31/12/2007

ESTADO DE SÍTIO: o funcionário que, não sendo funcionário, está a tirar o lugar a uma legião

«Todo o processo de reporte de informação sobre a maior operação de titularização de créditos do Estado depende de um único funcionário, o qual na verdade é um colaborador da consultora Accenture, que se encontra destacado na DGITA há 15 anos.
A equipa de Azevedo Pereira, director-geral dos impostos, tece duras críticas ao facto de, por um lado, todo o processo depender de uma única pessoa, e por outro, deste nem sequer ser um funcionário da Direcção-geral, o que significa uma grande dependência do Estado face a uma entidade privada.»
(Jornal de Negócios)
Se estiver ao alcance do director-geral dos impostos, cria-se uma divisão com um director, 3 ou 4 chefes de repartição, 10 ou 20 serviços, 30 ou 40 secções, por aplicação dos factores I e II da Lei de Parkinson:

Factor I - O propósito de um chefe é multiplicar os subordinados e não os rivais
Factor II - Os chefes geram trabalhos uns aos outros

Recorde-se que o modelo matemático de Parkinson, representado na fórmula seguinte, faz depender o incremento anual (x) do número de efectivos, do número (k) de funcionários procurando promoção através da nomeação de subordinados, do tempo médio de serviço (p), do número (m) de horas dedicadas a responder a memorandos, e do número (n) de unidades departamentais da organização.

x = (2k^m + p)/n

[Para mais pormenores ver o post impertinente Parkinson Law revisited]

Antevisão da Divisão RIMPTCE (Reporte de Informação sobre a Maior Operação de Titularização de Créditos do Estado)
(Inspirado no Armour & Co.'s General Office, Chicago, 1900, foto adaptada do Early Office Museum)

30/12/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: depois da sotaina, o avental

Secção Frases Assassinas

«E eis como um banco, que era tão cristão, tão "opus dei", tão boas famílias, acaba na esfera dessa curiosa seita do avental, a que chamam maçonaria.»

Três ignóbeis para a equipa liderada pelo engenheiro Jardim Gonçalves por ter gerido o Millenium bcp como se os fins justificassem todos os meios. Três urracas e três bourbons para a equipa liderada pelo ministro anexo doutor Vitor Constâncio por não ter utilizado em tempo oportuno os meios que os fins da sua responsabilidade justificariam. Quatro urracas e três chateaubriands para os accionistas por se terem posto a jeito para o governo/partido liderado pelo engenheiro Sócrates a quem se concedem cinco ignóbeis. Três afonsos para Miguel Sousa Tavares pelo sumário da estória recente do Millenium bcp.

29/12/2007

ESTÓRIA E MORAL: depois do cheiro a pólvora, o cheiro a bacalhau

Estória

«I will return in five days. Stop washing

[Carta de Napoleão a Josefina, anunciando o seu regresso (a La Petite Malmaison, digo eu), citada por K. Ashenburg em The Dirt on Clean: An Unsanitized History]

Moral

Pigs love to lie together

28/12/2007

CASE STUDY: bens e serviços não transaccionáveis

Os últimos 12 meses para os quais existem estatísticas disponíveis (Estatísticas do Emprego - 3.º Trimestre de 2007), mostram um crescimento homólogo de 4,7% do emprego na construção civil, apesar da crise. No 3.º trimestre deste ano havia na construção civil 578 mil indivíduos ou cerca de 11% do total da população empregada . Esse número incluía um número desconhecido de imigrantes, certamente uma fracção muito significativa dos cerca de 240 mil estrangeiros residentes (dados de 2002 no Anuário Estatístico de 2005 publicado em 15-03-2007).

O que seria do INE se tivesse que concorrer num hipotético mercado de informação estatística? E o que seria das mais de 120 mil empresas (dados de 2005 publicados em 2007) de construção civil se produzissem bens transaccionáveis competindo num mercado internacional?

Não é por acaso que o somatório do emprego na administração pública (um número desconhecido, que deve situar-se algures entre os 700 e os 750 mil) e na construção civil deve representar um quarto ou mais do emprego total.

[Reflexões a propósito duma estória dumas sofridas obras de remodelação com adiamentos, trabalhos a mais, rework constante para remendar erros de execução, etc. Trata-se de uma estória de sucesso, segundo observadores connoisseurs e independentes. Imagine-se o que seria uma estória de insucesso.]

27/12/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (6)

5º - A Nebulosa Ampulheta, distante 8.000 anos luz, tem um estrangulamento no meio, porque os ventos que a modelam são mais fracos na sua parte central.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

26/12/2007

CASE STUDY: the African way

O Millenium bcp já foi um case study de sucesso nos serviços financeiros e não só em Portugal. Nos últimos meses evoluiu para um case study de degenerescência da liderança e de opacidade da prática de governação. Nas últimas semanas evoluiu para um case study de dependência do estado, com o presidente da República e o governo a meterem a colher a pretexto dum equívoco interesse nacional e da invasão da banca espanhola, e os lóbis partidários e financeiros em grande excitação.

A lista de putativos candidatos às administrações do Millenium bcp e da Caixa dá uma justa medida do grau de prosmicuidade entre o poder político, representado pelas luminárias dos partidos do bloco central, e a finança doméstica, sempre veneradora e grata. Nada de verdadeiramente novo, porque se em relação à Caixa a prosmiscuidade sempre foi pública e notória, em relação ao Millenium bcp o engenheiro Jardim Gonçalves sempre teve na administração variados agentes do poder político, para o caso da dependência dos accionistas em relação ao banco não ser suficiente para garantir a blindagem.

TRIVIALIDADES: fila única

[Foto duma Loja do Cidadão algures - talvez em Aveiro, enviada por JARF. Clicar para ver em todo o seu esplendor o presépio segundo o estado napoleónico-estalinista.]

23/12/2007

BREIQUINGUE NIUZ: pré-ocupações, des-preocupações e suposições

O CDS, preocupado, quer ouvir "com carácter de urgência" o ministro da Economia para ele explicar porque definha a economia portuguesa e fica para trás das economias de Chipre, Malta, República Checa e Eslovénia, e das demais que hão-de passar por aqui a correr. Suporá o doutor Diogo Feio que o doutor Pinho tem poderes para fazer crescer a economia?

O presidente da República, preocupado com o Millenium bcp, disse ao ministro das Finanças que discorda que o banco «seja retalhado por outras instituições». Será o doutor Cavaco Silva accionista do banco? Suporá que o banco é uma EP? Discordará que o banco seja comprado por inteiro, sem ser retalhado, pelo Santander, por exemplo?

Quem não está preocupado, com inteira razão, é o senhor engenheiro Sócrates que aprovou o investimento das Águas de Portugal no Brasil, proposto pelo então presidente e actual ministro senhor engenheiro Mário Lino, no qual se torraram mais de 100 milhões de euros. Supunham os senhores engenheiros que estavam apenas a estagiar, aquecendo os motores para torrarem dinheiro a sério uns anos mais tarde nos aeroportos, nos TGVs e no que mais se há-de ver?

22/12/2007

DIÁRIO DE BORDO: ora essa, senhor engenheiro

Leio a entrevista ao Expresso do doutor Luís Filipe Menezes, que quer «fazer como Sarkozy», e concluo, se ainda aí por andar em 2009, que será o único (*) a fazer-me votar no senhor engenheiro José Sócrates, se este último também ainda por aí andar.

(*) É uma figura de estilo. Há muitos outros. O doutor Santana Lopes ou o doutor Paulo Portas, por exemplo.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: mani pulite ou mani sporco?

Secção Perguntas impertinentes

Se os juízes não são funcionários públicos obrigados pela disciplina hierárquica a obedecer aos ditames de chefes eventualmente incompetentes e/ou negligentes e/ou corruptos, de quem é a responsabilidade pelo buraco negro que é a administração da justiça neste país? Quem responde pelos 15 anos do caso UGT, 10 anos do caso Melancia, 17 anos do caso FP 25, 6 anos do caso Vale e Azevedo, 17 anos do caso Costa Freire, 4 anos do caso Casa Pia, you name it?

