27/02/2010

CASE STUDY: a confiança equívoca

O jornal i fez a seguinte pergunta a 50 luminárias «Depois dos episódios recentes relacionados com as escutas e o caso Face Oculta, mantém a confiança no primeiro-ministro?». 21 criaturas responderam sim, 16 criaturas responderam não e 11 nim. Não me perguntem o que foi feito às 2 criaturas que faltam – pode ser um défice de numeracia da redacção do i – mas podem perguntar-me como explicar que 21 em 48 delas ainda possam acreditar no homem. A resposta simples é: são os novos situacionistas. A resposta complicada vem a seguir.

Cinco (Alípio Dias, Germano Marques da Silva, João Duque, Elvira Fortunato, Loureiro dos Santos) dessas 21 criaturas acreditam até prova em contrário e delegam o juízo deles nos juízes, o que é extraordinário, sendo a confiança algo pessoal e intransmissível.

Pelo menos sete dos 21 não podiam dizer outra coisa por razões de carreira (Luís Nazaré, Emídio Rangel, Delmiro Carreira), fidelidade a terceiros interessados (Eduardo Barroso), de interesses de negócio adquiridos (Joe Berardo) ou a adquirir (Horário Roque sonhando com o banco postal, Soares Franco sonhando com obras).

Em três das 21 respostas que o jornalista considerou sim, os inquiridos responderam coisas como:
  • «se não fosse a situação do país, diria que não» (Van Zeller)
  • «dar-lhe-ia mais uma oportunidade» (João Reis)
  • «a sua credibilidade está seriamente abalada» (Júlio Machado Vaz)
A duas criaturas foi creditado o sim só porque o jornalista não conseguiu apanhar a ironia, em respostas como as seguintes:
  • «Confio. Posso dizer que a minha confiança em Sócrates se mantém inalterada desde que descobri que ele não é de confiança.» (Luís Pedro Nunes)
  • «Sim, porque Sócrates não tem culpa que o tio lhe chame Joselito nas televisões. Mário crespo só está interessado em entrevistar o Lobo Antunes e o Medina Carreira. Para além disso, todos sabemos que na Universidade Independente os cursos de inglês são melhores que os do Wall Street Institute» (Fernando Alvim)
É bastante significativo que enquanto os não são todos claros e sem reservas, entre 16 sim que sobram dos equívocos do jornalista na classificação apenas sete são claros e sem reservas (Luís Nazaré, Eduardo Barroso, Inês Pedrosa, Pais do Amaral, Emídio Rangel, Delmiro Carreira, Octávio Machado) e, destes sete, quatro são da casa.

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