28/02/2010

O (IM)PERTINÊNCIA FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o pesadelo premonitório

Eu tive um sonho

Traumatizado pelo estado de desertificação das serras do interior da Ilha da Madeira, muito especialmente da região a Norte do Funchal e que constitui as bacias hidrográficas das três ribeiras que confluem para o Funchal, dando-lhe aquela fisiografia de perfeito anfiteatro, aliado a recordações da infância passada junto à margem de uma das mais torrenciais dessas ribeiras – a de Santa Luzia – o mundo dos meus sonhos é frequentemente tomado por pesadelos sempre ligados às enxurradas invernais e infernais dessa ribeira. Tive um sonho.

Adormecendo ao som do vento e da chuva fustigando o arvoredo do exemplar Bairro dos Olivais Sul onde resido, subia a escadaria do Pico das Pedras, sobranceiro ao Funchal. Nuvens negras apareceram a Sudoeste da cidade, fazendo desaparecer o largo e profundo horizonte, ligando o mar ao céu. Acompanhavam-me dois dos meus irmãos – memórias do tempo da Juventude – em que nós, depois do almoço, íamos a pé, subindo a Ribeira de Santa Luzia e trepando até à Alegria por alturas da Fundoa, até ao Pico das Pedras, Esteias e Pico Escalvado. Mas no sonho, a meio da escadaria de lascas de pedra, o vento fez-nos parar, obrigando-nos a agarrarmo-nos a uns pinheiros que ladeavam a pequena levada que corria ao lado da escadaria. Lembro-me que corria água em supetões, devido ao grande declive, como nesses velhos tempos. De repente, tudo escureceu. Cordas de água desabaram sobre toda a paisagem que desaparecia rapidamente à nossa volta. O tempo passava e um ruído ensurdecedor, semelhante a uma trovoada, enchia todo o espaço. Quanto durou, é difícil calcular em sonhos. Repentinamente, como começou, tudo parou; as nuvens dissiparam-se, o vento amainou e a luz voltou. Só o ruído continuava cada vez mais cavo e assustador. Olhei para o Sul e qualquer coisa de terrível, dantesco e caótico se me deparou. A Ribeira de Santa Luzia, a Ribeira de S. João e a Ribeira de João Gomes eram três grandes rios, monstruosamente caudalosos e arrasadores. De onde me encontrava via-os transformarem-se numa só torrente de lama, pedras e detritos de toda a ordem. A Ribeira de Santa Luzia, bloqueada por alturas da Ponte Nova – um elevado monturo de pedras, plantas, arames e toda a ordem de entulho fez de tampão ao reduzido canal formado pelas muralhas da Rua 31 de Janeiro e da Rua 5 de Outubro – galgou para um e outro lado em ondas alterosas vermelho acastanhadas, arrasando todos os quarteirões entre a Rua dos Ferreiros na margem direita e a Rua das Hortas na margem esquerda. As águas efervescentes, engrossando cada vez mais em montanhas de vagas espessas, tudo cobriram até à Sé – único edifício de pé. Toda a velha baixa tinha desaparecido debaixo de um fervedouro de água e lama. A Ribeira de João Gomes quase não saiu do seu leito até alturas do Campo da Barca; aí, porém, chocando com as águas vindas da Ribeira de Santa Luzia, soltou pela margem esquerda formando um vasto leito que ia desaguar no Campo Almirante Reis junto ao Forte de S. Tiago. A Ribeira de S. João, interrompida por alturas da Cabouqueira fez da Rua da Carreira o seu novo leito que, transbordando, tudo arrasou até à Avenida Arriaga. Um tumultuoso lençol espumante de lama ia dos pés do Infante D. Henrique à muralha do Forte de S. Tiago. O mar em fúria disputava a terra com as ribeiras. Recordo-me de ver três ilhas no meio daquele turbilhão imenso: o Palácio de S. Lourenço, A torre da Sé e a fortaleza de S. Tiago. Tudo o mais tinha desaparecido – só água lamacenta em turbilhões devastadores.

Acordei encharcado. Não era água, mas suor. Não consegui voltar a adormecer. Acordado o resto da noite por tremenda insónia, resolvi arborizar toda a serra que forma as bacias dessas ribeiras. Continuei a sonhar, desta vez acordado. Quase materializei a imaginação; via-me por aquelas chapas nuas e erosionadas, com batalhões de homens, mulheres e máquinas, semeando urze e louro, plantando castanheiros, nogueiras, pau-branco e vinháticos; corrigindo as barrocas com pequenas barragens de correcção torrencial, canalizando talvegues, desobstruindo canais. E vi a serra verdejante; a água cristalina deslizar lentamente pelos relvados, saltitando pelos córregos enchendo levadas. Voltei a ouvir os cantares dolentes dos regantes pelos socalcos ubérrimos das vertentes. Foram dois sonhos. Nenhum deles era real; felizmente para o primeiro; infelizmente para o segundo.

Oxalá que nunca se diga que sou profeta. Mas as condições para a concretização do pesadelo existem em grau mais do que suficiente.
Os grandes aluviões são cíclicos na Madeira. Basta lembrar o da Ribeira da Madalena e mais recentemente o da Ribeira de Machico. Aqui, porém, já não é uma ribeira, mas três, qualquer delas com bacias hidrográficas mais amplas e totalmente desarborizadas. Os canais de dejecção praticamente não existem nestas ribeiras e os cones de dejecção etão a níveis mais elevados do que a baixa da cidade. As margens estão obstruídas por vegetação e nalguns troços estão cobertas por arames e trepadeiras. Agradável à vista mas preocupante se as águas as atingirem. Estão criadas todas as condições, a montante e a jusante para uma tragédia de dimensões imprevisíveis (só em sonhos).

Não sei como me classificaria Freud se ouvisse este sonho. Apenas posso afirmar sem necessidade de demonstrações matemáticas que 1 mais 1 são 2, com ou sem computador. O que me deprime, porém, é pensar que o segundo sonho é menos provável de acontecer do que o primeiro.

Dei o alarme – pensem nele.


Lisboa, 11 de Dezembro de 1984
Cecílio Gomes da Silva
Engenheiro Silvicultor

Artigo publicado no dia 13 de Janeiro de 1985 no jornal “Diário de Notícias” do Funchal

[Enviado por JARF]

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (9) – estará a espécie extinta?

As revelações das escutas do caso Face Oculta estão a alastrar como uma mancha de óleo sobre a política e o mundo dos negócios à portuguesa. Só se sabe que começou na sucata e não se sabe até onde chegará. Uma das últimas trapalhadas que emerge das escutas publicadas pelo Sol é o decreto à medida da Associação Nacional de Farmácias (ANF) que o animal feroz José Sócrates ajeitou depois de aprovado no conselho de ministro, pressionado pelos rugidos dum outro animal ainda mais feroz – o presidente vitalício da ANF. Foi mais uma entrada de leão no início de mandato ameaçando os lóbis, e muito especialmente o das farmácias, que terminou com uma saída de sendeiro, com concessões suspeitas, por processos suspeitos e por intermédio de criaturas suspeitas. Entrada de leão, como outras, por exemplo a entrada da avaliação dos professores que deu no que deu.

Outras trapalhadas desvendadas foram as manobras à volta do Taguspark que envolveram também Isaltino de Morais, num exemplo das virtualidades da traficância do bloco central no campo do negocismo parasitário.

Começa-se a duvidar que gente honrada possa ser tão estúpida ou distraída que, chegados onde estamos, ainda acredite em campanhas negras. Talvez devamos chegar à conclusão que a espécie está extinta dentro do PS.

«Este governo não cairá porque não é um edifício, sairá com benzina porque é uma nódoa.»
(Eça de Queirós)

27/02/2010

CASE STUDY: a confiança equívoca

O jornal i fez a seguinte pergunta a 50 luminárias «Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta, mantém a confiança no primeiro-ministro?». 21 criaturas responderam sim, 16 criaturas responderam não e 11 nim. Não me perguntem o que foi feito às 2 criaturas que faltam – pode ser um défice de numeracia da redacção do i – mas podem perguntar-me como explicar que 21 em 48 delas ainda possam acreditar no homem. A resposta simples é: são os novos situacionistas. A resposta complicada vem a seguir.

Cinco (Alípio Dias, Germano Marques da Silva, João Duque, Elvira Fortunato, Loureiro dos Santos) dessas 21 criaturas acreditam até prova em contrário e delegam o juízo deles nos juízes, o que é extraordinário, sendo a confiança algo pessoal e intransmissível.

Pelo menos sete dos 21 não podiam dizer outra coisa por razões de carreira (Luís Nazaré, Emídio Rangel, Delmiro Carreira), fidelidade a terceiros interessados (Eduardo Barroso), de interesses de negócio adquiridos (Joe Berardo) ou a adquirir (Horário Roque sonhando com o banco postal, Soares Franco sonhando com obras).