Que pontuação devo atribuir à corporação? Quantas urracas? Quantos bourbons? Quantos chateaubriands?

20/12/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (5)

6º - Em 6º lugar está a Nebulosa do Cone. A parte que aparece na foto tem 2,5 anos luz de comprimento (o equivalente a 23 milhões de voltas ao redor da Lua.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

18/12/2007

CASE STUDY: estagflação, dizem eles (outra vez)

Ainda a cadeira de Alan Greenspan no FED não tinha arrefecido, já o venerando ex-presidente tinha esquecido o mumble jumble com que no passado descrevia as suas profecias sobre a evolução dos fundamentais. Passado o testemunho a Bernard Bernanke, o tio Alan adopta um discurso mais inteligível e subrepticiamente crítico da condução da política monetária pelo seu sucessor, que faz, mais ou menos, o que ele faria nas mesmas circunstâncias. Agora, para combater a crise do subprime, lembrou-se de prescrever a ajuda do governo aos proprietários em riscos de execução hipotecária, em alternativa a intervir sobre as regras dos empréstimos, como parece ser a tendência do seu sucessor. Entre as duas, vá o diabo e escolha.

No que parece haver consenso, é na injecção de liquidez que os bancos centrais estão a fazer no sistema financeiro, desde o FED (20 mil milhões de dólares, ontem) ao BCE (348 mil milhões de euros, hoje), passando pelo Banco de Inglaterra (11 mil milhões de libras, hoje). O resultado não está a ser nem poderá ser brilhante: mais inflação já, menos crescimento a prazo. Já se fala de estagflação, outra vez.

Faz lembrar o que o Economist escreveu sobre o hotchpot que é o pensamento de Gordon Brown sobre o estado: «a state that creates risks by trying too hard to eliminate them.»

16/12/2007

SERVIÇO PÚBLICO: quando os fins justificam "O Meio"

Exemplar a «conspiração "lisboeta", "benfiquista", contra o Porto, o Norte e o FCP» conduzida por Pacheco Pereira (ver sobretudo «O “Meio”» no Público, aqui disponível), contra as cliques que controlam no Porto a política, o futebol e outras coisas.

Já se ouvem «os tambores do ressentimento regionalista (que) rufam contra os "mouros"» e ainda se ouve, acrescento eu, o silêncio embaraçado de luminárias tripeiras habitualmente muito prontas a dar com o pau do liberalismo académico nas cliques alfacinhas, que bem o merecem.

15/12/2007

SERVIÇO PÚBLICO: Some Like It Dry

Não se trata dos sulcos do Mitsubishi de Luc Alphand, no Dakar do ano passado em Nouakchott. São os sulcos das rodas do veículo Spirit em Marte, que deixam visível sílica pura.

DIÁRIO DE BORDO: frases que me impressionaram nos últimos dias (3)

«The idea of the state that emerges from this learned hotchpotch is one that knows it ought to be small, but somehow cannot resist getting bigger; a state that creates risks by trying too hard to eliminate them.»
Trust me, Bagehot, no Economist, a propósito da caldeirada ideológica que é o pensamento do premier Gordon Brown sobre o estado napolónico-estalinista.

13/12/2007

DIÁRIO DE BORDO: frases que me impressionaram nos últimos dias (2)

«Governments can’t protect individuals from themselves, it’s just impossible. Otherwise they become a tyrannical state.»

Ron Paul, congressista e candidato à presidência dos EU, numa entrevista a John Stossel , citado pelo Insurgente.

12/12/2007

DIÁRIO DE BORDO: frases que me impressionaram nos últimos dias

«I was so bewitched that I didn't register any concrete points in the speech at all. Perhaps there weren't any. But it certainly sounded good
Mark Doyle, jornalista da BBC, a propósito da oratória grandiloquente do senhor primeiro-ministro engenheiro José Sócrates, produzida na cimeira que juntou muitas dezenas de ditadores e alguma dezenas de líderes vergados pelo peso do complexo pós-colonial.

«Podemos ter confiança absoluta em alguém que exige ser tratado como um chefe de Estado e que, antes da sua chegada a solo francês, afirma, (em Lisboa) que o terrorismo é legítimo para os mais fracos? O coronel Kadhafi deve compreender que o nosso país não é capacho sobre o qual um dirigente, terrorista ou não, pode vir limpar os pés ensanguentados dos seus crimes».
Rama Yade, secretária de estado dos Negócios Estrangeiros do governo francês, citada pelo Pública (via Blasfémias)

«We have a system in wich anything you do is either forbidden or compulsory»
Miguel, um académico e membro do partido comunista cubano, citado pelo Economist.

«Having expressed my readiness to run for president of Russia, I appeal to him with a request to give his agreement in principal to head the Russian government after the election of the new president of our country.»
Dmitry Medvedev, o herdeiro do czar Putin, citado pelo NY Times

[Sabe-se lá o que passou por esta cabeça impertinente para associar estas 3 frases]

11/12/2007

SERVIÇO PÚBLICO: perturbar o normal funcionamento dos serviços públicos e da actividade dos tribunais, seria um bom programa

Contrariado, o doutor Cavaco Silva promulgou a lei da responsabilidade civil do Estado, sob protesto de conter «disposições que comportam sérios riscos de perturbação do normal funcionamento dos serviços públicos e da actividade dos tribunais, tendo ainda consequências negativas para o equilíbrio financeiro do Estado». (Público)

Admito sem resistência que não fui enganado. Votei no homem perfeitamente consciente de que «o seu pensamento económico e político é o fruto do casamento dos planos de fomento com a doutrina dominante na época - o social-colectivismo nas suas diferentes encarnações, das quais o professor preferiu a social-democrata.» Mas isso não lhe dá o direito de exagerar e não me retira o direito criticar os seus devaneios colectivistas.

Estará o doutor Cavaco Silva consciente dos resultados, nos dias que correm, do normal funcionamento dos serviços públicos e da actividade dos tribunais? Será que não entende que não pertubar o normal funcionamento é manter intacto o estado napoleónico-estalinista, o aparelho que parasita e enfraquece a sociedade civil? Não verá o doutor Cavaco Silva que a mais tímida reforma só pode perturbar o normal funcionamento deste aparelho? Não compreenderá que quanto menos esse aparelho for responsabilizado pelos danos que causa aos cidadãos nas múltiplas esferas onde intervém, mais o seu cada vez mais longo braço estorcega e sufoca os sujeitos passivos?

São perguntas retóricas.

10/12/2007

ARTIGO DEFUNTO: os mínimos são dos mais baixos, e os máximos são dos mais altos

Segundo o estudo da Anacom, divulgado via Lusa através da RTP, actual câmara de eco do governo, Portugal estaria no terceiro lugar da UE dos preços mais baixos da banda larga.

Quem não parece concordar com essa conclusão é estudo da OCDE que, segundo o Expresso, considera a banda larga em Portugal a 5.ª mais cara entre os membros da OCDE. Dir-se-à que uma coisa é os membros da OCDE e outra os membros da UE, mas a verdade é que 20 dos 30 membros da segunda são igualmente membros da primeira. Há, porém, no estudo da Anacom um detalhe tipicamente orwelliano: o que se compara é o preço mínimo. Voilà.

Não é de hoje que a RTP desempenha with gusto o papel de câmara de eco. Em Abril de 2004 prognoticava-se aqui, que o governo do doutor José Barroso aka Durão Barroso iria «utilizar, uma vez mais, a RTP como uma câmara de eco para propagar aos incréus os milagres que semeou durante a segunda metade "social" da sua governação». A emigração do doutor José Barroso para Bruxelas e a sua substituição pelo menino guerreiro dificultaram a confirmação experimental do prognóstico.

