido em que a elite tão habituada aos carinho do Estado confia para a servir. Por uma vez, estou com o tele-evangelista.
Continuo, tirando o meu chapéu ao maquiavelismo de fancaria de António Costa na nomeação da nova PGR que apanhou o presidente dos Afectos com as calças na mão e o deixou irremediavelmente derrotado, ridicularizado pelo insucesso das suas manobras e exposto na sua duplicidade e pusilanimidade.
Os melhores professores do mundo, segundo o presidente da República, os que mais adoecem segundo a CE, dos melhores pagos segundo a OCDE, comandados pelos seus sindicatos (que por inerência devemos classificar também como os melhores do mundo), já anunciaram que vão continuar a sua greve em Outubro para tentar extorquir aos contribuintes o «descongelamento das carreiras». Já os taxistas, que aguardam ser promovidos pelo PR a melhores do mundo, garantem que «não saem das ruas», não para transportar a sua freguesia mas para protestar pela concorrência.
Começo mais esta crónica citando Francisco Louçã que, com o seu conhecimento profundo da partidocracia doméstica, reconhece na sua coluna de 2/3 da broadsheet posta à sua disposição pelo semanário de reverência que o PS é o único partido em que a elite tão habituada aos carinho do Estado confia para a servir. Por uma vez, estou com o tele-evangelista.
Continuo, tirando o meu chapéu ao maquiavelismo de fancaria de António Costa na nomeação da nova PGR que apanhou o presidente dos Afectos com as calças na mão e o deixou irremediavelmente derrotado, ridicularizado pelo insucesso das suas manobras e exposto na sua duplicidade e pusilanimidade.
Os melhores professores do mundo, segundo o presidente da República, os que mais adoecem segundo a CE, dos melhores pagos segundo a OCDE, comandados pelos seus sindicatos (que por inerência devemos classificar também como os melhores do mundo), já anunciaram que vão continuar a sua greve em Outubro para tentar extorquir aos contribuintes o «descongelamento das carreiras». Já os taxistas, que aguardam ser promovidos pelo PR a melhores do mundo, garantem que «não saem das ruas», não para transportar a sua freguesia mas para protestar pela concorrência.
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Os portugueses têm os políticos que escolhem e a esquerda que preferem
Os políticos que escolhem
«É o mesmo erro da crise anterior, é espantoso, mas de facto não aprendemos. Mas se sobrevivemos à anterior, não vale a pena entrar agora em pânico. Da outra vez não foi o fim do mundo, também não vai ser na próxima. E em princípio a próxima crise não vai ser tão má como a anterior que foi a pior desde a Segunda Guerra Mundial. Nem no 25 de Abril caímos tanto como entre 2008 e 2013. E a culpa não é dos governos, é da sociedade portuguesa que quer ser enganada. Se algum político disser aquilo que estou a dizer nunca mais é eleito. Se algum político disser aquilo que estou a dizer nunca mais é eleito. Os políticos não são maus, quem são maus são os eleitores que gostam de ser enganados e quem lhes vende a ilusão eles compram. E não é por desconhecimento porque não só têm acesso aos dados estatísticos como passámos por uma situação semelhante há muito pouco tempo.»
A esquerda que preferem
«A esquerda, sobretudo a extrema-esquerda portuguesa está enfeudada a meia dúzia de corporações: sindicatos, setor público, pensionistas que são os seus eleitores e servem esses interesses. E até estão disponíveis a penalizar os pobres com impostos para poderem servir o aparelho estatal que é de facto a sua finalidade. Também é verdade que o aparelho estatal sempre foi de Esquerda. Os pobres não têm voz em Portugal porque são pobres e porque os partidos de Esquerda deixaram de lhes dar voz. E esse é um dos principais problemas da nossa democracia e quem diz os pobres, diz os imigrantes, ou seja, as classes desfavorecidas que não têm ninguém que fale deles porque a Esquerda que tradicionalmente falava é atualmente corporativa e está ligada aos aparelhos à volta do Estado. E a Igreja que também falava deles não tem grande voz em Portugal.»
João César das Neves em entrevista ao jornal SOL.
«É o mesmo erro da crise anterior, é espantoso, mas de facto não aprendemos. Mas se sobrevivemos à anterior, não vale a pena entrar agora em pânico. Da outra vez não foi o fim do mundo, também não vai ser na próxima. E em princípio a próxima crise não vai ser tão má como a anterior que foi a pior desde a Segunda Guerra Mundial. Nem no 25 de Abril caímos tanto como entre 2008 e 2013. E a culpa não é dos governos, é da sociedade portuguesa que quer ser enganada. Se algum político disser aquilo que estou a dizer nunca mais é eleito. Se algum político disser aquilo que estou a dizer nunca mais é eleito. Os políticos não são maus, quem são maus são os eleitores que gostam de ser enganados e quem lhes vende a ilusão eles compram. E não é por desconhecimento porque não só têm acesso aos dados estatísticos como passámos por uma situação semelhante há muito pouco tempo.»
A esquerda que preferem
«A esquerda, sobretudo a extrema-esquerda portuguesa está enfeudada a meia dúzia de corporações: sindicatos, setor público, pensionistas que são os seus eleitores e servem esses interesses. E até estão disponíveis a penalizar os pobres com impostos para poderem servir o aparelho estatal que é de facto a sua finalidade. Também é verdade que o aparelho estatal sempre foi de Esquerda. Os pobres não têm voz em Portugal porque são pobres e porque os partidos de Esquerda deixaram de lhes dar voz. E esse é um dos principais problemas da nossa democracia e quem diz os pobres, diz os imigrantes, ou seja, as classes desfavorecidas que não têm ninguém que fale deles porque a Esquerda que tradicionalmente falava é atualmente corporativa e está ligada aos aparelhos à volta do Estado. E a Igreja que também falava deles não tem grande voz em Portugal.»
João César das Neves em entrevista ao jornal SOL.
23/09/2018
CASE STUDY: Quem manda na câmara de Lisboa (4)
Nota prévia: nos posts anteriores citaram-se fragmentos da entrevista do jornal SOL a Fernando Nunes da Silva, antigo vereador e neste citam-se dois artigos do Expresso sobre o mesmo tema; esta série pode ser lida como sequência de uma outra série Câmara de Lisboa, uma aplicação prática da lei de Parkinson,
Empresa municipal oferece mais 40% a altos quadros da Câmara
«Os trabalhadores do município de Lisboa que transitem para a unidade da autarquia que terá nas mãos as novas obras e empreitadas na cidade — a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), já existente mas agora dotada de novos poderes — terão um acréscimo salarial que em alguns casos chega a 40% da sua remuneração atual. (...)
“A sensação que temos na Câmara é que estão a ser convidados os quadros de confiança pessoal do vereador Manuel Salgado e dos seus colaboradores próximos”, acrescenta. Salgado acumulará o cargo no executivo camarário com a presidência da SRU. (...)
Salgado leva para aquela Sociedade pessoas da sua equipa que já o acompanham em lugares de liderança nos serviços da Câmara. (...)
... uma “câmara paralela que se exime ao controlo dos vereadores” (Carlos Moura, CDU) ou “uma espécie de Parque Escolar”, em que “as obras deixam de ter qualquer escrutínio” (João Gonçalves Pereira, CDS). Com efeito, absorvendo praticamente todas as obras e projetos atribuídos até agora a estruturas municipais (a autarquia no futuro só ficará com os trabalhos de conservação), as decisões da SRU deixam de ter o escrutínio dos órgãos municipais, nomeadamente das forças da oposição, ou ele mantém-se unicamente na fase inicial de qualquer obra.»
Obra quase pronta, investigação do MP em curso
«Quem se detém uns instantes na Avenida Fontes Pereira de Melo, uns metros acima do antigo Fórum Picoas (agora Altice), (...)
O volume do edifício (com 17 andares a cima do solo e quase 68 metros de altura de fachada), dando ares de ter já a parte estrutural terminada, é a expressão mais evidente de um processo controverso. (...)
Aconteceu em 2011, quando se discutia a revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) que viria a permitir um aumento de construção no local. Ao proprietário de então, a Câmara fixou em junho desse ano a edificabilidade permitida pelo plano em vigor. Impedido de construir mais do que pretendia, e a braços com uma hipoteca, o dono do imóvel teve de entregá-lo ao banco (o BES) para liquidar a obrigação.
Pouco depois, com o novo PDM, aos novos proprietários viria a ser permitido aumentar consideravelmente a volumetria. A torre de Picoas é um dos três casos de grandes obras em Lisboa que se mantêm sob investigação do Ministério Público (MP), como confirmou nesta semana ao Expresso fonte oficial da PGR. As outras duas são o alargamento do Hospital da Luz e as obras, entretanto suspensas, na segunda circular.
Quando vê os seus poderes reforçados, com a presidência da SRU, o homem que há mais de uma década giza a política de Urbanismo em Lisboa vê intensificar o escrutínio sobre algumas das suas decisões.»
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (61) - Um adereço do regime para selfies, beijinhos e abraços?
Outras preces
Desta vez foi demasiado, até para Marcelo. As suas falhas de carácter como pessoa e as suas fraquezas como político ficaram patentes na comédia da nomeação do PGR.
Mentira e duplicidade: depois de vir soprando para os mídia durante semanas a sua pretensa opção pela recondução de Joana Marques Vidal, de ter encomendado através da sua porta-voz Ângela Silva um título de primeira página do Expresso («Acordo à vista para manter a PGR»), Marcelo acabou a dizer que a sua opção pelo «mandato único» estava escrita há anos, uma mentira tão óbvia que até a sua porta-voz se viu forçada a desmenti-la lembrando que Marcelo chegou a subscrever em 1997 com Guterres um documento sobre a revisão constitucional onde se referia o mandato do PGR «de seis anos, sem limite de renovação». Depois de soprar que teria já convencido uma hesitante JMV a aceitar renovar o mandato, a própria veio dizer publicamente a questão nunca lhe tinha sido colocada.
