Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.
Aviso: como qualquer frequentador regular do (Im)pertinência já terá tido oportunidade de constatar não sou fã do papa Francisco. Aquele aroma a teologia da libertação (ou teologia da submissão ao totalitarismo) faz-me tonturas, a mim que sou um agnóstico e adepto de a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Por isso o tenho criticado por andar a tentar reformar o mundo e ajudar a construir o socialismo, que como se sabe não correu bem no passado (União Soviética, Europa de Leste, China, etc.), nem corre bem no presente (Cuba, Venezuela, etc.), em vez de tentar reformar a Curia Romana, obra que não está ser nada fácil.
E também por isso fiquei surpreendido (e não, não é censura, é só surpresa) pelo inesperado exercício de realpolitik de Francisco que, para melhorar as relações diplomáticas entre o Vaticano e Pequim, está a deixar cair os «dois bispos ‘clandestinos’ (ou seja, que seguem as orientações de Roma e foram nomeados e ordenados à revelia do regime) que, no final do ano passado, foram abordados por uma equipa negocial do Vaticano que lhes propôs que resignassem aos seus lugares e dessem lugar a dois bispos nomeados pelo governo chinês.»
28/02/2018
27/02/2018
Dúvidas (216) - Como fará Rio um acordo com Costa até ao Verão sobre medidas que ainda não sabe quais sejam?
«António Capucho afirmou ao “SOL” do último sábado que a bancada parlamentar do partido anda a “fazer a cama a Rui Rio”, tal como António Capucho quis fazer a cama a Passos Coelho no passado (e acabou por se deitar na cama que fizera…). Ora, o que António Capucho, em abono da verdade e do rigor, deveria ter dito era que Rui Rio está desejoso de ir para a cama de António Costa - e o encontro já está marcado para o verão, talvez para aproveitar a fogosidade própria do calor que marca tal estação do ano. E já prometeu dose dupla: um duplo acordo com o PS para o verão! Rui Rio, que ainda não sabe o que deve defender em cada área, já sabe, no entanto, que quer chegar a acordo com o PS, dê por onde der! Até ao verão! É obra! Normalmente, as partes iniciam negociações e só depois fixam prazo para a sua conclusão; com Rui Rio, é ao contrário: primeiro fixa-se prazo para concluir o acordo com António Costa e só depois se pensa no conteúdo do acordo… Um mundo de pernas para o ar, portanto. »
«Rui Rio: na cama de António Costa já no verão?», João Lemos Esteves no jornal i
«Rui Rio: na cama de António Costa já no verão?», João Lemos Esteves no jornal i
A mentira como política oficial (42) - As «taxas europeias» de Costa
Este tema já foi tratado pelo (Im)pertinências aqui e aqui.
A narrativa
Dia 12
Recado de Costa: «Governo português vai propor a criação de três impostos europeus. Estas novas fontes passam, segundo o mesmo responsável, pela criação de três tipos de impostos: a taxação digital, a taxação verde e a taxação sobre transações financeiras internacionais.» Fonte
Dia 23
Costa lui-même: «Os impostos que têm vindo a ser falados não são propriamente impostos que incidam sobre os portugueses» Fonte
Os factos
Taxas não são impostos (até o dos Afectos quando jurisconsulto deu um parecer sobre isso).
Nem o Parlamento Europeu nem o Conselho Europeu e muito menos a Comissão Europeia podem criar impostos que são da competência exclusiva dos parlamentos nacionais.
O que Costa diz que propôs já estava em discussão por várias razões, sendo a mais recente a saída do RU que vai representar uma quebra no orçamento europeu, e ao que parece esta proposta até já tinha sido apresentada em Junho de 2015 pelo governo PSD-CDS (que não tem de se orgulhar por isso, acrescente-se).
Os impostos terão de ser aprovados por cada parlamento e, evidentemente, incidirão sobre contribuintes de cada país, directa ou indirectamente; por exemplo a taxa sobre transacções financeiras internacionais incidirá sobre as transacções em que cidadãos ou empresas portuguesas estejam envolvidos.
Os países como Portugal, que são recebedores líquidos do orçamento europeu ou seja que recebem subsídios excedendo as suas contribuições, estão dispostos a aumentar as contribuições na esperança de ganharem mais alguma coisa na mercearia europeia.
A tradução da narrativa
Primeiro Costa, como de costume, tentou enfeitar-se com a estória de que tinha inventado os «taxas europeias», fazendo dos portugueses parvos (para o que não é preciso muito talento, reconheça-se).
De seguida, percebendo que a estória estava a ser desmontada e o que restava dela era apenas mais impostos e não podendo dizer em público que esperava com esta mercearia que o saldo a receber do orçamento europeu aumentasse, Costa insulta ainda mais a inteligência dos portugueses (que, como se viu, não eram muitos) e vem insinuar que esses impostos não incidiriam «propriamente» sobre os portugueses.
A narrativa
Dia 12
Recado de Costa: «Governo português vai propor a criação de três impostos europeus. Estas novas fontes passam, segundo o mesmo responsável, pela criação de três tipos de impostos: a taxação digital, a taxação verde e a taxação sobre transações financeiras internacionais.» Fonte
Repare-se no uso, nesta e noutras notícias, por manha ou ignorância, dos termos «taxação» e «taxas».
Dia 23
Costa lui-même: «Os impostos que têm vindo a ser falados não são propriamente impostos que incidam sobre os portugueses» Fonte
Os factos
Taxas não são impostos (até o dos Afectos quando jurisconsulto deu um parecer sobre isso).
Nem o Parlamento Europeu nem o Conselho Europeu e muito menos a Comissão Europeia podem criar impostos que são da competência exclusiva dos parlamentos nacionais.
O que Costa diz que propôs já estava em discussão por várias razões, sendo a mais recente a saída do RU que vai representar uma quebra no orçamento europeu, e ao que parece esta proposta até já tinha sido apresentada em Junho de 2015 pelo governo PSD-CDS (que não tem de se orgulhar por isso, acrescente-se).
Os impostos terão de ser aprovados por cada parlamento e, evidentemente, incidirão sobre contribuintes de cada país, directa ou indirectamente; por exemplo a taxa sobre transacções financeiras internacionais incidirá sobre as transacções em que cidadãos ou empresas portuguesas estejam envolvidos.
Os países como Portugal, que são recebedores líquidos do orçamento europeu ou seja que recebem subsídios excedendo as suas contribuições, estão dispostos a aumentar as contribuições na esperança de ganharem mais alguma coisa na mercearia europeia.
A tradução da narrativa
Primeiro Costa, como de costume, tentou enfeitar-se com a estória de que tinha inventado os «taxas europeias», fazendo dos portugueses parvos (para o que não é preciso muito talento, reconheça-se).
De seguida, percebendo que a estória estava a ser desmontada e o que restava dela era apenas mais impostos e não podendo dizer em público que esperava com esta mercearia que o saldo a receber do orçamento europeu aumentasse, Costa insulta ainda mais a inteligência dos portugueses (que, como se viu, não eram muitos) e vem insinuar que esses impostos não incidiriam «propriamente» sobre os portugueses.
26/02/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (124)
Outras avarias da geringonça.
Segundo a Transparência Internacional, Portugal ficou em 2017 no 29.º lugar do ranking do Índice de Percepção de Corrupção ex aequo com o Qatar e no mesmo intervalo nos últimos 6 anos, com 63 pontos, mais um ponto do que em 2016 e menos um do que em 2015. Não podemos, evidentemente, atribuir à geringonça a falta de transparência do país, é mais ao contrário - podemos atribuir à falta de gosto pela transparência do país termos este zingarelho para nos governar.
A transposição da Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF II) se feita na versão minimalista já seria de uma enorme complexidade. Adicionar-lhe toneladas de palha a pretexto de evitar que os bancos vendam gato por lebre, aproveitando-se da ignorância dos seus clientes e da falta de escrúpulos dos seus dirigentes e empregados, arrisca-se a transformá-la numa ejaculação legislativa de 1.400 páginas, sob a forma de uma proposta de lei apresentada ao parlamento pelo governo. A coisa, além de típica de um governo socialista, pode ter um resultado comparável ao do decreto-lei de 2006 de Sócrates que fixou regras como «cortar todas as árvores e arbustos a menos de 5 metros das casas e impedir que os ramos cresçam sobre o telhado» e doze anos e milhões de hectares ardidos depois deu agora origem ao email da Autoridade Tributária enviado a todos os sujeitos passivos a ameaçá-los com coimas.
Segundo a Transparência Internacional, Portugal ficou em 2017 no 29.º lugar do ranking do Índice de Percepção de Corrupção ex aequo com o Qatar e no mesmo intervalo nos últimos 6 anos, com 63 pontos, mais um ponto do que em 2016 e menos um do que em 2015. Não podemos, evidentemente, atribuir à geringonça a falta de transparência do país, é mais ao contrário - podemos atribuir à falta de gosto pela transparência do país termos este zingarelho para nos governar.
A transposição da Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF II) se feita na versão minimalista já seria de uma enorme complexidade. Adicionar-lhe toneladas de palha a pretexto de evitar que os bancos vendam gato por lebre, aproveitando-se da ignorância dos seus clientes e da falta de escrúpulos dos seus dirigentes e empregados, arrisca-se a transformá-la numa ejaculação legislativa de 1.400 páginas, sob a forma de uma proposta de lei apresentada ao parlamento pelo governo. A coisa, além de típica de um governo socialista, pode ter um resultado comparável ao do decreto-lei de 2006 de Sócrates que fixou regras como «cortar todas as árvores e arbustos a menos de 5 metros das casas e impedir que os ramos cresçam sobre o telhado» e doze anos e milhões de hectares ardidos depois deu agora origem ao email da Autoridade Tributária enviado a todos os sujeitos passivos a ameaçá-los com coimas.
25/02/2018
Dúvidas (215) - E se Rio tivesse tido 88 ou 130 vezes mais votos?
«Considerando-se legitimado pelos assombrosos 22.611 votos que recebeu no Congresso do PSD, Rui Rio propõe-se estabelecer acordos com António Costa em matéria de Justiça, Segurança Social, reforma do Estado e descentralização.
Nem quero imaginar o que teria Rui Rio para acordar caso tivesse ganho as eleições em 2015 com 1.993.921 votos como aconteceu com Passos Coelho. Obviamente Portugal não seria o limite à sua ânsia de ruptura nem Costa um interlocutor à altura de tal grandeza e quero acreditar que Rui Rio acabaria a propor a Espanha um novo Tratado de Tordesilhas ou um acordo ao Japão e à China para desbloqueamento da contenda em torno ilhas Senkaku que opõe aqueles dois países. E nem se consegue conceber o que se sentiria Rui Rio mandatado para fazer se porventura alguma vez se aproximasse dos quase três milhões de votos conseguidos por Cavaco Silva em 1991!»