09/12/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (4)

7º - A Tempestade Perfeita, uma pequena região da Nebulosa do Cisne, distante 5.500 anos luz; descrita como "um borbulhante oceano de hidrogénio, e pequenas quantidades de oxigénio, enxofre e outros elementos".
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

06/12/2007

05/12/2007

ARTIGO DEFUNTO: tal pai, tal filho

Num artigo titulado O dólar fraco, «não é surpresa o dólar estar fraco. A América, toda ela, está fraca. É esse o problema» escreveu Domingos Amaral, a jovem luminária-revelação mais luzidia do jornalismo económico, no mesmo número do Diário Económico que trazia títulos como:
  • Pedidos de hipotecas nos EUA aumentam 22,5% na última semana
  • Número de postos de trabalho nos EUA aumenta três vezes mais do que o esperado
  • Produtividade nos EUA cresce ao ritmo mais elevado dos últimos quatro anos no terceiro trimestre

SERVIÇO PÚBLICO: Some Like It Hot

Depois da Terra, de Júpiter e de Saturno, também foram observados pela Venus Express relâmpagos em Vénus. Afora isso, e o facto da sua atmosfera ter altíssimas pressões e elevadas temperaturas, poderá ser um lugar agradável para habitar se as coisas por cá continuarem a aquecer.

03/12/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (3)

8.º - Noite Estrelada, assim chamada por lembrar aos astrônomos um quadro de Van Gogh com este nome. É um halo de luz que envolve uma estrela da via Láctea.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

02/12/2007

SERVIÇO PÚBLICO: o nascer da Terra visto da Lua (2)

[pelo olho da câmara de alta definição do veículo Kaguya da Japan Space Agency (JAXA)]

01/12/2007

CASE STUDY: l'état, c'est Moi et après Moi, le Déluge, voilà (2)

Por coincidência, tratou-se aqui ontem da bela mansão do doutor Mugabe, presidente vitalício dum país antigamente próspero que transformou num estado miserável com 80% de desemprego e uma inflação de 8.000%. Como se pode ler na crónica «País em colapso» na Única do Expresso, só o mercado negro é que funciona.

É apenas mais um exemplo do resultado, amplamente demonstrado pelos regimes comunistas, de que quando se expulsa os mercados pela porta da frente eles entram pelas traseiras. É a vida, como dizia o outro.

29/11/2007

CASE STUDY: a cavalo dado não se olha os dentes

«Um em cada três licenciados ingleses tem um emprego que não requer licenciatura. A sobre-qualificação em determinados desempregos resulta de uma insuficiente procura (ou um excesso de oferta) para essas qualificações. Num estudo da LSE, referido pelo “Financial Times”, critica-se a forma como os governos ingleses têm insistido, desde 1992, na ideia de que mais trabalhadores qualificados são sempre uma coisa boa, quando não essencial à “competição com outros países”. Em Portugal vivemos uma situação de contornos idênticos.
Dois efeitos previsíveis deste tipo de discurso político são a frustração de muitos licenciados, que acabam por ter um retorno do investimento feito inferior ao esperado; e a afectação de outros recursos económicos de forma ineficiente – porque demasiado enviesada e alheia à realidade do país. Aquilo que os ingleses já perceberam é que, por muito “avançado” e “tecnológico” que um país se torne, existirão sempre empregos que exigem baixas ou médias qualificações (aliás, tão dignos quanto os outros, mas talvez os cérebros que desenharam a campanha publicitária das “novas oportunidades” discordem). A cegueira nacional faz-nos temer o pior.
Não está em causa a liberdade de cada um prosseguir os seus estudos ou de escolher um emprego para o qual tenha qualificações a mais. Já aqui defendemos que a educação superior é, antes de tudo, uma formação para a vida, não um mero instrumento de formação profissional. Sendo legítimo que um governo influencie a dinâmica de crescimento de um país, a melhor forma de o fazer, hoje, passa por um reforço do papel de mediação entre procura e oferta.
Quais os percursos profissionais, as oportunidades e os ganhos dos licenciados nas várias áreas do saber? Quais as necessidades de emprego dos empresários no futuro? A recolha de dados relativos a este mercado – como a obtenção de mais informações sobre os alunos que realizam exames no Secundário, que se espera já em 2008 – permite escolhas mais conscientes dos cidadãos. Pela sua situação privilegiada, faz sentido que o Estado promova tais iniciativas. Infelizmente, falamos de políticas relativamente discretas, incapazes de proporcionar momentos emocionantes no telejornal e que dificilmente satisfarão quem apadrinha o patrulhamento ao sal e às bolas de berlim por esse país fora.»

(Para quê tantos licenciados?, Tiago Mendes, no Diário Económico)
Ó doutor Tiago é um bocadinho lirismo da sua parte imaginar que a discrepância entre oferta e procura de canudos se resume a liberdade de escolha e a escolhas conscientes. Falta acrescentar alguns outros ingredientes. Para só mencionar um, se a licenciatura custar a um candidato (ou, mais exactamente, aos pais do candidato) o que custam as propinas, sem esquecer o alívio de mais uns anos em regime cama, mesa e roupa lavada (e iPod, e telemóvel 3G, e discoteca, e etc.), é difícil imaginar que as escolhas racionais deixem de ser o que são.

28/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o simplex local - mais milagres da regionalização (3)

O mesmo fiel detractor que aqui deu dois exemplos pessoais do género de milagres que se poderia esperar em abundância com a devolução de mais funções do estado napoleónico-estalinista para os caciques locais atacou de novo com outro.

Para tratar de procurar solução para uma árvore que ameaça ruir sobre a sua casita (a mesma que o fez esperar 10 meses pelo licenciamento das obras de remodelação), o infeliz fez inúmeras tentativas infrutíferas para contactar pelo telefone o Departamento dos Espaços Verdes da Câmara de Oeiras (uma das câmaras melhor geridas deste país). Desistiu e decidiu dar corda aos sapatos e ir implorar pessoalmente aos inacessíveis funcionários um módico de atenção. Em vão. Nas duas vezes que lá foi, apenas encontrou meia dúzia de casacos pendurados nas cadeiras, propriedade de outros tantos funcionários que «devem andar por aí, não demoram», segundo a funcionária que o escoltou.

27/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (2)

9.º - Um redemoinho de olhos "furiosos" de duas galáxias, que se fundem, chamadas NGC 2207 e IC 2163, distantes 114 milhões de anos luz na distante Constelação do Cão Maior (Canis Major).
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

26/11/2007

SERVICE PUBLIQUE: ne tirez pas sur le pianiste, ne tirez pas sur le public (voilà)

«Il est finalement signé. L'accord interprofessionnel réunissant à la fois les secteurs de la musique, du cinéma et des fournisseurs d'accès à Internet a été paraphé par les 41 signataires et les pouvoirs publics à l'Elysée, en présence du président de la République. Son but : enrayer le piratage de musique et de films sur le Réseau.» (ver mais no Monde)

«Internet users in France who frequently download music or films illegally risk losing Web access under a new antipiracy system unveiled on Friday.
The three-way pact among Internet service providers, the government and owners of film and music rights was drafted by a commission led by the chief executive of FNAC, a big music and film retailer in France. The industry has called for action against illicit downloads, which are cutting into its sales.»
(ver mais no NY Times)

A questão é: como conciliar os direitos autorais, sem os quais não haverá criação, com o acesso livre aos conteúdos? Uma boa questão para as nossas luminárias liberais.

