31/12/2010

DIÁRIO DE BORDO: Desejo apenas que você tenha muitos desejos

Cortar o tempo em fatias
[Carlos Drumond de Andrade]

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...

...Para você,
Desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida, 
Que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...

Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto,
ao rumo da sua felicidade!

Mitos (32) as medidas tomadas são suficientes / são necessárias novas medidas

Nos quase 7 anos que José Sócrates desgoverna este país, todos os anos garante serem suficientes as últimas medidas anunciadas, até chegar o momento de anunciar que novas medidas são necessárias, por causa da crise, ou dos mercados, ou dos especuladores, ou das agências de rating.

Segundo as contas do Diário Económico, só este ano já foram aprovados quatro pacotes totalizando 200-medidas-200. O último pacote de 50 anunciado há 2 semanas é na sua maior parte composto por medidas-votos piedosos que, desde logo pela sua formulação, nunca será possível de verificar se foram executadas.

Alguém devia explicar ao governo que estas coisas têm que ser SMART (Specific, Measureable, Achievable, Realistic, Time bound). Tendo em vista que as muitas centenas de medidas dos últimos anos nos conduziram onde estamos, talvez o governo devesse anunciar uma única medida: NÃO TOMAR MAIS MEDIDAS. Esta seria uma medida definitivamente SMART.

Mitos (31) – Felicidade Nacional Bruta

De vez em quando, aparece mais uma luminária a prescrever a substituição (lunáticos encartados) ou complementação (lunáticos mitigados) dos indicadores económicos, nomeadamente do PIB, por outros critérios de «qualidade de vida» que não especificam. Imagine-se um Instituto Nacional do Bem-Estar, pejado de apparatchiks ao serviço da clique socrática, a calcular a Felicidade Nacional Bruta.

No mesmo artigo, a mesma luminária, parece lamentar a «factura … de 105 milhões de euros» da justiça americana para arquivar 3 casos de «suborno». Dos 3 citados, o único caso de suborno é o da Alcatel-Lucent. O da Toyota é um caso de responsabilidade civil por produtos defeituosos e o do Deutsche Bank de cumplicidade na fraude fiscal dos seus clientes. Além de não se dar ao cuidado de tentar saber do que fala, misturando crimes diferentes com responsabilidade civil, e omitindo que em todos estes casos as empresas em causa terem já pago indemnizações aos lesados, a luminária parece preferir o método judicial português que consiste em deixar prescrever os processos, deixando a culpa morrer solteira sem os lesados serem indemnizados e sem os culpados ou responsáveis pagarem um chavo.

SERVIÇO PÚBLICO: Na Europa, jogando no campeonato chinês

Um dos nossos dilemas resulta de 75% das exportações ter como destino a UE (dados de Out. 2009-Set. 2010 do Boletim Mensal de Estatística de Novembro do INE) e nosso concorrente principal ser a China.

Ou seja, produzimos e exportamos bens de baixa e média tecnologia em que mais de metade em valor das exportações está em concorrência directa com produtos chineses fabricados com incorporação de mão-de-obra custando menos de 1/3 da portuguesa (ao salário mínimo português de 475€ contrapõe-se o chinês de 130€). Não somos competitivos face aos nossos parceiros, porque temos uma produtividade de 1/3 da alemã ou francesa e não somos competitivos face à China porque, apesar de uma produtividade maior, temos custos de mão-de-obra muito mais elevados.

Por falar em comércio externo, convém mitigar as comemorações sobre a melhoria da balança comercial que no período Out. 2009-Set. 2010 diminuiu, de facto, face ao período homólogo anterior o saldo negativo de 20,1 para 19,9 mil milhões, porque a taxa de cobertura pelas exportações continua a um nível insustentável (64%).
[Gráfico daqui]

30/12/2010

Bons exemplos (12 - Aditamento)

Ontem enaltecia a baixa taxa de mortalidade infantil e hoje o Jornal de Negócios noticia o seu aumento de 3,3 por mil em 2008 para 3,6 por mil em 2009, com um atraso de dois meses em relação à Pordata. Um aumento de 3,3 para 3,6 é praticamente irrelevante, sendo inevitáveis estas flutuações, sem significado estatístico, quando se atingem valores muito baixos e tão difíceis de reduzir. Como se comprova pelos valores dos últimos 5 anos, oscilando entre 3,3 e 3,6 por mil. Escrever «Portugal inverteu de forma abrupta a tendência favorável que vinha registando ao nível da mortalidade infantil», sem contextualizar é mau jornalismo.

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: PT, uma rameira do regime, agora no Brasil

Beneficiando do know-how adquirido durante décadas em Portugal e da filosofia dos Espíritos – os banqueiros de todos os regimes, como os próprios se classificam – a PT tornou-se após a venda da Viva parceira de Lulinha, o filho de Lula da Silva, na Gamecorp. Esta empresa, também participada pela Oi, fornece conteúdos para a televisão da Oi e desde a sua criação é um poço de prejuízos que a Oi se tem aprestado a financiar.

29/12/2010

Bons exemplos (12)

Infelizmente não podemos oferecer muitos bons exemplos à comunidade internacional. Um deles é sem dúvida a redução progressiva da mortalidade infantil que começou na década de sessenta e é hoje das mais baixas em todo o mundo. Outro bom exemplo foi adopção há 10 anos da despenalização do consumo da droga, das medidas de prevenção e da disponibilização de seringas e de tratamento. Apesar de algumas vulnerabilidades do programa, os resultados positivos são reconhecidos até nos EU onde se tem mantido uma política pura e dura de proibição com efeitos catastróficos.

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento em curso

«I contend that for a nation to try to tax itself into prosperity is like a man standing in a bucket and trying to lift himself up by the handle.»
Winston Churchill

ESTADO DE SÍTIO: A Óropa não gosta dos parceiros de negócio do estado socialista

Antonio Tajani, comissário europeu para a Indústria, chamou a atenção para a compra de empresas europeias pela China inserida, segundo ele, numa «estratégia política, à qual a Europa deve responder politicamente». Tajani propõe «a criação de uma autoridade» para controlar investimentos estrangeiros na Europa.

O governo de Sócrates ao tentar atrelar as enferrujadas carruagens empresariais portuguesas ao TGV chinês e a vender dívida pública à China parece, assim, estar em colisão com a doutrina oficial. É preciso explicar a Bruxelas que o governo português não está a tentar vender empresas estratégicas, nem tecnológicas, nem inovadoras. Está a fazer os possíveis e impossíveis para esportular os dólares e euros chineses e torrá-los nas empresas do complexo político-empresarial socialista.

Estado empreendedor (40) – no torrar é que está o ganho

As OGMA (Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento) que nos últimos anos fabrica quase exclusivamente uniformes e mais umas quantas bugigangas e vende outras, vem apresentando sistemáticamente prejuízos que já somam 75 milhões. Está falida e o governo não a encerra porque não há dinheiro para encher o buraco do enorme passivo. Solução lógica: o governo vai continuar a aumentar o passivo para financiar ano após ano mais prejuízos. É mais um exemplo do efeito Lockheed TriStar.

28/12/2010

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (48) No, we can’t. It’s just change.

A promessa de Obama durante a campanha de fecho de Guantanamo, passou de «imediato» para «meio do mandato» e agora, pela voz do porta-voz da Casa Branca Robert Gibbs, passou para «it's probably gonna be a while», desta feita por causa da vitória republicana nas eleições intercalares. Yes, we can imagine the change.

NÓS VISTOS POR ELES: A Eslováquia não quer fazer parte de um clube que a aceita como sócio

Com a degradação do rating da Fitch para A+, Portugal fica ao mesmo nível de Malta e da Eslováquia. Incomodado com a companhia, o ministro das Finanças eslovaco apressou-se a esclarecer que a Grécia e Portugal «are not fit enough for Europe’s common currency». Lá terá as suas razões.