Os frágeis, Helena Matos no Observador
Nem quero imaginar o que teria Rui Rio para acordar caso tivesse ganho as eleições em 2015 com 1.993.921 votos como aconteceu com Passos Coelho. Obviamente Portugal não seria o limite à sua ânsia de ruptura nem Costa um interlocutor à altura de tal grandeza e quero acreditar que Rui Rio acabaria a propor a Espanha um novo Tratado de Tordesilhas ou um acordo ao Japão e à China para desbloqueamento da contenda em torno ilhas Senkaku que opõe aqueles dois países. E nem se consegue conceber o que se sentiria Rui Rio mandatado para fazer se porventura alguma vez se aproximasse dos quase três milhões de votos conseguidos por Cavaco Silva em 1991!»
Os frágeis, Helena Matos no Observador
ACREDITE SE QUISER: Em casa de ferreiro, espeto de pau
«Os passaportes, como qualquer identificação física, podem ser alterados e forjados. Em parte, porque, nos últimos 11 anos, os Estados Unidos colocaram os chips RFID no painel traseiro de seus passaportes, criando os chamados e-Passports. O chip armazena suas informações de passaporte - como nome, data de nascimento, número de passaporte, sua foto e até um identificador biométrico - para verificações de fronteira rápidas e legíveis por máquina. E enquanto os passaportes electrónicos também armazenam uma assinatura criptográfica para evitar falsificações ou falsificações, verifica-se que, apesar de ter tido mais de uma década para fazê-lo, a Alfândega e a Protecção de Fronteira dos Estados Unidos não implantaram o software necessário para efectivamente verificar.
(...)
A situação parece particularmente vergonhosa dado que os EUA lideraram a promoção de e-passaportes em todo o mundo. "Eu assumi que eles verificariam isso", diz Martijn Grooten, um investigador de segurança para a plataforma de informação e teste Virus Bulletin. "Isso pode causar alguns murmúrios entre os países no programa de isenção de visto: os EUA exigiram que eles ofereçam passaportes electrónicos e, em seguida, apenas implementaram parcialmente o sistema. É um pouco embaraçoso".»
De um artigo da Wired
Não é mortalmente ridículo que uma administração Trump que se diz tão preocupada com a segurança dos americanos, impede a entrada nos EU de cidadãos de vários países e quer expulsar outros que lá vivem há anos ou décadas, falhe estrondosamente (como as duas administrações Obama, recorde-se) numa questão simples mas decisiva?
(...)
A situação parece particularmente vergonhosa dado que os EUA lideraram a promoção de e-passaportes em todo o mundo. "Eu assumi que eles verificariam isso", diz Martijn Grooten, um investigador de segurança para a plataforma de informação e teste Virus Bulletin. "Isso pode causar alguns murmúrios entre os países no programa de isenção de visto: os EUA exigiram que eles ofereçam passaportes electrónicos e, em seguida, apenas implementaram parcialmente o sistema. É um pouco embaraçoso".»
De um artigo da Wired
Não é mortalmente ridículo que uma administração Trump que se diz tão preocupada com a segurança dos americanos, impede a entrada nos EU de cidadãos de vários países e quer expulsar outros que lá vivem há anos ou décadas, falhe estrondosamente (como as duas administrações Obama, recorde-se) numa questão simples mas decisiva?
24/02/2018
Dúvidas (214) – Quem é realmente Alexis Tsipras? (II)
Esta é uma dúvida que já vem de 2015 e vem sendo gradualmente respondida. Por exemplo, a propósito dos protestos em Atenas pelas restrições ao direito de greve propostas pelo governo de Tsipra ao Parlamento, escreveu-se o mês passado aqui no (Im)pertinências que Tsipras e os seus camaradas foram evoluindo do esquerdismo infantil para a social-democracia colorida.
Mais recentemente o Expresso que foi a Atenas a convite da CE, relatou num artigo, cujo título quase dispensa a sua leitura («Como o 'perigoso' esquerdista passou a falar para os mercados»), as suas impressões assim:
«Mas, quem ouvisse esta quarta-feira o chefe do Governo grego talar, poderia até achar que estava a falar com um 'homem dos mercados'. "As yields [taxas de juro] da dívida a 10 anos em 3,7% é um voto de confiança na economia grega por parte dos investidores e dos mercados de capitais", sublinhou Alexis Tsipras num encontro com jornalistas na sua residência oficial em Atenas.
A Grécia está a seis meses de terminar o (longuíssimo) resgate que dura há oito anos e quer ter uma 'saída limpa', como tiveram Portugal e Irlanda. Ou seja, sair sem qualquer tipo de programa cautelar, que implica sempre eventuais medidas adicionais ou, pelo menos, um controlo mais rigoroso das instituições credoras internacionais. Tsipras sabe disso e, por isso, destaca os pontos positivos da economia grega nesta altura: uma economia que voltou a crescer depois de ter acumulado uma queda na ordem dos 25% do PIB durante os anos de recessão, um desemprego que caiu quase un1 terço desde o pico e saúde nas contas públicas.
(…)
Em poucas palavras, o primeiro-ministro que lidera os gregos desde 2015 e que dentro de pouco mais de um ano e meio vai voltar a eleições resume o espírito que se vive em Atenas: "A Grécia está diferente". Aquele que era visto como um perigoso esquerdista em 2015, quando chegou ao poder, pede mais para o futuro e, para isso, conta com reformas estruturais e uma nova estratégia de crescimento. As reformas estruturais que estão sempre no discurso nas instituições internacionais e que aqui Tsipras assume como suas. Diz mesmo: "Não temos a ownership da austeridade mas temos a ownership das reformas estruturais."»
Mais recentemente o Expresso que foi a Atenas a convite da CE, relatou num artigo, cujo título quase dispensa a sua leitura («Como o 'perigoso' esquerdista passou a falar para os mercados»), as suas impressões assim:
A Grécia está a seis meses de terminar o (longuíssimo) resgate que dura há oito anos e quer ter uma 'saída limpa', como tiveram Portugal e Irlanda. Ou seja, sair sem qualquer tipo de programa cautelar, que implica sempre eventuais medidas adicionais ou, pelo menos, um controlo mais rigoroso das instituições credoras internacionais. Tsipras sabe disso e, por isso, destaca os pontos positivos da economia grega nesta altura: uma economia que voltou a crescer depois de ter acumulado uma queda na ordem dos 25% do PIB durante os anos de recessão, um desemprego que caiu quase un1 terço desde o pico e saúde nas contas públicas.
(…)
Em poucas palavras, o primeiro-ministro que lidera os gregos desde 2015 e que dentro de pouco mais de um ano e meio vai voltar a eleições resume o espírito que se vive em Atenas: "A Grécia está diferente". Aquele que era visto como um perigoso esquerdista em 2015, quando chegou ao poder, pede mais para o futuro e, para isso, conta com reformas estruturais e uma nova estratégia de crescimento. As reformas estruturais que estão sempre no discurso nas instituições internacionais e que aqui Tsipras assume como suas. Diz mesmo: "Não temos a ownership da austeridade mas temos a ownership das reformas estruturais."»
Não admira, pois, que Tsipras e o Syriza tenham simplesmente desaparecido em combate para o jornalismo de causas doméstico.
23/02/2018
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (80) - Há mais vida para além da esquerdalhada, dos compagnons de route, dos idiotas úteis e das múmias da direita
Até ler ontem dois artigos do Observador - «A esquerda contra a liberdade» de Paulo Tunhas e «A obsessão com a “direita radical”» de João Marques de Almeida, confesso não tinha noção que dois jovens faróis da esquerdalhada, Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua, e Pacheco Pereira, Manuel Loff, Daniel Oliveira, entre outros, uma colecção de lâmpadas fundidas do maoísmo retardado, do estalinismo bolorento e da transumância ideológica, andam obcecados com a «ofensiva liberal – ou neoliberal», os dois primeiros, e com a «direita radical» alojada no Observador, os restantes.
É um bom sinal. Talvez, pela primeira vez, eles se tenham apercebido que, como dizia o choroso Sampaio a respeito do orçamento, há mais vida para além da esquerdalhada, dos compagnons de route, dos idiotas úteis e das múmias da direita.
É um bom sinal. Talvez, pela primeira vez, eles se tenham apercebido que, como dizia o choroso Sampaio a respeito do orçamento, há mais vida para além da esquerdalhada, dos compagnons de route, dos idiotas úteis e das múmias da direita.
22/02/2018
LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: A derrota anunciada auto-infligida de Rui Rio
Este post é como que uma continuação dali e dacoli.
Costa, em resposta à candidatura de Rui Rio a seu parceiro, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda, já tinha mandado dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Talvez receando que Rio seja duro de ouvido, Costa mandou Carlos César falar mais grosso na entrevista de hoje ao Visão e fazer a seguinte pergunta retórica, talvez também em nome da sua mulher, do seu filho, da sua nora e do seu irmão, todos por ele empregados no Estado Sucial:
Costa, em resposta à candidatura de Rui Rio a seu parceiro, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda, já tinha mandado dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Talvez receando que Rio seja duro de ouvido, Costa mandou Carlos César falar mais grosso na entrevista de hoje ao Visão e fazer a seguinte pergunta retórica, talvez também em nome da sua mulher, do seu filho, da sua nora e do seu irmão, todos por ele empregados no Estado Sucial:
«Nós não viabilizamos um Governo minoritário do PSD. Não viabilizámos agora [nesta legislatura], porque haveríamos de viabilizar em 2019?»Rio que produziu esforçadamente umas ideias espectaculares que poderiam ser subscritas pelo PS de António Costa, pelo CDS de Assunção Cristas, pelo Bloco de Esquerda de Catarina Martins e pelo PCP de Jerónimo de Sousa, para pôr a coisa como João Miguel Tavares a pôs, vê agora o PS a mandar para o caixote de lixo da história aquela sua única ideia clara e original.
CASE STUDY: Startups without venture capital it's a fraud
Com grande estrondo mediático, a Chic by Choice, uma startup de aluguer de vestidos de luxo, afundou-se ou, melhor, foi declarado o afundamento que já vinha pelo menos desde 2016, quando com uma facturação que não chegou a 300 mil euros teve prejuízos de um milhão de euros. Não vou contar a estória que está contada em vários sítios (por exemplo no Observador), sublinho apenas o facto burlesco de há 7 meses, já depois de afundada, as duas jovens empresárias da Chic by Choice foram incluídas pela Forbes nas 30 mais brilhantes da Europa. Imagino que tinham bons contactos.