Pusilanimidade e falta de coragem: tentando encostar Costa à parede, Marcelo acabou ele próprio encostado por Costa, e acobardou-se. A sua porta-voz explica no semanário de reverência que «uma vez criado um clima de braço de ferro em torno deste dossiê, poderia penalizar o Presidente se vingasse a vontade do PS».
Com este desfecho e uma subida do PS nas sondagens, Marcelo condena-se à irrelevância gradual. Se o PS tiver a maioria nas próximas eleições Marcelo transformar-se-à num adereço do regime para selfies, beijinhos e abraços.
Em suma, assenta-lhe bem o chapéu que Passos Coelho mencionou e que Marcelo de pronto enfiou na sua cabeça, estamos perante um «catavento de opiniões mediáticas», que mudou o palco dos estúdios de televisão para Belém.
Desta vez foi demasiado, até para Marcelo. As suas falhas de carácter como pessoa e as suas fraquezas como político ficaram patentes na comédia da nomeação do PGR.
Mentira e duplicidade: depois de vir soprando para os mídia durante semanas a sua pretensa opção pela recondução de Joana Marques Vidal, de ter encomendado através da sua porta-voz Ângela Silva um título de primeira página do Expresso («Acordo à vista para manter a PGR»), Marcelo acabou a dizer que a sua opção pelo «mandato único» estava escrita há anos, uma mentira tão óbvia que até a sua porta-voz se viu forçada a desmenti-la lembrando que Marcelo chegou a subscrever em 1997 com Guterres um documento sobre a revisão constitucional onde se referia o mandato do PGR «de seis anos, sem limite de renovação». Depois de soprar que teria já convencido uma hesitante JMV a aceitar renovar o mandato, a própria veio dizer publicamente a questão nunca lhe tinha sido colocada.
Pusilanimidade e falta de coragem: tentando encostar Costa à parede, Marcelo acabou ele próprio encostado por Costa, e acobardou-se. A sua porta-voz explica no semanário de reverência que «uma vez criado um clima de braço de ferro em torno deste dossiê, poderia penalizar o Presidente se vingasse a vontade do PS».
Com este desfecho e uma subida do PS nas sondagens, Marcelo condena-se à irrelevância gradual. Se o PS tiver a maioria nas próximas eleições Marcelo transformar-se-à num adereço do regime para selfies, beijinhos e abraços.
Em suma, assenta-lhe bem o chapéu que Passos Coelho mencionou e que Marcelo de pronto enfiou na sua cabeça, estamos perante um «catavento de opiniões mediáticas», que mudou o palco dos estúdios de televisão para Belém.
22/09/2018
O regime por agora está salvo. Mas estará mesmo?
«Um comunicado às 21h, já depois de ter passado a hora dos telejornais e a possibilidade de os diários trazerem grandes reacções pela manhã. Em dia de futebol, para os canais por cabo não dedicarem demasiado tempo ao assunto, já que era indispensável debater as incidências do formidável Sporting-Qarabag. Na despedida de Marcelo da universidade, para que o tempo de antena presidencial fosse ocupado por um fait-divers académico-social, em vez da substituição da procuradora-geral da República. Esta é a estratégia de duas consciências pesadas, muito reveladora das verdadeiras intenções de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa. (...)
Mas se Governo e Presidente queriam tanto alguém com o perfil de Joana Marques Vidal, porque é que não voltaram a convidar Joana Marques Vidal?»
É uma bela teoria da conspiração e uma boa pergunta de João Miguel Tavares no Público, mas uma e outra passam ao lado da questão importante, a saber: se a recondução da Joana Marques Vidal como PGR seria uma ameaça ao regime, o facto de não ter sido reconduzida, graças a Costa e a Marcelo, finalmente unidos na defesa do regime - sublinhe-se e agradeça-se-lhes -, poupará o regime a mais tribulações?
Mas se Governo e Presidente queriam tanto alguém com o perfil de Joana Marques Vidal, porque é que não voltaram a convidar Joana Marques Vidal?»
É uma bela teoria da conspiração e uma boa pergunta de João Miguel Tavares no Público, mas uma e outra passam ao lado da questão importante, a saber: se a recondução da Joana Marques Vidal como PGR seria uma ameaça ao regime, o facto de não ter sido reconduzida, graças a Costa e a Marcelo, finalmente unidos na defesa do regime - sublinhe-se e agradeça-se-lhes -, poupará o regime a mais tribulações?
21/09/2018
La novlangue l'emporte sur le français
Os organizadores de encontros e de manifs em França começaram a convocar étudiant.e.s em vez de étudiants, militant.e.s e adhérent.e.s em vez de militants e adhérents, em obediência ao que o politicamente correcto designa como l'écriture inclusive que também pretende eliminar a regra da precedência da forma masculina sobre a feminina de que resulta escrever-se «des garçons et des filles inteligents».
Recentemente, um grupo de 314 professeurs e professeuses apresentou um manifesto para alterar essas regras gramaticais e evitar que «le masculin l'emporte sur le féminin».
Apesar da oposição da Académie Française, que se pronunciou formalmente contra «l'écriture inclusive», declarando a língua francesa em «péril mortel», o primeiro-ministro Edouard Philippe decidiu que todos os anúncios oficiais de emprego devem referir-se a «un candidat» ou «une candidate». Como escreveu há tempos a Economist, as referências a «candidat.e.s» continuarão estritamente «interdit.e.s». Por agora.
Recentemente, um grupo de 314 professeurs e professeuses apresentou um manifesto para alterar essas regras gramaticais e evitar que «le masculin l'emporte sur le féminin».
Apesar da oposição da Académie Française, que se pronunciou formalmente contra «l'écriture inclusive», declarando a língua francesa em «péril mortel», o primeiro-ministro Edouard Philippe decidiu que todos os anúncios oficiais de emprego devem referir-se a «un candidat» ou «une candidate». Como escreveu há tempos a Economist, as referências a «candidat.e.s» continuarão estritamente «interdit.e.s». Por agora.
A final feminina do US Open à luz da luta de classes
«Serve este preâmbulo para voltar à cena que Serena Williams fez com Carlos Ramos há semana e meia. A leitura imediata, a que mais incendiou a generalidade dos media, foi a de que se tratava de uma luta entre uma mulher negra e um homem branco. Mas há outras leituras possíveis. É possível ver ali um confronto entre uma estrela mediática, com um enorme poder de marcar a agenda, e um anónimo de que nunca tínhamos ouvido falar. Também é possível ver ali a luta de classes em acção. Perdendo a final, Serena Williams ganhou, naquela noite, um milhão e 800 mil dólares. Qualquer coisa como quatro mil vezes mais do que Carlos Ramos, que recebeu 450 dólares. Se tivesse ganhado, a diferença seria bastante maior, obviamente. Ou seja, foi uma discussão entre uma milionária e uma pessoa que, tanto quanto sabemos, é da classe média (ou média alta).
Pudemos ver, pelo coro indignado do New York Times, da New Yorker e da Newsweek, entre outros, que a generalidade da esquerda americana se identificou com a primeira causa. A acreditar no inquérito que refiro no primeiro parágrafo, se o mesmo se tivesse passado na África do Sul, a maioria negra ter-se-ia identificado com Carlos Ramos. Mas, pelos vistos, nos Estados Unidos, a ideologia que domina o Partido Democrata está bem representada pela assistência da final do U.S. Open.»
Excerto de A identidade da esquerda, no Observador. Luís Aguiar-Conraria mostra como a esquerda bem-pensante pode ressuscitar a luta de classes em vez do (ou além do) combate pela igualdade de sexos, perdão, géneros e pelos direitos das minorias.
Pudemos ver, pelo coro indignado do New York Times, da New Yorker e da Newsweek, entre outros, que a generalidade da esquerda americana se identificou com a primeira causa. A acreditar no inquérito que refiro no primeiro parágrafo, se o mesmo se tivesse passado na África do Sul, a maioria negra ter-se-ia identificado com Carlos Ramos. Mas, pelos vistos, nos Estados Unidos, a ideologia que domina o Partido Democrata está bem representada pela assistência da final do U.S. Open.»
Excerto de A identidade da esquerda, no Observador. Luís Aguiar-Conraria mostra como a esquerda bem-pensante pode ressuscitar a luta de classes em vez do (ou além do) combate pela igualdade de sexos, perdão, géneros e pelos direitos das minorias.
20/09/2018
CASE STUDY: Quem manda na câmara de Lisboa (3)
Nota prévia: nesta série de posts citam-se fragmentos da entrevista do jornal SOL a Fernando Nunes da Silva, antigo vereador; esta série pode ser lida como sequência de uma outra série Câmara de Lisboa, uma aplicação prática da lei de Parkinson,
[Continuação de (1) e (2)]
«Nesta visão autocrática do Salgado, da sua cidade, ele é que escolhe quem são os protagonistas para o seu desenho. Não acha estranho que 12 anos depois não haja um único concurso público em Lisboa? (...)
A partir do momento em que, por exemplo, o Carrilho da Graça ganhou o concurso do terminal, tudo o que se passa à volta do terminal passa a ser atribuído ao Carrilho da Graça sem nenhum concurso. (...)
Porque a ordem dos arquitetos está capturada pelos arquitetos estrela que é a quem o Salgado atribui. Não é estranho que em 12 anos, por exemplo, Gonçalo Byrne não tenha nenhum projeto em Lisboa? A empresa Estoril Sol, quando era para demolir o hotel e construir outra coisa, primeiro contactou o Salgado, mas esse projeto não foi para a frente. Depois, contactou o Byrne, que fez o projeto e o Salgado nunca mais lhe perdoou. E por isso Byrne não trabalha em Lisboa. (...)
[Continuação de (1) e (2)]
«Nesta visão autocrática do Salgado, da sua cidade, ele é que escolhe quem são os protagonistas para o seu desenho. Não acha estranho que 12 anos depois não haja um único concurso público em Lisboa? (...)