Coisas que ficaram por dizer (2)

Na sequência do debate de Cavaco Silva com Defensor de Moura, Edite Estrela comenta que «tendo em conta toda a nebulosa sobre este assunto, [Cavaco Silva] tinha vantagens em esclarecer como as comprou e as vendeu [acções da SLN]». Não posso estar mais de acordo. E espero pacientemente que dona Edite venha ainda a comentar que «tendo em conta toda a nebulosa sobre» os assuntos do seu chefe José Sócrates, este também «tinha vantagens em esclarecer» casos como o diploma da UI, projectos na câmara da Covilhã, Cova da Beira, compra dos apartamentos do Héron Castilho, Freeport, Face Oculta, TVI, Taguspark-Figo, para citar só os mais mediáticos.

27/12/2010

A metalúrgica do regime afunda-se com ele (2)

A Martifer vai-se afundando com o regime maçónico-socialista, como aqui se previu. Com uma dívida de 430 milhões de euros, quase o dobro da sua facturação e 20 vezes o EBITDA, a sua cotação desceu dos 10 € com que entrou na bolsa há três anos para menos de 2 € em Setembro e hoje está a 1,46 €. Continua a vender os anéis: os parques de Bippen e Holleben na Alemanha acabam de ser vendidos com uma perda de 13,6 milhões de euros. Viver de favores políticos e de subsídios não é um seguro contra todos os riscos e quando estas criaturas saem do jardim zoológico socrático para a selva dos mercados, como dizem os totós do capitalismo de estado, dão-se mal. Valha-nos a selecção natural dos mercados.

Mitos (30) – o défice de 2009 disparou por causa das medidas anti-crise

Segundo a mitologia socrática, o défice de 2009, que começou por ser estimado em 2,7% e foi sucessivamente aumentado até atingir 9,3%, teria sido agravado devido às «medidas anti-crise» tomadas pelo governo. É mais uma mentira descarada que não deixa de o ser pelo facto de ter sido avalizada pelos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, como os baptizou o Impertinente - veja-se, por exemplo, aqui a desmontagem da treta de Nicolau Santos a este respeito.

Se dúvidas houvesse, a publicação do parecer do Tribunal de Contas vem confirmar que do agravamento do défice de 2009 apenas 22,4% se ficaram a dever às ajudas anti-crise. Mas o pior de tudo é que mais de 60% dessas ajudas foram para torrar inglória e inutilmente no BPN e no BPP e apenas 1% para apoiar o emprego.

A única explicação para estas mentiras descaradas terem vencimento junto da opinião pública é a mediocridade e dependência doutrinária e/ou de tenças governamentais dos nossos fazedores de opinião. É mais um exemplo do trilema de Žižek.

26/12/2010

ARTIGO DEFUNTO: Não têm emenda

Os pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam não têm emenda. Depois de 5 anos alucinados com aparições, após a derrota socialista nas eleições europeias perceberam que o partido maçónico-socialista poderia ser vencido, senão pela oposição, pela realidade. A seguir, lá foram dolorosamente reconhecendo o que já não podia ser escondido. Contudo, à mínima oportunidade desenterram a vulgata. É o caso de Nicolau Santos que no seu último «Cem por cento», uma das colunas da ortodoxia do jornalismo de causas, depois de celebrar o «sucesso retumbante» passado do euro, e de estranhar o actual «transe que a pode levar a implodir», atribui o seu igualmente retumbante fracasso em curso à «crise imobiliária e financeira nascida nos Estados Unidos em 2008». Não é extraordinário?

Como é possível que um economista e jornalista económico, responsável pela área económica do Expresso, um auto-classificado jornal de referência, se esqueça que Milton Friedman há mais de 10 anos explicou porque a Zona Euro não poderia sobreviver à primeira crise económica e, com crise ou sem crise, dificilmente poderia  durar mais de 10 anos. Como é possível tal luminária apontar o dedo às asneiras de Angela Merkel e à indisponibilidade alemã para financiar a rebaldaria financeira dos PIGS, e ao mesmo tempo rejeitar uma política orçamental decidida e controlada por Bruxelas e Frankfurt (e Berlim)?

Lost in translation (80) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer (XVIII)

Ainda a respeito do «controlo das despesas públicas» alegado pelo secretário de Estado do Orçamento a semana passada, a despesa não contabilizada só no que respeita à saúde, segundo o Sol, já vai em cerca de 2 mil milhões assim distribuídos:
  • 1.000 milhões - indústria farmacêutica
  • 400 milhões - fornecedores de dispositivo médicos
  • 200 milhões - hemodiálise
  • 300 milhões - não pagos pela ADSE aos hospitais e um valor não determinado ainda não facturado desde há meses.
Assim, a «melhoria» de 182 milhões no défice consolidado até Novembro comparativamente com o ano anterior transforma-se numa «pioria» de pelo menos 1,8 mil milhões, sem falar da milagrosa redução dos juros contabilizados da dívida pública.

Tratando-se de uma empresa privada, isto teria um nome: fraude contabilística e implicaria responsabilidade civil e penal da administração.

25/12/2010

ARTIGO DEFUNTO: A dívida externa não cai. O que sobe é o ouro fascista

O título «Dívida externa cai pelo segundo trimestre consecutivo» do Jornal de Negócios, citando o Boletim Estatístico do BdeP é mais próprio da quadra natalícia do que do rigor esperado do jornalismo económico. Na verdade, os passivos do país aumentaram de 478,6 para 505,4 mil milhões nos últimos 12 meses terminados em Setembro. O que o JN refere é uma negligenciável redução da posição líquida de 181,2 para 180,1 mil milhões, devida exclusivamente à valorização por aumento da cotação do ouro monetário de reserva – ou seja as 373 toneladas que restam das 866 toneladas da pesada herança da longa noite fascista. Sem o contributo do fascismo, a dívida líquida ao exterior do socialismo doméstico teria passado no último ano de 189,4 para 191,9 mil milhões.

Mitos (29) – a Grande Recessão de 2007

A dúvida surge desde logo quando se observa o comportamento dos mercados de capitais americanos. Como numa recessão alegadamente tão profunda os mercados de capitais já recuperaram uma boa parte dos níveis anteriores ao início da crise?


E como numa recessão alegadamente tão profunda o PIB americano em termos reais acabou de atingir o seu nível pré-crise? Sem esquecer o crescimento da Alemanha, da China, da Índia, do Brasil, etc.

23/12/2010

TIROU-ME AS PALAVRAS PERGUNTAS DA BOCA: Perguntar ofende?

«O que diria um Partido Socialista se um governo de centro-direita declarasse o estado de alarme para militarizar um determinado sector económico, suspender direitos fundamentais dos trabalhadores e resolver um problema laboral aplicando uma lei militar pré-constitucional (isto é, na linguagem desse partido socialista, uma lei fascista)? O que diria a esquerda socialista se um governo de centro-direita, em nome de uma duvidosa consolidação orçamental, reduzisse de forma significativa salários, prestações e apoios sociais importantes? O que diriam os líderes socialistas se um governo de centro-direita flexibilizasse a legislação do trabalho para satisfazer interesses políticos e económicos estrangeiros?»

[«2011, a esquerda e a direita», Nuno Garoupa no Jornal de Negócios]

Lost in translation (79) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer (XVII)

O Tribunal de Contas no seu parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2009 «mantém reservas quanto aos valores inscritos», sublinha que «doze anos após a sua aprovação, o Plano Oficial de Contabilidade Pública (POCP)continuou a não ser aplicado pela generalidade dos serviços integrados do Estado e por uma parte dos serviços e fundos autónomos», refere «despesas sem dotação orçamental suficiente» e a consequente transição para os anos seguintes de «elevados montantes de encargos assumidos e não pagos», e sublinha a impossível comparabilidade devido à «constante alteração do universo dos organismos abrangidos pela Conta» e à alteração de critérios contabilísticos e a inexistência de informação final sobre a execução orçamental de algumas entidades.

É a mercearia contabilística, ainda muito distante da sofisticada trapaça grega.