A morte de um startup é um facto normalíssimo da vida empresarial porque a taxa de mortalidade é muito alta. No caso português, porém, suspeito que a taxa de mortalidade seja muito próxima de 100% e a morte ocorra subitamente quando acabam os subsídios e os dinheiros públicos, porque nos faltam os venture capitalists, isto é umas criaturas com dinheiro para investir e gosto pelo risco que fazem uma triagem das ideias e projectos que lhes são apresentados a apostam naqueles em que acreditam. Isto é, metem o seu dinheiro onde metem a sua boca.
No caso português, a maior parte do investimento é feito por fundos de dinheiros maioritariamente públicos. Por exemplo, no caso da Chic by Choice, foi a sociedade pública de capital de risco Portugal Ventures que financiou o projecto através do Fundo de Capital e Quase-Capital da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD), uma espécie de banco de fomento inventado pelo governo PSD-CDS que até agora não fez nada de relevante.
O que faz a gente que habita estas entidades? Desde logo, é gente que nunca criou um posto de trabalho nem arriscou um cêntimo do seu dinheiro, cujos responsáveis se queixam de terem fundos disponíveis não utilizados e que medem o seu sucesso pelo dinheiro enterrado em projectos fantasiosos. Só pode acabar mal.
A morte de um startup é um facto normalíssimo da vida empresarial porque a taxa de mortalidade é muito alta. No caso português, porém, suspeito que a taxa de mortalidade seja muito próxima de 100% e a morte ocorra subitamente quando acabam os subsídios e os dinheiros públicos, porque nos faltam os venture capitalists, isto é umas criaturas com dinheiro para investir e gosto pelo risco que fazem uma triagem das ideias e projectos que lhes são apresentados a apostam naqueles em que acreditam. Isto é, metem o seu dinheiro onde metem a sua boca.
No caso português, a maior parte do investimento é feito por fundos de dinheiros maioritariamente públicos. Por exemplo, no caso da Chic by Choice, foi a sociedade pública de capital de risco Portugal Ventures que financiou o projecto através do Fundo de Capital e Quase-Capital da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD), uma espécie de banco de fomento inventado pelo governo PSD-CDS que até agora não fez nada de relevante.
O que faz a gente que habita estas entidades? Desde logo, é gente que nunca criou um posto de trabalho nem arriscou um cêntimo do seu dinheiro, cujos responsáveis se queixam de terem fundos disponíveis não utilizados e que medem o seu sucesso pelo dinheiro enterrado em projectos fantasiosos. Só pode acabar mal.
21/02/2018
DIÁRIO DE BORDO: Dead broke, disse ele
«Any institution that requires society to come and bail it out for society´s sake should have a system in place that leaves its CEO and his spouse dead broke.»
Warren Bufett aos accionistas da Berkshire Hathaway na Assembleia Geral de 30 de Abril de 2010
(Enviado por JA, que teve como colega o DDT, quando jovem estudante)
Warren Bufett aos accionistas da Berkshire Hathaway na Assembleia Geral de 30 de Abril de 2010
(Enviado por JA, que teve como colega o DDT, quando jovem estudante)
20/02/2018
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A derrota anunciada auto-infligida de Rui Rio
Este post é como que uma continuação deste outro.
Secção Tiros nos pés
À proposta do novo líder do PSD de candidatura «a parceiro de Costa, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda», Rui Rio obteve a resposta que devia ter previsto e não previu.
Costa mandou dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Ou, dito em português corrente, põe-te na fila atrás do BE, do PCP e do seu apêndice verde.
Por estas e por outras, leva dois afonsos, por uma firmeza mal usada (para impor dois vice-presidentes que são uma espécie de contra-exemplo ético) e cinco chateaubriands por confundir as suas fantasias com o mundo real.
Secção Tiros nos pés
À proposta do novo líder do PSD de candidatura «a parceiro de Costa, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda», Rui Rio obteve a resposta que devia ter previsto e não previu.
Costa mandou dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Ou, dito em português corrente, põe-te na fila atrás do BE, do PCP e do seu apêndice verde.
Por estas e por outras, leva dois afonsos, por uma firmeza mal usada (para impor dois vice-presidentes que são uma espécie de contra-exemplo ético) e cinco chateaubriands por confundir as suas fantasias com o mundo real.
Pro memoria (370) - No caso da banca portuguesa é mais um círculo viciado
Uma amostra de 76 bancos analisados o ano passado pelas autoridades de supervisão bancária europeias, segundo a Economist (Breaking the doom loop, Fev 3), tinha uma exposição de 1,7 biliões de euros à dívida pública dos estados membros, dos quais cerca de 2/3 (1,1 biliões) eram dívida dos países onde esses bancos têm a sede, montante que excede em 10% o common equity tier-one capital (grosso modo os capitais próprios) desses bancos (na altura 1 bilião).
Nisso consiste o doom loop (círculo vicioso) a que se refere a Economist. As dificuldades de financiamento dos Estados repercutem-se nos bancos, os quais pressionados a comprar mais dívida pública acabam a registar imparidades com a subida dos yields e a ter no limite de ser resgatados pelo Estado, que fica ainda mais endividado.
No caso português, no final de 2017 a dívida pública directa total do Estado segundo o IGCP era de 238,3 mil milhões de euros. Segundo números citados pelo Expresso, o financiamento total da banca portuguesa ao Estado atinge 47 mil milhões, ou seja praticamente 1/5 da dívida total, e estimo que seja uma vez e meia o montante os fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade (common equity tier-one capital).
Se 1,1 constitui um círculo vicioso, que figura geométrica viciosa constituem 1,5? Tomemos nota para memória futura quando a geringonça começar a chutar a bola para o neoliberalismo, a economia de casino e as agências de rating.
Nisso consiste o doom loop (círculo vicioso) a que se refere a Economist. As dificuldades de financiamento dos Estados repercutem-se nos bancos, os quais pressionados a comprar mais dívida pública acabam a registar imparidades com a subida dos yields e a ter no limite de ser resgatados pelo Estado, que fica ainda mais endividado.
No caso português, no final de 2017 a dívida pública directa total do Estado segundo o IGCP era de 238,3 mil milhões de euros. Segundo números citados pelo Expresso, o financiamento total da banca portuguesa ao Estado atinge 47 mil milhões, ou seja praticamente 1/5 da dívida total, e estimo que seja uma vez e meia o montante os fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade (common equity tier-one capital).
Se 1,1 constitui um círculo vicioso, que figura geométrica viciosa constituem 1,5? Tomemos nota para memória futura quando a geringonça começar a chutar a bola para o neoliberalismo, a economia de casino e as agências de rating.
19/02/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (123)
Outras avarias da geringonça.
Continua a celebração do "maior crescimento do século" (2,7%), feito que a geringonça se atribui, como se das reversões, reposições e restituições de «direitos adquiridos» brotassem turistas (as receitas do turismo aumentaram 16,6% em 2017) e florescessem exportações, que têm sido os factores determinantes do crescimento. E passando ao lado do facto de 19 dos 28 membros da UE, nenhum deles bafejado por algo parecido com uma geringonça, terem crescido em 2017 mais do que Portugal. E voltando a passar ao lado do facto de a CE prever que Portugal voltará a divergir em 2018 e 2019, com um crescimento de 2,2% e 1,9%, abaixo da UE e abaixo de todos os outros países com excepção da França, Itália e Bélgica.
Divergência no crescimento que poderá acentuar-se porque continuamos sem recuperar o diferencial de produtividade face à média europeia e até o estamos a agravar, visto os custos de trabalho, que já tinham aumentado 1,4% em 2016, aumentaram 2,5% em 2017. E o aumento está em aceleração porque no quarto trimestre de 2017 o Índice de Custo do Trabalho ajustado de dias úteis teve um aumento homólogo de 4,7%. Note-se que, como seria de esperar, este aumento foi maior no sector de bens não transaccionáveis que não está sujeito à concorrência internacional (aumento de 3,6% contra 1,7%).
Continua a celebração do "maior crescimento do século" (2,7%), feito que a geringonça se atribui, como se das reversões, reposições e restituições de «direitos adquiridos» brotassem turistas (as receitas do turismo aumentaram 16,6% em 2017) e florescessem exportações, que têm sido os factores determinantes do crescimento. E passando ao lado do facto de 19 dos 28 membros da UE, nenhum deles bafejado por algo parecido com uma geringonça, terem crescido em 2017 mais do que Portugal. E voltando a passar ao lado do facto de a CE prever que Portugal voltará a divergir em 2018 e 2019, com um crescimento de 2,2% e 1,9%, abaixo da UE e abaixo de todos os outros países com excepção da França, Itália e Bélgica.
Divergência no crescimento que poderá acentuar-se porque continuamos sem recuperar o diferencial de produtividade face à média europeia e até o estamos a agravar, visto os custos de trabalho, que já tinham aumentado 1,4% em 2016, aumentaram 2,5% em 2017. E o aumento está em aceleração porque no quarto trimestre de 2017 o Índice de Custo do Trabalho ajustado de dias úteis teve um aumento homólogo de 4,7%. Note-se que, como seria de esperar, este aumento foi maior no sector de bens não transaccionáveis que não está sujeito à concorrência internacional (aumento de 3,6% contra 1,7%).
18/02/2018
A esquerda viveu dos rendimentos e ainda vive
«Durante décadas, a esquerda portuguesa viveu dos rendimentos da soberba e de se considerar moral, intelectual e politicamente superior à direita.»
Uma epifania inesperada de Clara Ferreira Alves, contribuinte regular da esquerda, na sua coluna Pluma Caprichosa na Revista do Expresso, a propósito da declaração supérflua de Adolfo Mesquita Nunes sobre as suas preferências sexuais
NÓS VISTOS POR ELES: O estuário do Tejo segundo Charles Sprawson
Charles Sprawson, nascido no Paquistão e educado em Dublin e em Londres, ensinou literatura na Arábia Saudita, esteve ligado às Belas Artes em Londres e viajou por todo o mundo fazendo obsessivamente o que mais gostava da fazer - nadar em qualquer sítio onde houvesse água, nas gélidas praias inglesas, no Canal da Mancha, no Tibre, no estreito de Dardanelos (Helesponto), na Antártica, no Niagara, em Gallipoli, etc., um grande etc.
Nos finais dos anos 80 Sprawson escreveu um artigo para a revista The London Magazine sobre escritores nadadores, incluindo Byron, Rupert Brooke, Jack London, Allen Poe, André Gide e Virginia Woolf (que nadava nua). Juntou assim dois dos seus temas favoritos: a literatura e a natação. A partir desse artigo escreveu a sua primeira e única obra Haunts of the Black Masseur: The Swimmer as Hero, um livro inspirado, publicado em 1992 com um enorme sucesso literário e de vendas.