A partir do momento em que, por exemplo, o Carrilho da Graça ganhou o concurso do terminal, tudo o que se passa à volta do terminal passa a ser atribuído ao Carrilho da Graça sem nenhum concurso. (...)
Porque a ordem dos arquitetos está capturada pelos arquitetos estrela que é a quem o Salgado atribui. Não é estranho que em 12 anos, por exemplo, Gonçalo Byrne não tenha nenhum projeto em Lisboa? A empresa Estoril Sol, quando era para demolir o hotel e construir outra coisa, primeiro contactou o Salgado, mas esse projeto não foi para a frente. Depois, contactou o Byrne, que fez o projeto e o Salgado nunca mais lhe perdoou. E por isso Byrne não trabalha em Lisboa. (...)
19/09/2018
CASE STUDY: Quem manda na câmara de Lisboa (2)
Nota prévia: nesta série de posts citam-se fragmentos da entrevista do jornal SOL a Fernando Nunes da Silva, antigo vereador; esta série pode ser lida como sequência de uma outra série Câmara de Lisboa, uma aplicação prática da lei de Parkinson.
[Continuação de (1)]
«O grande objetivo do Manuel era ser o quarto homem das grandes mudanças da cidade de Lisboa. Isto é o projeto dele e eu conheço-o, sei como é que ele o defende, etc. Portanto, isso faz parte de um determinado conceito de cidade e de arrogância muito grande de classe em relação àquilo que podemos chamar a classe popular e média baixa, de que não têm de se meter nestas coisas mais complexas. A visão de cidade é para os iluminados e a segunda circular era apenas uma das peças da transformação da cidade de Lisboa numa cidade de boulevards, com um espaço público altamente qualificado e essencialmente virado para a classe média, média alta e para o turismo de um certo nível. Esta é a visão subjacente e é possível provar isso através das propostas apresentadas pelo Salgado em 12 anos de mandato - nunca houve ninguém na CML, antes ou depois de Abril, tantos anos consecutivos e com tanto poder. (...)
A linha circular mostra bem o que é a visão da cidade dele, que é apenas a do turismo e dos grandes negócios imobiliários. E eu não acredito que o Salgado meta dinheiro ao bolso. Pode ser que encaminhe negócios fora de Lisboa para o Risco e para o filho para manter a família. (...)
[Continuação de (1)]
«O grande objetivo do Manuel era ser o quarto homem das grandes mudanças da cidade de Lisboa. Isto é o projeto dele e eu conheço-o, sei como é que ele o defende, etc. Portanto, isso faz parte de um determinado conceito de cidade e de arrogância muito grande de classe em relação àquilo que podemos chamar a classe popular e média baixa, de que não têm de se meter nestas coisas mais complexas. A visão de cidade é para os iluminados e a segunda circular era apenas uma das peças da transformação da cidade de Lisboa numa cidade de boulevards, com um espaço público altamente qualificado e essencialmente virado para a classe média, média alta e para o turismo de um certo nível. Esta é a visão subjacente e é possível provar isso através das propostas apresentadas pelo Salgado em 12 anos de mandato - nunca houve ninguém na CML, antes ou depois de Abril, tantos anos consecutivos e com tanto poder. (...)
A linha circular mostra bem o que é a visão da cidade dele, que é apenas a do turismo e dos grandes negócios imobiliários. E eu não acredito que o Salgado meta dinheiro ao bolso. Pode ser que encaminhe negócios fora de Lisboa para o Risco e para o filho para manter a família. (...)
Pro memoria (386) - Os universos paralelos do Estado Sucial socialista (2)
Há seis meses o Expresso publicou a notícia seguinte que comentámos neste post:
Dos 55 agrupamentos de centros de saúde do país, apenas 24 possuem atualmente consultas de medicina dentária. Governo quer colocar “mais de metade dos [dentistas] que faltam” durante este ano e os restantes no primeiro semestre do próximo ano.» (Semanário de reverência)»
O que o secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo, disse aos jornalistas em Leiria foi que o governo está a trabalhar "activamente" nesse sentido o que em politiquês significa: para já está anunciado e isso é que conta, depois logo se vê. A coisa foi transformada em notícia pelo agitprop socialista e pressurosamente publicada pelo semanário de reverência que não cuidou de perguntar ao secretário como é que um governo que está a deixar o SNS a rebentar pelas costuras e em piores condições do que o governo dito neoliberal vai tratar dos dentes podres do povo ignaro.
Seis meses depois o mesmo secretário de Estado repetiu-se empurrando o objectivo um ano para a frente e a imprensa amiga (desta vez a SIC) também:
«Todos os agrupamentos de centros de saúde vão ter dentistas em 2019
Dos 55 agrupamentos de centros de saúde do país, apenas 24 possuem atualmente consultas de medicina dentária. Governo quer colocar “mais de metade dos [dentistas] que faltam” durante este ano e os restantes no primeiro semestre do próximo ano.» (Semanário de reverência)»
O que o secretário de Estado da Saúde, Fernando Araújo, disse aos jornalistas em Leiria foi que o governo está a trabalhar "activamente" nesse sentido o que em politiquês significa: para já está anunciado e isso é que conta, depois logo se vê. A coisa foi transformada em notícia pelo agitprop socialista e pressurosamente publicada pelo semanário de reverência que não cuidou de perguntar ao secretário como é que um governo que está a deixar o SNS a rebentar pelas costuras e em piores condições do que o governo dito neoliberal vai tratar dos dentes podres do povo ignaro.
Seis meses depois o mesmo secretário de Estado repetiu-se empurrando o objectivo um ano para a frente e a imprensa amiga (desta vez a SIC) também:
«Governo quer dentistas em todos os centros de saúde até 2020»
18/09/2018
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O sonho português - sol na eira e chuva no nabal
«Mas, no fundo e salvo divergências nos detalhes, todos querem mais ou menos o mesmo, quanto mais não seja porque os seus eleitorados, na medida em que ainda não os trocaram pelos encantos da abstenção, querem todos mais ou menos o mesmo: o máximo possível de benefícios oferecidos pelo Estado com o mínimo possível de saque de parte do seu rendimento para financiar o rodízio orçamental.
Esse sonho português de Socialismo no Estado-Providência com Estado Mínimo no fisco é manifestamente intraduzível para a realidade. Ou o Estado fica sem meios para ser tão generoso quanto os portugueses desejam, ou precisa de lhes cobrar impostos bem mais elevados do que gostariam de pagar. Em certas alturas, acontece o que se passa hoje em dia: uma triste combinação destes dois cenários. Só podendo tirar-lhes muito para lhes dar pouco, o Estado português condena os portugueses a uma progressiva degradação das suas condições vida, que só a conjuntura internacional, quando favorável, vai aliviando.»
Uma polémica portuguesa, Bruno Alves no Jornal Económico
Esse sonho português de Socialismo no Estado-Providência com Estado Mínimo no fisco é manifestamente intraduzível para a realidade. Ou o Estado fica sem meios para ser tão generoso quanto os portugueses desejam, ou precisa de lhes cobrar impostos bem mais elevados do que gostariam de pagar. Em certas alturas, acontece o que se passa hoje em dia: uma triste combinação destes dois cenários. Só podendo tirar-lhes muito para lhes dar pouco, o Estado português condena os portugueses a uma progressiva degradação das suas condições vida, que só a conjuntura internacional, quando favorável, vai aliviando.»
Uma polémica portuguesa, Bruno Alves no Jornal Económico
CASE STUDY: Quem manda na câmara de Lisboa (1)
Nota prévia: nesta série de posts citam-se fragmentos da entrevista do jornal SOL a Fernando Nunes da Silva, antigo vereador; esta série pode ser lida como sequência de uma outra série Câmara de Lisboa, uma aplicação prática da lei de Parkinson.
«Saí no final do mandato de 2013, por uma razão extremamente simples e compreensível: o Manuel Salgado na altura fez um xeque-mate ao António Costa em que exigiu ficar com todas as obras e com todo o pelouro das Obras, inclusivamente com a rede viária: ‘Ou é tudo ou nada’, são palavras textuais dele. (...)
Estamos a falar de 2011 e isso era importante porque havia um conjunto de obras relativamente emblemáticas e do ponto de vista mediático com uma certa força - a Casa dos Bicos, a Casa-Museu Júlio Pomar, os Terraços do Carmo do Álvaro Siza -, onde eu tinha levantado algumas objeções a alguns caprichos dos senhores arquitetos que implicavam uma duplicação dos custos iniciais das obras, que eu achava que não devia transigir acerca disso. Na altura, o Manuel Salgado, que era a responsável por esse projeto, achava que isso podia pôr em causa a conclusão dessas obras emblemáticas. Por outro lado, tinha havido um desaguisado bastante forte sobre aquele antigo restaurante de Monsanto, o Panorâmico, onde se queria fazer o quartel central do Regimento de Sapadores de Bombeiros, com um investimento de 40 milhões de euros, uma coisa completamente louca, com três caves escavadas em rocha, em que todos os bombeiros tinham um lugar de estacionamento privativo - um custo completamente faraónico e eu disse: ‘Nem pensar’. Disse que não assinava aquele tipo de despesa. Portanto, havia esse tipo de coisas e Costa acedeu ao ultimato de Manuel Salgado que ficou com o pelouro todo das Obras. (...)
Estamos a falar de 2011 e isso era importante porque havia um conjunto de obras relativamente emblemáticas e do ponto de vista mediático com uma certa força - a Casa dos Bicos, a Casa-Museu Júlio Pomar, os Terraços do Carmo do Álvaro Siza -, onde eu tinha levantado algumas objeções a alguns caprichos dos senhores arquitetos que implicavam uma duplicação dos custos iniciais das obras, que eu achava que não devia transigir acerca disso. Na altura, o Manuel Salgado, que era a responsável por esse projeto, achava que isso podia pôr em causa a conclusão dessas obras emblemáticas. Por outro lado, tinha havido um desaguisado bastante forte sobre aquele antigo restaurante de Monsanto, o Panorâmico, onde se queria fazer o quartel central do Regimento de Sapadores de Bombeiros, com um investimento de 40 milhões de euros, uma coisa completamente louca, com três caves escavadas em rocha, em que todos os bombeiros tinham um lugar de estacionamento privativo - um custo completamente faraónico e eu disse: ‘Nem pensar’. Disse que não assinava aquele tipo de despesa. Portanto, havia esse tipo de coisas e Costa acedeu ao ultimato de Manuel Salgado que ficou com o pelouro todo das Obras. (...)