Bons exemplos (11)

Apertado pela justiça californiana, o banco Wells Fargo, que comprou no auge da crise o World Savings Bank e o Wachovia, aceitou alterar os termos de 19.400 contratos desses bancos de empréstimo para habitação «pick-and-pay» no valor de mais de 2 mil milhões de dólares, devolver em média 2.650 dólares aos mutuários que tiveram execução fiscal por incumprimento, e ainda pagar 1,8 milhões de multas.

As justiças são todas iguais, mas há umas mais iguais do que outras.

Não acertam nem nos blindados

Há muitas luas já se sabia a data de realização da cimeira da NATO: 19 e 20 de Novembro. O contrato de compra de 6 viaturas blindadas para defesa não se sabe de quê foi assinado em 15 de Novembro, 4 dias antes do início da cimeira. Dos seis blindados, dois chegaram no dia 22 de Novembro, dois dias depois de desarmadas as tendas da cimeira. Os restantes quatro virão a caminho, se vierem, e o governo garante que o prazo de entrega termina no dia 24 de Dezembro, coisa estranhíssima para quem os encomendou destinados a uma cimeira um mês antes.

Dando mais um exemplo de ética de troca-tintas, o governo com a tesouraria seca, pela boca do maçónico ministro da administração interna, diz que não paga se não receber os quatro blindados antes de expirado o prazo e «se chegarem dentro do prazo, accionaremos a cláusula que diz que há uma quantia que será abatida no preço» (?).

É muita incompetência para qualquer governo e ainda mais para um com tanta jactância.

22/12/2010

Bons exemplos (10)

A Bloomberg propôs uma acção judicial ao Tribunal Europeu para obrigar o Banco Central Europeu a revelar os documentos que evidenciam as trapaças gregas para esconder o défice orçamental usando swaps para escamotear empréstimos.

E porquê? «Bloomberg is committed to transparent markets all over the world» explica Matthew Winkler, editor principal da Bloomberg News. Aprendei, pois, vós jornalistas económicos e analistas financeiros de meia-tijela!

Lost in translation (78) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer (XVI)

O secretário de Estado do Orçamento diz que se «confirma o controlo das despesas públicas» até Novembro. Segundo ele, o milagre justifica-se com o crescimento de 5% das receitas fiscais (os sujeitos passivos também confirmam) e com o aumento de «apenas» (apenas?) 2,6% das despesas. Note-se que o «apenas» resulta de redução de 16% do investimento público e de redução de 2,3% dos juros da dívida (quanto a este segundo milagre, veja-se este post). Quanto ao que interessa mais, as despesas correntes primárias aumentaram 5% - chamar a isto consolidação orçamental é a piada mais cínica do ano.

O Diário Económico resume a coisa no título: «Défice orçamental cai pela primeira vez este ano». Ora a coisa extraordinária não é o défice cair. As coisas extraordinárias são: (1) as únicas despesas que dependem só do governo aumentaram 5%; (2) a manipulação na contabilização dos juros da dívida e (3) a desconsideração na despesa contabilizada de vários milhares de milhões de euros de facturas por pagar às farmácias, aos empreiteiros e a outros fornecedores do Estado.
Depois admiram-se da Moody’s ter avisado que pode cortar dois níveis no rating de Portugal.

ESTADO DE SÍTIO: Medida de consolação orçamental

O ministério da Educação rescindiu o contrato do cartão universitário com chip Multibanco. Alguém pode explicar o racional da decisão tomada numa conjuntura de colapso das finanças públicas de ter contratado por 18 milhões de euros a Novabase para desenvolver um cartão universitário com chip Multibanco? E porquê o ministério da Educação em vez do MCTES?

21/12/2010

Bons exemplos (9)

Num país entupido de criaturas procurando extorquir dinheiro dos contribuintes através do Estado, a investigadora Maria do Carmo Fonseca do Instituto de Medicina Molecular declarou ir investir em microscópios os 60 mil euros do prémio Pessoa que lhe fui atribuído.

SERVIÇO PÚBLICO: Mentiras inovadoras

«Faz-me impressão como se mente por cá. As eólicas, por exemplo, que dizem ser uma inovação, já existem desde o tempo dos faraós a bombear água no Egipto. A Dinamarca usa-as para gerar luz há 40 anos.

Carrinhas eléctricas distribuíam leite em Londres desde 1950. A GM vendeu um milhar de carros eléctricos há 30 anos, mas não trocava peças, pois o motor eléctrico não avaria, o escape podre não existe e é aí que ela tem o seu grande lucro. PME nórdicas fizeram milhares desses carros há 20 anos, mas as grandes travaram-nas. Na década de 40, a Suécia usou restos florestais para biogás em carros. Rudolf Diesel usou biodiesel em 1898; enquanto foi vivo, impediu o óleo mineral nos seus motores. O biogás, que aproveita dejectos e esgotos, é usado na Holanda há 30 anos para aquecer as quintas. Há 20 anos para gerar energia.

Em Israel, existe arrefecimento solar e até congelamento de peixe há 30 anos; e a fotovoltáica para iluminação há 40 anos. Na Califórnia, usa--se a energia geotérmica há 40 anos para aquecer e gerar electricidade.

Quando comecei a usar o skype, há 5 anos, havia 34 mil utentes paralelos. Hoje há 17 milhões. O invento já existia há anos, mas as grandes telecoms impediam-no de chegar ao mercado. Hoje, impedem-nos de usar o que há de mais moderno e impingem-nos só aquilo que lhes dá mais lucro. É um cartel defendido pelos governos da UE.

Em vez do Light-Alfa de alta velocidade enfiam-nos goela abaixo o ultrapassado TGV, que a própria França cancelou. Em vez do tram-train suburbano, num túnel por baixo do centro e dos rios, enfiam-nos a ultrapassada terceira ponte. Em vez das novas estradas com três faixas metem-nos auto-estradas que só se justificam na Alemanha e França, com 60 milhões de habitantes e 15 vezes a nossa superfície. Desde quando mentir é inovação?»

[Velhas inovações, por Jack Soifer, no Oje]

CASE STUDY: quem é o deus ex machina da Ongoing? (11)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9) e (10) e retrospectiva]

Já se sabe quem é a Ongoing, o seu deus ex machina (os Espíritos) e, pela boca de Armando Vara, o que podemos esperar dos seus timoneiros (Nuno Vasconcelos e Rafael Mora). E também se vai ficando a saber quem são os seus amigos como Soares Carneiro, o administrador da PT que decidiu, à revelia da comissão de investimentos, aplicar o dinheiro das pensões dos empregados da PT em fundos geridos pela Ongoing, decisão que deixou tão expostos os meandros da coisa que Granadeiro teve que lhe tirar o tapete e obrigá-lo a demitir-se.

E o que se faz aos amigos quando eles perdem o emprego por amor à nossa causa? Oferece-lhes outro, evidentemente. De preferência longe, por razões de discrição. Foi o que fez a Ongoing ao oferecer uma tença não discriminada a Soares Carneiro no Brasil.

Também se sabia que José Dirceu, o projectista, cabeça-de-turco de Lula da Silva para o Mensalão e amigo do peito de Dilma Rousseff, trabalha num jornal da Ongoing no Brasil e a sua namorada é consultora da Ongoing também no Brasil. Igualmente ficou conhecido que Jorge Silva Carvalho, o chefe dos espiões cuja demissão foi divulgada durante a cimeira da NATO, está a caminho da Ongoing.

Sabia-se tudo isso, e também que Joaquim Pina Moura, baptizado por Guterres como «Cardeal» de quem foi secretário de estado e ministro das Finanças acumulando com a Economia, acumula ou acumulou a folha da pagamentos do BCP, da Galp Energia, da Media Capital, da Iberdrola e, sabe-se agora, a da Heidrich & Struggles uma consultora de que são sócios Nuno Vasconcelos e Rafael Mora os timoneiros da Ongoing. Pina Moura confirmou assim as suas qualidades de acumulador.

Todos estes, e outros peões menores, fazem parte da machina da Ongoing, sendo o deus ex machina os Espíritos Santos. Onde quer a machina chegar? O que espera o deus ex machina de tudo isto?