Entre as experiências pessoais de natação relatadas por Sprawson no seu livro, incluiu uma no estuário do Tejo, imagine-se. Vale a pena ler o relato do episódio pela escritora irlandesa Iris Murdoch, ela própria uma nadadora exímia, na sua crítica na New York Review of Books:
«Having graduated in the Bosphorus, like Byron, Mr. Sprawson went on to tackle the Tagus estuary at Lisbon, a much more demanding swim as it turned out, and one endangered by giant tankers as well as unpredictable tides. Normally he is not fussy, as I am not myself, about the quality of the water he swims in; although all bathers would of course prefer a green pure foaming element to a stagnant one. But the pollution in the Lisbon estuary was too much for him, and together with the tides and the tankers it forced him to abandon the swim.»
Iris Murdoch não menciona que o abandono da travessia do Tejo não se ficou a dever apenas à poluição: Sprawson foi impedido pela polícia marítima portuguesa. Devia ter pedido a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa que no Verão de 1989 fez o seu mergulho no Tejo e sobreviveu. Sabe Deus se não foi infectado por um daqueles germes que pululavam naquelas águas conspurcadas, suspeita que ganha alguma verosimilhança pelo que se viu nas décadas seguintes.
Charles Sprawson, actualmente com 76 anos, pobre como Jó, com problemas mentais e a viver num lar de idosos em Londres, bem precisa que lhe comprem a reedição do Haunts que estará à venda ainda este ano.
Nos finais dos anos 80 Sprawson escreveu um artigo para a revista The London Magazine sobre escritores nadadores, incluindo Byron, Rupert Brooke, Jack London, Allen Poe, André Gide e Virginia Woolf (que nadava nua). Juntou assim dois dos seus temas favoritos: a literatura e a natação. A partir desse artigo escreveu a sua primeira e única obra Haunts of the Black Masseur: The Swimmer as Hero, um livro inspirado, publicado em 1992 com um enorme sucesso literário e de vendas.
Charles Sprawson nas Ilhas Virgens em 2010 |
«Having graduated in the Bosphorus, like Byron, Mr. Sprawson went on to tackle the Tagus estuary at Lisbon, a much more demanding swim as it turned out, and one endangered by giant tankers as well as unpredictable tides. Normally he is not fussy, as I am not myself, about the quality of the water he swims in; although all bathers would of course prefer a green pure foaming element to a stagnant one. But the pollution in the Lisbon estuary was too much for him, and together with the tides and the tankers it forced him to abandon the swim.»
Iris Murdoch não menciona que o abandono da travessia do Tejo não se ficou a dever apenas à poluição: Sprawson foi impedido pela polícia marítima portuguesa. Devia ter pedido a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa que no Verão de 1989 fez o seu mergulho no Tejo e sobreviveu. Sabe Deus se não foi infectado por um daqueles germes que pululavam naquelas águas conspurcadas, suspeita que ganha alguma verosimilhança pelo que se viu nas décadas seguintes.
Marcelo saindo das águas conspurcadas |
17/02/2018
ACREDITE SE QUISER: A burra da presidente trata dos espaços "vermelhos"
«É, pois, a esta luz que cumpre apreciar a tipicidade da conduta do arguido ao escrever na rede social “Facebook”, referindo-se à ofendida B, que exerce as funções de Presidente da União de Freguesias de …, o seguinte texto:
- “A galinha é minha a égua é dos ciganos a relva essa é da responsabilidade da UF de …, é triste ter de ser as minhas galinhas a égua dos ciganos, a ovelha do Manuel, a cabra do Xico a tratar da manutenção dos espaços verdes da nossa aldeia porque a burra da presidente essa não o faz essa trata de outros espaços “Vermelhos” e está-se a cagar para o resto”, sendo certo que se considerou na sentença recorrida que apenas a locução “a burra da presidente” integra os elementos típicos do crime de difamação pelo qual o arguido vem condenado.
(...)
Assim, apenas deve restringir-se a liberdade de expressão nas situações em que os direitos de personalidade, maxime o direito ao bom nome e reputação (art. 26º CRP), sejam verdadeiramente postos em causa e de forma significativa, evitando que a invocação da sua ofensa possa surgir antes como forma de restringir a liberdade de crítica dos cidadãos e a discussão ampla e aberta das questões de interesse público.
Concluímos pois, contrariamente à sentença recorrida, que a expressão “burra da presidente” não é ofensiva da honra e consideração da ofendida no contexto em que o arguido a usou...»
Acórdão de 23-01-2018 do Tribunal da Relação de Évora sobre um recurso interposto por um cidadão de Albernoa contra uma condenação por crime de difamação da presidente da junta de freguesia.
- “A galinha é minha a égua é dos ciganos a relva essa é da responsabilidade da UF de …, é triste ter de ser as minhas galinhas a égua dos ciganos, a ovelha do Manuel, a cabra do Xico a tratar da manutenção dos espaços verdes da nossa aldeia porque a burra da presidente essa não o faz essa trata de outros espaços “Vermelhos” e está-se a cagar para o resto”, sendo certo que se considerou na sentença recorrida que apenas a locução “a burra da presidente” integra os elementos típicos do crime de difamação pelo qual o arguido vem condenado.
(...)
Assim, apenas deve restringir-se a liberdade de expressão nas situações em que os direitos de personalidade, maxime o direito ao bom nome e reputação (art. 26º CRP), sejam verdadeiramente postos em causa e de forma significativa, evitando que a invocação da sua ofensa possa surgir antes como forma de restringir a liberdade de crítica dos cidadãos e a discussão ampla e aberta das questões de interesse público.
Concluímos pois, contrariamente à sentença recorrida, que a expressão “burra da presidente” não é ofensiva da honra e consideração da ofendida no contexto em que o arguido a usou...»
Acórdão de 23-01-2018 do Tribunal da Relação de Évora sobre um recurso interposto por um cidadão de Albernoa contra uma condenação por crime de difamação da presidente da junta de freguesia.
16/02/2018
Um governo à deriva (38) - Um país, dois sistemas
«Isto é bem a clássica fórmula de “um país, dois sistemas”: um sistema para os estrangeiros, outro sistema para os nacionais. Costa deseja espanhóis na banca, chineses na energia, franceses nos aeroportos. Para os estrangeiros, o governo faz de Portugal o novo faroeste do capitalismo, o maior paraíso fiscal da Europa, onde os reformados do norte podem vir gastar as suas pensões sem terem de pensar em impostos. Para os nacionais, o governo tem outro Portugal: um Portugal onde o Estado se apropria da maior parte do que os cidadãos ganham e poupam, e onde ninguém sabe hoje qual será a lei amanhã (veja-se o alojamento local). Um país muito liberal para os estrangeiros, e muito socialista para os nacionais.
Mas esta dualidade não corresponde só as necessidades de um Estado endividado numa economia descapitalizada, a precisar de atrair estrangeiros e de espoliar nacionais. Corresponde também às conveniências de um grupo de políticos que dependem de toda a espécie de equívocos e de mal entendidos para se manterem no poder. Costa e os seus colegas de governo viram fracassar as ideias de Guterres, os métodos de Sócrates, e até, nas eleições de 2015, a sua própria estratégia pós-troika. Já não acreditam em nada nem confiam em ninguém. Dizem o que cada um quer ouvir. Têm tido sorte. Não sabem quanto tempo vai durar. Até lá, aproveitam.»
«António Costa: uma coisa em Portugal, outra coisa em Espanha», Rui Ramos no Observador
Mas esta dualidade não corresponde só as necessidades de um Estado endividado numa economia descapitalizada, a precisar de atrair estrangeiros e de espoliar nacionais. Corresponde também às conveniências de um grupo de políticos que dependem de toda a espécie de equívocos e de mal entendidos para se manterem no poder. Costa e os seus colegas de governo viram fracassar as ideias de Guterres, os métodos de Sócrates, e até, nas eleições de 2015, a sua própria estratégia pós-troika. Já não acreditam em nada nem confiam em ninguém. Dizem o que cada um quer ouvir. Têm tido sorte. Não sabem quanto tempo vai durar. Até lá, aproveitam.»
«António Costa: uma coisa em Portugal, outra coisa em Espanha», Rui Ramos no Observador
A defesa dos centros de decisão nacional (21) - Agora chegou a vez dos palacetes
[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19) e (20)]
Recordemos os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.
Vendidas as empresas, resta-nos os palacetes. No próximo resgate irão as pratas.
Recordemos os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.
Vendidas as empresas, resta-nos os palacetes. No próximo resgate irão as pratas.
15/02/2018
ACREDITE SE QUISER: O TGV de Costa é um satélite
A coisa está um bocadinho atrasada por causa das cativações, mas nada a fará parar. E tudo isto «sem prejuízo das competências atribuídas ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) no domínio da observação da Terra e da meteorologia, clima e mar». Sem falar da «instalação de uma base espacial no Açores para prestar serviços de lançamento de satélites para o espaço».
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Em Inglaterra já lá chegaram
Françoise Giroud, jornalista, escritora, política e feminista francesa disse que a igualdade de oportunidades para homens e mulheres seria atingida quando uma mulher incompetente fosse preferida a um homem competente.
Com o desastre que está a ser a liderança da primeira-ministra Theresa May, sucessora de David Cameron, estamos a constatar que, pelo menos em Inglaterra, a igualdade de oportunidades para homens e mulheres já foi atingida.
Com o desastre que está a ser a liderança da primeira-ministra Theresa May, sucessora de David Cameron, estamos a constatar que, pelo menos em Inglaterra, a igualdade de oportunidades para homens e mulheres já foi atingida.
14/02/2018
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Descubra as diferenças
Não será a única diferença, mas se por um lado se pode ver a trupe do #metoo a ser glorificada por patetas de todo o mundo, por outro às mulheres que tiram o hijjab acontece-lhes mais serem presas.
Até nisto fomos precursores
Netanyahu Should Be Charged With Bribery and Fraud, Israeli Police Say
Concluding a yearlong graft investigation, the police recommended that Mr. Netanyahu face prosecution in two corruption cases: a gifts-for-favors affair known as Case 1000, and a second scandal, dubbed Case 2000, in which Mr. Netanyahu is suspected of back-room dealings with Arnon Mozes, publisher of the popular daily Yediot Aharonot, to ensure more favorable coverage.
Em Israel a polícia parece andar mais depressa do que os nossos procuradores da República. Em contrapartida o nosso ex-primeiro é (alegadamente) mais corrupto do que o deles.