Em três das 21 respostas que o jornalista considerou sim, os inquiridos responderam coisas como:
  • «se não fosse a situação do país, diria que não» (Van Zeller)
  • «dar-lhe-ia mais uma oportunidade» (João Reis)
  • «a sua credibilidade está seriamente abalada» (Júlio Machado Vaz)
A duas criaturas foi creditado o sim só porque o jornalista não conseguiu apanhar a ironia, em respostas como as seguintes:
  • «Confio. Posso dizer que a minha confiança em Sócrates se mantém inalterada desde que descobri que ele não é de confiança.» (Luís Pedro Nunes)
  • «Sim, porque Sócrates não tem culpa que o tio lhe chame Joselito nas televisões. Mário crespo só está interessado em entrevistar o Lobo Antunes e o Medina Carreira. Para além disso, todos sabemos que na Universidade Independente os cursos de inglês são melhores que os do Wall Street Institute» (Fernando Alvim)
É bastante significativo que enquanto os não são todos claros e sem reservas, entre 16 sim que sobram dos equívocos do jornalista na classificação apenas sete são claros e sem reservas (Luís Nazaré, Eduardo Barroso, Inês Pedrosa, Pais do Amaral, Emídio Rangel, Delmiro Carreira, Octávio Machado) e, destes sete, quatro são da casa.

Direitos adquiridos

Direitos adquiridos, define-se no Glossário, são direitos que os seus detentores pretendem manter, essencialmente à custa dos que os não podem adquirir, por já terem sido adquiridos. Pertencem à categoria das chamadas conquistas de Abril e são as nossas vacas sagradas.

Exemplo: 324 empregados da Galp Energia tiveram o ano passado os seus postos de trabalho «eliminados», para usar a linguagem bélica do Jornal de Negócios, levando para casa indemnizações que totalizarem 17,2 milhões de euros ou 53 mil euros por cabeça, ou seja mais do que o volume anual de salários duma empresa média (considerando 1,2 milhões de empresas de todas as dimensões que pagaram em 2007 38,5 mil milhões de euros – cfr dados do INE).

26/02/2010

BREIQUINQUE NIUZ: Henrique Granadeiro, primeiro-ministro executivo?

«Henrique Granadeiro é que convidou Rui Pedro Soares para a administração da Portugal Telecom, em 2006, afirmou hoje o ex-administrador da PT na comissão parlamentar de Ética. Mais uma vez em relação ao convite, remeteu para Henrique Granadeiro as explicações. Rui Pedro Soares garantiu, ainda, que "nunca foi representante do Estado na comissão executiva nem isso foi considerado como tal em momento anterior a estas três semanas".» (Jornal de Negócios)

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (8) - no pasa nada

«Sinto-me chocado por haver pessoas responsáveis do PS a dizer que não se passa nada … Isto faz-me lembrar o Iraque, quando o ministro dizia que a situação era calma e o país estava a ser invadido», disse José António Saraiva, director do Sol, esta manhã à comissão de ética republicana, durante o seu relato das manobras da clique socrática.

Também me sinto chocado, mas não surpreendido, pelo comportamento do pessoal político do PS. Contudo, acho mal comparada a situação do Iraque a ser invadido pelos exércitos aliados com a de Portugal ocupado pelo pessoal do PS. Parecer-me-ia mais apropriada a comparação com a situação do Iraque ocupado pelo pessoal do partido Baath, antes da invasão.

DIÁRIO DE BORDO: em louvor dos especuladores nossos amigos

Imagine-se o que seria o inferno dos cidadãos de países como o nosso ou a Grécia ou a Espanha (para não citar outros continentes) com governos socialistas (ou despesistas, que é um conceito um pouco mais abrangente, onde sem esforço podemos incluir o PSD) sem os especuladores. Sem eles, os cidadãos seriam os sujeitos passivos de políticas de despesa públicas pantagruélicas, défices, endividamento e carga fiscal crescentes, ou seja o caminho para a servidão dos países em vias de subdesenvolvimento.

Os especuladores são os predadores dos mercados. Sentem o cheiro do sangue das feridas que os governos despesistas fazem derramar às economias e na primeira oportunidade atacam, aumentando os spreads e o custo dos CDS, tornando o peso da dívida insuportável e impondo (indirectamente) condições que forçam esses governos a serem demitidos ou a tomar medidas para conter a hemorragia do desperdício de recursos. Se não fossem eles, os nossos filhos e os nossos netos herdariam um passivo que jamais teriam condições de amortizar.

A encomenda (Sócrates chamou-lhe um figo)

Relida a esta distância, a entrevista de 7 de Agosto do ano passado de Luís Figo a um diário da manhã focado na informação económica (?), propriedade da Ongoing - a propósito releia-se a série de posts «quem é o deus ex machina da Ongoing?» -, sabido o que sabe a partir das escutas do Face Oculta, é absolutamente transparente, nomeadamente as 3 perguntas que são o leitmotiv da entrevista.

«Faz uma avaliação positiva deste governo?
Ainda há muita coisa a fazer, mas, visto de fora, faço uma avaliação muita positiva do trabalho deste Governo nos últimos quatro anos. No momento em que estamos com as eleições à porta, é preciso garantir a estabilidade e continuidade das decisões que foram tomadas, para que a entrada de um novo governo não signifique que se começa tudo outra vez do início. Não é positivo para o país estar sempre a mudar de rumo e de opções e é sempre necessário algum tempo para as coisas produzirem efeitos.

No seu entender, era desejável que o actual governo ganhasse as eleições legislativas?A implementação de algumas opções políticas não se faz em quatro anos. As pessoas também têm a consciência que algumas das opções foram erradas, porque ninguém é perfeito, mas, havendo mais quatro anos de governação, esses eventuais erros podem ser corrigidos. Aliás, sou defensor de governos com dois mandatos para podermos avaliar a governação.

Fica claro em quem vai votar no dia 27 de Setembro...
Sempre votei em pessoas e não em partidos políticos. Eu vejo a energia de José Sócrates, a capacidade empreendedora, e espero que continue a ter essa capacidade de mobilizar o país. Bem precisamos! »

25/02/2010

CASE STUDY: a China expôs (involuntariamente) a hipocrisia da Google

«Where Google’s new stance on China’s censorship and violation of dissidents’ privacy seems at odds with CEO Eric Schmidt’s recent statement that “If you have something that you don’t want anyone to know, maybe you shouldn’t be doing it in the first place,” an interesting implication of this statement about what information was compromised brings things back into expected focus. That sort of information is exactly the kind of thing that can legally be acquired by United States law enforcement agencies by way of a court order. This suggests that some part of the process of handing over private information to law enforcement personnel serving a court order has been automated, and that security crackers working for the Chinese government found a way to exploit that automated access

[Continuar a ler aqui e ler a entrevista de Bárbara Navarro ao ionline]

SERVIÇO PÚBLICO: a Cassete Sócrates segundo JM do Blasfémias

Estamos a fazer investimento público, como as barragens …” [as barragens são investimento privado. O Estado até recebe dinheiro pelas concessões]

optamos por um défice elevado em 2009 para combater a crise …” [não houve opção nenhuma. As receitas simplesmente caíram a pique]

usamos o défice para investimento público em barragens, hospitais, escolas …” [barragens foram pagas por privados, os hospitais por PPPs e as escolas por desorçamentação via Parque Escolar]

usamos o défice para combater a crise …” [o défice deve-se sobretudo a perda de receita]

já baixei o défice e sei como o fazer …” [de 2005 a 2007 baixou o défice à custa do aumento de impostos]

foi o défice que salvou o mundo do colapso financeiro …” [o défice americano foi usado para salvar empresas falidas e estimular a procura, o português nem isso. O défice português deve-se em primeiro lugar a perda de receita. Aumento das despesas com desemprego, aumento dos salários públicos também ajudaram. Só uma pequena fracção do défice é que serviu de estímulo keynesiano]

o défice salvou a banca …” [em Portugal faliram dois bancos, salvos pela CGD e por garantias públicas, mas nada disso contribuiu significativamente para o défice de 2009]

o endividamento externo resolve-se com energias alternativas … assim não precisamos de nos endividar para comprar petróleo” [energia eléctrica produz-se a partir de gás natural e não de petróleo. O país tem que endividar para importar geradores eólicos]

o saldo da balança tecnológica é positivo” [estamos a falar de um volume de exportações de 1000 milhões de euros (0.065% do PIB) e de um saldo de 65 milhões de euros (0.004% do PIB)]

Ninguém está inocente?

Aqui no (Im)pertinências não se dá muito crédito aos diários da manhã (nem ao PGR), mas como interpretar este alegado excerto do despacho do PGR de 18-11-2009:
«Rui Pedro diz a Paulo Penedos que foram vítimas de uma cilada e não sabe se identificaram todos os protagonistas. Foram enganados (?) Rui Pedro diz que a pessoa que mais sabia deste negócio, e não por ele, era a Manuela Ferreira Leite, mas enganou-se quando disse que o negócio estava feito, e o negócio devia estar feito uma hora antes
E, por falar em crédito, tem-me esquecido de perguntar se Santana Lopes recebeu ou não os cheques do sucateiro.