Bons exemplos (8)

Merece celebração pela raridade um ministro de Sócrates falar a verdade, com clareza e com frontalidade. Foi o caso de Mariano Gago (a quem por isso relevamos até ao fim do ano os delírios sobre as nossas realizações em matéria de I&D) ao denunciar o corporativismo das ordens:
«Com toda a franqueza, este é um dos fenómenos mais extraordinários que ocorre neste país. A complacência, a cedência corporativa a quem chateia o parlamento com o argumento de que não se pretende fechar o mercado de trabalho - que ideia! - e apenas se quer fazer deontologia, é absolutamente extraordinária …
«Chegam lá ao gabinete e dizem-me (os representantes das ordens profissionais): ‘Senhor ministro, desculpe lá, quer proletarizar esta profissão? Arranje uma maneira de fechar estas entradas, seja como for’».

20/12/2010

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: 50 por uma

«Atrevo-me pois a sugerir que se substituam as 50 medidas por uma só, esta sim verdadeiramente revolucionária: o Estado (os vários Estados) anuncia que vai emitir dívida para pagar, no prazo máximo de 90 a 120 dias, todas as dívidas às empresas...»

[Tavares Moreira no 4-R]

ESTADO DE SÍTIO: O défice de orçamentação

Desde a queda da ditadura todos os governos apresentaram défices nas suas contas. E quase todos criaram trapalhadas nas contas, roçando nalguns casos a sua falsificação. Já se sabia que os governos Sócrates levaram mais longe do que todos os outros os défices e as trapalhadas (para ser benigno). Está-se a saber que os governos Sócrates estão a levar até ao seu limite, não só o défice orçamental, nem mesmo o défice de rigor, mas o défice de orçamentação. Ou, dito por outras palavras, os próprios processos de preparação (vejam-se os erros e deficiente apresentação da proposta do OE 2010) e de controlo do orçamento (veja-se a derrapagem da execução orçamental, em particular na Saúde) estão em vias de descarrilar, como se começa a perceber cada vez mais claramente.

19/12/2010

O (IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: O Simplex municipal

«[A marca X] …, da área do pronto-a-vestir jovem, quis introduzir nas montras da sua loja do Rossio um sistema de televisões que interagem com os que passam na rua, a exemplo do que montou em NY, Londres, Barcelona e Milão.

[Foi abordada] … a CML, porque [a marca X] não quer fazer nada que indisponha as autoridades locais, as quais, desconhecedoras do assunto, lhe arrastaram a solução para além dos limites, até que após muitas insistências, informaram que o assunto transitara para a secção de taxas. Não é apenas uma formalidade que decorre da aplicação de uma tabela. Trata-se do interior da loja, o comerciante poderia lá por o que lhe desse na sua real gana.

O cliente é italiano, multinacional, anunciante nas revistas da moda, não sei se faz confecção em Portugal mas pelo menos emprega umas centenas de pessoas de empregados, paga todas as suas taxas e contribuições, e portanto não merece fazer sombra à CML e ao vereador do pelouro, o Senhor Dr. José Sá Fernandes, que lhe fixou uma taxa de 40.000 Euros anuais pela decoração interior da loja (e só desta loja!) …»

[Enviado por JARF; omitiu-se a identificação das pessoas, marcas e loja]

Bons exemplos (7)

Madoff, o génio inventor de um esquema de Ponzi de 50 mil milhões de dólares, o maior depois da segurança social pay-as-you-go, foi investigado, julgado e condenado a prisão perpétua em 4 meses. Não satisfeita com esta estonteante celeridade, a justiça americana tem continuado a tentar recuperar o dinheiro dos investidores. Na maior operação de recuperação até agora, procuradores de NY fizeram um acordo para a liquidação de um dos veículos financeiros de Madoff com a Picower Foundation a qual pagará 5 mil milhões a clientes desse veículo e adicionalmente 2,2 mil milhões ao governo americano. Isto sem embargo de Jeffry Picower, entretanto falecido, alegadamente conhecedor e beneficiário da fraude de Madoff, ter argumentado que se soubesse ser uma fraude não teria transferido dinheiro para as contas de Madoff. Imagino os procuradores comentando entre eles que Jeffry Picower além de desonesto era distraído, na melhor hipótese, ou burro.

As justiças são todas iguais, mas há umas mais iguais do que outras.

18/12/2010

ARTIGO DEFUNTO: Títulos que envergonhariam o governo e este país (se o governo e este país tivessem vergonha)


Quando se pensava que o país já tinha sido humilhado o bastante pela mão de governos incompetentes e corruptos, o Expresso vem lembrar-nos que o bastante ainda não é o suficiente.

SERVIÇO PÚBLICO: «Inactivos desencorajados», a geração «Ni Ni»

Segundo a TSF, dados do INE mostram que cerca de 314 mil jovens entre os 15 e os 30 anos ou 16% do total neste escalão etário não trabalham nem estudam. Este número inclui não só os desempregados, considerados nas estatísticas de desemprego, mas igualmente os «inactivos desencorajados». Em Espanha, onde o desemprego dos jovens é considerado uma catástrofe nacional, a geração «Ni Ni» representa uma percentagem metade da portuguesa.

ESTADO DE SÍTIO: A culpa morre solteira (e virgem)

Há 30 anos o proprietário de uma quinta no Alto do Lumiar doou à Câmara Municipal de Lisboa, como parte de um acordo de licenciamento, uma fracção da sua quinta para construção de equipamento social. Os terrenos doados vieram mais tarde a ser vendidos pela Câmara e integrados no projecto Alta de Lisboa da SGAL, em completo desrespeito pela condição da doação. Depois de uma epopeia judicial de décadas, a acção proposta pelo proprietário veio finalmente a ser julgada favoravelmente pelo Supremo Tribunal de Justiça que decidiu dever a Câmara indemnizar o proprietário pela diferença entre o valor do terreno para habitação social e o seu valor para habitação de venda livre. Contas feitas, a CML terá que indemnizar o proprietário em 119 milhões de euros, mais de 10% das despesas orçamentadas de 2010.

Há alguém responsável?

Lost in translation (77) – Ich bin beeindruckt, disse ela

Quando Angela Merkel, ao ouvir Sócrates enunciar as 50 medidas que ninguém sabe exactamente em que consistem e muito menos se serão algum dia aplicadas, diz «estou impressionada com as reformas introduzidas por Portugal», pode querer significar várias coisas. Num político experimentado como Merkel, o mais provável é um céptico «vamos esperar para ver se eles fazem alguma coisa». Mas não é impossível a coexistência da cultura alemã de rigor e de coerência com uma certa incapacidade de compreender a interacção da mente de uma criatura como José Sócrates com a cultura indígena e nesse caso Merkel pode ter acreditado naquelas tretas.

17/12/2010

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (33) – videirinho

João Paulo Videira é um militante do PS, «co-autor do programa Novas Oportunidades», segundo as suas próprias palavras, e até Outubro foi membro do secretariado nacional e do conselho nacional da Fenprof, qualidade em que deve ter combatido as políticas do ministério da Educação, ou não estaria lá a fazer nada. Foi nomeado em 13 de Dezembro «para chefiar a Direcção de Serviços de Formação dos Recursos Humanos do Ministério da Educação», cujas atribuições incluem «concretizar as políticas de desenvolvimento dos recursos humanos relativas ao pessoal docente e não docente das escolas, em particular as políticas relativas a recrutamento e selecção, carreiras, remunerações e formação» (Decreto Regulamentar n.º 28/2007 de 29 de Março). Com a nomeação passa a ter mais 700 euros líquidos, segundo confessa, metade dos quais gasta para chegar ao seu novo local de trabalho.

O que tem isto de extraordinário? Nada. Excepto ser tão extraordinariamente trivial no quotidiano do Portugal socialista.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Saia da frente!