25/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o olho do Hubble perscrutando o espaço sideral (1)

N.º 10- A Nebulosa Trifid. É um "berçário estelar", afastado da Terra 9.000 anos-luz, e é o lugar onde nascem as novas estrelas.
[As 10 melhores fotos captadas pelo telescópio Hubble, enviadas por JARF, forever young]
Continua

24/11/2007

BREIQUINGUE NIUZ: Câmara Corporativa ressuscitada

«Patrão do Comércio sugere aliança com CGTP
O presidente da Confederação do Comércio Português propôs ao secretário-geral da CGTP um encontro, para avaliar a possibilidade de acções conjuntas contra o aumento do desemprego, incluindo um eventual apoio a uma greve geral
.» (Expresso)

Será o prenúncio duma espécie de pactologia (*), de procura do consenso na protecção dos direitos adquiridos?

(*) Filósofo professor doutor Manuel Maria Carrilho.

23/11/2007

ESTÓRIA E MORAL: o polvo socialista nunca ouviu falar de conflito de interesses (2)

Estória

Há tempos contei esta estória do polvo socialista envolvendo a mesma sociedade de advogados que agora aparece referida no relatório do Tribunal de Contas de auditoria das Estradas de Portugal como tendo produzido minutas de propostas de diplomas legislativos. Com tal produção fez (e recebeu por isso) o papel dos incontáveis assessores que pululam nos gabinetes do governo que não fizeram isso (mas receberam por isso).

A propósito da enorme cloaca que são as Estradas de Portugal, que poderíamos chamar com propriedade, como chamou Christine Deviers-Joncour a si própria com igual propriedade, «la putain de la République», escreve o professor Campos e Cunha, prosseguindo o seu higiénico ajuste de contas, «o Governo nunca perdeu nenhuma oportunidade para perder a oportunidade de explicar o OE para 2008» et pour cause.

Outra estória igualmente estimulante é a do doutor João Pedroso (guess who's his brother) que foi contratado para fazer um manual de direito da Educação que não fez (mas recebeu por isso) e, por isso (?), foi outra vez contratado para o fazer. Desta vez recebendo uma tença de 20 mil euros mensais, mais de 13 vezes superior à primeira.

Moral

N.º 1 Não basta parecer honesto, é preciso ser honesto.
N.º 2 Tapem os vossos narizes que o polvo socialista está em decomposição.

[Estórias via Grande Loja do Queijo Limiano que, nos intervalos das suas guerras corporativas de estimação, faz um bom trabalho sanitário no underware do polvo socialista]

22/11/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: no país dos sovietes

- Presidente Vladimiro porque não ficas mais um mandato, camarada?
- Camarada Sérgio, então tu pensas que eu vou alterar a constituição? Niet! Vou andar por aí, como aquele Lopes de que me falou o camarada Sócrates, influenciando. Nada mais.
- Desculpa a franqueza camarada, mas a constituição foi feita para ser alterada. Lembras-te do Boris?
- Mesmo assim. Não vou fazer isso. Só se for desafiado.
- Aqui estou eu, em nome dos camaradas do
Служба Внешней Разведки, a desafiar-te.
- Então e o povo não me desafia?
- Os camaradas querem-te e o povo vai querer-te,
товарища президента.
- Vou pensar nisso.


(Qualquer semelhança com a realidade é pura fantasia)

21/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: fui eu que ouvi mal ou a factura vai chegar?

Foi eu que ouvi mal ou o tenente-coronel Chávez, o presidente vitalício da Venezuela, nas declarações que fez ontem às televisões lembrou que tendo a Venezuela o petróleo que Portugal não tem, acolhendo a Venezuela umas centenas de milhar de emigrantes portugueses que Portugal não acolhe, seria melhor colocar as relações políticas ao mesmo nível?

Oxalá me engane, mas o engenheiro Sócrates está a fazer um papel de aprendiz de feiticeiro em matéria de relações internacionais (não só nesta matéria, mas fico por aqui) e a praticar uma espécie de realpolitik de 3.º mundo com potencial para encrencar a nossa inexistente política externa.

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o optimismo e o pessimismo

Um velho amigo enviou-me e a vários outros amigos comuns («vá lá, por uma vez sejam optimistas...») um texto publicado na revista Exportar com o título "Eu conheço um país...". Nele o doutor Nicolau Santos enumera 19 feitos cuja consideração nos deveria fazer sair do estado de anomia em que nos encontramos. Se a lista mostra alguma coisa não é certamente que nos devemos animar. Pelo contrário, o facto do doutor Nicolau se ter dado ao trabalho de a fazer é, só por si, uma evidência de que, segundo ele, a anomia é mais profunda do que um pessimista poderia ser levado a crer.

Eu também conheço um país… Mas não deve ser o mesmo.

Se imaginarmos o país mais triste, cinzento e pobre – seja o Togo, por exemplo – sempre será possível fazer uma lista de feitos passados, presentes e, sobretudo, futuros. Futuros? Sim, o Brasil é o país do futuro faz mais de 50 anos. O meu coração rejubila com tantas realizações, principalmente a liderança mundial nas rolhas.

Contudo, a realidade ignora estas visões miríficas e, apesar do esforço de nos convencerem, continuamos há 7 anos a empobrecer relativamente a todos os países do espaço económico onde nos integramos. A empobrecer e a ficar cada vez com maior desigualdade social. Estamos a conseguir o milagre de ter chuva na eira e sol no nabal. E porquê o governo e os seus spin doctors precisam de se esforçar tanto para nos convencer, sem sucesso? Precisamente porque a realidade tem um peso tão grande que é preciso inventar um newspeak orwelliano para reanimar a choldra.

Com a devida vénia, transcrevo o que, a propósito, Pacheco Pereira escreveu ontem no seu blogue:
«Porque é que já estivemos melhor e agora estamos pior e há retrocesso? Porque estamos a ficar mais pobres, com menos esperança, mais presos ao pouco que temos, mais confinados ao mesmo espaço minúsculo, todos em cima dos bens cada vez mais escassos a patrulhar para que os outros não fiquem com eles. Estamos a pagar o preço de um modelo “social” único, de uma Europa única, de um pensamento único que racionaliza este caminho para a pobreza como não tendo alternativa e pune a dissidência.
Só se pode ser pessimista e agir como pessimista, até porque a ideia de que os pessimistas não fazem nada é típica dos optimistas na sua beatitude.
»
Quereis uma pista para se perceber porque não adiantam os discursos dos amanhãs que cantam? Eis o que disse ao RCP Oliveira Martins (citado pelo Blasfémias), ex-ministro das Finanças, presidente do Tribunal de Contas, um insuspeito personagem do establishment que tem desgraçado o país:
«OM – A média de derrapagem dos contratos em Portugal é de 100 por cento. É na base de um estudo do Instituto Superior Técnico, a partir de elementos do Tribunal. A média! Isto significa que há derrapagens que correspondem a quatro e cinco vezes mais, estamos a falar de 400 e 500 pontos percentuais. 400 e 500 pontos percentuais!
RCP – Quantias enormíssimas… Mas isso não revela um desmazelo?
OM – Isto é uma coisa endémica, um hábito antigo, um hábito antigo, uma questão de regime, um problema de regime, porque não há ninguém que possa dizer “nós fizemos”... Isto é uma média no médio e longo prazo. Estamos a falar de uma série longa de 30 anos — não é? —, e uma série longa de 30 anos em que a média de derrapagem é de 100 por cento. Por que razão é que há derrapagens por sistema nos concursos públicos? Por que razão? Por que razão? Esta é a nossa pergunta.
RCP – Não fazem bem contas…
OM – Pois, não fazem bem contas desde o início.
»
É o resultado do «estado social», apoiado pelo respectivo partido, composto por todos os que dependem directa ou indirectamente do «monstro» do professor Cavaco, funcionários públicos, desempregados crónicos, reformados, subsidiados, etc. e seus apêndices, que somam 4 ou 5 milhões. Enquanto o monstro torrar metade da riqueza produzida são inúteis todos os discursos salvíficos.

20/11/2007

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: por falar em livre-arbítrio

Por falar em livre-arbítrio, pasmem-se os indígenas ao saberem que «os conselhos executivos de várias escolas estão a pressionar os professores do 2º e 3º ciclos (do sexto ao nono ano) para evitarem ao máximo dar notas negativas aos alunos já no primeiro período lectivo.»