24/02/2010

BREIQUINGUE NIUZ: PCP e BE anunciam manif de solidariedade com vítima da ditadura?

«O prisioneiro político cubano Orlando Zapata Tamayo, de 42 anos, morreu ontem à noite, ao fim de 85 dias de greve de fome que iniciara como protesto contra as condições prisionais no país. … Tamayo, um canalizador oriundo da província de Holguin e membro da organização de defesa civil Directório Democrático cubano (ilegal), foi preso em 2003 e condenado a uma pena de 18 a 25 anos de prisão pelos crimes de desrespeito da ordem pública, desordem e resistência ao Governo da ilha.
A Amnistia Internacional classificou-o como um dos 58 “prisioneiros de consciência” em Cuba.»
(Público)

As coisas não estão tão más que não possam ainda piorar

Em quatro meses o juro das OT a 5 anos aumentou de 2,759% para 3,498% ou seja mais de 20 por cento. Isto significa que esta emissão de mil milhões de euros vai ter custo adicional durante os cinco anos de 36,95 milhões. Se a totalidade da dívida tivesse que ser refinanciada no mesmo prazo e à mesma taxa, o custo adicional em relação a Novembro do ano passado seria de praticamente 3 mil milhões de euros.

É uma visão catastrofista? De modo algum. Muito provavelmente os spreads irão aumentar ainda mais, bem como os CDS. Nem outra coisa poderia ser, face à falta de medidas efectivas para combater o défice e o aumento do endividamento – veja-se o governo a garantir que não aumenta a idade da reforma (a Alemanha, com um défice próximo dos 3%, já anunciou o aumento para 67 anos) nem sobe os impostos. Já nem se fala de reduzir a despesa corrente, coisa que o governo nunca conseguiu fazer. Resta, por isso, a contabilidade criativa e a desorçamentação, atirando para fora do OE o investimento público via PPP.

Ratos abandonando (sorrateiramente) o navio Sócrates

Geralmente os opinion makers percebem antes daqueles cuja opinion é made que a opinion vai mudar. O efeito erosivo que as inúmeras trapalhadas de José Sócrates têm tido na credibilidade do primeiro-ministro não é excepção. Enquanto os indefectíveis cerram fileiras e um terço da opinião publica continua a imaginar campanhas negras, os opinion makers vão criando as suas distâncias.

Quem imaginaria há umas semanas que o director dum diário da manhã, a propósito da entrevista a Miguel Sousa Tavares, pudesse escrever editoriais como este, em que se escrevem coisas como «… a divulgação de contradições sucessivas não está só a provocar um visível desgaste político a este Governo. Está a deixar o País mergulhado num ambiente cada vez mais inviável. E se isso continuar, Cavaco Silva poderá ver-se forçado a avaliar e decidir sem fazer cálculos políticos»?

Desgaste político? Ambiente inviável? Cavaco Silva forçado a decidir? O quê, santo deus?

23/02/2010

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: outra nódoa, desta vez na hipotética honra

Secção Com a verdade me enganas

Como aqui e aqui se relata, a PT injectou liquidez na Ongoing para ajudar a compra da Media Capital (já agora, usando os fundos das pensões dos empregados da PT). E quem foi o executor desta operação? O administrador da PT Fernando Soares Carneiro. O mesmo que ontem renunciou ao cargo com esta explicação:
«Não renuncio ao cargo de administrador da PT SGPS SA para defender a honra hipoteticamente manchada. Na realidade, a minha honra profissional é um bem sólido, com quase 40 anos de prestigiada carreira, e a minha honra pessoal é algo que eu não dou azo a que seja discutido na praça pública
Belas palavras que valem 3 chateaubriands pela confusão acerca das palavras honra e hipotética e 4 ignóbeis pela sua alegada participação na frustrada manobra.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: uma nódoa que se limpa e um ministo anexo que se perde

Secção Assault of thoughts

Destoando do discurso unanimista, laudatório e patrioteiro a propósito da nomeação política de Vítor Constâncio para vice-presidente do BCE, Morais Sarmento expressou na RR opiniões tão desagradáveis quanto verdadeiras:
«Acho que foi, na história do Banco de Portugal, uma nódoa. Uma nódoa na elevadíssima competência, no grau de capacidade e competência técnica a que o Banco de Portugal nos habituou … envergonha o Banco de Portugal, prejudicou objectivamente o país e, portanto, não é uma questão de estados de alma – é uma questão de, como português, manifestar a minha absoluta perplexidade, ainda que todos batam palmas por se tratar de um cargo estrangeiro … Eu não bato palmas».
Eu também não e atribuo a Morais Sarmento 3 afonsos pela sua franqueza. Teriam sido 5 se ele tivesse exprimido esta opinião um bocadinho mais cedo enquanto em pleno mandato de ministro anexo do doutor Constâncio .

Lost in translation (32) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer. (V)

Se a Caixa precisa de aumentar o capital para cumprir os critérios de Basileia II, qual o sentido de pagar ao OE como dividendo quase todo o resultado de 2009 (250 em 279 milhões de dividendos) para de seguida o OE entrar com 1,6 mil milhões de euros de capital? Simples, meu caro Watson. Os 250 milhões são receitas e os 1,6 mil milhões não são despesa, logo esta pequena criatividade abate 0,2% ao défice.

22/02/2010

DIÁRIO DE BORDO: José Sócrates, o maior de todos

Na entrevista a Miguel Sousa Tavares, José Sócrates mostrou uma vez mais que é entre os políticos portugueses no activo o mentiroso mais dotado e o de maior competência retórica, a grande distância de todos os outros. Acresce que tem um domínio quase absoluto da expressão corporal que lhe permite transmitir auto-confiança e aparência de autenticidade ao dizer a maior das mentiras com grande convicção. Não é por acaso que, depois de trapalhadas em que se envolveu, que teriam levado qualquer outro ao colapso psíquico, José Sócrates continua (a parecer) impávido. E não é por acaso que, depois de 5 anos de trapalhadas e de resultados da governação entre o medíocre e o catastrófico, consegue nas sondagens um saldo positivo de 6%, maior do que qualquer líder da oposição.

Habituem-se, porque não vai ser um qualquer aprendiz que tirará o lugar. Ele cairá sim, mas não por o empurrarem. Ele cairá quando o efeito devastador das suas políticas chegar aos bolsos do povo do Estado - os 5 milhões de funcionários públicos, empregados de empresas públicas e semipúblicas, reformados, desempregados, subsidiados, e respectivas famílias que dependem directa ou indirectamente do Estado Social em ruínas.

CASE STUDY: o simplex do combate à crise (2)

«Calar os traidores e afastar os pessimistas, denunciar a conspiração internacional» foram algumas das oportunas recomendações de Nuno Garoupa para «resolver o problema sem grandes custos sociais» que, pelo menos na Grécia, não caíram em orelhas moucas. Grécia cujos serviços secretos estão a procurar os responsáveis pelas desgraças gregas e já encontraram os culpados do costume: especuladores que terão vendido grandes volumes de dívida pública com o propósito de a recomprar a um preço mais baixo.

Não se sabe se os serviços secretos estão a investigar os propósitos dos especuladores quando compraram antes de vender, nem porque se dispuserem a enfrentar a certeza de perder dinheiro nessa venda em troca da incerteza de ganhar na compra seguinte que, para se realizar, teria que ser seguida de uma venda e, para que os especuladores ficassem numa posição mais favorável do que a inicial, seria necessário que a mais-valia realizada com a segunda venda fosse maior do que a menos-valia da primeira.

A defesa dos centros de decisão nacional (2)

Depois da Teixeira Duarte ter vendido todas as suas acções da Cimpor à Camargo, é agora a vez do Millenium bcp vender à CSN 10% detidos pelo fundo de pensões do seu pessoal. Se a Cimpor em vez de fabricar cimento fabricasse notícias já teríamos os instintos patrióticos do governo todos assanhados.

21/02/2010

Com amigos destes os países Bálticos e a Geórgia não precisam de inimigos

O presidente Sarkozy, um napoleão que chegará a um warterloo sem nunca ter tido um austerlitz, decidiu vender à Rússia o primeiro de um lote de 4 navios de assalto Mistral. Com 23.700 toneladas, 210 metros, podendo 2 transportar barcaças de desembarque, 30 helicópteros, 900 comandos, 13 tanques e muitos outros veículos blindando, o Mistral é evidentemente uma arma que serve para tudo menos para defender o imenso território do império do czar Putin.