«O Governo quer ajudar as empresas exportadoras? Faz muito bem. Mas a melhor forma de o fazer é sair da frente. Ou seja, deixar o caminho livre para as empresas poderem criar riqueza. E isso envolve um conjunto vasto de medidas que não se esgota na redução da burocracia e não tem nada a ver com a redução de custos de financiamento. O que surpreende é que, sabendo que a subsidiação da economia nunca resolveu os problemas do País, o Governo insista neste tipo de erro

[O Estado quer ajudar as empresas? Saia da frente, Camilo Lourenço no Negócios]

Estado empreendedor (39) - as estratégias do governo são tácticas falhadas

Se bem se lembram, o governo representando o accionista Estado detentor duma golden share na PT vetou a venda da Vivo à Telefónica por razões estratégicas. Essas razões estratégicas evaporaram-se e passou a ser estratégico comprar uma participação na Oi que seria paga com o produto da venda da Vivo. Em Agosto, já coisa estava toda combinada entre José Sócrates e Lula Silva, faltava só assinar os papéis.

Aquele era o guião, mas nos filmes produzidos pelo governo o guião não guia. A coisa foi derrapando e a compra de 23% da Oi (com os 50% da Viva menos os dividendos antecipadamente distribuídos aos accionistas, torturados pelo dilema patriótico de aproveitar ou não o regime fiscal mais benévolo de 2010) ficará para Janeiro ou quando a baderna accionista da Oi quiser. Entretanto, a Bernstein Research considera que a PT valeria mais sem a Oi e a JPMorgan revê em baixa a PT.

DIÁRIO DE BORDO: Fractais da natureza (4)

Himalaias, moldados durante milhões de anos pela colisão entre as placas da India com a da Eurasia

16/12/2010

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: A pesada herança do socialismo de Estado

Segundo a OIT, o ano passado, entre os 17 países avançados dos 108 países analisados, Portugal foi o quarto país que mais aumentou em termos reais o salário mínimo.

Segundo a OCDE, entre 1995 e 2008 Portugal foi o país da EU que mais aumentou a carga fiscal.

[Há o capitalismo de Estado chinês e há o socialismo de Estado português]

Coisas que ficaram por dizer

«Há uma coisa que me surpreende: como é que um país como os Estados Unidos tem um sistema de segurança que afinal é tão frágil, que permite que os telegramas confidenciais, secretos, reservados, enviados pelos embaixadores que têm em todas as partes do mundo se tornem acessíveis desta forma, para mim essa é a grande surpresa», comentou Cavaco Silva, na sua encarnação de candidato a presidente.

Cavaco Silva poderia ter acrescentado que, em contrapartida, não ficou nada surpreendido pela divulgação nos jornais dos nomes dos espiões portugueses há meia dúzia de anos, do anúncio público da demissão do espião-mor, por sinal membro duma outra sociedade secreta (a Grande Loja Regular de Portugal), dias antes da cimeira da NATO e da sua anunciada contratação pelos cabeças de turco dos Espíritos.

15/12/2010

SERVIÇO PÚBLICO: Ligações perigosas

Santos Ferreira, notório homem de mão do PS, actual presidente do BCP e executor da estratégia de assalto ao banco, agora envolvido nos leaks da Wikileaks como tendo alegadamente oferecido os seus serviços de espionagem à embaixada americana, é o mesmo Santos Ferreira que 20 anos antes era presidente da Fundição de Oeiras a qual alegadamente violou o embargo e vendeu munições ao Irão, como ele próprio terá alegadamente admitido. O parágrafo do cable de 12 de Fevereiro deste ano publicado por El País é o seguinte:

«(C/NF) Early last year, the Iranian Embassy in Lisbon contacted Ferreira, who had previous contact with that embassy while serving as Chairman of the Board of Directors of Oeiras Foundation (1987-1989), a state entity that he says sold munitions to Iran more than 20 years ago. Millennium Bank advised Prime Minister Socrates and senior government officials, including the governor of the Bank of Portugal (Portugal's central bank), of Iran's interest in establishing a relationship with Millennium and having Millennium officials visit Iran for meetings.»
[A troca de «Fundição» por «Foundation» é obviamente um erro do autor do cable possivelmente pouco familiarizado com as armadilhas da língua portuguesa.] 

Já não estamos a falar das opiniões dos diplomatas americanos sobre os políticos portugueses, estamos a tocar no nervo.

Pro memoria (14) – tomemos nota para conferir mais tarde

«Estes dados são a confirmação daquilo que tenho dito: Portugal está na linha da frente dos países que estão a fazer uma consolidação orçamental rápida e a nossa reforma da segurança social foi uma reforma estrutural e um grande contributo para o equilíbrio das contas públicas»
[José Sócrates em 14-12-2010 a propósito do estudo do FMI divulgado hoje]

14/12/2010

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A absoluta nulidade da elite que governa o sítio

«O drama português não é a crise financeira: é a absoluta nulidade da elite que governa o sítio. Que é deficitária culturalmente e em termos de pensamento estratégico. O resultado de uma nação onde fogachos iluminados substituem a discussão séria dos problemas. Onde passo a passo, debate a debate, se criou uma oligarquia que apenas reflecte em termos da sua própria sobrevivência. Onde estamos ao nível do que está a ser esta pré-campanha presidencial. Quando Manuel Alegre acha que está mais bem preparado do que Cavaco Silva porque, diz, "conheço a História e sei há muito tempo, desde pequeno, quantos cantos têm 'Os Lusíadas'.", que poderemos esperar? Que Cavaco responda que sabe fazer melhor contas de somar e subtrair que Alegre? O debate político está inquinado por falta de nível das nossas elites. Ou seja, não vale a pena entrar em pânico. A elite nacional já entrou por nós.»
[Fernando Sobral, Anos de chumbo no Negócios]

Por falar em pessoas sem meios para pagar ao Estado

Por falar nisso, apesar do aumento das taxas de IRS e de consequente aumento das retenções, o valor do IRS espoliado aos sujeitos passivos nos 10 primeiros meses deste ano foi 1,5% inferior ao do mesmo período do ano passado.

13/12/2010

Lost in translation (76) - the other way around

Em entrevista ao ionline, Mário Soares identificou como «problema mais grave» resultante da crise «o Estado ficar sem meios para pagar às pessoas». Como é seu costume, confundiu-se. O problema mais grave resultante da crise são as pessoas ficarem sem meios para pagar ao Estado.

Continuando a confundir-se, Mário Soares acusou «Merkel e Sarkozy (que) pensam apenas nos seus Estados e não no projecto europeu», mas não acusou Zapatero e Sócrates de pensarem apenas em transferir o risco das dívidas dos seus Estados para os Estados de Merkel e Sarkozy. Sem querer esgotar todas as confusões de Mário Soares, destaco «o erro colossal que … nos vai… sair muito caro», mais do que o erro de Merkel e Sarkozy é o erro do governo português ao procurar «propostas muito interessantes, da China, que se manifestou disposta a comprar uma parte da nossa dívida».

DIÁRIO DE BORDO: O sapo

Como é que um homem entende ter uma lei «opções normativas, indubitavelmente questionáveis» e a promulga a seguir sem a questionar? É por esta, por outras e aqueloutras, para não ir mais longe, que só conseguirei votar no homem recordando o sapo de Álvaro Cunhal.

12/12/2010

Por falar em corrupção

O caso Face Oculta pode estar a caminho de ser arquivado. No verão, a dupla Noronha do Nascimento e Pinto Monteiro, respectivamente presidente do Supremo Tribunal de Justiça e Procurador-geral da República, mandou destruir as escutas envolvendo José Sócrates. Depois, no inverno, Ricardo Sá Fernandes (who else?), advogado de Paulo Penedos, requer a nulidade das escutas com o fundamento que «qualquer escuta que não seja transcrita tem que ser conservada até ao final do processo, para os arguidos poderem exercer os direitos de defesa» (jornal SOL). Resultado bastante provável: como as escutas são praticamente as únicas provas de corrupção existentes, a acusação fica reduzida a nada e o julgamento não chega sequer a realizar-se.

Melhor é impossível.