Concluding a yearlong graft investigation, the police recommended that Mr. Netanyahu face prosecution in two corruption cases: a gifts-for-favors affair known as Case 1000, and a second scandal, dubbed Case 2000, in which Mr. Netanyahu is suspected of back-room dealings with Arnon Mozes, publisher of the popular daily Yediot Aharonot, to ensure more favorable coverage.
Em Israel a polícia parece andar mais depressa do que os nossos procuradores da República. Em contrapartida o nosso ex-primeiro é (alegadamente) mais corrupto do que o deles.
13/02/2018
Bons exemplos (123) - Não é comentador
«Não é porque eu não pudesse fazer comentários, mas eu não sou comentador. As pessoas pensam, evidentemente, mas não são obrigadas a dizer tudo o que pensam, senão nós assemelhávamo-nos a gente tonta que, em todas as circunstâncias, resolvia fazer considerações sobre todas as coisas que pensam» disse Passos Coelho na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra quando lhe foi pedido que comentasse «a proximidade de Rui Rio à esquerda e o futuro do PSD na oposição ao Governo socialista».
Assim se distinguiu outra vez da gente tonta que em todas as circunstâncias faz considerações sobre tudo. Não é este o seu tempo. Este é o tempo dos picaretas falantes.
Assim se distinguiu outra vez da gente tonta que em todas as circunstâncias faz considerações sobre tudo. Não é este o seu tempo. Este é o tempo dos picaretas falantes.
CASE STUDY: A Óropa como mercearia
O governo veio anunciar orgulhoso que iria apresentar uma proposta à CE para aumentar a participação no orçamento comunitário de 1% para 1,2%, participação que seria financiada com três novas «taxas europeias». Já agora, recorde-se que em direito fiscal taxa «supõe contrapartida prestacional administrativa específica, inexistente no imposto», segundo um jurista chamado Marcelo Rebelo de Sousa, num parecer de 25-03-2011. O jurista e comentador agora com o chapéu de presidente da República já se prestou a explicar os três novos impostos.
Esses impostos, a que o governo chama taxas, serão uma taxa digital, uma taxa verde e uma taxa sobre as sobre transacções financeiras internacionais, a que se costumava chamar taxa Tobin, e que o governo talvez espere se venha a chamar taxa Costa. Já agora, taxa Tobin é uma tradução de Tobin tax em inglês técnico ou seja imposto Tobin.
A originalidade da proposta de Costa já está a ser contestada por membros do anterior governo que disputam a autoria.
Percebe-se a mercearia subjacente: a proporção da contribuição portuguesa para estas «taxas» será inevitavelmente menor do que a proporção dos fundos do orçamento comunitário de que Portugal espera beneficiar. É a Óropa como mercearia.
Esses impostos, a que o governo chama taxas, serão uma taxa digital, uma taxa verde e uma taxa sobre as sobre transacções financeiras internacionais, a que se costumava chamar taxa Tobin, e que o governo talvez espere se venha a chamar taxa Costa. Já agora, taxa Tobin é uma tradução de Tobin tax em inglês técnico ou seja imposto Tobin.
A originalidade da proposta de Costa já está a ser contestada por membros do anterior governo que disputam a autoria.
Percebe-se a mercearia subjacente: a proporção da contribuição portuguesa para estas «taxas» será inevitavelmente menor do que a proporção dos fundos do orçamento comunitário de que Portugal espera beneficiar. É a Óropa como mercearia.
12/02/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (122)
Outras avarias da geringonça.
Deve ser a primeira vez aqui nestas crónicas que relevo uma mudança de rumo positiva do governo. Depois de ter aplicado a receita das reversões às políticas do governo PSD-CDS, o governo reverteu ele próprio a reversão na política de ciência e tecnologia como aqui nos descreve António Coutinho, ex-coordenador do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
As relações conjugais na ménage à trois da geringonça já viram melhores dias, os parceiros estão já a dormir em camas separadas e não tarda em quartos diferentes. Como se nota nas guerras sobre as reversões laborais que o BE exige e que o PCP pretende transformar em avanços das conquistas, opondo-se à eutanásia defendida pelos outros dois. A Autoeuropa transforma-se assim numa espécie de lugar geométrico das contradições com os comunistas a quererem abater a CT, que o BE tenta preservar, e o PS entalado a ver o risco de os alemães desmancharem o ringue onde o PCP pretende recuperar o título de defensor honorário dos trabalhadores.
Deve ser a primeira vez aqui nestas crónicas que relevo uma mudança de rumo positiva do governo. Depois de ter aplicado a receita das reversões às políticas do governo PSD-CDS, o governo reverteu ele próprio a reversão na política de ciência e tecnologia como aqui nos descreve António Coutinho, ex-coordenador do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
As relações conjugais na ménage à trois da geringonça já viram melhores dias, os parceiros estão já a dormir em camas separadas e não tarda em quartos diferentes. Como se nota nas guerras sobre as reversões laborais que o BE exige e que o PCP pretende transformar em avanços das conquistas, opondo-se à eutanásia defendida pelos outros dois. A Autoeuropa transforma-se assim numa espécie de lugar geométrico das contradições com os comunistas a quererem abater a CT, que o BE tenta preservar, e o PS entalado a ver o risco de os alemães desmancharem o ringue onde o PCP pretende recuperar o título de defensor honorário dos trabalhadores.
ARTIGO DEFUNTO: A fuga do paraíso socialista venezuelano
Mesmo catando, é quase impossível encontrar na imprensa portuguesa referências à fuga de venezuelanos do paraíso chávista. Et pour cause. Valha-nos este artigo de Helena Matos que nos dá um balanço da situação.
11/02/2018
No melhor pano cai a pior nódoa ou a reforma do Estado por uma comissão de sábios
Alexandre Soares dos Santos é um dos empresários portugueses mais destacados e foi o principal responsável pela transformação da Jerónimo Martins num dos maiores grupos de distribuição, o maior a nível alimentar em Portugal e um dos 60 maiores a nível mundial, com uma presença na Polónia e na Colômbia. Não é pouco.
Depois de ter defendido em entrevista ao Expresso que para reformar o Estado «temos de fazer um contrato a 10 anos, com sanções pesadas em caso de incumprimento, chefiado pelo presidente da República», respondeu à pergunta «como implementaria esse contrato a 10 anos que refere?»:
Depois de ter defendido em entrevista ao Expresso que para reformar o Estado «temos de fazer um contrato a 10 anos, com sanções pesadas em caso de incumprimento, chefiado pelo presidente da República», respondeu à pergunta «como implementaria esse contrato a 10 anos que refere?»:
«Devia incluir a nomeação de uma comissão de sábios com portugueses e estrangeiros que estudassem a reforma do Estado, que teria de ser aprovada por todos e que. depois, começaria a ser implementada ministério a ministério, departamento a departamento.»Em conclusão, se já sabíamos que um grande político ou uma sumidade em ciência política não é necessariamente um grande empresário, ficámos a saber que ser um grande empresário não o qualifica para construir uma visão para o País nem desenhar as reformas capazes de induzir as mudanças indispensáveis para sair do atavismo e da tutela de um Estado castrador.
QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (59) Unintended consequences (XIX)
Outras marteladas.
Em retrospectiva:
Têm-se multiplicado as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»
Devido às dificuldades dos seres humanos lidarem com a realidade, sobretudo com as más notícias, e com os futuros possíveis, sobretudo com os futuros indesejáveis, a tendência para o desta vez vai ser diferente é universal e praticamente inevitável. Por isso, é de supor que só depois das castanhas nos queimarem as mãos perceberemos que isso resulta de terem estado demasiado tempo ao lume.
Escrevia eu sobre as castanhas quentes há menos de 3 meses e elas aí estão. Provavelmente ainda estão mornas, mas como os avisos vão ser ignorados é ainda mais provável que as castanhas aquecerão até queimar.
Não e não é apenas no EU, os mercados globais deram um valente trambolhão.
Dizem que é um ajuste, que é o receio da inflação, que são as taxas de juro a subir, que são os ATS (Automated Trading Systems) (*), mas na sexta-feira os mercados recuperaram, dizem ainda. Sim, mas recuperam sempre antes de voltarem a cair - é o chamado salto do gato morto.
Mas nem toda a gente assobia para o lado. Há anos que muitos vêm avisando (releia-se a série de posts O clube dos incréus reforçou-se). E, recentemente, William White, economista da OECD, não podia ser mais claro: «all the market indicators right now look very similar to what we saw before the Lehman crisis, but the lesson has somehow been forgotten».
E porquê? Simplesmente porque os mercados de capitais e os mercados imobiliários em vários países subiram até à estratosfera para níveis insustentáveis que têm subjacentes rentabilidades impossíveis de manter. E porquê? Simplesmente porque a compressão das taxas de juro e as inundação de liquidez resultante do quantitative easing adoptado pelos principais bancos centrais empurrou os investidores para activos com risco crescente a preços crescentes.
Pode não ser para a semana ou para o mês que vem ou mesmo para o ano que vem, mas, uma vez mais, desta vez também não vai ser diferente. E, como disse, Warren Buffett, quando a maré desce é que se vê quem não tem calções e se há países que não têm calções Portugal está entre eles.
(*) Diriam melhor se dissessem que foi o afluxo maciço em Janeiro de aplicações nos ETF (Exchange-Traded Funds, fundos de investimento em unidades de participação cotadas em bolsa), por razões que estão aqui explicadas. Mas, ainda assim, trata-se de uma causa próxima do trambolhão e todos os trambolhões têm uma causa próxima que não convém confundir com a vaga de fundo.
Em retrospectiva:
Têm-se multiplicado as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»
Devido às dificuldades dos seres humanos lidarem com a realidade, sobretudo com as más notícias, e com os futuros possíveis, sobretudo com os futuros indesejáveis, a tendência para o desta vez vai ser diferente é universal e praticamente inevitável. Por isso, é de supor que só depois das castanhas nos queimarem as mãos perceberemos que isso resulta de terem estado demasiado tempo ao lume.
Escrevia eu sobre as castanhas quentes há menos de 3 meses e elas aí estão. Provavelmente ainda estão mornas, mas como os avisos vão ser ignorados é ainda mais provável que as castanhas aquecerão até queimar.
Não e não é apenas no EU, os mercados globais deram um valente trambolhão.
Índice MSCI |
Dizem que é um ajuste, que é o receio da inflação, que são as taxas de juro a subir, que são os ATS (Automated Trading Systems) (*), mas na sexta-feira os mercados recuperaram, dizem ainda. Sim, mas recuperam sempre antes de voltarem a cair - é o chamado salto do gato morto.