Serão os conselhos executivos de várias escolas compostos por alienígenas? Ou por clones, réplicas da doutora Maria de Lurdes Rodrigues? Ou por apparatchiks do ME? Ou serão professores vulgares de Lineu inimputáveis, sendo por isso em geral suficientemente incompetentes? Ou são em geral suficientemente incompetentes, sendo por isso inimputáveis?

19/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: o nascer da Terra visto da Lua

[pelo olho da câmara de alta definição do veículo Kaguya da Japan Space Agency (JAXA)]

18/11/2007

DIÁRIO DE BORDO: o livre-arbítrio

Há dois ângulos para olhar para os desastres da educação pública e da administração de justiça. No primeiro, conclui-se que os professores e os juízes não têm responsabilidades nesses desastres. No segundo, conclui-se que uns e outros contribuíram para os desastres e têm neles responsabilidades (maiores ou menores? as opiniões dividem-se).

O primeiro ângulo tem implícito que os professores e os juízes são enquanto corporação inimputáveis, sendo por isso em geral suficientemente incompetentes. O segundo ângulo tem implícito que uns e outros são em geral suficientemente incompetentes, sendo por isso inimputáveis.

Há ainda um terceiro ângulo determinístico donde se conclui que os responsáveis são ELES.

[Eles (socialês)
(1) Os culpados da nossa miséria (dos fascistas aos liberais, passando pelos comunistas e, sempre, os espanhóis, e, em alternância, o governo e a oposição).
(2) Os responsáveis pelo trânsito da miséria para a felicidade (quase todos os referidos).
Antónimos: EU (que não sou parvo e não tenho nada a ver com isso) e NÓS (EU, a minha MÃE, a minha patroa, os putos, os amigos, talvez o clube, e o partido, às vezes).]

16/11/2007

ESTÓRIA E MORAL: a boa nova

Estória
Vindo em socorro do ministro da Ecoanomia, que não é ainda muito fluente no optimês, o primeiro ministro engenheiro Sócrates deu hoje a boa nova à nação: o seu governo já criou 106 mil postos de trabalho e está a caminho dos 150 mil que prometeu.

O senhor engenheiro não teve tempo de explicar o milagre do emprego e do desemprego terem aumentado com a população residente estável. O senhor engenheiro também não se deu ao trabalho de explicar se os 106 mil novos postos de trabalho incluem os 40 mil novos postos de trabalho que o governo criou na administração pública.

Moral
There are lies, there are damned lies, and there are statistics (Benjamim Disraeli, 1.º ministro da rainha Victoria)

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: a insustentável leveza da retoma

Abrilhantada com a presença do ministro da Ecoanomia que entregou um speech no dialecto optimês da newspeak socrática, a CapGemini Ernest & Young apresentou os resultados dum inquérito a 200 executivos onde se conclui que 20% dos empresários planeiam deslocalizar a produção das suas empresas principalmente para a Europa de Leste. Apesar disso «mais de metade dos inquiridos acreditam que Portugal tem capacidade para aumentar a sua atractividade ao investimento estrangeiro». Aparentemente os 20% estão dispostos a investir na Europa de Leste e os mais de metade não parecem muito dispostos a investir (nem mesmo na Europa de Leste), mas acreditam que os empresários estrangeiros não deveriam planear a deslocalização para a Europa de Leste.

Tudo isto na edição de ontem do Diário Económico onde na 1.ª página se produziu um extraordinário título: «Empresários sentem retoma mas exigem mais».

(Este post também poderia ser publicado na secção ESTÓRIA E MORAL com a seguinte moral: com empresários assim não precisamos do socialismo)

14/11/2007

PUBLIC SERVICE: more byte into the same band

«AN AUSTRALIAN researcher has found a way to make broadband connections up to 100 times faster.

University of Melbourne research fellow John Papandriopoulos is moving to Silicon Valley after developing an algorithm to reduce the electromagnetic interference that slows down ADSL connections.

Most ADSL services are effectively limited to speeds between 1 Mbps to 20 Mbps, but if Dr Papandriopoulos' technology succeeds this will be closer to 100 Mbps.»


(more here)

13/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: poucas vergonhas na Arte Lisboa

Foto enviada há dias por um contribuinte anónimo e habitual do Impertinências, duma senhora despida na Arte Lisboa, feira de arte contemporânea felizmente ontem encerrada. Escândalo não é a senhora despida. Escândalo é a manifesta indiferença que as partes pudendas da senhora suscitam nos visitantes.

ARTIGO DEFUNTO: trocaram o quê?

Só por falta de tempo não registei aqui na devida altura o que escreveu o Jornal de Negócios no semana passada, a propósito da publicação no Abrupto da carta provocatória dum burgesso, spin doctor do doutor Menezes (cada um tem o que merece). A publicação acompanhada de comentários piedosos e educados, merecedores da beatificação urgente de JPP, foi assim descrita:
«José Pacheco Pereira, comentador político e membro do PSD, e António Cunha Vaz, proprietário da agência que assessorou Luís Filipe Menezes nas directas do PSD, trocaram hoje insultos no conhecido blog "Abrupto".»

11/11/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Facilitismo? Moi?

Secção Res ipsa loquitor

«Criou-se a ideia que nós queríamos o facilitismo, mas o que nós defendemos é que a escola desenvolva mecanismo para dar oportunidades a alunos problemáticos e de famílias desestruturadas», disse ao Sol o doutor Luís Fagundes Duarte, coordenador do PS para a área da Educação, a propósito da desconsideração das faltas na proposta de Estatuto do Aluno cozinhada pelo seu grupo parlamentar.

Perceberam? Mesmo sem procuração do doutor Fagundes Duarte eu explico. Quem pode negar que um diploma é importante para um aluno problemático ajudar uma família desestruturada a estruturar-se? Ninguém. Quais são as oportunidades que um aluno problemático tem de obter um diploma se forem consideradas as faltas que resultam dos problemas do aluno e da desestruturação da família? Poucas. Como aumentar as oportunidades do aluno problemático? Simples. Não contar as faltas.

E se, apesar disso, o aluno problemático não tiver aproveitamento? Ajeitam-se as provas ao aluno problemático. Como? Simples. Por exemplo, num exame de Química fazem-se as seguintes duas perguntas:

Pergunta 1 - Qual a cor do sulfato de cobre azul?
Pergunta 2 - Conhece a fórmula do ácido sulfúrico?

O aluno problemático responde «cor de rosa» à primeira e erra. O aluno problemático responde «não sei» à segunda e acerta. É aprovado com 50 pontos percentuais.

Avaliação do doutor Luís Fagundes Duarte (um aluno problemático?): 5 chateaubriands por imaginar que a divina providência faz passar os rios perto das cidades e 3 bourbons porque não esquecerá nunca o eduquês e não aprenderá outra língua.

09/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as «lições» do professor Campos e Cunha

O professor Campos e Cunha prossegue o seu ajuste de contas com o governo do engenheiro Sócrates nos seus artigos no Público. Hoje, à boleia de Jens Henriksson, antigo secretário de estado das Finanças, que teve um papel decisivo na consolidação orçamental da Suécia, Campos e Cunha evidencia onde está o governo a falhar, por muito que o ministro Teixeira dos Santos se esforce por mostrar o contrário.