O problema da corrupção não é só moral (2)

Segundo o Global Corruption Barometer 2010 da Transparency International, 75% dos portugueses consideram que as acções do governo para combater a corrupção são ineficazes e 83% têm a percepção que a corrupção aumentou no último ano, contra 73% dos europeus e 56% a nível mundial. Isto faz de Portugal o 5.º país entre 86 que foram objecto do inquérito onde a corrupção mais terá aumentado.

As instituições que se apresentam aos olhos dos portugueses como mais corruptas são os partidos com 4,2 numa escala de 1 (nada corrupto) a 5 (extremamente corrupto).


Se a corrupção fosse grave apenas por razões morais e éticas já seria mais do que suficiente para merecer a nossa atenção. Mas não é grave só por isso. É igualmente grave porque a corrupção é um factor de distorção do racional das escolhas económicas, que passam a ser feitas, não com base dos benefícios líquidos previstos, empresariais ou públicos, que delas se esperam que resultem, mas com fundamento no interesse de pessoas ou grupos que não têm legitimidade para intervir nessas escolhas.

Mitos (28) - a pesada herança da longa noite fascista (III)

[Mais heranças: I, II]

Em 1926 a ditadura salazarista herdou da baderna republicana cofres vazios. Em 1950 o Botas tinha amealhado 171 toneladas do vil metal. Em 1974, a democracia herdou da ditadura cerca de 866 toneladas de ouro, valendo a preços actuais cerca de 29 mil milhões de euros. Durante os 36 anos seguintes, o Estado sucial vendeu cerca de 493 toneladas, restando 373 toneladas, cujo valor a preços actuais é cerca de 12,5 mil milhões de euros, valor insuficiente para cobrir um ano de défice do comércio externo.

11/12/2010

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: o ovo ou a galinha?

Não nos iludamos, os factores de atraso em Portugal que constituem o maior travão ao desenvolvimento sustentado levarão uma geração ou duas a superar. É o caso da pouca qualificação da mão-de-obra: 59% dos novos empregos criados no 2.º trimestre foram preenchidos por trabalhadores não especializados sem o ensino secundário, contra 50% na Espanha, 43% na Itália e 37% na Grécia. É claro que existem esses empregos de baixa qualificação porque as actividades ainda oferecendo emprego são de baixa intensidade tecnológica o que, só por si, constitui outro factor de atraso e, a par da pouca qualificação, gera uma espécie do dilema ovo ou galinha.

E não é com a mistificação das Novas Oportunidades, consistindo na criação de pretextos para atribuir diplomas, que será superada a falta de qualificação da mão-de-obra.

Mitos (27) – os socialistas são amigos dos pobres (II)

Os socialistas não são amigos dos pobres. Os socialistas querem acabar com os ricos, o que é uma coisa diferente, como explicou Olof Palme ao coronel Otelo. Os socialistas querem manter pobres os pobres, porque não faria sentido acabarem com a sua clientela. Quem talvez queira acabar com os pobres são os ricos, possivelmente por razões puramente egoístas – serem eles próprios cada vez mais ricos sem má consciência.

Talvez por isso, a lista da iniciativa Giving Pledge de Warren Buffet, que já doou metade da sua fortuna à Fundação Gates e prometeu mais 49%, não pára de crescer. O último foi Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, que já este ano doou USD 100 milhões para escolas em Newark. Foi uma certa surpresa, pelo menos para mim que imaginava ser o rapaz apenas um bastard talentoso. Estava enganado. O rapaz é um bastard talentoso e generoso.

A filantropia, entre nós com poucos praticantes, é relativamente comum no inferno do capitalismo onde no ano passado, apesar da crise, foram doados mais de USD 300 mil milhões, quase uma vez e meia o PIB português.

10/12/2010

Curtas e grossas (7)

«A economia portuguesa conseguirá sustentar esse Estado (social) se crescer, e se gerar mais rendimento. Neste momento, a economia portuguesa não só não consegue sustentar esse Estado (social), como está a ser aniquilada por ele

[Público, entrevista a Daniel Bessa]

CASE STUDY: Impacto de Basileia III nos bancos europeus e americanos

Contrariamente à ideia corrente de os bancos europeus (com os alemães à cabeça) estarem menos vulneráveis do que os americanos, os factos (sempre eles, esses desmancha doutrinas e ideias feitas) parecem mostrar o contrário. Com as novas regras Basileia III do Basel Committee on Banking Supervision, segundo o estudo Basel III: Now the hard part for European banks da McKinsey o sistema bancário europeu apresenta insuficiências de capital e liquidez praticamente duplas do americano.

Mitos (26) - a pesada herança da longa noite fascista (II)

A economia informal ou paralela, em 1970, em plena ditadura na versão marcelista, representava 9,3% do PIB, segundo um estudo de Nuno Gonçalves, citado pelo Jornal de Negócios. Em 2009, depois de 35 anos de Estado Sucial, representa 24,2%.

Segundo João Duque, em face da situação e das medidas que estão a ser tomadas, será de esperar o aumento da economia paralela. Quanto mais impostos ainda serão precisos aumentar e quanta mais intervenção do Estado será necessária para a economia ficar toda paralela?

Lost in translation (75) – Lucro? Este ano vai sobrar dinheiro dos subsídios, queria ele dizer

«A RTP vai apresentar resultados líquidos de cerca de dez milhões de euros em 2010, revelou o presidente da empresa, Guilherme Costa, ao Diário Económico. É o primeiro ano, desde 1991, que a televisão pública apresenta lucros, depois de ter registado um prejuízo de 13,8 milhões no ano passado

Alguns obamas de Obama fazem felizes os obamófobos (2) - «Obamanomics Takes a Holiday»

Um dos obamas que fez feliz os obamófobos foi o Obama que fechou um acordo com os líderes republicanos para reduzir os impostos sobre os negócios e manter o corte de taxas de Bush nos próximos dois anos.

Em contrapartida, os obamófilos não parecem estar muito contentes com o desempenho do presidente (ver sondagem da Bloomberg):

09/12/2010

Dúvidas (2)

Será que o governo percebe que defender a emissão de Eurobonds equivale a pedir aos países solventes que aceitem partilhar o risco dos países potencialmente insolventes e aceitem o aumento do custo da sua própria dívida? E perceberá o governo que tal só seria possível (se fosse) com o abandono a um órgão comunitário das sobras da política orçamental e da política económica ainda por cá residentes?

Dúvidas

A sugestão pelo Kremlin do Nobel para Assange foi antes ou depois da WikiLeaks ter divulgado o documento dos mísseis vendidos ao coronel Tapioca?

O prémio Confúcio da Paz vai ser também atribuído retroactivamente aos pacificadores da praça Tiananmen?

Lost in translation (74) - não nos compliquem a vida com planos para os defender se nós quisermos atacá-los outra vez

Dmitry Rogozin, o representante russo junto da NATO fez saber ter o seu país tido conhecimento, através dos documentos divulgados pela WikiLeaks, da ampliação aos países bálticos do plano de defesa da Polónia contra um ataque militar. Indignado, irá pressionar a NATO para abandonar o plano que, segundo ele, está claramente apontado ao seu país. Sem razão porque a Rússia já não poderia ser vista como um agressor potencial. Vamos admitir historicamente prescrita a anexação dos estados bálticos e dos restantes estados integrados à força no Império Soviético. Vamos esquecer a invasão da Polónia e a ocupação da Europa Central debaixo do jugo da Cortina de Ferro. E os massacres na Chechénia e a invasão da Geórgia?

BREIQUINGUE NIUZ: a boa nova

Segundo o estudo «The World's Best Places To Get Laid Off» da cadeia CNBC, Portugal é o segundo melhor país do mundo a seguir ao Luxemburgo para ser despedido. Luxemburgo? Porquê Luxemburgo? Ora, porque 1/6 dos residentes são portugueses.

Podemos enfrentar a crise com tranquilidade e colocar a economia ao serviço dos despedimentos.