SERVIÇO PÚBLICO: começou por ser saga, continuou como comédia e acabou como tragédia (II)

[Actualização da retrospectiva de 19-05-2009]

«A agenda económica do Governo tem como objectivo aumentar, de forma sustentada, o crescimento potencial da nossa economia para 3%, durante esta legislatura. Só com o crescimento da economia poderemos resolver o problema do desemprego e combater as desigualdades sociais. Portugal deve ter como objectivo recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura.»
[Programa de XVII Governo - CAPÍTULO I UMA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO PARA A PRÓXIMA DÉCADA, I. VOLTAR A ACREDITAR, 1. Uma estratégia mobilizadora para mudar Portugal, página 8]

Recuperar (do latim recuperare) verbo transitivo
Adquirir novamente
[Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo]

«Desde que iniciámos funções, a economia gerou 94 mil postos de trabalho. Não vejo nenhuma razão para que no próximo ano e meio não consigamos ter mais emprego e conseguirmos atingir o nosso objectivo.»
[José Sócrates em 15-02-2008, comentando a taxa de desemprego de 7,8% divulgada pelo INE]

Gerar (do latim generare) verbo intransitivo
Produzir, formar
[Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo]

«Desde Março de 2005 até ao final do segundo trimestre deste ano, a economia portuguesa criou 133 mil postos de trabalho.»
[José Sócrates em 18-08-2008]

Criar (do latim criare) verbo intransitivo
Originar, inventar, gerar, adquirir
[Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo]

«Um total de 27% dos 130 mil novos postos de trabalho que José Sócrates diz terem sido criados desde que chegou ao poder foram, na realidade, empregos arranjados no estrangeiro por residentes em território nacional
[Jornal de Negócios de 12-09-2008]

«Aquilo que pretendemos atingir é entre 80, 90 mil, 100 mil pessoas. Isso dá uma ideia da dimensão da resposta que precisamos e também da dimensão do problema.»
[ministro do Trabalho em Dezembro de 2008 ao Diário Económico (link convenientemente perdido]

«No mês de Janeiro inscreveram-se nos centros de emprego 70.334 trabalhadores, um aumento de 27,3% face ao mês homólogo de 2008 e de 44,7% quando comparado com Dezembro.»
[Diário Económico de 23-02-2009]

«Entre o primeiro trimestre de 2005, quando o Governo chegou ao poder, e o início de 2009, as empresas criaram menos de cinco mil postos de trabalho
[Jornal de Negócios de 15-05-2009]

«Em 2005 o engenheiro Sócrates tinha prometido criar 150 mil novos empregos. Infelizmente para todos os portugueses, o que acontece é que se nós compararmos estes números que foram divulgados com os do primeiro trimestre de 2005 é que temos 150 mil novos desempregados
[Miguel Frasquilho em 17-02-2010, comentando os números do INE divulgados nesse dia – ver quadro abaixo].

Mentir (do latim mentiri) verbo intransitivo
Apresentar como verdade o que é falsidade, induzir alguém em erro ou engano
[Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo]

20/02/2010

NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: Novos situacionistas

Novos situacionistas
Durante as quase 5 décadas que durou o salazarismo, os adeptos do «Regime», também conhecido por esses adeptos e pelos seus opositores como «Situação», eram, com toda a propriedade, chamados «situacionistas». É por isso que, igualmente com toda a propriedade, Helena Matos escreveu, referindo-se aos instalados no aparelho socialista, «os contestatários dos anos 60, são agora a Situação». É, por isso, que também no (Im)pertinências já se tinha feito equivaler, ao menos como caricatura, o Estado Social ao Estado Novo, o Partido Socialista à União Nacional, as Juventudes Socialistas à Legião, o Socras ao Botas, ficando, por agora, ainda pendente a PIDE, que durante o marcelismo foi rebaptizada de DGS (Direcção-Geral de Segurança), um nome bastante aceitável no contexto do socratismo.

Lost in translation (31) os gregos são trafulhas e irresponsáveis sem remissão, queria Frau Merkel significar

O alemão é uma língua difícil (o meu amigo Impertinente confessou-me que tem milhares de horas de audição de língua alemã e as frases mais elaboradas que conseguiu dizer foram Pause von fünf Minuten zu rauchen, bitte e zum Flughafen, bitte). Quem sabe disso não fica surpreendido por Frau Merkel, em vez de chamar aos gregos trafulhas e irresponsáveis, ter dito a mesma coisa com uma frase em alemão ainda mais comprida que a sua tradução:

«Seria uma vergonha se se viesse a concluir que é verdade que bancos que já nos empurraram para a vertigem do abismo participaram na falsificação das estatísticas gregas»
Felizmente nem todos os alemães têm dificuldades com a língua. É caso de Otmar Issing ex-membro da administração do BCE, que citado pela Bloomberg disse (em inglês):

«Financial assistance for countries that violated the terms of their participation in EMU would be a major blow for the credibility of the whole framework
E assim se demonstra que a dificuldade da língua não explica tudo.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: os novos situacionistas

«Agora estão calados. Calados como nunca estiveram com Guterres ou sequer Soares. Fazem o pino para justificar o injustificável ou passam discretos a ver se descobrem algo em que possam pegar naqueles que não estão dentro do seu círculo (ou triângulo, se se preferir o imaginário maçónico onde muitos acabaram após a fase juvenil do ateísmo).

Eles, os contestatários dos anos 60, são agora a Situação. Sem Sócrates, que obviamente não é um deles, acaba-se a Situação, esta coisa que ninguém sabe o que é mas que se arrasta. Esta coisa em que se mergulha na dúvida, no boato, nos casos e em que os detentores do poder não se afirmam pelo que oficialmente fazem mas sim por conseguirem passar a mensagem de que não existe alternativa às suas pessoas.
»

Helena Matos, Os situacionistas.

Declaração de desinteresse: também fui contestatário dos anos 60 (e 70), onde de resto me cruzei com muitos dos actuais situacionistas; em minha defesa invoco que muitos deles nunca me enganaram e, quanto ao resto, desenganei-me em meados dos 70.

19/02/2010

Uma mulher com tomates

«Eu não sei se os senhores têm entendido que há aqui um resquício não só salazarista mas também colonizador», interrogou-se Felícia Cabrita na comissão de ética republicana. Os senhores deputados não têm entendido, porque eles não estão lá para entender seja o que for. A não ser talvez entenderem qual será a vontade do chefe, porque eles só lá estão porque os chefes, depois de muita porfia, aceitaram pô-los lá.

«Arranjaram um plano sórdido para denegrir a minha imagem com a colocação de determinadas notícias sobre a minha pessoa, insinuando relacionamentos com polícias e magistrados», disse, manifestando uma grande falta de respeito pelos senhores deputados, cuja ascensão ao parlamento se deve quase sempre a relacionamentos, não tanto com polícias e magistrados, mas com gente que não conseguiria sequer entrar para a polícia ou para a magistratura.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: o simplex do combate à crise

«Conhecidas as três razões da crise portuguesa, evidentemente que é fácil resolver o problema económico e sem grandes custos sociais. Basta calar os traidores e afastar os pessimistas, denunciar a conspiração internacional ou visitar os jornais importantes em Londres, como já fez o governo espanhol, insultar os investidores e os observadores económicos internacionais, como muito bem fizeram o nosso primeiro-ministro e o nosso Presidente da República. Uma vez superadas as três razões indicadas, teremos desenvolvimento e riqueza para todos. Como portugueses, devemos ajudar o Governo, desvalorizando os pessimistas e os derrotistas, ignorando os traidores e criticando a conspiração internacional. Devemos acreditar na política económica e financeira que prossegue o Governo, pois, como nos dizem cada dia, em breve estaremos certamente no pelotão da frente.

Tudo isto é demencial e irresponsável. Mas é a mensagem da propaganda dos governos socialistas em Portugal e em Espanha cada dia, nos jornais e nas televisões. Dizem as sondagens que muitos portugueses acreditam nisto. Ou querem acreditar nisto. Muitos ainda acham que vamos sair assim do abismo em que estamos metidos, culpando uns, insultando outros e negando a realidade. Boa sorte!
»

Nuno Garoupa, As três razões da crise portuguesa

Por falar nisto, aguardo ansiosamente a adesão da clique socrática à internacional socialista do sul da Europa para combater a «ofensiva neoliberal».

ESTADO DE SÍTIO: Não é crime, disse ele. E daí?

Depois de muitos meses de tergiversações sobre as razões do arquivamento das escutas no processo Face Oculta que envolveram Sócrates, o PGR Pinto Monteiro disse à Visão o que já deveria ter dito desde o dia em que mandou arquivar aquelas escutas: «eventuais propostas, sugestões, conversações sobre negociações que, hipoteticamente, tenham existido no caso em apreciação, não têm idoneidade para subverter o Estado de Direito». Traduzindo o juridiquês, nada feito porque, segundo a lei penal, só é crime o acto que como tal estiver tipificado e, segundo o PGR, aquelas eventuais acções não configuram nenhum crime previsto na lei, nomeadamente esses eventuais actos não são o que o procurador Marques Vidal concluiu que fossem - «crime de atentado contra o Estado de direito, previsto e punido no artigo 9.º da Lei 34/87 de 16 de Julho».