17/09/2018
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (153)
Outras avarias da geringonça e do país.
Numa altura muito conveniente para o governo, foram divulgados pela CE dados embaraçosos para a Fenprof: «mais de metade das baixas na educação foram fraudulentas» e, logo a seguir, o Education at a Glance da OCDE veio revelar que em termos comparativos os professores não se podem queixar de ser mal pagos. Afinal, ganham o mesmo dos franceses e espanhóis e mais do que os italianos, enquanto em média os trabalhadores portugueses ganham menos entre 40% a 55% do que os desses países.
Na próxima semana teremos mais dois dias de greves dos enfermeiros e a ameaça que se não resultarem serão seguidos no dia 25 de «uma medida de abandono» (Expresso), seja lá o que isso for. As greves nos portos às horas extraordinárias, de que se fala pouco, continuam com os de Lisboa e Setúbal. Em consequência, a descarga de contentores que se faria em horas demora dias o que levou a Maersk, o maior armador mundial, a deixar de escalar Lisboa. O que explica a falta de horas extraordinárias ter esse efeito? Não são horas extraordinárias, são ordinárias, porque os sindicatos controlam as contratações e há uma crónica falta de estivadores.
Numa altura muito conveniente para o governo, foram divulgados pela CE dados embaraçosos para a Fenprof: «mais de metade das baixas na educação foram fraudulentas» e, logo a seguir, o Education at a Glance da OCDE veio revelar que em termos comparativos os professores não se podem queixar de ser mal pagos. Afinal, ganham o mesmo dos franceses e espanhóis e mais do que os italianos, enquanto em média os trabalhadores portugueses ganham menos entre 40% a 55% do que os desses países.
Na próxima semana teremos mais dois dias de greves dos enfermeiros e a ameaça que se não resultarem serão seguidos no dia 25 de «uma medida de abandono» (Expresso), seja lá o que isso for. As greves nos portos às horas extraordinárias, de que se fala pouco, continuam com os de Lisboa e Setúbal. Em consequência, a descarga de contentores que se faria em horas demora dias o que levou a Maersk, o maior armador mundial, a deixar de escalar Lisboa. O que explica a falta de horas extraordinárias ter esse efeito? Não são horas extraordinárias, são ordinárias, porque os sindicatos controlam as contratações e há uma crónica falta de estivadores.
A defesa dos centros de decisão nacional (25) - Já sobra muito pouco das pratas da família
[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23) e (24)]
Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.
Recorde-se também que o Novo Banco, o "banco bom" que restou do BES foi vendido ao fundo americano Lone Star e já foi recapitalizado pelo Fundo de Resolução em 6,7 mil milhões (792 milhões só da última vez) o que nos leva a imaginar o que será o "banco mau".
Antes disso, a Tranquilidade, seguradora do BES, tinha sido vendida ao fundo Apollo. A semana passada a GNB Vida, sucessora da Tranquilidade Vida, que tinha ficado como participada do Novo Banco, foi vendida à Bankers Insurance Holdings.
Ponto de situação do sector financeiro: na banca além de umas miudezas, como o MG e as Caixas Agrícolas, resta sob controlo português a Caixa Geral de Depósitos, uma espécie de Putain de la République; nos seguros restam as miudezas controladas pelas miudezas bancárias, como a Lusitânia Seguros e Vida e a CA Seguros e Vida.
E qual é o problema se, muito provavelmente, esses bancos e seguradoras forem melhor geridos por accionistas estrangeiros? Não é um problema. Problema é que já sobra muito pouco das pratas da família para pagar o muito que sobra das dívidas.
Recorde-se também que o Novo Banco, o "banco bom" que restou do BES foi vendido ao fundo americano Lone Star e já foi recapitalizado pelo Fundo de Resolução em 6,7 mil milhões (792 milhões só da última vez) o que nos leva a imaginar o que será o "banco mau".
Antes disso, a Tranquilidade, seguradora do BES, tinha sido vendida ao fundo Apollo. A semana passada a GNB Vida, sucessora da Tranquilidade Vida, que tinha ficado como participada do Novo Banco, foi vendida à Bankers Insurance Holdings.
Ponto de situação do sector financeiro: na banca além de umas miudezas, como o MG e as Caixas Agrícolas, resta sob controlo português a Caixa Geral de Depósitos, uma espécie de Putain de la République; nos seguros restam as miudezas controladas pelas miudezas bancárias, como a Lusitânia Seguros e Vida e a CA Seguros e Vida.
16/09/2018
A recondução da Joana Marques Vidal como PGR seria uma ameaça ao regime
Porquê uma ameaça ao regime?, perguntarão os distraídos. Recordemos o sossego e harmonia em que se vivia no Portugal dos Pequeninos antes de JMV se mudar para a Rua da Escola Politécnica e compare-se com o que se passou desde então.
Sem pretender ser exaustivo, foram acusados um ex-primeiro-ministro que cumpriu dois mandatos um deles com maioria absoluta e não por acaso se apelidou a si próprio de «animal feroz», vários banqueiros, um deles não por acaso conhecido por «Dono Disto Tudo», gestores mediáticos, membros de um governo em exercício, dirigentes dos maiores clubes de futebol, por último uma instituição como a Protecção Civil cujos dirigentes eram amigos do primeiro-ministro e até autarcas itinerantes do bloco central.
É preciso dizer mais? É preciso explicar porquê, justamente preocupados, a ministra da Justiça Socialista, o primeiro-ministro e resmas de luminárias socialistas e até o líder do PS-D já se pronunciaram pela evidente inconveniência da recondução e por um regresso à harmonia e ao sossego?
E não só eles. Segundo um inquérito da opinião da Eurosondagem, esse paradigma de competência, independência e isenção, só 43,8% dos portugueses são a favor da recondução e a maioria (44,4%) são a favor do sossego e harmonia e, portanto, contra a recondução.
Sem pretender ser exaustivo, foram acusados um ex-primeiro-ministro que cumpriu dois mandatos um deles com maioria absoluta e não por acaso se apelidou a si próprio de «animal feroz», vários banqueiros, um deles não por acaso conhecido por «Dono Disto Tudo», gestores mediáticos, membros de um governo em exercício, dirigentes dos maiores clubes de futebol, por último uma instituição como a Protecção Civil cujos dirigentes eram amigos do primeiro-ministro e até autarcas itinerantes do bloco central.
É preciso dizer mais? É preciso explicar porquê, justamente preocupados, a ministra da Justiça Socialista, o primeiro-ministro e resmas de luminárias socialistas e até o líder do PS-D já se pronunciaram pela evidente inconveniência da recondução e por um regresso à harmonia e ao sossego?
E não só eles. Segundo um inquérito da opinião da Eurosondagem, esse paradigma de competência, independência e isenção, só 43,8% dos portugueses são a favor da recondução e a maioria (44,4%) são a favor do sossego e harmonia e, portanto, contra a recondução.
Lost in translation (310) - Não é suspeito, disse ele
«Fernando Medina esteve esta semana na SIC e o jornalista Bernardo Ferrão fez-lhe a pergunta: “A Torre de Picoas está avaliada em cerca de 120 milhões de euros, e o terreno onde foi erguida era de um empresário que achava que podia ali construir entre 12 a 14 mil metros quadrados. Foi-lhe dito que não, que não o podia fazer. Ele acabou por vender o terreno ao BES por um euro, e depois o PDM foi alterado. A capacidade de construção aumentou para 24 mil metros quadrados e fez-se esta torre. Isto não é suspeito, Fernando Medina?” Fernando Medina respondeu: “Não, não é suspeito.”»
Contado por João Miguel Tavares no Público
À primeira vista, pode parecer suspeito o presidente de uma câmara onde se passam coisas suspeitas garantir que «não é suspeito». À segunda vista, até pode perceber-se. Em boa verdade, depois de tudo o que se sabe que se passou e se passa na câmara de Lisboa, há pouco espaço para a suspeita.
Contado por João Miguel Tavares no Público
À primeira vista, pode parecer suspeito o presidente de uma câmara onde se passam coisas suspeitas garantir que «não é suspeito». À segunda vista, até pode perceber-se. Em boa verdade, depois de tudo o que se sabe que se passou e se passa na câmara de Lisboa, há pouco espaço para a suspeita.
15/09/2018
A maldição da tabuada (48) - Nem o Ronaldo das Finanças lhe escapa
Prenda de Natal do (Im)pertinências para o Dr. Mário Centeno |
O Novo Regime das Geringonças, segundo Rio
«Rui Rio não está apenas convencido de que o PSD não voltará ao poder a não ser à boleia do PS. Parece também convencido de que a “geringonça” de 2015 fez entrar a política numa nova época, em que o poder terá de ser partilhado através de arranjos para os quais as antigas separações e incompatibilidades, herdadas do PREC e das revisões constitucionais, deixaram de ser relevantes.
(...)
Esta transformação do regime não será feita apenas à custa dos cidadãos. Será feita também à custa da efectividade da governação. Não poderemos esperar grande coisa de governos dependentes de maiorias heterogéneas e frágeis. A tendência será para toda a gente tratar das suas respectivas clientelas à custa do Estado, e, de resto, fugir a grandes responsabilidades. No fundo, a governação de Portugal irá reduzir-se, nas suas grandes linhas, a um simples condicionamento externo, definido pelos mercados financeiros e pelas regras europeias. Viveremos assim sob a ditadura da conjuntura: quando for boa, aumentam-se as despesas; quando for má, aumentam-se os impostos. Em outros países europeus, dizem-nos que a democracia está ameaçada por “movimentos populistas”; aqui, está ameaçada pelo que temos de chamar uma conspiração oligárquica.»