O governo falha ao tomar medidas casuísticas sem «um pacote coerente, completo e equilibrado de medidas». Falha por não fazer cortes verticais nos tentáculos do polvo. Falha por fazer cortes horizontais insuficientes que deixam quase tudo na mesma. A este respeito o exemplo que dá é bastante elucidativo: «se o ministro da Ciência disser que corta 5 por cento das transferências para as universidades, estas adiarão a contratação de novos professores, as casas de banho passam a ser limpas dia sim, dia não, a capacidade de atrair bons alunos para a carreira académica diminui, etc. A universidade fica marginalmente pior, os alunos com computadores com cinco anos, em vez de quatro, e eventualmente mais suja, mas nada se altera. No entanto, se o mesmo ministro anunciar que no ano seguinte as transferências passam a 50 por cento das actuais, então tudo muda. A universidade fecha cursos inúteis, encerra serviços dispensáveis, manda funcionários para os disponíveis, trata de arranjar novas receitas, aumenta as propinas para quem puder pagar, será mais activa no fund-raising, procurará parcerias com empresas, faz formação para executivos, etc., etc. Ou seja, os cortes são para ficar e a instituição ajusta-se ao novo regime. Nada disto aconteceu no nosso caso, infelizmente. Os cortes e poupanças na despesa foram fundamentalmente horizontais, e centrados nos investimentos e no congelamento das condições dos funcionários públicos. Registem-se, do lado da despesa, os ganhos de eficiência na saúde e no ensino não universitário.» Em conclusão, as medidas são suficientes para chatear, mas insuficientes para reduzir de forma sustentada a despesa.

O governo falha porque não tem tido uma política honesta. «A meio do percurso, se têm bons resultados, não se deve correr a anunciar a boa-nova. Primeiro porque confunde o público com mensagens contraditórias; segundo, porque há sempre algumas más notícias que não podem ser escamoteadas.» O governo falha por «embandeira em arco» preparando o terreno para em pouco tempo ter mais do mesmo.

07/11/2007

SERVIÇO PÚBLICO: perdida a batalha da produção e em risco de perder a batalha pelas almas?

A caminho do 3.º ano do mandato, cada vez restam menos dúvidas não estar a resultar a medicina administrada pelo governo à economia para tratar uma maleita que, em tese, não lhe diria respeito (a não ser pelo facto excruciante de ser responsável por torrar metade do PIB). A produtividade por trabalhador, das mais baixas da EU, ao crescer o ano passado a 1/3 da taxa média da UE, reduziu ainda mais a competitividade da economia portuguesa.

Se no domínio da economia o governo tem falhado os seus próprios objectivos, ainda poderia haver a esperança que a batalha da engenharia das almas tivesse a ser melhor sucedida, como parecem mostrar os índices de aprovação do governo. Contudo, estes índices não traduzem possivelmente a devoção do povo pelo governo, mas tão somente a desistência - talvez fundada - de procurar uma invisível alternativa melhor em 2009. E ainda traduzem menos a fé na «retoma» que o governo tenta injectar nas torturadas meninges dos sujeitos passivos, com as suas legiões de spin doctors e a escandalosa cumplicidade do jornalismo de causas (incluindo uma vasta porção dos conformados com o mal menor). Dúvidas? Veja-se a trajectória do indicador de confiança dos consumidores ao registar em Outubro o valor mais baixo desde Março do ano passado.

05/11/2007

ESTADO DE SÍTIO: a gestão mediática

Não se pense que a gestão mediática é um exclusivo deste governo. Este governo fá-la melhor do qualquer dos seus antecessores, mas está longe de ser o único a usar a engenharia das almas. Um modesto exemplo entre centenas de outros possíveis: em Janeiro de 2004 (ver o post do Impertinências da época), durante o consolado do doutor Barroso, entretanto exilado em Bruxelas, um tal doutor Diogo Vasconcelos, gestor da UMIC (Unidade de Missão Inovação e Conhecimento) anunciou no Wireless Communications Simposium que iria ser instalada em Portugal «a maior rede wireless académica do mundo» que iria «contaminar toda a sociedade a partir do estudante» suportada por 200 hot spots.

Passados quase 4 anos alguém ouviu falar de tal coisa? Não? Nada que nos deva admirar demasiado - o próprio doutor Vasconcelos admitiu na época que «em Portugal somos excelentes em estratégia mas falhamos na implementação».

04/11/2007

BLOGARIDADES: «5ª frase, página 161 do livro mais à mão» (ACTUALIZADO)

Até pode ser que o Impertinente pareça dar «ares de não gramar estas merdas», mas, se parece, são só ares. O Impertinente pela-se por mostrar erudição, o que lhe falta é matéria. Com a coisa mais parecida com uma biblioteca encaixotada há meses à espera do fim das obras, sob o látego do implacável empreiteiro para ir pagando à vista os autos de medição, debaixo da insaciável exigência dos clientes, a única leitura em papel mais à mão com 161 páginas é a lista telefónica.

Adenda:
Lembrei-me que tenho, há uns 3 anos, ainda no tempo em que a globalização era um tema interessante, como livro de gaveta de mesa de cabeceira Why globalization works, de Martin Wolf. Com quase 400 páginas tem inevitavelmente uma página 161 à qual ainda não cheguei (vou na página 71).

03/11/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: onde se meteram os marcianos?

- Tenho andado a pensar, onde diabo se meteram os marcianos?
- Os marcianos? Acreditas nisso?
- Claro. Só não vê quem não quer. Pensa nos milhões de galáxias como a nossa. Pensa nos milhões de sistemas solares como o nosso, em cada galáxia. Pensa nas dezenas de planetas em cada um deles. São dezenas de biliões de oportunidades para existirem algures por aí seres parecidos connosco.
- OK! Mas logo Marte? Porquê?
- E porque não? Há prova de existência de água abundante no passado, há os canais, há …
- Dou de barato que haja isso tudo, e que tenha havido marcianos, mas onde param eles?
- Vês? É esse o meu ponto. Onde diabo se meteram os marcianos?
- E então?
- Tenho uma pista. Sabes que o dia marciano dura 24 h e 40 m?
- Não sabia. E depois?
- Depois? Olha filho, como te sentes quando toca o despertador de manhã?
- Mal. Morto de sono. Digo para os meus botões, quem me dera poder ficar mais um pouco na cama?
- Vês? E quanto tempo gostarias de ficar?
- Sei lá. Talvez uns 40 minutos.


(Baseado numa estória contada por AB, ouvida num qualquer daqueles maçadores seminários, não por acaso na Alemanha, onde as coisas mais interessantes são estas estórias)

01/11/2007

CASE STUDY: por uma contra-reforma da escola pública (ACTUALIZADO)

Pedro Lomba escreveu hoje no DN (O fracasso da escola pública?) sobre o vício do debate escola privada/escola pública, que segundo ele, e eu concordo, passa ao lado de várias questões cruciais. Uma destas questões é, nas palavras de Pedro Lomba, o facto que «a escola pública tem sido, nestas últimas décadas, o melhor, o mais eficaz, senão mesmo o único realmente eficaz, instrumento de mobilidade social na sociedade portuguesa

A juventude de PL torna-lhe difícil avaliar o papel que o ensino técnico teve durante as décadas anteriores às últimas décadas na promoção social de jovens pobres com talento que as escolas comerciais e industriais (com níveis de exigência que, mutatis mutandis, envergonhariam hoje a maioria das escolas públicas e privadas) apetrechavam com ferramentas que os ajudaram a dar um chega para lá aos songamongas cujo único activo era serem um passivo das respectivas famílias. Por isso, nestas últimas décadas a falência do ensino técnico promovida pelo movimento politicamente correcto do eduquês, entre outras razões, reduziu o papel da escola pública como instrumento de mobilidade social a quase nada. Enquanto as classes alta e média alta matriculam os seus filhos nas melhores escolas privadas, as classes médias e baixa deixam os filhos onde calha e chateiam os poucos professores que ainda querem instruir os seus alunos, sob o olhar compreensivo dos apparatchiks do ME com os cérebros ensopados pelo eduquês.

É por isso que o papel insubstituível que a escola (pública ou privada) pode ter na redução das desigualdades sociais cada vez mais acentuadas passa, não por mais uma grande reforma, mas por uma contra-reforma que desinfecte o ministério da educação e o reduza à administração da instrução pública. E por uma pequena reforma: o cheque-educação (*) e a livre escolha da escola.