Mas nem toda a gente assobia para o lado. Há anos que muitos vêm avisando (releia-se a série de posts O clube dos incréus reforçou-se). E, recentemente, William White, economista da OECD, não podia ser mais claro: «all the market indicators right now look very similar to what we saw before the Lehman crisis, but the lesson has somehow been forgotten».
E porquê? Simplesmente porque os mercados de capitais e os mercados imobiliários em vários países subiram até à estratosfera para níveis insustentáveis que têm subjacentes rentabilidades impossíveis de manter. E porquê? Simplesmente porque a compressão das taxas de juro e as inundação de liquidez resultante do quantitative easing adoptado pelos principais bancos centrais empurrou os investidores para activos com risco crescente a preços crescentes.
Pode não ser para a semana ou para o mês que vem ou mesmo para o ano que vem, mas, uma vez mais, desta vez também não vai ser diferente. E, como disse, Warren Buffett, quando a maré desce é que se vê quem não tem calções e se há países que não têm calções Portugal está entre eles.
(*) Diriam melhor se dissessem que foi o afluxo maciço em Janeiro de aplicações nos ETF (Exchange-Traded Funds, fundos de investimento em unidades de participação cotadas em bolsa), por razões que estão aqui explicadas. Mas, ainda assim, trata-se de uma causa próxima do trambolhão e todos os trambolhões têm uma causa próxima que não convém confundir com a vaga de fundo.
10/02/2018
O funeral de Soares visto por um comunista
Mário Soares tornou-se gradualmente uma figura indiscutível, uma espécie de Pai da Pátria, ou pelo menos Pai da Democracia (tudo com maiúsculas). Será conveniente dizer que há vários Soares no Mário Soares e aqui no (Im)pertinências apreciamos pelo menos um deles.
No Portugal dos Pequeninos, muito dado aos consensos e aos unanimismos que só deixam espaço para a idolatria e os ódios de estimação, por definição as figuras indiscutíveis não se discutem.
É por isso refrescante, ler a entrevista a Ribeiro Cardoso, operário eleito director de “O Século”, despedido por participação no 25 de Novembro, especialmente o seguinte trecho que deve ter gerado ondas de indignação e espumas de raiva entre os indefectíveis de Soares mas foi muito bem aceite pelo Avante:
«Isto é um país filho da puta. Veja o que se diz de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un. O funeral do Mário Soares foi uma coisa digna da Coreia do Norte, com a sua imensa cobertura mediática. Quando morreu, parece que morreu o pai da pátria. Falaram de tudo, algumas coisas bem, porque ele teve uma vida muito rica, mas não falaram do lado subterrâneo dele. Há uma história toda por contar do Soares. O que foi Macau?
...
O Rui Mateus vendeu todos os livros numa tarde, um enorme êxito editorial. Tudo comprado pelo Soares. E nunca mais foi reimpresso e mais ninguém falou no assunto.»
Corrigindo Ribeiro Cardoso, sempre acrescento que, para ser uma coisa digna da Coreia do Norte, não chegou ao funeral de Mário Soares a imensa cobertura mediática porque lhe faltou a adesão popular - afinal de contas o PS ainda está longe do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Mais próximo esteve o PCP no funeral de Cunhal.
No Portugal dos Pequeninos, muito dado aos consensos e aos unanimismos que só deixam espaço para a idolatria e os ódios de estimação, por definição as figuras indiscutíveis não se discutem.
É por isso refrescante, ler a entrevista a Ribeiro Cardoso, operário eleito director de “O Século”, despedido por participação no 25 de Novembro, especialmente o seguinte trecho que deve ter gerado ondas de indignação e espumas de raiva entre os indefectíveis de Soares mas foi muito bem aceite pelo Avante:
«Isto é um país filho da puta. Veja o que se diz de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un. O funeral do Mário Soares foi uma coisa digna da Coreia do Norte, com a sua imensa cobertura mediática. Quando morreu, parece que morreu o pai da pátria. Falaram de tudo, algumas coisas bem, porque ele teve uma vida muito rica, mas não falaram do lado subterrâneo dele. Há uma história toda por contar do Soares. O que foi Macau?
...
O Rui Mateus vendeu todos os livros numa tarde, um enorme êxito editorial. Tudo comprado pelo Soares. E nunca mais foi reimpresso e mais ninguém falou no assunto.»
Corrigindo Ribeiro Cardoso, sempre acrescento que, para ser uma coisa digna da Coreia do Norte, não chegou ao funeral de Mário Soares a imensa cobertura mediática porque lhe faltou a adesão popular - afinal de contas o PS ainda está longe do Partido dos Trabalhadores da Coreia. Mais próximo esteve o PCP no funeral de Cunhal.
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (168) - Com amigos destes Costa não precisa de inimigos
«António Cardoso gaba-se de ser amigo de António Costa, enfrentou uma queixa por assédio sexual que foi arquivada e outras por assédio moral. O socialista é presidente da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica desde 2013 e, além de milhares de euros em adjudicações diretas a militantes socialistas e familiares, agora empregou na junta o proprietário que lhe vendeu, com desconto, uma casa de férias próxima da praia de Santa Cruz.» (fonte)
09/02/2018
ESTADO DE SÍTIO: Segurem a PGR antes que ela acabe com o Regime. Reponham Monteiro e Nascimento (e Cândida Almeida)
Uma espécie de continuação daqui.
«Cândida Almeida, que estava à frente do Departamento Central de Investigação e Ação Penal quando o procurador Orlando Figueira arquivou o processo que procurava determinar se eram lícitos os fundos usados por Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola, para comprar um apartamento de luxo no Estoril, disse esta quinta-feira em tribunal que o dossiê de acompanhamento do processo "ter-se-á extraviado".» (DN)
Recorde-se que Cândida Almeida era directora do DCIAP quando este departamento "investigava" o caso Freeport que tinha como personagem principal José Sócrates suspeito de locupletação à pala da autorização para o projecto - ver a este respeito o post ESTADO DE SÍTIO: a justiça não é cega mas é coxa e, já agora, o post Inversão politicamente irremediável do ónus de prova.
Estão a ver porquê o mandato da actual PGR Maria Joana Raposo Marques Vidal não deve ser renovado, por razões de Estado, e como é urgente despachá-la para Bruxelas?
Actualização:
O artigo do DN que citei parece não contar a história toda, o que não admira, tratando-se do diário da manhã do regime. Afinal, segundo o Observador, Cândida Almeida «validou um despacho de arquivamento relativamente a Manuel Vicente que mandava destruir documentos relativos aos seus rendimentos.» Agora, no tribunal, perguntou-se: «Como é que eu não vi isto?».
Eu diria mesmo mais, como o Dupont, como é que ela não viu isso?
«Cândida Almeida, que estava à frente do Departamento Central de Investigação e Ação Penal quando o procurador Orlando Figueira arquivou o processo que procurava determinar se eram lícitos os fundos usados por Manuel Vicente, ex-vice-presidente de Angola, para comprar um apartamento de luxo no Estoril, disse esta quinta-feira em tribunal que o dossiê de acompanhamento do processo "ter-se-á extraviado".» (DN)
Recorde-se que Cândida Almeida era directora do DCIAP quando este departamento "investigava" o caso Freeport que tinha como personagem principal José Sócrates suspeito de locupletação à pala da autorização para o projecto - ver a este respeito o post ESTADO DE SÍTIO: a justiça não é cega mas é coxa e, já agora, o post Inversão politicamente irremediável do ónus de prova.
Estão a ver porquê o mandato da actual PGR Maria Joana Raposo Marques Vidal não deve ser renovado, por razões de Estado, e como é urgente despachá-la para Bruxelas?
Actualização:
O artigo do DN que citei parece não contar a história toda, o que não admira, tratando-se do diário da manhã do regime. Afinal, segundo o Observador, Cândida Almeida «validou um despacho de arquivamento relativamente a Manuel Vicente que mandava destruir documentos relativos aos seus rendimentos.» Agora, no tribunal, perguntou-se: «Como é que eu não vi isto?».
Eu diria mesmo mais, como o Dupont, como é que ela não viu isso?
Um dia como os outros na vida do estado sucial (35) - Conflito de interesses ou interesses em conflito?
Segundo comunicado da CT, «a RTP mantém há 3 anos como administrador, o proprietário de uma produtora e de um canal concorrente da própria empresa, o Dr. Nuno Artur Silva, dono da empresa “Produções Fictícias” e do “Canal Q”»
É certo que a CT da RTP, nem o esquerda.net que o cita, estão acima de qualquer suspeita em matéria de credibilidade. Contudo, o comunicado refere diversos factos e situações que apontam para o conflito de interesses entre as qualidades de administrador da RTP e de proprietário de empresas produtoras do Dr. Nuno Artur Silva que em sua defesa «tem alegado que a lei não o “obriga” a vender as “Produções Fictícias” desde que a RTP não mantenha com esta produtora quaisquer negócios». É o argumento clássico nesta matéria dos conflitos de interesse: não é ilegal.
Também tive algumas dúvidas até ter conhecimento do «abaixo-assinado enviado ao primeiro-ministro, ao ministro da Cultura, à administração da RTP e ao presidente do conselho geral independente da empresa pública de rádio e televisão» por «mais de 200 figuras da cultura e dos media (que) questionam saída de Nuno Artur Silva» muitas delas fornecedores de produtos da cóltura e, portanto, em situação de potencial conflito de interesses ao defenderem a permanência de outro fornecedor.
Uma vez mais se constata que no estado sucial português não há conflito de interesses. Há apenas interesses em conflito.
É certo que a CT da RTP, nem o esquerda.net que o cita, estão acima de qualquer suspeita em matéria de credibilidade. Contudo, o comunicado refere diversos factos e situações que apontam para o conflito de interesses entre as qualidades de administrador da RTP e de proprietário de empresas produtoras do Dr. Nuno Artur Silva que em sua defesa «tem alegado que a lei não o “obriga” a vender as “Produções Fictícias” desde que a RTP não mantenha com esta produtora quaisquer negócios». É o argumento clássico nesta matéria dos conflitos de interesse: não é ilegal.
Também tive algumas dúvidas até ter conhecimento do «abaixo-assinado enviado ao primeiro-ministro, ao ministro da Cultura, à administração da RTP e ao presidente do conselho geral independente da empresa pública de rádio e televisão» por «mais de 200 figuras da cultura e dos media (que) questionam saída de Nuno Artur Silva» muitas delas fornecedores de produtos da cóltura e, portanto, em situação de potencial conflito de interesses ao defenderem a permanência de outro fornecedor.
Uma vez mais se constata que no estado sucial português não há conflito de interesses. Há apenas interesses em conflito.