Excerto de «A conspiração oligárquica», Rui Ramos no Observador
(...)
Esta transformação do regime não será feita apenas à custa dos cidadãos. Será feita também à custa da efectividade da governação. Não poderemos esperar grande coisa de governos dependentes de maiorias heterogéneas e frágeis. A tendência será para toda a gente tratar das suas respectivas clientelas à custa do Estado, e, de resto, fugir a grandes responsabilidades. No fundo, a governação de Portugal irá reduzir-se, nas suas grandes linhas, a um simples condicionamento externo, definido pelos mercados financeiros e pelas regras europeias. Viveremos assim sob a ditadura da conjuntura: quando for boa, aumentam-se as despesas; quando for má, aumentam-se os impostos. Em outros países europeus, dizem-nos que a democracia está ameaçada por “movimentos populistas”; aqui, está ameaçada pelo que temos de chamar uma conspiração oligárquica.»
Excerto de «A conspiração oligárquica», Rui Ramos no Observador
14/09/2018
DIÁRIO DE BORDO: Confessando a minha ignorância
Estava este vosso escriba convencidíssimo de conhecer a vulgata do culto politicamente correcto dos géneros, citando várias vezes, como aqui, a lista dos 10-géneros-10 LGBTIQQAAP (L = lesbian, G = gay, B = bisexual, T = transgender, I = intersex, Q = queer, Q = questioning, A = allies, A = asexual, P - pansexual).
Estava convencido, mas este comentário deitou por terra o meu convencimento ignorante. Não são 10 (géneros), não são 20, não são 30, não são mesmo meia centena. São, segundo um reputado jornal inglês, 71-géneros-71 cuja escolha está à disposição dos utilizadores do Facebook no Reino Unido.
71 (setenta e um)? Mas isso foi em há quatro anos. Amanhã poderão ser centenas.
CONDIÇÃO MASCULINA: É tempo de o politicamente correcto erguer novas bandeiras
Por razões que não vêm ao caso, acompanho com particular atenção o que se passa no pequeno mundo dos seguros, um mundo obscuro para a maior parte dos humanos. Actualmente, no novo regime regulamentar europeu conhecido como Solvência 2, os membros dos órgãos sociais (administrações e conselhos fiscais), os directores de topo e os ROC dos seguradores e das gestores de fundos de pensões estão sujeitos a registo na ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) que divulga regularmente as suas deliberações a este respeito.
Na última dessas deliberações são citados 46 nomes, vários deles repetidos por a mesma pessoa desempenhar várias funções em seguradores do mesmo grupo. Quase dois terços desses nomes (29 em 46) são femininos, ou seja pertencem a pessoas que no passado eram mulheres e hoje podem ser pertencer a qualquer dos 10 (dez) "géneros" recenseados pelo politicamente correcto: LGBTIQQAAP (L = lesbian, G = gay, B = bisexual, T = transgender, I = intersex, Q = queer, Q = questioning, A = allies, A = asexual, P - pansexual).
E daí? Daí que, dentro de algum tempo, o politicamente correcto terá de erguer novas bandeiras para promover a fixação de quotas para as criaturas que no passado eram conhecidas como homens e para se iniciarem acções de discriminação positiva dessas criaturas. Por exemplo aliviando as exigências curriculares e autorizando o registo de actuários masculinos, ainda que não façam a menor ideia do que sejam processos estocásticos, desde que demonstrem ser capazes de realizar as quatro operações elementares com a ajuda de uma calculadora.
13/09/2018
CASE STUDY: Trumpologia (38) - Se a economia é mais popular do que Trump é mais por causa da economia do que de Trump
Mais trumpologia.
Segundo a Bloomberg, «Trump é o primeiro líder americano, pelo menos desde Ronald Reagan, cujo índice de aprovação é consistentemente baixo e está a ficar para trás na avaliação favorável dos consumidores sobre a economia». Para suportar esta conclusão, oferece-nos o seguinte diagrama:
E se a explicação para a aprovação de Trump estar abaixo da avaliação favorável dos consumidores sobre a economia for consequência desta avaliação ser muito mais favorável agora do que em média no passado, devido a um crescimento mais rápido da economia?
É o que podemos concluir e se confirma quando se compara no diagrama abaixo a taxa de aprovação de Trump com a de Obama na mesma altura do mandato oito anos antes, segundo os Rasmussen Reports.
Quem lê regularmente o (Im)pertinências saberá que o facto de a esquerdalhada em geral odiar o Donald, por boas e principalmente por más razões, não transforma nem a criatura nem as suas políticas (se é que tem alguma) em objecto da nossa admiração.
Segundo a Bloomberg, «Trump é o primeiro líder americano, pelo menos desde Ronald Reagan, cujo índice de aprovação é consistentemente baixo e está a ficar para trás na avaliação favorável dos consumidores sobre a economia». Para suportar esta conclusão, oferece-nos o seguinte diagrama:
E se a explicação para a aprovação de Trump estar abaixo da avaliação favorável dos consumidores sobre a economia for consequência desta avaliação ser muito mais favorável agora do que em média no passado, devido a um crescimento mais rápido da economia?
É o que podemos concluir e se confirma quando se compara no diagrama abaixo a taxa de aprovação de Trump com a de Obama na mesma altura do mandato oito anos antes, segundo os Rasmussen Reports.
Quem lê regularmente o (Im)pertinências saberá que o facto de a esquerdalhada em geral odiar o Donald, por boas e principalmente por más razões, não transforma nem a criatura nem as suas políticas (se é que tem alguma) em objecto da nossa admiração.
12/09/2018
SERVIÇO PÚBLICO: Da próxima vez também não vai ser diferente (13)
[Uma espécie de continuação de «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e de «Da próxima vez também não vai ser diferente»]
Não por acaso Nouriel Roubini, economista e professor da New York University, é também conhecido por Dr. Doom - em 2006 Roubini antecipou em dois anos a crise de 2008 da qual ainda hoje estamos a lamber as feridas. É no mínimo uma razão para reflexão Roubini em 2018 antecipar uma crise semelhante para 2020. Leia-se o excerto seguinte (a parte mais focada na conjuntura global) do seu artigo Is the next financial crisis already brewing? no Financial Times:
«As we mark the tenth anniversary of the global financial crisis, there have been plenty of postmortems examining its causes, its consequences and whether the necessary lessons have been learnt.
So it seems a pertinent moment to ask when the next recession and financial crisis will occur and why. The global expansion is likely to continue this year and next because the US is running large fiscal deficits, China is continuing stimulative policies and Europe remains on a recovery path. Yet by 2020, there are several reasons why conditions for a global recession and financial crisis may emerge.
So it seems a pertinent moment to ask when the next recession and financial crisis will occur and why. The global expansion is likely to continue this year and next because the US is running large fiscal deficits, China is continuing stimulative policies and Europe remains on a recovery path. Yet by 2020, there are several reasons why conditions for a global recession and financial crisis may emerge.
BREIQUINGUE NIUZ: Costa sabe algo que nós não sabemos (ainda)
“Taxa Robles”. Governo volta a puxar o tapete ao Bloco
O Governo esperou três dias para acabar com as pretensões do Bloco de Esquerda de criar uma taxa especial contra a especulação imobiliária. E logo a duas vozes: primeiro, por Carlos César, presidente do PS e líder parlamentar; depois, pelo próprio António Costa, que arrumou a discussão com uma frase politicamente assassina: “Nem percebo bem aquela proposta”. (Expresso)11/09/2018
Dúvidas (233) - E descrimina-se a comunidade QQAAP?
Há dinheiro para os projectos de integração LGBTI (L = lesbian, G = gay, B = bisexual, T = transgender, I = intersex) e não há para os projectos de integração QQAAP (Q = queer, Q = questioning, A = allies, A = asexual, P - pansexual)?
Disclaimer:
Segundo a newsbeat da BBC, existiam há 3 anos as 10 (dez) categorias sexuais, perdão, de género, acima citadas. É possível que hoje (11-08-2018) faltem letras.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Serena Williams não é vítima de sexismo, tem apenas mau perder
Continuação de ESTÓRIA E MORAL: Vedetismo, desculpas esfarrapadas e má-educação
«Serena Williams’s epic tantrum in last night’s US Open final wasn’t a noble stand against racism or sexism. It wasn’t about her being black, or a woman, or a mother — although of course it very quickly became about that, as tweeters and sports hacks climbed over each other to defend the Queen of Women’s tennis because she is a famous mega brand and her brand is about being black, a woman, and a mother.
But in our hearts we all know what really happened. Williams behaved like a bad loser then pretended to be a victim of societal injustice to justify her bratty performance. It was a pathetic and depressing spectacle. The most depressing and pathetic part was that the New York crowd — so keen to see their heroine win — indulged and encouraged her self-pitying, whining, angry display. The fans cheered her on as she berated the umpire Carlos Ramos. His sin? Having the temerity to try to do his job.
Ramos issued Williams with a code violation — perhaps harshly — for being coached during the match. Williams felt aggrieved, lost her cool and couldn’t get it back. She smashed a racquet. She screamed repeatedly at Ramos about how she never cheats, how she has a daughter (so?) and eventually told him he owed her an apology and that he was a ‘thief’. For this she was punished, then she lost, and the final as a sporting contest was ruined. For this she is being called a legend.
Serena Williams can lose without behaving like diva brat, but sometimes she can’t, and when she loses her temper she is a fairly awful human being. She tried to have it both ways too — bigging up her opponent, saying her row shouldn’t distract from Naomi Osaka’s achievement. Her admirers said that showed amazing grace. But it didn’t. Amazing grace would have been not to turn the whole match into a spectacle of her self-importance.»