(*) Estava distraído! Queria escrever cheque-instrução - para a educação não há cheque.

28/10/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: a heresia do professor

Secção Frases Assassinas

«Quanto ao congresso, ficaram claras para mim duas coisas. Primeira, que Santana Lopes ganhou e (quase) sem falar, como eu tive a oportunidade de referir a propósito de outros assuntos; segunda, que Sócrates vai ter um interlocutor no Parlamento do seu nível político e intelectual.» (Público)

Três afonsos para o professor Campos e Cunha por ousar formular tal equivalência, em tempos difíceis para este tipo de formulações a respeito do senhor primeiro ministro, e tê-lo feito com tal irónica impertinência.

ESTADO DE SÍTIO: talvez tenham razão

Pacheco Pereira insurge-se contra os argumentos dos que se opõem ao referendo, em particular contra o argumento baseado na premissa «que a populaça é burra». Será que a insurgência tem fundamento? Não terão esses opositores razão? Especialmente aqueles entre os opositores do referendo que não têm propriamente uma vida, dependem duma tença paga pelos sujeitos passivos e foram eleitos pela «populaça burra».

Não vou discorrer sobre esta tese tão prometedora, mas apenas deixar umas interrogações, mais ingénuas do que cínicas. Pode-se confiar no discernimento duma «populaça» que elege tais eleitos? Não têm os eleitos razões de sobra para pensar que quem escolhe tão má moeda (que expulsou a boa moeda - nisto o professor Cavaco Silva talvez tivesse razão) não poderá estar à altura de atinar com as complexidades só ao alcance das luminárias que pastoreiam os eleitos?

CASE STUDY: uma carta já não é o que era

Demonstrando que o real neste país ultrapassa a ficção, foi ontem publicada no Expresso uma carta estritamente confidencial em mão do engenheiro Jardim Gonçalves ao seu sucessor doutor Filipe Pinhal. A carta termina com este patético apelo: «pedia-lhe, por fim, que, atendendo às razões de consciência e do foro exclusivamente privado do compromisso que agora assumo (de pagar as dívidas do seu filho ao banco), fossem tomadas as medidas necessárias para acautelar a confidencialidade deste pagamento».

Por muito assombroso que seja o seu conteúdo (que parece evidenciar que, contra tudo o que seria de esperar dum membro da Obra, o seu signatário não fala com o seu filho Filipe faz anos), mais assombrosas são as vicissitudes que a carta estritamente confidencial em mão sofreu no curto percurso que vai desde o gabinete do engenheiro Jardim Gonçalves até ao do seu destinatário.

Ainda pensei acrescentar um novo termo ao Glossário das Impertinências, mas talvez não se justifique se a carta estritamente confidencial em mão do engenheiro Jardim Gonçalves for afinal uma carta aberta, como a defini em tempos aqui, a propósito duma missiva do incontornável professor doutor Freitas do Amaral dirigida ao presidente da República através dos jornais:
É uma contradição nos termos. Uma carta é fechada. Uma carta que é aberta, não é fechada (=>La Palice). É, pois, uma carta que não é uma carta. É uma circular que tem como destinatários reais toda a gente menos o destinatário formal. É também uma grande falta de vergonha de quem a escreve, ao divulgar os seus termos por terceiros, muitas vezes antes do destinatário a conhecer, sem cuidar de saber se autorizaria. É, em suma, um insulto à inteligência de todos os seus destinatários.

27/10/2007

ESTADO DE SÍTIO: força aérea ornitorrinco

«Militares do Centro Operacional da Força Aérea de Monsanto e da Base Aérea 1 de Sintra faltaram às refeições anteontem e hoje, respectivamente, "em solidariedade com camaradas alvo de processos disciplinares", segundo a Associação Nacional de Sargentos.» (Público)Recorde-se que os camaradas alvo de processos disciplinares foram os mesmos do passeio do descontentamento do ano passado.

Diferentemente dos generais franceses que estavam sempre prontos para a guerra anterior, a Força Aérea portuguesa provavelmente nunca teve os meios adequados para fazer a última guerra e certamente não tem os meios para combater na próxima. Isso não é novidade. O que é novidade é a sua dissolução na administração pública, é a metamorfose do putativo combatente em burocrata apparatchik, que faz passeios do descontentamento, que falta ao rancho, e que tem esse estatuto reconhecido pelos tribunais. Um dia não muito longínquo fará greve, poderá ser objector de consciência e meterá baixa durante as primeiras escaramuças.

Para que serve uma força aérea que nunca teve meios e não tem agora moral, nem disciplina, nem ânimo para combater? Só para dar emprego a mais uns milhares de songamongas. Tende dó dos sujeitos passivos e fazei a liquidação destas excrescências (e das outras, já agora).

26/10/2007

ESTÓRIA E MORAL: o plano tecnológico das hortaliças

Estória

«Ontem, em Abrantes, depois das 19.00, um grupo de agricultores/comerciantes apressa-se para descarregar as frutas e as hortaliças, junto do mercado.
Será Portugal um país atrasado tecnologicamente? Para os que constantemente respondem afirmativamente a esta questão, vejam lá esta foto, onde a facturação é passada na hora, com um portátil e uma impressora em pleno parque de estacionamento. Tirei eu a foto com o tlm.
»
(de um email de MV, que ilustra um fenómeno tão extraordinário como a aparição da Virgem aos pastorinhos)

Moral

Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes.

(Desabafo tornado popular por volta de 1808 pela fraca reacção à ofensiva de Junot. Este, por essa altura, passeava-se por entre as viçosos nabiças de Abrantes, depois de ter assistido à fuga da Corte portuguesa para o Brasil. A coisa levou 7 anos a resolver e só começou a resultados práticos quando o futuro duque de Wellington meteu mãos à obra que começou aqui e concluiu em Waterloo.)

24/10/2007

ESTÓRIA E MORAL: relativamente ricos ou relativamente pobres?

Estória

Segundo o Destaque do INE divulgado no Dia Internacional de Erradicação da Pobreza, «1/5 da população residente em Portugal vivia em risco de pobreza». Entenda-se que o conceito de pobreza adoptado pelo INE é o de pobreza relativa, que segundo o critério comunitário corresponde aos rendimentos inferiores a 60% da mediana da distribuição de rendimentos líquidos. Estas medidas da pobreza, que fazem as delícias da esquerdalhada e do esquadrão do politicamente correcto, são profundamente ilusórias porque os pobres de um país podem ser os ricos de outro país e vice-versa.

Não por acaso, é exactamente o que se passa. Em valores de 2004 a linha de pobreza que o INE definiu era 360 euros mensais por adulto. Como a mediana é o parâmetro estatístico que corresponde a um valor em que exactamente metade do universo estatístico apresenta valores inferiores e a outra metade valores superiores, resulta do referido critério que a mediana seria naquele ano de 600 euros e, portanto metade dos adultos tinham rendimento mensal inferior a este valor.

Se compararmos esta mediana com a que presumivelmente se poderia (se pudesse) estimar para a África subsariana, certamente se concluiria que os pobres portugueses seriam ricos na Serra Leoa.

Segundo o US Census Bureau, em 2006 (a coisa por lá anda 2 anos à frente) a mediana da distribuição do rendimento per capita (que obviamente inclui os não adultos) era cerca de USD 26.000 por ano ou o equivalente a 1.525 Euros por mês, ou talvez mais de 3.000 Euros por adulto e mês, isto é 5 vezes o valor correspondente em Portugal. Donde os portugueses pobres segundo o INE seriam relativamente miseráveis nos EU.

Se nos lembrarmos que em 1620, quando o Mayflower chega a Plymouth, Portugal era ainda uma grande potência global (em decadência) podemos concluir que, quer consideremos que os portugueses são nos dias de hoje relativamente pobres ou relativamente ricos, nós e as nossas elites temos sido, sem sombra de dúvida, absolutamente incapazes.

