«Isto é bem a clássica fórmula de “um país, dois sistemas”: um sistema para os estrangeiros, outro sistema para os nacionais. Costa deseja espanhóis na banca, chineses na energia, franceses nos aeroportos. Para os estrangeiros, o governo faz de Portugal o novo faroeste do capitalismo, o maior paraíso fiscal da Europa, onde os reformados do norte podem vir gastar as suas pensões sem terem de pensar em impostos. Para os nacionais, o governo tem outro Portugal: um Portugal onde o Estado se apropria da maior parte do que os cidadãos ganham e poupam, e onde ninguém sabe hoje qual será a lei amanhã (veja-se o alojamento local). Um país muito liberal para os estrangeiros, e muito socialista para os nacionais.
Mas esta dualidade não corresponde só as necessidades de um Estado endividado numa economia descapitalizada, a precisar de atrair estrangeiros e de espoliar nacionais. Corresponde também às conveniências de um grupo de políticos que dependem de toda a espécie de equívocos e de mal entendidos para se manterem no poder. Costa e os seus colegas de governo viram fracassar as ideias de Guterres, os métodos de Sócrates, e até, nas eleições de 2015, a sua própria estratégia pós-troika. Já não acreditam em nada nem confiam em ninguém. Dizem o que cada um quer ouvir. Têm tido sorte. Não sabem quanto tempo vai durar. Até lá, aproveitam.»
«António Costa: uma coisa em Portugal, outra coisa em Espanha», Rui Ramos no Observador
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