Serena Williams isn’t the victim of sexism – she’s just a sore loser, Freddy Gray no Spectator
Para quem pense que estou a dar demasiada importância a um episódio menor, direi que, sendo um episódio menor, a turba dos admiradores de Serena Williams mesclada com a turba do politicamente correcto transformou-o num episódio maior e um álibi para a levar a cabo mais uma cruzada, tentando de caminho crucificar Carlos Ramos, um sujeito competente e íntegro com uma carreira que fala por ele.
Bad loser berates umpire |
But in our hearts we all know what really happened. Williams behaved like a bad loser then pretended to be a victim of societal injustice to justify her bratty performance. It was a pathetic and depressing spectacle. The most depressing and pathetic part was that the New York crowd — so keen to see their heroine win — indulged and encouraged her self-pitying, whining, angry display. The fans cheered her on as she berated the umpire Carlos Ramos. His sin? Having the temerity to try to do his job.
Ramos issued Williams with a code violation — perhaps harshly — for being coached during the match. Williams felt aggrieved, lost her cool and couldn’t get it back. She smashed a racquet. She screamed repeatedly at Ramos about how she never cheats, how she has a daughter (so?) and eventually told him he owed her an apology and that he was a ‘thief’. For this she was punished, then she lost, and the final as a sporting contest was ruined. For this she is being called a legend.
Serena Williams can lose without behaving like diva brat, but sometimes she can’t, and when she loses her temper she is a fairly awful human being. She tried to have it both ways too — bigging up her opponent, saying her row shouldn’t distract from Naomi Osaka’s achievement. Her admirers said that showed amazing grace. But it didn’t. Amazing grace would have been not to turn the whole match into a spectacle of her self-importance.»
Serena Williams isn’t the victim of sexism – she’s just a sore loser, Freddy Gray no Spectator
Para quem pense que estou a dar demasiada importância a um episódio menor, direi que, sendo um episódio menor, a turba dos admiradores de Serena Williams mesclada com a turba do politicamente correcto transformou-o num episódio maior e um álibi para a levar a cabo mais uma cruzada, tentando de caminho crucificar Carlos Ramos, um sujeito competente e íntegro com uma carreira que fala por ele.
10/09/2018
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (152)
Outras avarias da geringonça e do país.
Governar a correr atrás dos noticiários é o que mais uma vez o governo fez a propósito da CP onde começou a cair uma chuva de euros - na verdade, são apenas boletins meteorológicos anunciado-a. Foram os anúncios dos mil e quatrocentos milhões, das indemnizações compensatórias no futuro contrato de serviço público, dos 168 milhões para os comboios regionais, culminando com a estimativa do sempre prestável semanário de reverência que no próximo quadro comunitário 2021-2027 será necessário investir mil milhões por ano na ferrovia, estimativa que na frágil e crédula meninge dos portugueses se transforma num facto consumado que ofusca o caos em que a CP está mergulhada.
Há menos de dois anos o chefe Costa entregou à Câmara de Lisboa a Carris deixando mais 800 milhões do seu passivo como dívida do Estado para ser paga pelos contribuintes de todo o país. Agora mandou o putativo sucessor Medina anunciar uma redução dos passes sociais na área metropolitana de Lisboa a pretexto de reduzir o tráfego urbano. Logo se levantaram vozes criticando com razão serem os contribuintes de todo o país a pagar a factura dos transporte dos alfacinhas. Outras vozes defenderam que só a melhoria da qualidade dos transportes conseguiria tal propósito, sendo certo, digo eu, que no Estado Sucial em que vivemos essa solução seria paga pelos mesmos contribuintes de todo o país. Porém, a questão de fundo é que, com toda a evidência, nenhuma dessas soluções teria impacto significativo na redução do volume de tráfego (leia-se este post do Impertinente), redução que exigiria outras soluções, como uma taxa de congestionamento variável por hora e por zona em que o utilizador-condutor pagaria o impacto ambiental e o uso das infraestruturas urbanas.
Governar a correr atrás dos noticiários é o que mais uma vez o governo fez a propósito da CP onde começou a cair uma chuva de euros - na verdade, são apenas boletins meteorológicos anunciado-a. Foram os anúncios dos mil e quatrocentos milhões, das indemnizações compensatórias no futuro contrato de serviço público, dos 168 milhões para os comboios regionais, culminando com a estimativa do sempre prestável semanário de reverência que no próximo quadro comunitário 2021-2027 será necessário investir mil milhões por ano na ferrovia, estimativa que na frágil e crédula meninge dos portugueses se transforma num facto consumado que ofusca o caos em que a CP está mergulhada.
Há menos de dois anos o chefe Costa entregou à Câmara de Lisboa a Carris deixando mais 800 milhões do seu passivo como dívida do Estado para ser paga pelos contribuintes de todo o país. Agora mandou o putativo sucessor Medina anunciar uma redução dos passes sociais na área metropolitana de Lisboa a pretexto de reduzir o tráfego urbano. Logo se levantaram vozes criticando com razão serem os contribuintes de todo o país a pagar a factura dos transporte dos alfacinhas. Outras vozes defenderam que só a melhoria da qualidade dos transportes conseguiria tal propósito, sendo certo, digo eu, que no Estado Sucial em que vivemos essa solução seria paga pelos mesmos contribuintes de todo o país. Porém, a questão de fundo é que, com toda a evidência, nenhuma dessas soluções teria impacto significativo na redução do volume de tráfego (leia-se este post do Impertinente), redução que exigiria outras soluções, como uma taxa de congestionamento variável por hora e por zona em que o utilizador-condutor pagaria o impacto ambiental e o uso das infraestruturas urbanas.
Alemanha envia de volta refugiados fugidos de Portugal...
... que não eram portugueses. Aos portugueses que fogem de cá o governo oferece descontos no IRS o que pode não ser suficiente para voltarem, pois se até as vítimas da guerra e dos regimes despóticos fogem de cá.
09/09/2018
CASE STUDY: O SCP como microcosmos do Portugal dos Pequeninos (2)
Frederico Varandas, antigo director clínico do Sporting, ganhou as eleições para a presidência, derrotando vários outros notáveis, incluindo o que trata todos como se fossem criados dele. No Portugal dos Pequeninos perdeu-se um bom presidente da câmara e um excelente contabilista e ganhou-se um líder da oposição fraco e que seria um cadáver se o ridículo fosse mortal. Os lagartos já sabem que perderam um bom director clínico e ainda não sabem se ganharam um bom presidente.
ESTÓRIA E MORAL: Vedetismo, desculpas esfarrapadas e má-educação
Estória
Era uma vez a melhor tenista das últimas gerações, com 23 torneios Grand Slam e 6 US Open no activo, que esperava ganhar o seu 24.ª e 7.º, respectivamente, numa final tendo como adversária uma miúda talentosa de 20 anos, que nunca tinha ganho um torneio.
No primeiro set, Naomi Osaka, a miúda talentosa japonesa-haitiana, deu uma lição de ténis à veterana Serena Williams com 6-2, sem se deixar afectar pelo ruidoso bando de apoiantes de Serena. No segundo set, o treinador de Serena fez um claríssimo gesto de coaching (na circunstância indicação para subir à rede), que mais tarde ele próprio admitiu, mas que provavelmente Serena não terá visto. O árbitro, o português Carlos Ramos, cumprindo o regulamento, fez uma advertência a Serena porque o coaching não é permitido no torneio. Serena reagiu emocionalmente negando. Pouco depois, quando Naomi lhe quebra o serviço no 3-3, Serena descontrola-se, bate com a raquete no chão, partindo-a, recebendo a segunda advertência de Carlos Ramos e perdendo um ponto, mais uma vez de acordo com o regulamento.
É nessa altura que Serena se descontrola completamente, insultando Carlos Ramos, chamando-lhe ladrão e mentiroso, exigindo que lhe pedisse desculpa e dizendo que ele jamais arbitraria uma partida dela. Carlos Ramos aplica outra vez o regulamento e penaliza Serena que perde o oitavo jogo do segundo set que fica em 5-3 a favor de Osaka. De seguida, Serena chama ao court dois dirigentes do US Open e continua a gritar os seus argumentos acrescentando-lhe a discriminação sexual, um argumento definitivamente desonesto numa competição feminina. Segundo ela, os jogadores homens dizem e fazem muito pior e não lhes acontece nada.
No final, a vitória de Naomi foi abafada pelos guinchos dos apoiantes de Serena e a miúda, penalizada, pediu desculpa à turba por ter ganho.
Moral
É justo que uma miúda talentosa que se comporta como uma adulta vença uma vedeta adulta que se comporta como uma miúda mal-educada.
Era uma vez a melhor tenista das últimas gerações, com 23 torneios Grand Slam e 6 US Open no activo, que esperava ganhar o seu 24.ª e 7.º, respectivamente, numa final tendo como adversária uma miúda talentosa de 20 anos, que nunca tinha ganho um torneio.
No primeiro set, Naomi Osaka, a miúda talentosa japonesa-haitiana, deu uma lição de ténis à veterana Serena Williams com 6-2, sem se deixar afectar pelo ruidoso bando de apoiantes de Serena. No segundo set, o treinador de Serena fez um claríssimo gesto de coaching (na circunstância indicação para subir à rede), que mais tarde ele próprio admitiu, mas que provavelmente Serena não terá visto. O árbitro, o português Carlos Ramos, cumprindo o regulamento, fez uma advertência a Serena porque o coaching não é permitido no torneio. Serena reagiu emocionalmente negando. Pouco depois, quando Naomi lhe quebra o serviço no 3-3, Serena descontrola-se, bate com a raquete no chão, partindo-a, recebendo a segunda advertência de Carlos Ramos e perdendo um ponto, mais uma vez de acordo com o regulamento.