Por muito discutível que seja a coisa, e tudo indica que seja, não sou eu que a vou discutir. E, para dizer a verdade, a sua discussão por uma legião de leigos jornalistas, comentadores e bloguistas de todas as cores e feitios, evidencia bem o pântano ético em que se move a política portuguesa. Como se fosse indispensável que um acto seja crime para ser censurável num certo contexto de tempo, lugar e modo face a valores aceites como universais (ou pelo menos geralmente aceites nas sociedades civilizadas) e, por isso, com consequências políticas relevantes pelas quais os governantes têm que prestar contas.

Como se os cidadãos tivessem que se colocar debaixo da sotaina do sistema judicial para fazer juízos de valor ético e político sobre aqueles que os governam e para denunciar e questionar o abuso dos seus mandatos. Crime ou não crime, aquilo que a clique socratista levou a cabo foi uma perigosa tentativa para manipular a comunicação social de que a assembleia e o presidente da República deveriam retirar as devidas consequências políticas e constitucionais.

18/02/2010

Está confirmada. Existe mesmo. (2)

À medida que os ratos mais afoitos ou com maior premonição abandonam o navio Sócrates, vamos percebendo a gigantesca dimensão do iceberg central de manipulação. O último rato a escapar foi o economista Carlos Santos que, tendo colaborado com o socratismo no período eleitoral, resolveu denunciar a «promiscuidade» entre o aparelho socrático e o aparelho de estado.

Não sendo propriamente uma novidade a osmose entre aqueles aparelhos, não deixa de ser profundamente significativo o critério de normalidade destes apparatchiks que o socratismo recrutou. Um deles, para justificar a impossível distinção entre os dois aparelhos e os papéis duplos que esses apparatchiks neles desempenham, explicou que «todos os bloggers sabem que quando alguém precisa de escrever um texto é normal pedir ajuda a pessoas conhecidas que sejam especialistas em determinadas matérias». Não explicou, contudo, que sob a designação de «especialistas» inclui secretários de estado, chefes de gabinetes e assessores de ministros pagos pelo dinheiro extorquido aos «sujeitos passivos» usando tempo e meios técnicos igualmente pagos pelos mesmos. Que isto seja considerado normal, mostra até que ponto a deriva socrática converteu um partido que ainda se considera democrático num aparelho leninista de assalto e manutenção do poder ao serviço duma clique.

17/02/2010

Está confirmada. Existe mesmo.

Desde 2006, quando o Impertinente criou a etiqueta «central de manipulação», já foram publicados 134 posts no (Im)pertinências com esta etiqueta. Até este vosso criado já usou a etiqueta dezenas de vezes. Poder-se-ia dizer que até ontem tal coisa não existia na «democracia asmática» (etiqueta com 10 posts) tutelada pelo engenheiro Sócrates. Não podia dizer-se, mas faltava a confirmação pelo quarto poder. Faltava mas já não falta. Hoje o Correio da Manhã dedicou várias peças à «central do governo».

«Assessores, chefes de gabinete, membros do Governo usaram o seu tempo, pago pelo erário público, instalações do Estado, meios informáticos públicos e informação privilegiada para fins de combate político. Como o CM demonstra nesta edição, o Governo alimentou blogues de campanha eleitoral daquela forma, mas também outros que antes e depois do tempo de eleições continuaram a ser a barriga de aluguer de argumentários e documentos pré-fabricados. Há preparação para responder a questões difíceis, por exemplo com perguntas e respostas sobre o caso BPN, ou manipulação de números sobre o investimento público, como o TGV

CASE STUDY: PIIGS, iguais mas diferentes ou diferentes mas iguais?

O governo, o PS e o PR, em vez de se excitarem com a patriótica indignação pela odiosa coligação entre os mercados, os especuladores e as agências de rating, deveriam reflectir sobre alguns factos desagradáveis. E deveriam fazê-lo por várias razões, a menos importante das quais não será certamente a mensagem subliminar que estão a transmitir aos agentes económicos domésticos, capitaneados por sucessivos governos, transferindo a responsabilidade pela libertinagem financeira para um conveniente inimigo externo.

O primeiro facto desagradável é que, não obstante as diferenças, os PIIGS (o segundo «I» é o da Irlanda, só para afastar o chauvinismo associado aos PIGS) têm de comum pelo menos um de três sérios problemas que concorrem para o risco de falência: défice orçamental excessivo, dívida pública excessiva e défice das contas externas.


O segundo facto desagradável, que fica patente nos gráficos acima, é que nem todos têm o mesmo número desses problemas, nem a mesma gravidade. Aparecem com todos eles a Grécia e Portugal. Com dois deles a Espanha (défices orçamental e das contas externas). Com apenas um a Itália (endividamento) e a Irlanda (défice orçamental).

O terceiro facto desagradável é a extensão e profundidade das medidas com que cada um dos governos se comprometeu. E aqui o único que se salva é a Irlanda que se comprometeu com o corte efectivo de 10% dos salários dos funcionários públicos. Todos os outros anunciaram propósitos e nenhuma medida significativa para eficazmente inverter a situação.


Não admira por isso que a odiosa coligação avalie diferentemente os PIIGS através dos spreads. Se há alguma coisa que a coligação talvez não esteja a avaliar suficientemente é o risco de Portugal comparativamente com a Irlanda. Voltamos a falar depois da apresentação do PEC e, para o acerto final das contas, falamos novamente em 2013, altura em que, aposto singelo contra dobrado, ficaremos a olhar a Irlanda com um binóculo.

[Gráficos: A very European crisis, Economist Feb. 4th]

CASE STUDY: mecenato político

Berardo tem uma notável folha de serviços prestados: participação no assalto ao Millenium bcp para o colocar na órbita do governo, ajuda à coligação PS-Espíritos para defender o castelo PT dos vândalos da Sonae, para só citar os mais mediáticos (*). Já se tinha proposto nessa altura para ficar com o ónus da golden share da PT, poupando ao governo as censuras de Bruxelas e oferecendo-se como escudo às investidas da oposição, a pretexto das manobras socráticas na tentativa de controlo da comunicação social. Tivesse o governo então aceite a generosa disponibilidade de Berardo e teria ficado muito mais abrigado. A generosidade de Berardo não tem limites e voltou agora a oferecer-se para comprar as acções preferenciais da PT. Tanto desvelo mostra que o homem nem é pobre nem é mal agradecido. Reconheça-se, contudo, que não será excessiva a gratidão pelo alojamento das suas peças no CCB, devidamente remunerado (meio milhão de euros em cada um dos 10 anos do acordo) e pela inestimável promessa de compra, se Berardo quiser vender, claro.

(*) Sem esquecer o seu talento para criar factos político-económicos, como o anúncio do petróleo em Aljubarrota.

15/02/2010

Óropa adopta uma das leis de Murphy

A semana passada o (Im)pertinências mudou o pensamento em curso para a conhecida lei de Rudin: «nas crises que forçam as pessoas a escolher entre cursos de acção alternativos, a maioria das pessoas escolherá o pior deles.» Não tínhamos em mente as soluções que o Conselho Europeu e a Comissão Europeia, ou melhor Angela Merkel, acolitada por Sarko, o napoleão que chegará a um warterloo sem nunca ter tido um austerlitz, estavam a congeminar para o problema dos crescentes riscos de falência por endividamento excessivo da Grécia, em primeira linha, e de Portugal, de Espanha e da Itália.

Em teoria e afastada a possibilidade de intervenção do Banco Central Europeu, pelo seu estatuto, as soluções possíveis seriam: a) não intervir, o obrigaria a Grécia a recorrer ao FMI e aceitar um apertado programa de austeridade de que no final resultaria o saneamento das finanças públicas gregas, o emagrecimento do estado e o surgimento de condições macroeconómicas mais sãs para sustentar uma retoma da economia; b) apoiar maciçamente a Grécia impondo condições semelhantes às do FMI, com um resultado que provavelmente ficaria a meio caminho, porque a UE não tem mecanismos, nem instituições independentes, nem know-how, nem ganas para fazer o papel do FMI; c) desdobrar-se em garantias de apoio, ninguém ainda sabe quais, nem quais as contrapartidas, que tranquilizam os mercados, baixam os spreads e os CDS e fazem o governo grego suspirar de alívio, tomar umas aspirinas e fazer umas quantas promessas que nunca cumprirá, emergindo dentro de 2 ou 3 anos em pior estado.

Ao enveredar por mais esta 3.ª via, a UE envia uma mensagem aos restantes países com problemas semelhantes à Grécia, aumenta o risco moral de mais falências e dá um tiro no pé. Pior é difícil.

DIÁRIO DE BORDO: o último dos clássicos filma fragmentos da vida do último dos heróis




I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
I am the master of my fate
I am the captain of my soul.