08/12/2010

Lost in translation (73) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer (XV)

Vai-se tornando uma rotina o uso pelo governo do engenheiro Sócrates duma engenharia orçamental de criação de receitas fictícias em que o Estado compra imóveis ao Estado. A mais recente é a compra pela Estamo por 47 milhões do edifício do Instituto Português da Qualidade no Monte da Caparica.

SERVIÇO PÚBLICO: do politicamente impossível ao economicamente inevitável

«A raiz do problema reside na fraca rentabilidade do capital, que não estando alinhada com a norma europeia, afasta os investimentos produtivos, tanto nacionais como estrangeiros.

Aquela rentabilidade há muito que é inferior à praticada no seio da União Europeia e tem vindo a decair, como se pode ver na tabela junta; era menos de metade (cerca de 45%) da média da zona euro em 1998-2001 e passou para 31% em 2002-2005 e 30% em 2206-2009. Enquanto na Europa, no período imediatamente antes do euro, a taxa de retorno líquida depois dos impostos era de 7,4%, em Portugal ficava-se apenas em 3,3%. Nos seis anos seguintes aquela taxa passou para 9,0% na zona euro e 2,7% em Portugal.

A taxa de remuneração do capital não pode sofrer grandes discrepâncias sob pena de desertificar as economias com fracas rendibilidades. Apesar da persistência de entraves de monta a mobilidade do capital é um facto que veio para ficar.

A procura de IDE nestas condições é inglória - algum que se consegue é a custo de privilégios fiscais e outros, de peso incomportável.
»

[Reformas estruturais: do politicamente impossível ao economicamente inevitável, Avelino de Jesus no Jornal de Negócios]

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Basílio Horta promovido a ministro anexo (CONFIRMAÇÃO)

Secção A título (quase) póstumo

Se houvesse lugar a dúvidas, que não há, Basílio Horta é mais do que o novo ministro anexo é o novo ministro anexo com uma visão. Eis o que disse o presidente da AICEP a propósito do carro eléctrico japonês para o qual o governo vai subsidiar tomadas para carregar a suas baterias ao longo do país:
«Durante muito tempo exportamos para o Japão os nossos produtos tradicionais: azeite, cortiça, vinho. Agora estamos numa nova fase. O carro eléctrico entra nos produtos de alta tecnologia e Portugal passa a ser conhecido no Japão não apenas pelos seus produtos de tradição, mas também por produtos de alta tecnologia, o que simboliza a mudança que houve no modelo da nossa economia.»
Este homem é um bisionário. Merece amplamente dois ou três afonsos pelo arrojo (e três ou quatro chateaubriands pelas confusões).

07/12/2010

Lost in translation (72) – classe média baixa? vai-lhes pagar com o dinheiro da venda das ilhas?

O vice-rei dos Açores anunciou o mês passado que vai pagar um subsídio equivalente à redução de salário aprovada pela lei do orçamento aos funcionários públicos dessas ilhas com salários entre 1.500 e 2.000 euros brutos por mês. Explicou este mês que isso «não custa um cêntimo» aos contribuintes e constitui um «apoio a um grupo de funcionários públicos da classe média baixa» e aproveitou para picar o vice-rei das outras ilhas, recordando que nas ilhas dele não se gastam 70 milhões em estádios de futebol.

Em 2008 a remuneração base média em Portugal (Fonte: Pordata) era 843,2 euros. Quando o homem diz que quem ganha 1,8 a 2,4 vezes essa remuneração pertence à «classe média baixa» quererá ele dizer que a «classe média baixa» das ilhas é a classe média alta do continente? Quando o homem garante que a coisa «não custa um cêntimo» quererá ele dizer que a coisa será paga com dinheiro da venda das ilhas?

Já foi o pior ministro das Finanças, o melhor dos piores e agora é o menos mau dos piores

Os factos: Teixeira dos Santos foi avaliado pelo Financial Times em 2008 como o pior dos 19 ministros das Finanças da Zona Euro, em 2009 como o 15.º, ou seja o quinto pior, e em 2010 como o 16.º, ou seja o 4.º pior.

Os factos vistos pelos títulos da imprensa doméstica:
  • Os que não gostam do homem
    • «Teixeira dos Santos desce no "ranking" dos melhores ministros das Finanças» (Jornal de Negócios)
    • «Teixeira dos Santos é o 4º pior ministro das Finanças do ranking» (Agência Financeira)
    • «Teixeira dos Santos relegado quase para o final do "ranking"» (Público)
  • Os desalinhados
    • «Teixeira dos Santos em 16º lugar no ‘ranking’ do FT» (Diário Económico)
    • «Teixeira dos Santos está em 16º lugar no “ranking” do Financial Times» (ionline)
  • Os amigos
    • «Teixeira dos Santos é 16.º melhor ministro das Finanças» (Diário de Notícias)
    • «Teixeira dos Santos é 16º entre melhores 19 da Europa – FT» (Diário Digital)
    • «Teixeira dos Santos é o 16.º melhor ministro europeu das Finanças» (Lusa)
    • «Teixeira dos Santos é o 16.º entre os 19 ministros europeus» (Jornal Digital)
[Note-se que os amigos omitem que o ranking do FT é dos 19 ministros das Finanças da Zona Euro]

06/12/2010

Mitos (25) – o Estado Sucial, a criação de emprego e o nepotismo

As microempresas (menos de 10 trabalhadores) criaram nos primeiros 3 trimestres deste ano mais de 30 mil empregos. Qual o papel do governo na criação deste emprego? Nenhum. O objectivo atribuído pelo governo a si próprio no programa 2005-2009 foi «recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura». A realização do governo durante a legislatura consistiu em acrescentar mais 150.000 postos de trabalho perdidos aos da legislatura anterior.

Onde os governos do PS (e do PSD) se têm mostrado prolixos é na invenção de postos de trabalho nas empresas públicas na época de eleições, como demonstrou o estudo «Cronyism» de Pedro S. Martins da Queen Mary University of London.

SERVIÇO PÚBLICO: «The avoidance of taxes is the only intellectual pursuit that still carries any reward»

A Pricewaterhouse Coopers, em colaboração com o Banco Mundial e a International Finance Corporation, publicou há 3 semanas o estudo Paying Taxes 2011 - The global Picture sobre o impacto dos sistemas fiscais nos negócios. O estudo baseia-se numa empresa case study em cada um de 183 diferentes países. A posição de Portugal no ranking, nos 4 factores principais considerados, é a seguinte:
  • Facilidade de pagamento de impostos ................. 106
  • Número de pagamentos (8 por ano) ..................... 15
  • Tempo necessário (298 horas) ........................ 126 (23 na EU)
  • Taxa total(*)(43,3% em Portugal) .................... 106 (12 na UE)
(*) Em % do lucro no 2.º ano de operação

Este é o resultado medíocre, em termos relativos, das «reformas» socráticas (PRACE, Simplex, etc.). Pagando muito, complicando muito e consumindo imenso tempo, valha-nos ao menos que temos que pagar poucas vezes.

[O pensamento bastante cínico citado no título é, surpreendentemente, do patrono dos Pastorinhos da Economia dos Amanhãs que Cantam - John Maynard Keynes.]

05/12/2010

BLOGARIDADES: zelo escarafunchante

Por uma questão de higiene mental, não costumo frequentar o blogue jugular, nem muitos outros da mesma família. Não tem a ver com princípios, nem com a doutrina predominante nesses blogues. É mais a atitude, o jacobinismo doentio que os ensopa. Por isso, só cheguei ao post «cavaco vintage» da dona Fernanda Câncio via um link.

Sem surpresa, o post é uma coisa doentia. Um escarafunchar pidesco da ficha da PIDE de Cavaco Silva. Revela mais de quem escarafuncha do que do escarafunchado, uma pessoa conformada e integrada no regime como 99% dos portugueses que viveram durante a ditadura. À conformidade com que conviveu com a ditadura sucedeu-se a adesão à democracia, como 99% dos portugueses. Muito mais do que Cavaco, multidões de portugueses conformados (e até colaboracionistas com o regime) converteram-se tão surpreendente, súbita e entusiasticamente nos meses seguintes, durante o PREC, deixando o país tão coalhado de norte a sul de revolucionários, que eu ainda hoje não percebi como a ditadura sobreviveu 48 anos sem grandes perturbações.