08/02/2018
Pro memoria (369) - O sucesso da actuação no sector financeiro
Na sua oração na conferência sobre o futuro da banca, Mário Centeno enfeitou-se com vários sucessos como o «crescimento mais sustentável das últimas décadas, (...) as exportações (que) cresceram quatro pontos percentuais acima do mercado, (...) 288 mil novos empregos (criados)».
Para além do próprio Centeno, do seu governo e dos opinion dealers encartados, até hoje ainda ninguém descobriu quais os contributos de Centeno e do governo a que pertence para esses sucessos.
O único «sucesso» em que as intervenções do governo tiveram algum impacto (resgate e venda do Banif ao Santander, recapitalização da Caixa, intervenções aleatórias no Novo Banco e nas alterações accionistas do BCP e BPI) foi nas palavras de Centeno «a actuação no sector financeiro, através de alterações legislativas e da promoção da coordenação entre agentes privados foi planeada e produziu os resultados esperados».
Tomemos nota para memória futura desta actuação à luz dos seus efeitos na saúde do sector financeiro.
Para além do próprio Centeno, do seu governo e dos opinion dealers encartados, até hoje ainda ninguém descobriu quais os contributos de Centeno e do governo a que pertence para esses sucessos.
O único «sucesso» em que as intervenções do governo tiveram algum impacto (resgate e venda do Banif ao Santander, recapitalização da Caixa, intervenções aleatórias no Novo Banco e nas alterações accionistas do BCP e BPI) foi nas palavras de Centeno «a actuação no sector financeiro, através de alterações legislativas e da promoção da coordenação entre agentes privados foi planeada e produziu os resultados esperados».
Tomemos nota para memória futura desta actuação à luz dos seus efeitos na saúde do sector financeiro.
ARTIGO DEFUNTO: Para cada um a sua verdade
Os factos:
A CE reviu a sua previsão de crescimento em 2017 do PIB português de 2,6% para 2,7%, acima do crescimento da Zona Euro que ficou em 2,4%.
Para 2018 e 2019 a CE prevê um crescimento da economia portuguesa de 2,2% e 1,9%, respectivamente, abaixo da UE e abaixo de todos os países com excepção da França, Itália e Bélgica.
Depois de uma década e meia a divergir da UE, Portugal convergiu episodicamente em 2017 e prevê-se que voltará a divergir em 2018 e 2019, isto é a ficar mais pobre dentro da UE.
Os títulos:
Previsões para Portugal revistas em alta (Público)
Bruxelas melhora perspetiva de crescimento da economia portuguesa (Diário de Notícias)
Economia portuguesa abranda e volta a divergir da média europeia (Observador)
Comissão Europeia diz que Portugal vai crescer mais, mas perde comboio da zona euro (jornal Eco)
A CE reviu a sua previsão de crescimento em 2017 do PIB português de 2,6% para 2,7%, acima do crescimento da Zona Euro que ficou em 2,4%.
Para 2018 e 2019 a CE prevê um crescimento da economia portuguesa de 2,2% e 1,9%, respectivamente, abaixo da UE e abaixo de todos os países com excepção da França, Itália e Bélgica.
Depois de uma década e meia a divergir da UE, Portugal convergiu episodicamente em 2017 e prevê-se que voltará a divergir em 2018 e 2019, isto é a ficar mais pobre dentro da UE.
Os títulos:
Previsões para Portugal revistas em alta (Público)
Bruxelas melhora perspetiva de crescimento da economia portuguesa (Diário de Notícias)
Economia portuguesa abranda e volta a divergir da média europeia (Observador)
Comissão Europeia diz que Portugal vai crescer mais, mas perde comboio da zona euro (jornal Eco)
07/02/2018
ACREDITE SE QUISER: Quem disse que o espaço é um domínio do sector público? (2)
Continuação daqui.
BREAKING NEWS
SpaceX has launched into space the world’s most powerful rocket, the Falcon Heavy. It’s carrying a cherry-red sports car as its payload.
Tuesday, February 6, 2018
4:03 PM EST
BREAKING NEWS
SpaceX has launched into space the world’s most powerful rocket, the Falcon Heavy. It’s carrying a cherry-red sports car as its payload.
Tuesday, February 6, 2018
4:03 PM EST
O carro desportivo é um Tesla eléctrico de Elon Musk o visionário que criou a SpaceX (e a Tesla, claro).
06/02/2018
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A derrota anunciada auto-infligida de Rui Rio
«Rui Rio cometeu um erro estratégico quase desde o primeiro dia: assumiu demasiado rapidamente a vitória do PS nas próximas legislativas e recolheu o PSD a um lugar impossível, o de candidato a parceiro de Costa, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda. Se a visão de Rui Rio e dos seus apoiantes sobre as possibilidades do PSD ganhar as próximas eleições é realista – as sondagens continuam a colocar Costa muitos pontos à frente, às vezes demasiado perto da maioria absoluta – a preparação psicológica para a derrota que tem estado a ser feita por parte dos vencedores das diretas corre o risco de contribuir para agravar ainda mais essa derrota.»
Ana Sá Lopes no jornal i
Ana Sá Lopes no jornal i
NÓS VISTOS POR ELES: Pés assentes na terra
Ozi |
05/02/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (121)
Outras avarias da geringonça.
Apenas uma breve referência aos gases sulfurosos que nos últimos dias emanaram do pântano do complexo político-empresarial socialista devido à agitação a propósito do esquema montado pelo juiz Rangel (o mesmo que já se havia salientado na defesa do animal feroz) com vasta colaboração incluindo três das suas mulheres. Agitação que pode fazer parte de uma turbulência relacionada com as manobras em curso para neutralizar o activismo da PGR com vista a concluir que afinal é melhor mandar Joana Marques Vidal descansar para Bruxelas.
Atarantado com as broncas dos incêndios de Verão, qual gato escaldado que de água fria tem medo, o governo que tem os helicópteros Kamov todos parados (helicópteros que foram anos atrás comprados num negócio em que esteve envolvido Lacerda Machado, o amigo do Costa), o mesmo governo que dispensou os meios aéreos pouco antes dos incêndios de 15 de Outubro, abriu agora concurso para alugar 10 hélis e 4 aviões para os próximos dois Invernos.
Apenas uma breve referência aos gases sulfurosos que nos últimos dias emanaram do pântano do complexo político-empresarial socialista devido à agitação a propósito do esquema montado pelo juiz Rangel (o mesmo que já se havia salientado na defesa do animal feroz) com vasta colaboração incluindo três das suas mulheres. Agitação que pode fazer parte de uma turbulência relacionada com as manobras em curso para neutralizar o activismo da PGR com vista a concluir que afinal é melhor mandar Joana Marques Vidal descansar para Bruxelas.
Atarantado com as broncas dos incêndios de Verão, qual gato escaldado que de água fria tem medo, o governo que tem os helicópteros Kamov todos parados (helicópteros que foram anos atrás comprados num negócio em que esteve envolvido Lacerda Machado, o amigo do Costa), o mesmo governo que dispensou os meios aéreos pouco antes dos incêndios de 15 de Outubro, abriu agora concurso para alugar 10 hélis e 4 aviões para os próximos dois Invernos.
04/02/2018
ACREDITE SE QUISER: Coerência e convicções
A Fundação Gulbenkian foi criada pelo arménio Calouste, aka Mr. Five per Cent, que lhe deu o nome e lhe deixou como legado precisamente parte dos cinco por cento de participações em petrolíferas, cujos dividendos sustentaram a filantropia artística e científica da fundação que, principalmente no campo da música erudita e, até há uns anos, do bailado, foi nas últimas sete décadas o polo mais importante nessas áreas e por vezes quase o único neste Portugal dos Pequeninos.
Nos últimos dias a Fundação comunicou pela boca da sua presidente que «por uma questão de coerência com as nossas convicções» iria vender a Partex, a holding que agrupa as participações no petróleo. Com grande originalidade a Fundação decidiu vendê-la aos chineses da CEFC que também estão a negociar a compra da maioria do capital das seguradoras Lusitânia e Lusitânia Vida à Associação Mutualista accionista do Montepio Geral, compras que se seguem às participações na EDP, REN, BESI, Fidelidade, Hospitais Luz Saúde, etc., chineses que são quase os únicos que ainda compram as pratas desta nossa família arruinada.
As luminárias ecologistas que compõem a associação Futuro Limpo, de que faz parte o incontornável António Pedro Vasconcelos, celebraram efusivamente o acontecimento e aproveitaram a embalagem para pedir uma audiência ao sensibilizado ministro do Ambiente para o sensibilizarem ainda mais às energias renováveis, sensibilização que, quem sabe, pode passar por aumentar o preço de €74/MWh garantido às eólicas o qual, por agora, é apenas o triplo do garantido pela vizinha Espanha.
Terminada a entrevista ao semanário de reverência, a presidente de consciência regressou a casa no seu BMW Série 7 (CO2 159g/km) aliviada em coerência com as suas convicções.
Nos últimos dias a Fundação comunicou pela boca da sua presidente que «por uma questão de coerência com as nossas convicções» iria vender a Partex, a holding que agrupa as participações no petróleo. Com grande originalidade a Fundação decidiu vendê-la aos chineses da CEFC que também estão a negociar a compra da maioria do capital das seguradoras Lusitânia e Lusitânia Vida à Associação Mutualista accionista do Montepio Geral, compras que se seguem às participações na EDP, REN, BESI, Fidelidade, Hospitais Luz Saúde, etc., chineses que são quase os únicos que ainda compram as pratas desta nossa família arruinada.
As luminárias ecologistas que compõem a associação Futuro Limpo, de que faz parte o incontornável António Pedro Vasconcelos, celebraram efusivamente o acontecimento e aproveitaram a embalagem para pedir uma audiência ao sensibilizado ministro do Ambiente para o sensibilizarem ainda mais às energias renováveis, sensibilização que, quem sabe, pode passar por aumentar o preço de €74/MWh garantido às eólicas o qual, por agora, é apenas o triplo do garantido pela vizinha Espanha.
Terminada a entrevista ao semanário de reverência, a presidente de consciência regressou a casa no seu BMW Série 7 (CO2 159g/km) aliviada em coerência com as suas convicções.
Dúvidas (213) - E se a corrupção for o óleo sem o qual o regime gripa?
«Percebemos porque o regime anda tão nervoso. Para além das prevaricações que possam ter ocorrido e ser provadas em tribunal, o que começa a ficar à mostra é a rede opaca de contactos, de cumplicidades, de jeitos e de favores que une entre si a oligarquia do regime. Chamamos-lhe “corrupção”, e com essa palavra, pensamos em gente a enriquecer ilegalmente. Mas — e se esta for também, para além de quaisquer ganhos ilegais, a maneira de o regime funcionar? E se tivermos aqui, nos arranjos e nas amizades que ligam os seus figurantes uns aos outros, a relojoaria profunda do regime, sem a qual não pode existir?»