14/02/2010

Alguém pode explicar-me

Porquê, perante um governo liderado por um primeiro-ministro com um estilo visivelmente autocrático, os inquiridos no barómetro da Eurosondagem dão ao governo um saldo de -17,3%, entre apreciações positivas e negativas, só superado pelos juízes com -19,2%, e atribuem ao primeiro-ministro um saldo positivo de 6,0%? Um primeiro-ministro que escolheu os ministros, os seus ajudantes, que lhe vêm comer à mão, que não manifestam o mais tímido assomo de independência, um primeiro-ministro que define todas as políticas sectoriais, um político que está embaraçado há anos em múltiplas trapalhadas, que vão desde o início da sua carreira até às estórias da Face Oculta, passando, pela compra da casa, da obtenção da licenciatura, dos casos Cova da Beira, Freeport e o mais que se há-de ver.

Será o ressuscitar daquele sentimento próprio dum povo medroso, sempre pronto a pôr-se debaixo da asa protectora do Estado Novo, que no passado levava os portugueses a desculpar o Botas, explicando que era o governo, era a União Nacional, era a Legião, era a Pide, e que ele Botas, coitadinho, não sabia de nada, não tinha culpa e só queria o nosso bem? Se for assim, só temos que substituir o Estado Novo pelo Estado Social, a União Nacional pelo Partido Socialista, a Legião pelas Juventudes Socialistas, e o Botas pelo Socras, ficando de fora, por agora, a Pide, porque os secretas estão organizar-se e ainda não têm acesso aos dados do fisco.

Quem souber a resposta, favor informar para a caixa do correio do (Im)pertinências. Obrigado.

13/02/2010

DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (23)

Fiquei a saber que depois da liberalização do aborto pago o número de abortos aumentou mais de 50% entre o 2.º semestre de 2007 e o 1.º semestre de 2009 e que na Maternidade Alfredo da Costa quase 90% das mulheres que abortaram não usavam contraceptivos. Quem é que ficou surpreendido?

Exercícios anteriores de maiêutica em (0), (1), (2), (*), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21) e (22).
(*) O n.º 3 abortou.

Agradecimento por terem cumprido a obrigação

Os contribuintes deste humilde blogue agradecem aos polícias e magistrados que investigaram e ao Sol e aos seus jornalistas que revelaram a vasta teia que se preparava para transformar toda a media em diários da manhã.

Nestes tempos difíceis para a liberdade de expressão, em que o pau e a cenoura do governo castigam a desconformidade e premeiam a conformidade, é o mínimo que podemos fazer.

Impertinente               Pertinente

12/02/2010

BREIQUINGUE NIUZ: a censura prévia na era Sócrates

Segundo um diário da manhã [Diário de Notícias (*)] apparatchiks do PS em serviço na PT entregaram ao tribunal 3 providências cautelares para impedir o Sol de publicar as suas «conversações ou comunicações telefónicas».

(*) Estou a ver mal ou este diário da manhã começa a descolar do governo Sócrates perante os sinais de colapso?

ESTADO DE SÍTIO: la strategia del ragno

Para quem ainda duvida do grau de manipulação e controlo da comunicação social que os governos Sócrates I e II tentaram, e frequentemente alcançaram, recomenda-se a leitura do insuspeito diário da manhã Diário de Notícias. Aqui se descreve com algum pormenor como o Millenium bcp, capitaneado pela clique PS (Santos Ferreira e Armando Vara, reforçados com mais alguns apparatchiks) em comissão de serviço vinda da Caixa, preparou com a PT (capitaneada por um sempre disponível Zeinal Bava, acolitado por mais apparatchiks, com destaque especial para Rui Pedro Soares – o apanhado nas escutas), o assalto à TVI que passaria também pela compra de obrigações do BCP que fariam parte dum fundo da PT que seria utilizado para a compra da TVI.

Assim, se poria em prática o método socrático: «isto de a gente tentar comprar jornalistas é um disparate, porque a melhor forma de controlar a imprensa é controlar os patrões».

11/02/2010

Lost in translation (30) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer. (IV)

Segundo Miguel Frasquilho, que costuma saber do que fala nesta matéria, a alteração do método de orçamentação das despesas de pessoal compromete a comparabilidade do OE 2010 com o OE 2009 e configura mais uma «martelada». Segundo os números da Unidade Técnica de Apoio Orçamental, a diferença ultrapassa 4 mil milhões de euros.

Segundo João Duque, que também costuma saber do que fala nesta matéria, o valor actual líquido dos encargos com as PPP (o instrumento de desorçamentação preferido do governo Sócrates) referido no orçamento reduziu-se milagrosamente de 23,2 mil milhões de euros (15% do PIB) em Dezembro de 2008 para 8,5 mil milhões de euros no OE 2010. E onde foram parar os certamente mais de 15 mil milhões? Ou, para usar as palavras de João Duque, para onde se «sumiram … os encargos com as Concessões e Subconcessões Rodoviárias»?

Dão-se alvíssaras a quem os encontrar. «Eu engano-me, mas não engano».

Não havia necessidade

Henrique Granadeiro, presidente da PT, o homem que fala grosso nos momentos errados, expõe-se desnecessariamente desmentindo o óbvio (as pressões do governo) e tentando branquear Rui Pedro Soares, o apparatchik de Sócrates, de quem o Sol diz ter uma tença da PT de 2,5 milhões de euros por ano, encarregado de montar a operação de silenciamento do Jornal de Sexta da TVI através da compra duma participação na Media Capital. De caminho, ainda mais desnecessariamente, refere-se à «novela das escutas».

A defesa dos centros de decisão nacional

A Teixeira Duarte, cujos accionistas são conhecidos activistas dos «centros de decisão nacional», vendeu a totalidade das suas acções da Cimpor à brasileira Camargo. Assim se demonstra que a retórica sucumbe perante a falta de dinheiro.

E sucumbir é mau para o país? Não necessariamente. O pior de tudo ainda é o saco de gatos em que se tinha transformado a Cimpor. Seja como for, a venda e transmissão do controlo de empresas portuguesas será sempre o resultado inexorável do endividamento das empresas, dos accionistas, do governo e das famílias.

10/02/2010

BREIQUINGUE NIUZ: Ao fim de 5 anos, os caracóis estão a sair da casca. São os sinais do colapso?

Sócrates ligado à máquina (i online)

Sócrates, os ‘crimes’ e verdade (Expresso)

Director do "Sol": "A cúpula da justiça tentou camuflar escutas” (i online)

Lost in translation (29) – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer. (III)

Como se reduz a despesa pública corrente? Ou, mais exactamente, como se esconde o seu aumento? De muitas e variadas formas, como, por exemplo, pela transferência de funcionários do ministério da Saúde, e das respectivas verbas para o seu pagamento, para os hospitais com estatuto «empresarial». Como, por outro exemplo, atrasando a assinatura dos contratos das PPP no âmbito da saúde.

Eu engano-me, mas não engano.

CASE STUDY: as conversas privadas do primeiro-ministro

A explicação recorrente de José Sócrates e da sua clique de indefectíveis, por obrigação ou por devoção, quando falham as outras desculpas (não estava lá, não disse, disse outra coisa, é mentira, é uma calúnia, é uma campanha negra, é um assassinato de carácter, etc.) é: são conversas privadas.

Considerando que essas conversas privadas se referem a coisas geralmente consideradas públicas, como seja negócios e tráfico de influências envolvendo empresas cotadas, é-se levado a concluir que o primeiro-ministro vê a vida privada de José Sócrates como um biombo chinês atrás do qual se escondem os episódios ilícitos da sua vida pública.

09/02/2010

A atracção fatal entre a banca do regime e o poder (3)

A atracção dos Espíritos pelo(s) poder(es) já foi muitas vezes relevada no (Im)pertinências, quer por mim, aqui e aqui, por exemplo, quer pelo outro contribuinte, na série «quem é o deus ex machina da Ongoing?». Esta atracção abrange também, e até especialmente, o quarto poder. Nalguns casos é mediada pelos poderes fácticos (partidos, por exemplo) e exerce-se directamente através dos manipulados publicados pelos escribas do jornalismo de causas, noutros assume formas mais subtis.

Ainda recentemente, o editor de economia do Expresso insinuava, enquanto metia delicadamente o pau nos Espíritos, que o melhor seria não ir mais longe, deixando no ar reticências invisíveis. A coisa percebe-se melhor à luz da ocupação das páginas do Expresso pela publicidade espiritual: no último número em 10 páginas inteiras de publicidade, o BES ocupou 8 e a Caixa e o próprio Expresso ocuparam uma, cada. Imagina-se sem esforço que qualquer jornalista tem que pensar várias vezes antes de beliscar o sensível ego dos Espíritos, em qualquer altura e ainda mais na presente conjuntura de procura deprimida de publicidade.

08/02/2010

SERVIÇO PÚBLICO: Petição TODOS PELA LIBERDADE

O primeiro-ministro de Portugal tem sérias dificuldades em lidar com a diferença de opinião.