É nessa altura que Serena se descontrola completamente, insultando Carlos Ramos, chamando-lhe ladrão e mentiroso, exigindo que lhe pedisse desculpa e dizendo que ele jamais arbitraria uma partida dela. Carlos Ramos aplica outra vez o regulamento e penaliza Serena que perde o oitavo jogo do segundo set que fica em 5-3 a favor de Osaka. De seguida, Serena chama ao court dois dirigentes do US Open e continua a gritar os seus argumentos acrescentando-lhe a discriminação sexual, um argumento definitivamente desonesto numa competição feminina. Segundo ela, os jogadores homens dizem e fazem muito pior e não lhes acontece nada.
No final, a vitória de Naomi foi abafada pelos guinchos dos apoiantes de Serena e a miúda, penalizada, pediu desculpa à turba por ter ganho.
Moral
É justo que uma miúda talentosa que se comporta como uma adulta vença uma vedeta adulta que se comporta como uma miúda mal-educada.
08/09/2018
CASE STUDY: O SCP como microcosmos do Portugal dos Pequeninos
Hoje os lagartos vão às urnas para escolher um presidente e uma direcção, depois de uma baderna de vários meses que foi o abono de família do jornalismo de sensações e a alegria de lampiões e tripeiros.
No fim de semana passado, em entrevista à Revista do Expresso, Vasco Pulido Valente (VPV) dissecou a baderna porque, explicou, «teve uma curiosidade por esta história toda e acompanhei-a ao milímetro, porque me pareceu o modelo exacto de um movimento populista». A mim também me pareceu, e por isso apodei Bruno de Carvalho (BC) de capo demitido dos lagartos quando ele disse, justamente, «temos uma elite bafienta» para acrescentar com a sua megalomania um perfeito disparate (infelizmente) «logo por azar, está toda no Sporting».
Como o texto da entrevista não está disponível online, aqui fica a parte mais saborosa onde VPV estabelece um paralelo do SCP com o Portugal dos Pequeninos e as suas elites enfatuadas e merdosas, e onde até admite para BC ganhar as eleições um método habitualmente usado pela oposição: esperar calado que o adversário perca um campeonato.
No fim de semana passado, em entrevista à Revista do Expresso, Vasco Pulido Valente (VPV) dissecou a baderna porque, explicou, «teve uma curiosidade por esta história toda e acompanhei-a ao milímetro, porque me pareceu o modelo exacto de um movimento populista». A mim também me pareceu, e por isso apodei Bruno de Carvalho (BC) de capo demitido dos lagartos quando ele disse, justamente, «temos uma elite bafienta» para acrescentar com a sua megalomania um perfeito disparate (infelizmente) «logo por azar, está toda no Sporting».
Como o texto da entrevista não está disponível online, aqui fica a parte mais saborosa onde VPV estabelece um paralelo do SCP com o Portugal dos Pequeninos e as suas elites enfatuadas e merdosas, e onde até admite para BC ganhar as eleições um método habitualmente usado pela oposição: esperar calado que o adversário perca um campeonato.
07/09/2018
CASE STUDY: Um imenso Portugal (40) - Não tem ninguém com "ficha limpa" no PT?
[Outros imensos Portugais]
Lula, o candidato incumbente do PT, foi condenado por corrupção e está preso e impedido de se candidatar por força da «Lei da Ficha Limpa» aprovada durante o seu mandato como presidente. O seu suplente Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, «foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha. A acusação da Promotoria é um novo desdobramento da investigação envolvendo a UTC Engenharia, de Ricardo Pessoa, que teria pago uma dívida de R$ 2,6 milhões da campanha de 2012 à Prefeitura com recursos de caixa 2.» (Estadão)
«Caixa 2» na gíria brasileira é a caixa por onde entra o dinheiro de proveniência ilegal que não figura nas contas da empresa e não é declarado ao fisco.
Espera-se, como habitualmente, as teorias da conspiração da esquerdalhada brasileira (e portuguesa) acerca da justiça brasileira, as quais, contudo, não são aplicáveis aos inúmeros políticos de direita que foram condenados a dezenas ou mesmo mais de uma centena de anos de prisão.
Espera-se, como habitualmente, as teorias da conspiração da esquerdalhada brasileira (e portuguesa) acerca da justiça brasileira, as quais, contudo, não são aplicáveis aos inúmeros políticos de direita que foram condenados a dezenas ou mesmo mais de uma centena de anos de prisão.
Costa pode parecer o Gato de Cheschire, mas sabe perfeitamente para onde vai
«Imagino sempre António Costa entrar em casa e dizer à família: “Isto vai tão bem que parece um sonho”. Se ao princípio o seu sorriso de gato de Cheshire, aquele sorriso tão brilhante que faz esconder todo o corpo atrás dele, podia ser uma estratégia, hoje é uma consequência. Recordemos que a frase decisiva do gato, na magnífica novela “Alice no País das Maravilhas”, é “para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Isto, depois de Alice lhe perguntar para onde vai a estrada e ele lhe responder com outra pergunta: “para onde quer ir a menina?”. Esta, que nada conhece naquele país de maravilhas, diz que não sabe porque está perdida… é quando Cheshire sentencia que qualquer caminho serve!
Eu creio que Costa estava perdido e qualquer caminho lhe servia. O da ‘geringonça’ era um dos possíveis e a verdade é que, em vez de mais tarde encontrar a rainha de copas, que primeiro cortava o pescoço e depois fazia o julgamento, deu com Marcelo Rebelo de Sousa que faz o julgamento, as alegações finais, a sentença, representa ambas as partes e absolve, ou por índole ou por cálculo (cada um dirá o que entende) toda a gente.»
Escreveu Henrique Monteiro no Expresso Diário com o seu fino sentido de humor. Porém, está equivocado. Costa pode parecer o Gato de Cheschire, pelo menos no sorriso, mas sabe perfeitamente para onde vai. Sabia tão bem para onde ia - primeiro para o Largo do Rato e depois para S. Bento e no futuro para Belém, talvez - que qualquer caminho lhe serviu e lhe servirá.
Eu creio que Costa estava perdido e qualquer caminho lhe servia. O da ‘geringonça’ era um dos possíveis e a verdade é que, em vez de mais tarde encontrar a rainha de copas, que primeiro cortava o pescoço e depois fazia o julgamento, deu com Marcelo Rebelo de Sousa que faz o julgamento, as alegações finais, a sentença, representa ambas as partes e absolve, ou por índole ou por cálculo (cada um dirá o que entende) toda a gente.»
Escreveu Henrique Monteiro no Expresso Diário com o seu fino sentido de humor. Porém, está equivocado. Costa pode parecer o Gato de Cheschire, pelo menos no sorriso, mas sabe perfeitamente para onde vai. Sabia tão bem para onde ia - primeiro para o Largo do Rato e depois para S. Bento e no futuro para Belém, talvez - que qualquer caminho lhe serviu e lhe servirá.
06/09/2018
Um governo à deriva (39) - Governando a correr atrás dos noticiários
Depois de trinta e dois meses a cativarem o dinheiro para a CP (*), deixando-a exangue, com uma dívida pantagruélica, sem carruagens e sem locomotivas, porque todo o dinheiro disponível é para pagar as tenças dos utentes da vaca marsupial pública, eis que, depois de duas ou três semanas de escândalo mediático, surge como maná celestial não um milhão, não dez milhões, não cem milhões, mil e quatrocentos milhões!
(*) Dinheiro injectado na CP pelo OE: 687 milhões em 2015, 659 milhões em 2016, 520 milhões em 2017 e 455 milhões em 2018 (fonte: Expresso). Repare-se que o governo socialista, que diz ter virado a página da austeridade, injectou no elefante branco em média por ano menos 114 milhões do que governo "neoliberal" injectou em 2015.
Este governo não cai porque não é um edifício e, apesar de ser uma nódoa, não cai porque falta a benzina do Conde de Abranhos.
Aditamento:
Veja-se a posição o desempenho comparativo dos caminhos de ferros portugueses segundo o índice da consultora BCG.
É claro que este resultado não depende só dos governos socialistas, embora estes tenham ocupado o poder mais de metade do tempo. Ainda assim, o governo de Costa ao virar a página da austeridade conseguiu ir mais longe do que qualquer outro.
Dúvidas (232) - Porque só agora se sabe da fraude das baixas na educação?
Os dados divulgados ontem pela Comissão Europeia revelam que no final de 2017, foram realizadas cerca de seis mil juntas médicas no sector da educação para identificar baixas por doença incorrectas. Resultado: mais de metade dos avaliados regressaram ao trabalho.»
O que pensam as corporações sobre isto?
- Ordem dos Médicos: «Não há baixas fraudulentas. Quando um médico passa um atestado ou uma baixa a um doente é porque acha que ele está doente» disse à TSF o bastonário;
- Fenprof: «as irregularidades nas baixas médicas no setor da Educação, as punições devem se exemplares. Ainda assim, Mário Nogueira sublinha que a maioria dos casos noticiados não envolve professores» (SIC Notícias)
Teoria da conspiração: primeiro o jornalismo de causas e a esquerdalhada residente nas redacções fez o que costuma fazer - esconder os podres dos sindicatos amigos; agora, com a negociação com os professores encrencada, deu jeito ao governo deixar escapar a coisa para comprometer os sindicatos perante a opinião pública.
05/09/2018
ESTADO DE SÍTIO: É este Estado Sucial que não se governa que quer tomar conta dos portugueses?
«PGR vai saber tudo o que as secretas estão a espiar nas comunicações de suspeitos. Um ano e dois dias depois da publicação da lei, foi finalmente aprovado o regulamento que permite aos serviços de informações aceder aos dados das comunicações telefónicas e internet. Os espiões têm de preencher um formulário e informar a PGR.» (DN)
Serviços Secretos?
«Desapareceram 50 armas de uma arrecadação da PSP e dois agentes foram suspensos
Situação foi detectada após a apreensão de uma arma da polícia no Porto. Lote pode ter sido vendido no mercado negro internacional» (Público de há 18 meses)
Até hoje não se sabe o que aconteceu e ninguém foi responsabilizado.
Serviços Secretos?