É um desperdício de zelo escarafunchante, muito melhor empregado no atoleiro que submerge a governação portuguesa dos últimos anos.

04/12/2010

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: PT, uma rameira do regime - o epílogo do fundo de pensões

aqui escrevi sobre a transferência do fundo de pensões da PT para a segurança social com o propósito de encher um pouco do buraco do défice. Segundo a estimativa a olho por cento que então fiz, a insuficiência de cobertura do financiamento das responsabilidades do fundo não será inferior a 1,4 mil milhões de euros, dando de barato que os dados actuariais são fiáveis (não devem ser) e que a taxa de desconto adoptada de 5,5% seja atingível pela rentabilidade dos activos do fundo (nem por milagre).

O acordo entre o governo e a administração da PT ficou fechado na 5.ª feira por 2,8 mil milhões, um valor muito abaixo do valor total actual das responsabilidades com pensões. É um excelente negócio para a PT e os seus accionistas que se viram livres de responsabilidades por um preço mais de mil milhões de euros abaixo do custo provável e é um péssimo negócio para a segurança social, isto é para os actuais e futuros pensionistas.

É mais uma operação a adicionar aos desastres das transferências de responsabilidades para a CGA desde 1996 cujos fundos, segundo as estimativas do Tribunal de Contas, já têm valores inferiores em 1,3 milhões aos da constituição. É a consequência do aumento das pensões, da redução das contribuições e das menos-valias registadas nos activos. O quadro seguinte publicado ontem pelo Sol é bastante elucidativo a este respeito.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (32) – mobilidade social socialista

Ainda há quem critique a falta de mobilidade social socialista. Veja-se o exemplo de Rui Pedro Soares o peão de brega de José Sócrates na tourada da tentativa de assalto à TVI e em outros pequenos serviços.

[Fonte: jornal Sol de 3-12]

03/12/2010

Agradecimento e parabéns à Grande Mãe Rússia / Спасибо и поздравления к великой матери России

A nossa gratidão à Grande Mãe Rússia já era incomensurável. Foi a primeira grande experiência de construção do Estado Socialista a desabar e, assim, a demonstrar a inviabilidade das doutrinas marxistas-leninistas e o falhanço histórico do comunismo como sistema de organização política, social e económica.

A essa enorme gratidão à Grande Mãe Rússia, devemos hoje acrescentar o agradecimento pela apresentação da candidatura ao Mundial 2018, protagonizada pelos camaradas presidentes Putin e Medvedev. Os agradecimentos são extensivos ao presidente Joseph Blatter e ao comité executivo da FIFA por terem escolhido a Grande Mãe Rússia para realização do Mundial 2018.

Assinado / подписей
Impertinente / Дерзкий_____________________________ Pertinente / Уместный

DIÁRIO DE BORDO: outro homem que faz falta

Ernâni Lopes, um homem de uma espécie rara - a dos homens corajosos e frontais.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Basílio Horta promovido a ministro anexo

Secção A título (quase) póstumo

«Perante esta situação, eu acho que a Comissão Europeia devia ter alguma prudência e alguma discrição quando analisa o futuro. Porque quem se enganou tanto no presente, deve ter algum cuidado em relação ao futuro.» Foram estas as palavras sábias do presidente da AICEP Basílio Horta, criticando a alegada falta de rigor das previsões da Comissão Europeia. Palavras que não se ouviram a propósito dos estrondosos falhanços das previsões do governo nos últimos 6 anos de crescimento do PIB, do défice do OE, do desemprego e, em geral, de quase todas variáveis económicas, sem esquecer os inúmeros fins da crise anunciados por José Sócrates e os seus ministros.

Por isso, com um atraso quase irremediável, é justo promover Basílio Horta a ministro anexo (*), agora que o original está exilado em Frankfurt, e atribuir-lhe quatro chateaubriands pelo esquecimento e 3 bourbons pela habitualidade.

(*) Segundo o Glossário, o ministro anexo, ou da 25.ª hora, é um ministro que não é ministro, mas um oráculo, que concede avales escritos em economês, juridiquês ou noutro dialecto, às promessas de amanhãs que cantam do governo. Exemplo: o doutor Constâncio (d'après doutor Louçã).

Estado empreendedor (38) – fazendo o lugar do outro

Pode-se discutir quais deveriam ser as prioridades do primeiro-ministro dum país endividado e descredibilizado em que a justiça não funciona, o ensino tem uma aterradora falta de qualidade, e a economia exaure-se a sustentar um Estado pletórico e ineficiente. Haverá certamente mais opiniões do que portugueses. Ficámos a saber qual a opinião de José Sócrates sobre as suas prioridades: viajar até Zurique, Frankfurt e Buenos Aires para promover o sector exportador nacional e passar na volta por Madrid para promover a candidatura ibérica ao campeonato do mundo de futebol de 2018.

[Contaram-me em tempos uma história sobre um «axioma do lugar do outro» inventado para explicar o comportamento dos directores duma empresa pública onde cada um tentava fazer o papel do outro, na esperança de ficar com os louros se corresse bem. Se corresse mal, a coisa poderia sempre ser atribuída ao outro que detinha o lugar. Enquanto isso, cada um ignorava as responsabilidade do seu próprio lugar, na esperança que se corresse bem – o que poderia acontecer, sabendo-se que é preferível ficar quieto a fazer asneiras – ficaria também com os louros. Se corresse mal, sempre teria a desculpa de se ter ocupado a fazer o lugar do outro.]

02/12/2010

CASE STUDY: A situação portuguesa é diferente da irlandesa, mas nem sempre para melhor (3)

aqui e aqui se abordou esta temática e se concluiu que as diferenças não nos são de todo favoráveis, com excepção da grave situação de descapitalização dos bancos irlandeses.

Uma das vantagens identificadas da Irlanda relativamente a Portugal foi o défice do comércio externo que nos últimos anos tem sido sempre inferior ao português. Foi um défice, mas já não é. Este ano está previsto um superavit equivalente a 20% do PIB contra o nosso défice próximo dos 10%, mais coisa menos coisa. É claro que sempre se pode dizer, e é verdade, ser o superavit do comércio externo irlandês conseguido à custa duma taxa de imposto sobre os lucros de 12,5%, atractiva para as multinacionais cujas subsidiárias exportam a partir da Irlanda. Para tirarem vantagem dessa taxa, essas multinacionais adoptam uma alocação de custos de forma a maximizarem os lucros dessas subsidiárias, os quais irão ser repatriados deteriorando a balança corrente - no caso irlandês tem apresentado sistematicamente défice.

Sempre se pode dizer isso, mas não se pode escamotear um benefício líquido que resulta do valor da mão-de-obra irlandesa incorporado nessas exportações. Oxalá Portugal pudesse trocar um défice na balança corrente (que aliás já existe) por um superavit na balança comercial (que aliás nunca existiu).

01/12/2010

Bons exemplos (6)

Tom Delay foi membro do congresso americano de 1984 a 2006 e líder da maioria republicana de 2003 a 2005, uma espécie de um Miguel Macedo (sem ofensa) cruzado com um António Preto (sabe-se agora). Foi também um poderoso político durante a administração Bush e, não por acaso, tinha a alcunha de «The Hammer» – uma espécie de Santos Silva - se fosse cá seria chamado de O Malhador. Toda a influência e poder não o impediram, após 3 semanas de julgamento – se fosse cá seriam 3 anos - de ser condenado por um tribunal do Texas por financiamento ilegal do partido Republicano. Estavam em causa USD 190 mil, montante que, por cá, nem chegaria para aquecer os motores partidários. A pena pode ser a prisão perpétua – se fosse cá, na pior e improvável hipótese, a coisa resolvia-se com uma pena de prisão remível com uns cobres.

As justiças são todas iguais, mas há umas mais iguais do que outras.