Esta dificuldade tem sido evidenciada ao longo dos últimos 5 anos, em sucessivos episódios, todos eles documentados. Desde o condicionamento das entrevistas que lhe são feitas, passando pelas interferências nas equipas editoriais de alguns órgãos de comunicação social, é para nós evidente que a actuação do primeiro-ministro tem colocado em causa o livre exercício das várias dimensões do direito fundamental à liberdade de expressão.

A recente publicação de despachos judiciais, proferidos no âmbito do processo Face Oculta, que transcrevem diversas escutas telefónicas implicando directamente o primeiro-ministro numa alegada estratégia de condicionamento da liberdade de imprensa em Portugal, dão uma nova e mais grave dimensão à actuação do primeiro-ministro.

É para nós claro que o primeiro-ministro não pode continuar a recusar-se a explicar a sua concreta intervenção em cada um dos sucessivos casos que o envolvem.

É para nós claro que o Presidente da República, a Assembleia da República e o poder judicial também não podem continuar a fingir que nada se passa.

É para nós claro que um Estado de Direito democrático não pode conviver com um primeiro-ministro que insiste em esconder-se e com órgãos de soberania que não assumem as suas competências.

É para nós claro que este silêncio generalizado constitui um evidente sinal de degradação da vida democrática, colocando em causa o regular funcionamento das instituições.

Assistimos com espanto e perplexidade a esse silêncio mas, respeitando os resultados eleitorais e a vontade expressa pelos portugueses nas últimas eleições legislativas, não nos conformamos. Da esquerda à direita rejeitamos a apatia e a inacção.

É a liberdade de expressão, acima de qualquer conflito partidário, que está em causa.

Apelamos, por tudo isto, aos órgãos de soberania para que cumpram os deveres constitucionais que lhes foram confiados e para que não hesitem, em nome de uma aparente estabilidade, na defesa intransigente da Liberdade.


TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Goebbles de si próprio

«O autoritarismo natural de Sócrates não basta para explicar essa aberração na essência inteiramente inexplicável. Tanto mais que ela o prejudica e dá dele a imagem de um homem inseguro e fraco. Pior ainda: de um homem desequilibrado e perigoso. A única hipótese plausível é a de que o primeiro-ministro vive doentiamente no mundo imaginário da propaganda. Ou melhor, de que, para ele, a propaganda substituiu a vida: Sócrates já não partilha ou nunca partilhou connosco, cidadãos comuns, a mesma percepção de Portugal.
[Vasco Pulido Valente no Público]

Não seria o primeiro, nem será o último. Um destes voltarei a este terreno das psicopatias na política.

Combate ao desemprego? Uns falam, outros agem!

«O segundo Governo de José Sócrates já nomeou 1361 pessoas desde que assumiu funções no final de Outubro.

Só para os gabinetes ministeriais já foram recrutadas 997 pessoas, 323 sem qualquer vínculo à Administração Pública. Estas são as principais conclusões que se podem retirar da pesquisa efectuada pelo PÚBLICO aos despachos publicados em Diário da República até à última sexta-feira.

Estes números significam que o Governo de José Sócrates já nomeou mais pessoas do que os de Santana Lopes e Durão Barroso. Após cinco meses em funções - data em que foi feito o primeiro balanço das nomeações do primeiro executivo PSD/PP - Durão Barroso e os seus 18 ministros e 34 secretários de Estado tinham efectuado 1260 nomeações, das quais 940 para os gabinetes (250 sem vínculo à Administração Pública).
»

[Público]

Títulos arrepiantes

«RAVE vende TGV português a Obama e Putin». Vender tecnologia que se domina, é para qualquer um. Vender equipamento de média ou alta tecnologia que se produz, é para muitos. Vender ilusões, isso não é para todos.

E as agências?

«Autarcas portugueses pedem demissão de Almunia ... não possuir capacidades para o desempenho das altas responsabilidades». Fazem eles muito bem. Não somos farinha do mesmo saco: nos últimos 200 anos só estivemos em incumprimento 20 e os gregos estiveram 50 anos. Joaquín põe-me esses olhos no exemplo dos nossos autarcas!

E as agências, senhores? Não podemos esquecer as agências!

Mais um que se junta ao coro

Hoje é a Fitch que mete no mesmo saco Portugal, Espanha e Grécia. É uma campanha negra contra o Estado português encabeçado por estadistas de grande visão e reconhecidos génios das finanças. Como diz o presidente Lula, são os cara de pele branca e olho azul que causaram a crise e que agora querem que seja paga pelos morenos. Porquê não falam da Irlanda? Por terem cortado 10% nos salários dos funcionários públicos? E a coesão social, senhores? Não interessa a coesão social?

CASE STUDY: a Madeira como região de culto


Nunca tinha pensado nisso, mas concordo absolutamente. A Madeira deveria ser um objecto de culto regional do colectivismo de direita - já é - e do colectivismo de esquerda - incompreensivelmente ainda não é. Para simplificar poderia escrever objecto de culto da esquerda, porque toda a esquerda é colectivista – o último anarquista de esquerda enforcou-se nas tripas do último anarquista de direita.

Não é um excelente exemplo de Estado Social a Madeira aqui retratada? O que falta então? Ataviar o Bokassa das Ilhas com a vulgata radical chic e inscrevê-lo no Berloque de Esquerda.

07/02/2010

BREIQUINGUE NIUZ: comunicação ao País do PR anunciando a demissão do governo e a dissolução da AR

Hackers amigos contam-me (mas a gente sabe que hackers a contarem intrusões são parecidos com pescadores a contarem pescarias) que, aproveitando uma falha na segurança dos servidores da Presidência da República, conseguiram ter acesso ao draft duma comunicação ao País que poderia ter lugar nos próximos dias, na sequência das gravíssimas revelações do jornal Sol de ontem. Eis alguns excertos em absoluto exclusivo:

Desde a posse do XVII Governo Constitucional, e depois de lhe ter assegurado todas as condições necessárias para o desempenho da sua missão, o País assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo e a sua capacidade para enfrentar a crise que o País vive.


A sucessão negativa desses acontecimentos impôs uma avaliação de conjunto, e não apenas de cada acontecimento isoladamente. Foi essa sucessão que criou uma grave crise de credibilidade do Governo, que surgira como um Governo sucedâneo do anterior, e relativamente ao qual, por conseguinte, as exigências de credibilidade se mostravam especialmente relevantes, e, como tal, tinham sido aceites pelo Primeiro Ministro. Aliás, por diversas vezes e por formas diferentes, dei sinais do meu descontentamento com o que se estava a passar.


A persistência e mesmo o agravamento desta situação inviabilizou as indispensáveis garantias de recuperação da normalidade e tornou claro que a instabilidade ameaçava continuar, com sério dano para as instituições e para o País, que não pode perder mais tempo nem adiar reformas.
Criou-se uma instabilidade substancial que acentuou a crise na relação de confiança entre o Estado e a sociedade, com efeitos negativos na posição portuguesa face aos grandes desafios da Europa, no combate pelo crescimento e pela competitividade da economia, na solidez e prestígio das instituições democráticas.


A insustentável situação a que se chegou – e que certos comportamentos e reacções dos últimos dias só têm contribuído para confirmar – mostra que as tendências de crise e instabilidade se revelaram mais fortes que o Governo e a maioria parlamentar, que se tornaram incapazes de as conter e inverter. Neste quadro, que revelou um padrão de comportamento sem qualquer sinal de mudança ou possibilidade de regeneração, entendi que a manutenção em funções do Governo significaria a manutenção da instabilidade e da inconsistência. Entendi ainda que se tinha esgotado a capacidade da maioria parlamentar para gerar novos governos.


Assim, e face a uma situação cuja continuação seria cada vez mais grave para Portugal, entendi, em consciência, que só a dissolução parlamentar representava uma saída.


Após as eleições, que têm, aliás, como vantagem alargar para quatro anos o horizonte do Governo que delas resultar, espero que seja possível encarar com mais determinação o grave problema orçamental que o País tem para resolver.

ESCLARECIMENTOS:
O texto acima é obviamente falso, ou melhor são excertos obviamente verdadeiros da comunicação ao País de 10 de Dezembro de 2004 do doutor Jorge Sampaio, anunciando o fim do XVI governo de Santana Lopes, por umas ridículas trapalhadas. Se o PR em exercício tivesse o mesmo critério, teria razões todos os meses para demitir o XVII governo e nem sequer dar posse ao XVIII.

Este post já havia sido publicado em Novembro e poderia continuar a sê-lo todos os dias, porque todos os dias o governo Sócrates dá pretextos a Cavaco Silva para o dissolver. Só que, infelizmente para o país, faltam ao actual presidente até os poucos guts do anterior e sobra-lhe o calculismo eleitoral que não consegue disfarçar.