«Desapareceram 50 armas de uma arrecadação da PSP e dois agentes foram suspensos
Situação foi detectada após a apreensão de uma arma da polícia no Porto. Lote pode ter sido vendido no mercado negro internacional» (Público de há 18 meses)
Até hoje não se sabe o que aconteceu e ninguém foi responsabilizado.
04/09/2018
ESTÓRIA E MORAL: Refugiados e branqueamento de capitais
Estória
«Segundo afirmou António Vitorino, os negócios com refugiados (movimentam) a nível mundial mais dinheiro para branquear do que a droga.»
José Miguel Júdice, no jornal Eco
Moral
O inferno está cheio de boas intenções. E de más, claro.
«Segundo afirmou António Vitorino, os negócios com refugiados (movimentam) a nível mundial mais dinheiro para branquear do que a droga.»
José Miguel Júdice, no jornal Eco
Moral
O inferno está cheio de boas intenções. E de más, claro.
Pro memoria (385) - A quarta metamorfose de Centeno
Até agora tinha identificado três Centenos, a saber:
- Centeno economista académico, considerado competente, com uma formação sólida e um currículo digno de nota;
- Centeno ministro das Finanças que tem sido um executor fiel das políticas indispensáveis para apaziguar comunistas e bloquistas e manter o seu apoio ao governo;
- Ronaldo das Finanças, presidente do Eurogrupo, que empresta algum brilho à imagem internacional tradicionalmente embaciada de um Portugal dos Pequeninos e alimenta a fome de reconhecimento de um povo com complexos de inferioridade que vê assim mais um «português no topo do mundo».
Acrescento que o primeiro Centeno está desaparecido em combate desde os tempos do documento «Uma década para Portugal» que subscreveu com mais 11 sábios.
Com a mensagem dirigida à Grécia a propósito da saída do resgate, revelou-se um quarto Centeno, o Centeno político do género troca-tintas, uma espécie de Costa com um doutoramento em Economia não pela Harvard Business School mas pela Mouse School of Economics.
Com a mensagem dirigida à Grécia a propósito da saída do resgate, revelou-se um quarto Centeno, o Centeno político do género troca-tintas, uma espécie de Costa com um doutoramento em Economia não pela Harvard Business School mas pela Mouse School of Economics.
É esta quarta encarnação de Centeno que permite o convívio na mesma pessoa física de outras personas. Exemplo:
- O segundo Centeno, falando no parlamento em 2-12-2015, desvalorizava a «saída limpa» de Portugal conseguida pelo governo anterior qualificando-a como «o resultado pequeno para uma propaganda enorme» com um «crescimento anémico».
- O terceiro Centeno dizia recentemente de um país que saiu do programa de resgate com três perdões de dívida, uma dívida superior com mais 50 pontos percentuais do que a portuguesa, um crescimento esse sim anémico, e um desemprego actual duplo do português em 2015:
«Hoje é um dia especial para a Grécia. O seu programa de assistência chega ao fim depois de um caminho longo e sinuoso, através do qual todos aprendemos as nossas lições. Mas isso, agora, é história. Hoje, o crescimento económico foi retomado, estão a ser criados novos empregos, há um excedente orçamental e comercial, a economia foi reformada e modernizada»
03/09/2018
Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (151)
Outras avarias da geringonça e do país.
Dada a longevidade da geringonça, por várias vezes me interroguei se não se justificaria mudar o título desta série de «Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça» para outro mais adequado. Não o fiz até agora na convicção, que mantenho, de que a «possibilidade da sua acção (da geringonça) tem a duração limitada pela memória que os portugueses tenham das maldades que, segundo eles, Passos Coelho lhes fez».
Porém, vários factores estão a compensar o desvanecer da memória das maldades. Por um lado, a bonança económica trazida pelas exportações, rebocadas pela conjuntura internacional, e pelo afluxo do turismo, graças ao Daesh que acabou com a concorrência no norte de África. Por outro lado, o oportunismo e o indiscutível talento de Costa para a manipulação e para os equilibrismos conjunturais, a apetência do BE pelo poder e o colapso da oposição democrática, têm vindo a adiar a avaria da geringonça para um horizonte que, face à incapacidade congénita dos portugueses anteciparem o futuro, é aos seus olhos tão longínqua como as catástrofes anunciadas pelos gurus das mudanças climáticas. Ora, se tenho dúvidas sobre quando se tornará irreparável a já visível avaria geringonça, não as tenho quanto aos danos que a governação socialista inspirada e suportada por comunistas e berloquistas está todos os dias a infligir ao País. Daí o rebaptismo.
Dada a longevidade da geringonça, por várias vezes me interroguei se não se justificaria mudar o título desta série de «Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça» para outro mais adequado. Não o fiz até agora na convicção, que mantenho, de que a «possibilidade da sua acção (da geringonça) tem a duração limitada pela memória que os portugueses tenham das maldades que, segundo eles, Passos Coelho lhes fez».
Porém, vários factores estão a compensar o desvanecer da memória das maldades. Por um lado, a bonança económica trazida pelas exportações, rebocadas pela conjuntura internacional, e pelo afluxo do turismo, graças ao Daesh que acabou com a concorrência no norte de África. Por outro lado, o oportunismo e o indiscutível talento de Costa para a manipulação e para os equilibrismos conjunturais, a apetência do BE pelo poder e o colapso da oposição democrática, têm vindo a adiar a avaria da geringonça para um horizonte que, face à incapacidade congénita dos portugueses anteciparem o futuro, é aos seus olhos tão longínqua como as catástrofes anunciadas pelos gurus das mudanças climáticas. Ora, se tenho dúvidas sobre quando se tornará irreparável a já visível avaria geringonça, não as tenho quanto aos danos que a governação socialista inspirada e suportada por comunistas e berloquistas está todos os dias a infligir ao País. Daí o rebaptismo.
02/09/2018
ARTIGO DEFUNTO: Consumos e emissões dos automóveis. Quem enganou quem, como e porquê?
«A indústria automóvel enganou os automobilistas portugueses em 1,6 mil milhões de euros desde 2000, manipulando o real consumo dos veículos, segundo um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E) divulgado nesta terça-feira. O estudo, à escala europeia, indica uma manipulação que abrangeu toda a indústria automóvel e que custou aos condutores europeus um extra de 149,6 mil milhões de euros nos últimos 18 anos.» (Expresso)
Quem enganou quem e como?
Os consumos dos veículos ligeiros de passageiros anunciados pelos fabricantes foram desde 1997 e até Agosto medidos pelo sistema New European Driving Cycle (NEDC).
O NEDC foi definido e mantido pelo World Forum for Harmonization of Vehicle Regulations da UNECE (United Nations Economic Commission for Europe) e visava medir o consumo médio e as emissões durante a utilização típica de um carro na Europa e de há muito era criticado por apresentar resultados inatingíveis na realidade.
Por isso, a partir deste mês, o NEDC vai ser gradualmente substituído na Europa pelo Worldwide Harmonized Light Vehicle Test Procedure (WLTP), um sistema igualmente desenvolvido pelo World Forum for Harmonization of Vehicle Regulations da UNECE que se espera medir consumos e emissões mais próximos das médias reais.
Qual manipulação? Não foi a indústria automóvel que desenvolveu o NEDC. A manipulação custou aos condutores europeus um extra? Como assim? Se a UNECE tivesse um sistema de medição mais realista, os condutores gastariam menos combustíveis ou este seria mais barato?
O irrealismo do NEDC era há mais de 10 anos um Segredo de Polichinelo conveniente para muita gente. A indústria automóvel estava evidentemente cansada de saber e todos governos (nomeadamente o alemão, o francês e o italiano) assobiaram para o lado para não prejudicar os seus campeões.
Deve haver uma explicação (republicação)
A selecção portuguesa aos Europeus de atletismo adaptado conseguiu 17 medalhas, feito notável que me recordou dois posts que publicámos no (Im)pertinências. O primeiro, há 14 anos, Medidas para a melhoria do desempenho dos nossos atletas, é um exercício de ironia politicamente incorrecta. O segundo, há 10 anos, mais palatável, continua actual mutatis mutandis. Aqui vai ele, de novo.
Como explicar que com delegações mais pequenas do que as olímpicas os atletas paralímpicos desde 1972 (até 2008) tenham conquistado 81 medalhas (incluindo 25 de ouro), isto é o quádruplo do que os atletas olímpicos conseguiram desde 1912, em quase o triplo do número de participações?
Talvez seja a mesma razão que explica que os emigrantes portugueses se esfalfam a trabalhar e são geralmente apreciados nas comunidades onde se inserem. Será que só atingimos a excelência a lutar contra adversidade? A ser for assim, quanto mais o governo trouxer ao colo os «excluídos» mais eles serão uma legião para toda a vida.
Como explicar que com delegações mais pequenas do que as olímpicas os atletas paralímpicos desde 1972 (até 2008) tenham conquistado 81 medalhas (incluindo 25 de ouro), isto é o quádruplo do que os atletas olímpicos conseguiram desde 1912, em quase o triplo do número de participações?
Talvez seja a mesma razão que explica que os emigrantes portugueses se esfalfam a trabalhar e são geralmente apreciados nas comunidades onde se inserem. Será que só atingimos a excelência a lutar contra adversidade? A ser for assim, quanto mais o governo trouxer ao colo os «excluídos» mais eles serão uma legião para toda a vida.
01/09/2018
CASE STUDY: Trumpologia (37) - A Trump o que é de Trump, a Obama o que é de Obama
Mais trumpologia.
Quem só tenha lido o que o jornalismo de causas escreveu sobre Trump e os emigrantes e as famílias separadas, tudo convenientemente ilustrado com fotos de crianças a chorar, imaginará que o problema foi criado por Trump ou pelo menos por ele exacerbado. Compare-se no diagrama o último ano de Obama (2016) com o período seguinte iniciado com a inauguration de Trump em 20-01-2017 e tem-se de concluir que o jornalismo de causas se pôs a jeito para ser rotulado de «the enemy of the people» pela demagogia de Trump.
Economist (com etiquetas impertinentes) |