O último refúgio dos arguidos?, Rui Ramos no Observador
O último refúgio dos arguidos?, Rui Ramos no Observador
03/02/2018
DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (51)
Outras preces.
«Não me tenho pronunciado por uma razão muito simples: porque não há matéria para me pronunciar», disse o Venerando Chefe de Estado, a propósito da trapalhada dos dois bilhetes para a bancada presidencial do Estádio dos Lampiões pedidos pelo Ronaldo das Finanças aos Lampiões, a que se seguiu o conhecimento da conclusão da isenção de IMI do filho do presidente dos Lampiões, devido a um «empurrão», empurrão que o filho agradeceu ao pai por email tornado público.
Tem o Venerando inteira razão. Não teria ele mais do que fazer para ter ocupado 177 horas, sete minutos e 48 segundos de Janeiro de 2016 a Dezembro de 2017 com temas importantíssimos para o futuro da Nação como, para citar um só exemplo, as conclusões da sua vistoria à porta da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha.
Salvo erro no mesmo dia em que não se pronunciou sobre os bilhetes do Ronaldo das Finanças, o Venerando pronunciou-se que não se pronuncia sobre questões concretas e vê só o panorama global e, falando sobre o panorama global, pronunciou-se sobre a Caixa que «é um processo de recuperação difícil, e que exige sacrifícios de vária natureza» e ainda se pronunciou sobre a «a alternativa (que) era ou deixar morrer a Caixa, o que era péssimo para a economia e para o país, ou fazer um esforço colectivo, partilhado por muitos».
Estranhamente, o Venerando não se pronunciou sobre a razão dos sacrifícios patrióticos para salvar uma Caixa que vem há décadas torrando dinheiro dos contribuintes para enterrar em elefantes brancos do regime e emprestar dinheiro a figuras de cera do regime para o enterrarem nos seus elefantes brancos privados e acabarem arquivados nos malparados. Talvez por ser uma questão concreta e o Venerando só ver o panorama global.
LEMA: Quando um dia, mais tarde ou mais cedo, o motor do rebocador que puxa a economia portuguesa começar a gripar e nos cair outra vez por cima o enorme calhau que vimos acumulando há décadas, a populaça, que hoje aplaude - os mais néscios - ou escuta com benevolência - os mais distraídos - estas inanidades, babar-se-à de indignação e raiva proporcional ao aplauso e à benevolência de hoje.
«Não me tenho pronunciado por uma razão muito simples: porque não há matéria para me pronunciar», disse o Venerando Chefe de Estado, a propósito da trapalhada dos dois bilhetes para a bancada presidencial do Estádio dos Lampiões pedidos pelo Ronaldo das Finanças aos Lampiões, a que se seguiu o conhecimento da conclusão da isenção de IMI do filho do presidente dos Lampiões, devido a um «empurrão», empurrão que o filho agradeceu ao pai por email tornado público.
Tem o Venerando inteira razão. Não teria ele mais do que fazer para ter ocupado 177 horas, sete minutos e 48 segundos de Janeiro de 2016 a Dezembro de 2017 com temas importantíssimos para o futuro da Nação como, para citar um só exemplo, as conclusões da sua vistoria à porta da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha.
Salvo erro no mesmo dia em que não se pronunciou sobre os bilhetes do Ronaldo das Finanças, o Venerando pronunciou-se que não se pronuncia sobre questões concretas e vê só o panorama global e, falando sobre o panorama global, pronunciou-se sobre a Caixa que «é um processo de recuperação difícil, e que exige sacrifícios de vária natureza» e ainda se pronunciou sobre a «a alternativa (que) era ou deixar morrer a Caixa, o que era péssimo para a economia e para o país, ou fazer um esforço colectivo, partilhado por muitos».
Estranhamente, o Venerando não se pronunciou sobre a razão dos sacrifícios patrióticos para salvar uma Caixa que vem há décadas torrando dinheiro dos contribuintes para enterrar em elefantes brancos do regime e emprestar dinheiro a figuras de cera do regime para o enterrarem nos seus elefantes brancos privados e acabarem arquivados nos malparados. Talvez por ser uma questão concreta e o Venerando só ver o panorama global.
LEMA: Quando um dia, mais tarde ou mais cedo, o motor do rebocador que puxa a economia portuguesa começar a gripar e nos cair outra vez por cima o enorme calhau que vimos acumulando há décadas, a populaça, que hoje aplaude - os mais néscios - ou escuta com benevolência - os mais distraídos - estas inanidades, babar-se-à de indignação e raiva proporcional ao aplauso e à benevolência de hoje.
Pessoa, um protoliberal
«Considerada em si mesma, a administração de Estado é o pior de todos os sistemas imagináveis para qualquer das três entidades com que essa administração implica. De todas as coisas “organizadas", é o Estado, em qualquer parte ou época, a mais mal organizada de todas. E a razão é evidente. A sociologia é uma pseudociência, ou, pelo menos, uma protociência. Não há ciência social, ou, pelo menos, não a há por enquanto. Em matéria social há só opiniões, tão pouco definitivas e científicas como as que há em matéria artística ou literária. Desconhecemos por completo que leis regem as sociedades, ignoramos por inteiro o que seja, em sua essência, uma sociedade, porquê e como nasce, segundo que leis se desenvolve, porquê e de que modo se definha e morre. Ninguém ainda sequer definiu satisfatoriamente “sociedade”, “progresso” ou “civilização”. A humanidade tem-se entretido — desde a formação, na Grécia antiga, do espírito critico — a idear sistemas políticos e sociais “definitivos” em matéria tão flutuante e incerta como a vida, em assunto ainda tão fora da ciência como a sociedade.
02/02/2018
Lost in translation (302) - O que ele disse e o que ele queria dizer, segundo o tradutor automático impertinente
«Afirmo, de forma peremptória, que estou de consciência totalmente tranquila. Não pratiquei qualquer ilícito que me possa ser imputado. É, aliás, com enorme estupefacção que vejo o meu nome associado a este processo». (fonte)
Foram as palavras do presidente dos Lampiões em futebolês, palavras que vertemos para português padrão com a ajuda do nosso tradutor automático (um web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data). Ficou assim:
«Se a minha consciência tivesse estados de alma seria presidente de uma ONG. Qualquer ilícito que tenha praticado não me pode ser imputado. Fiquei espantado por terem posto a merda na ventoinha. Perdeu-se o respeito.»
Foram as palavras do presidente dos Lampiões em futebolês, palavras que vertemos para português padrão com a ajuda do nosso tradutor automático (um web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data). Ficou assim:
«Se a minha consciência tivesse estados de alma seria presidente de uma ONG. Qualquer ilícito que tenha praticado não me pode ser imputado. Fiquei espantado por terem posto a merda na ventoinha. Perdeu-se o respeito.»
ACREDITE SE QUISER: O incentivo adequado
Desde os primeiros testes em 2000, os resultados dos estudantes americanos na avaliação do PISA (Programme for International Student Assessment) da OCDE têm sido medíocres, particularmente em matemática. Isso foi objecto de estudos variados e atribuído a causas variadas.
Num desses estudos («Measuring Student Success: The Role of Effort on the Test Itself»), publicado recentemente nos NBER (National Bureau of Economic Research) working papers, os autores americanos e chineses levaram a cabo uma experiência nalgumas escolas secundárias dos Estados Unidos e de Xangai, precisamente a cidade chinesa com o melhor score de matemática no PISA, para testar o efeito de um incentivo muito particular - o dinheiro - nos resultados de um teste de matemática com 25 problemas extraídos de um PISA .
Resultado: no grupo chinês o incentivo monetário não produziu resultados visíveis; nos alunos americanos o grupo incentivado com dólares melhorou a sua performance que correspondeu a uma subida do 36.º lugar no ranking em que o Estados Unidos se posicionaram no PISA de matemática para o 19.º.
Em todas as escolas onde o teste se realizou os alunos foram divididos em dois grupos. Aos alunos de um dos grupos foram dados envelopes com 25 dólares ou equivalente e a indicação que seria retirado um dólar por cada resposta errada; ao outro grupo foi apenas apresentado o teste sem qualquer incentivo.
Resultado: no grupo chinês o incentivo monetário não produziu resultados visíveis; nos alunos americanos o grupo incentivado com dólares melhorou a sua performance que correspondeu a uma subida do 36.º lugar no ranking em que o Estados Unidos se posicionaram no PISA de matemática para o 19.º.
01/02/2018
A democracia não é muito popular
«Less than 5% of the world’s population currently lives in a “full democracy”, and more than 30% endures authoritarian rule, according to the Economist Intelligence Unit’s Democracy Index, which is based on 60 indicators across five categories. But there is some cause for cheer: the Gambia enjoyed its first ever democratic transfer of power last year, rising from “authoritarian regime” to “hybrid regime». (The Economist Espresso)
ESTADO DE SÍTIO: Segurem a PGR antes que ela acabe com o Regime. Reponham Monteiro e Nascimento
Comecei a fazer um inventário das figuras de cera do regime que estão a contas com a justiça neste momento e desisti. Aqui vai o inventário das vítimas da justiça por Henrique Monteiro no Expresso Diário:
Em conclusão, tem Costa e a ministra da Justiça toda a razão: o mandato da actual PGR Maria Joana Raposo Marques Vidal não deve ser renovado, por razões de Estado.
Recicle-se um dos seus antecessores, de preferência Cunha Rodrigues ou Pinto Monteiro e evite-se cuidadosamente Souto de Moura ligado às encrencas da Casa Pia que macularam imaculadas figuras do regime. Para maior garantia de estabilidade, reponha-se Noronha Nascimento como presidente do Supremo, uma figura que teve o desassombro de mandar destruir as escutas que incriminavam injustamente aquele paladino de integridade chamado José Sócrates.
Em conclusão, tem Costa e a ministra da Justiça toda a razão: o mandato da actual PGR Maria Joana Raposo Marques Vidal não deve ser renovado, por razões de Estado.
Recicle-se um dos seus antecessores, de preferência Cunha Rodrigues ou Pinto Monteiro e evite-se cuidadosamente Souto de Moura ligado às encrencas da Casa Pia que macularam imaculadas figuras do regime. Para maior garantia de estabilidade, reponha-se Noronha Nascimento como presidente do Supremo, uma figura que teve o desassombro de mandar destruir as escutas que incriminavam injustamente aquele paladino de integridade chamado José Sócrates.