A qualidade dos drunfos deixa muito a desejar

Tenho um amigo, uma criatura sobredotada, professor de engenharia, com uma vasta cultura, que, não obstante não ganhar nada com isso, é o que poderia chamar um prosélito de José Sócrates. Não me perguntem porquê. Nunca consegui perceber e ainda menos explicar. Até há pouco tempo esse amigo explicava as cada vez mais evidentes falhas de carácter, que ele abominaria noutros políticos, pelas «campanhas negras». Nos seus momentos de maior lucidez, quando confrontado com situações por demais evidentes, esse meu amigo costuma desculpá-lo explicando que as pressões que ele e a sua corte têm de enfrentar só se suportam à custa de drunfos.

Vem isto a propósito, em geral, das últimas semanas de desvario deste governo e, em particular, da afirmação do ministro das Finanças Teixeira dos Santos que o país está a ser vítima do «espírito animalesco dos mercados», a propósito do que ele parece ver como uma conspiração do comissário Almunia conluiado com as agências de rating. Vindo esta anedota involuntária de um professor de economia, admirador (por equívoco, creio eu) de Keynes, referir-se aos «animal spirits» dessa maneira e a esse propósito, se a tese justificativa do meu amigo estiver correcta, leva-me a concluir que a qualidade dos drunfos deixa muito a desejar.

06/02/2010

ESTADO DE SÍTIO: espera-se a todo o momento uma fatwa

Depois dos anátemas de Manuela Moura Guedes, José Manuel Fernandes e Mário Crespo, entre vários outros jornalistas excomungados, espera-se para breve uma فتوى do Grande Mufti sobre a jornalista Felícia Cabrita. Será um mero exercício antes da fatwa sobre José António Saraiva.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (7) - «crime de atentado contra o Estado de direito»

O 1.° despacho do procurador João Marques Vidal

«Nas intercepções telefónicas autorizadas e validadas neste inquérito, em diversas conversações surgiram indícios da prática de outros crimes para além dos directamente em investigação nos autos, tendo sido decidido genericamente que se aguardaria pelo desenvolvimento da investigação com vista a garantir o máximo de sigilo e eficácia, excepto se as situações decorrentes destes conhecimentos, pela sua gravidade e circunstâncias, exigissem o desenvolvimento de diligências de investigação autónomas que impusessem a imediata extracção de certidão.

Sucede que do teor das conversações interceptadas aos alvos Paulo Penedos e Armando Vara resultam fortes indícios da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo para interferência no sector da comunicação social visando o afastamento de jornalistas incómodos e o controlo dos meios de comunicação social, nomeadamente o afastamento da jornalista Manuela Moura Guedes, da TVI, o afastamento do marido desta e o controlo da comunicação do grupo TVI, bem como a aquisição do jornal Público com o mesmo objectivo e, por último, mas apenas em consequência das necessidades de negócio, a aquisição do grupo Cofina, proprietário do Correio da Manhã.


Face ao disposto nos artigos 2.º e 38.º n.º 4 da Constituição da República Portuguesa, art. 10.º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e artigos 4.° e 6.° da Lei da Televisão (Lei 27/2007 de 30 de Julho), que a seguir se transcrevem, o envolvimento de decisores políticos do mais alto nível neste esquema» (expressão empregue por Armando Vara em 21-06-2009) de interferência na orientação editorial de órgãos de comunicação social considerados adversos, visando claramente a obtenção de benefícios eleitorais, atinge o cerne do Estado de Direito Democrático e indicia a prática do crime de atentado contra o Estado de direito, previsto e punido no artigo 9.º da Lei 34187 de 16 de Julho Crimes da Responsabilidade dos Titulares de Cargos Políticos.


Encontram-se preenchidos os dois critérios acima referidos relativos à necessidade de autonomização da investigação, a saber, o da gravidade do ilícito e o de as circunstâncias imporem a realização de diligências de investigação autónomas (diligências que pela sua natureza não possam ser proteladas).
A gravidade do ilícito que na essência consiste na execução de um plano governamental para controlo dos meios de comunicação social visando limitar as liberdades de expressão e informação a fim de condicionar a expressão eleitoral através de uma rede instalada nas grandes empresas e no sistema bancário (referida nas intercepções como composta pelos «nossos»), não se detendo perante a necessidade da prática de outros ilícitos instrumentais nomeadamente a circunstância de do negócio poderem resultar prejuízos económicos para a PT (prejuízos que previsivelmente seriam 'pagos' com favores do Estado ou no mínimo colocariam os decisores políticos na dependência dos decisores económicos) ou, na 1.ª versão do negócio, a prestação de informações falsas às autoridades de supervisão, Autoridade da Concorrência, CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) e ERCS (Entidade Reguladora para a Comunicação Social), ou mesmo através da manipulação do mercado bolsista (variação das acções da Impresa) traduz-se numa corrupção dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, o que é reconhecido pelos próprios intervenientes.


Como resulta da Constituição da República, da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e da lei não é possível construir um Estado de Direito democrático sem meios de comunicação social livres das interferências e dos poderes políticos e económicos.

No que concerne à necessidade de diligência de investigação autónoma, esta decorre da premência da realização de diligências para esclarecimento do «esquema» relativo ao Público/Nuno Vasconcelos/Impresa e Cofina/Correio da Manhã, e à identificação de todos os participantes no «esquema» da TVI, diligências que a não serem realizadas de imediato poderão levar a perdas irremediáveis para a actividade de aquisição da prova, sendo certo que existem indicações que o «esquema» TVI poderá estar concluído até à próxima quinta-feira.

Face à multiplicidade e gravidade das suspeitas, existe a obrigação legal de proceder à correspondente investigação, não podendo a mesma, como vimos, aguardar para momento ulterior a sua autonomização.

O problema da partilha dos alvos que impõe uma estreita colaboração entre as duas investigações e os problemas da segurança e eficácia das investigações podem ser fortemente atenuados se ambas as investigações forem atribuídas ao núcleo da PJ que agora as executa (o que me parece essencial para garantir o êxito das investigações) e se ao nível do Ministério Público existir um entrosamento entre as equipas de direcção da investigação.

Para o efeito, e junta que seja a certidão e cópias dos suportes técnicos que a seguir se referem, será todo o expediente remetido em mão para superior apresentação e instauração do competente procedimento criminal.
»

(Jornal Sol do dia 05-02-2010)

DIÁRIO DE BORDO: efeméride

Faria hoje 99 anos, se fosse vivo, o presidente americano mais vilipendiado e odiado pela esquerdalhada. Para se relembrar porquê basta citar um dos seus pensamentos, profusamente ilustrado pelo governo em exercício:
«Government's view of the economy could be summed up in a few short phrases: If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it
Ronald Reagan

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Aleluia. Demitiu-se um ministro anexo.

Secção Padre Anchieta

O professor Diogo Freitas do Amaral desfruta aqui no (Im)pertinências, por muitas e boas razões, de pouca apreciação pelo seu passado, que inclui a passagem fugaz pelo segundo pior governo não provisório (sendo o pior de todos o actual, mas não estou certo que não seja também provisório). Talvez uma das maiores vergonhas que se pode assacar ao emérito é o panegírico manteigueiro do engenheiro Sócrates que produziu em Abril de 2007 no Sol, a propósito das trapalhadas académicas deste último. É, portanto, com alguma surpresa que se lê a sua seguinte declaração à Visão do dia 4 (citada pelo Público):

«Explicações adicionais são devidas pelo Governo sobre: o aumento inesperado do défice de 2009; os números exactos do endividamento nacional, publico e privado, actual e futuro (compromissos assumidos); se é para continuar, ou para reduzir, o perigoso processo de 'desorçamentação' em curso
São por isso devidos 2 afonsos, pela declaração e pela implícita renúncia ao cargo honorífico de ministro anexo, e 3 urracas pelo atraso.

05/02/2010

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (6)

«A Polícia Judiciária apreendeu uma minuta de um contrato de aquisição da Media Capital por parte da PT. Esta é uma das provas reunidas na investigação do processo ‘Face Oculta’ e demonstra a existência de um negócio que visava a compra da TVI.
Costa Gomes, juiz do Tribunal de Aveiro, considerou o documento um indício do envolvimento do primeiro-ministro José Sócrates no que entendia ser uma estratégia para condicionar a liberdade de expressão. Manuela Moura Guedes seria afastada, José Eduardo Moniz silenciado. 'Um plano em que estará directamente envolvido o Governo, nomeadamente o primeiro-ministro, visando o controlo da estação de televisão TVI e o afastamento da jornalista Manuela Moura Guedes e do seu marido, José Eduardo Moniz, para controlar o teor das notícias', escreve o juiz, na certidão enviada para a PGR e que indiciava José Sócrates pelo crime de atentado contra o Estado de Direito.
O mesmo despacho diz ainda que o plano se tornava claro através da análise de conversações mantidas entre Paulo Penedos e Armando Vara
.» [Correio da Manhã]