«Voltemos a nós: Marcelo que é o combustível de si mesmo, impede permanentemente o mínimo de distância e o quanto baste de reserva que tem de haver entre ele e o mundo, comentando até ao limite, promovendo abracinhos compulsivos, infantilizando plateias, enquanto incansavelmente aplaude, amplia e concorda a eito com tudo o resto – sempre o conheci a preferir concordar do que a ser capaz de enfrentar. A verdade é que é difícil descortinar o que de facto – e de sério – determina o Chefe de Estado para além da distribuição do afecto ao domicílio (com o olhar posto numa urna de voto).
Estando em “todas” omnipresentemente, sem que se alcance o critério ou a escala de prioridades com que o faz; beijando com o mesmíssimo afã uma idosa a quem roubaram o cão ou alguém que perdeu os seus num incêndio, tendo intervenção comentada em tudo e sobre tudo, o Presidente sinaliza-nos que fora do palco e da sua estonteante mediatização, as coisas da vida do país talvez não sejam a maior prioridade. (...)
Tudo isto que é pesado, passou porém a ser um pouco mais pesado nos últimos dias, quando subitamente alguma coisa mudou: o Presidente da República saiu-se mal desta história da substituição das senhoras procuradoras. Duplamente: tornou verosímeis algumas dúvidas (reparem que não digo suspeitas mas sim dúvidas) de que poderia estar a acautelar interesses ou circunstâncias pessoais. E saiu-se mal porque tudo, desde o estranhíssimo processo que antecedeu a sua decisão até ao seu “sim”, foi indisfarçável: ficou impresso no país.»
Contribuintes com número, Maria João Avillez no Observador, dando conta com bastante elegância de juízos que aqui no (Im)pertinências costumamos dar conta com alguma brutidão
Eu só ouvi pequenos extractos do discurso de Marcelo na onu. Fiquei impressionada com o tom “bajulador” do início e mudei de canal. Depois, num noticiário, ouvi-o defender exactamente as posições de merkel e macron que são a manutenção de status quo na Europa. Sabendo nós que, conforme afirmou o próprio macron, está declarada a luta entre os que defendem essa posição dita “progressista liberal” e os apelidados “populistas/soberanistas iliberais” com o enfoque nas próximas eleições para o parlamento europeu, parece-me apressada a posição tomada por Marcelo sem que qualquer debate sobre o assunto tenha sido feito no país.
ResponderEliminarA manutenção dos eleitores longe desses temas ( e de outros com real impacto no nosso futuro ) que, na popularucha tv que temos, foram substituídos pelo anestesiante futebol, não permite saber se os portugueses estarão de acordo com o desarecimento das nações numa Europa dominada pela Alemanha. Tenho dúvidas de que o povo português que nunca foi, na sua história, muito levado a internacionalismos, se reveja no discurso de Marcelo na onu, se souber o que ele realmente significa.