Moral

Com uma pequena dose de azar e uma grande dose de incompetência é difícil, mas possível, ter chuva na eira e sol no nabal.

21/10/2007

ARTIGO DEFUNTO: consolidação quê?

As despesas totais que se estima irão aumentar este ano 2,4%, aumentarão no próximo ano 4,4%. As despesas correntes primárias (o custo das quantidades pantagruélicas de palha que a vaca marsupial pública consome) aumentarão respectivamente 1,8% e 4,2%. É claro, para reduzir o défice em 2008, sem aumentar a dívida pública que ficará em 64,1% do PIB (4,1 pontos percentuais acima do critério de Maastricht), a coisa tem que se financiar com um aumento de 5,8% das receitas totais e 3,8% das fiscais.

Que tal se o governo deixasse o défice sossegado e cortasse na despesa pública? Qual dos dois cenários será menos mau: um défice de 5% com receitas de 35% e despesas de 40% do PIB, por exemplo, ou, como é o caso, um défice de 2,4% com receitas de 42,7% e despesas de 45,1% do PIB?

Alguém me explica porquê os mídia não chamam os bois pelos nomes em vez de se enrolarem com eufemismos bacocos?

20/10/2007

SERVIÇO PÚBLICO: é por estas e por outras

«Esta é a crise financeira que me preocupa mais, de todas as que vivi. Não sei se é a pior ou não, mas é a que tem mais efeito na área de financiamento do mercado dos bancos. O sistema estava a funcionar com alavancagem a mais e é preciso travar esta alavancagem. A situação, na minha opinião, ainda não acabou, embora haja melhorias. Mas as consequências vão além deste curto período de tempo.» Disse 3.ª feira passada o doutor Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, num debate promovido no Porto pela Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial. (Jornal de Negócios)

No dia seguinte o ministro das Finanças, provavelmente o ministro mais credível que o governo conseguiu arranjar (imagine-se se), a respeito da mesma crise do subprime, na conferência sobre corporate governance organizada pela CMVM, disse que «a tempestade já passou ... Portugal demonstrou que sabe responder a estas situações ... ficou provada a solidez do sistema financeiro e da regulação». (Jornal de Negócios)

É por estas e por outras que mais facilmente confio o meu fundo de pensões ao BPI do que espero que a segurança social pague a minha pensão nos próximos 40 anos (não faço a coisa por menos, aviso já).

17/10/2007

ESTÓRIA E MORAL: O polvo socialista nunca ouviu falar de conflito de interesses

Estória

«Escritório de Vera Jardim e KPMG escolhidos para consultores do TGV
O TGV já tem consultores financeiro e jurídico. Segundo disse ao Jornal de Negócios fonte da Rave, empresa responsável pelo processo de implementação da Alta Velocidade em Portugal, já foi aprovada a escolha da consultora KPMG para a assessoria financeira do projecto, em detrimento da Deloitte e do Banco Efisa, que tinham apresentado proposta.»
(Jornal de Negócios)




O escritório de Vera Jardim é este escritório?

O Vera Jardim é este Vera Jardim?

O Sampaio é este Sampaio?

O Caldas é este Caldas?


Moral

Não basta parecer honesto, é preciso ser honesto.

PS: Um dia, após a fuga do engenheiro Guterres, o doutor Soares escreveu «ao PS fará bem uma cura de oposição ... para livrar-se de um certo oportunismo interesseiro e negocista que o atacou, como musgo viscoso». Não chegou uma cura de oposição. É preciso reenviá-lo de novo para as termas.

16/10/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: «é dizer mal, só por dizer mal»

«É dizer mal, só por dizer mal, e não querer reconhecer a acção positiva do governo» escreveu num email um detractor acidental a propósito dos posts de ontem e de anteontem.

Será? Para não me repetir, peço a ajuda de Camilo Lourenço que adjectivou ontem no Jornal de Negócios as declarações do ministro das Finanças a respeito do OE 2008 como «Batotices». Aqui vai:
«A receita do IRC cresce a 24,8%; a do IRS a 8,6%; a do IVA a 5,5%. Bem acima do PIB!!! As despesas com pessoal da Administração sobem 3,9%. As despesas correntes 3,2%. Os números (Agosto) são do Ministério das Finanças. Apesar destas evidências, o ministro continua a dizer (como fez na 6ª feira, em conferência de imprensa) que a consolidação orçamental está a ser feita, em 80%, pela via contenção da despesa pública.
Nada me move contra o ministro. Pelo contrário, até já o elogiei. Quando chegou, poucos davam alguma coisa por ele. Parecia talhado para o facilitismo. Dois orçamentos depois, Teixeira dos Santos provou que um ministro, para ser eficaz, não precisa de falar grosso. Mas isso não apaga os factos: não fora a espectacular revolução na Administração Fiscal, só teríamos o défice nos 3% lá para finais de 2008 (na melhor das hipóteses).
Onde é que isto nos deixa? Teixeira dos Santos é competente, mas não é anjinho. E, como tal, também faz as suas batotices. Uma delas foi denunciada pelo director deste jornal, no sábado, a propósito da comparação de previsões de crescimento entre Portugal e a União. A outra é apresentar o OE sem dar aos jornalistas quais elementos (sem papéis, não há análise; e sem análise, não há perguntas incómodas). Mas o que mais choca mesmo, ao analisar o OE 2008, é ficarmos com a sensação de que se podia ir (muito) mais longe.»

15/10/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: a coisa está (muito) pior do que a versão oficial faria supor

Secção Insultos à inteligência

Por indesculpável desatenção, quando escrevi o post a ecoanomia presa na armadilha do endividamento e o axioma do lugar do outro e onde ironizei sobre a obsessão governamental de fazer o lugar das empresas e das famílias em vez de reformar a administração pública, etc. , não tinha ainda lido as extraordinárias declarações do ministro das Finanças durante a conferência de imprensa de apresentação do OE 2008:
«uma Economia mais forte depende acima de tudo do esforço dos cidadãos, e não é tarefa do Estado»
Assim dito de repente, faz esquecer que todo o programa de governo, as declarações, as políticas adoptadas, os momentos-Chavéz (copyright do Abrupto) do engenheiro Sócrates, estão fundados na premissa exactamente oposta, ou seja que a economia depende acima de tudo do esforço do estado, e não é tarefa dos cidadãos.

A que se deve a novidade? No mínimo, a um lapsus linguae, ou, para citar Freud, a um desejo inconsciente de sacudir a água do capote, alijar a mochila, agora que se intuiu que o mau tempo não é passageiro e que a carga é muito mais pesada do que o imaginado. No máximo, a uma enorme desfaçatez e a um indesculpável atentado à inteligência dos sujeitos passivos.

No mínimo leva o doutor Teixeira dos Santos 3 chateaubriands e 4 urracas e no máximo leva 2 ignóbeis.

14/10/2007

CASE STUDY: a ecoanomia presa na armadilha do endividamento e o axioma do lugar do outro

O discurso cronicamente optimista do governo sofre uma (breve) pausa com as más notícias do desemprego que teima em não diminuir e as previsões de crescimento do FMI. Concentra-se momentaneamente nos auto-elogios ao milagre do redução do défice, conseguido à custa essencialmente do aumento das receitas fiscais (veja-se a demonstração feita neste post). O discurso certamente voltará, inevitavelmente reforçado e cada vez mais desligado da realidade, em sintonia com a doutrina oficial da «confiança», cuja putativa falta, decorrente das políticas dos governos Durão Barroso e Santana Lopes, segundo a explicação oficial, explicaria a anomia.

Não ocorrerá ao governo que se a causa fosse a falta de «confiança», a confiança já deveria ter regressado depois de 2 anos de poses de estado e de maciças manipulações mediáticas? Não ocorrerá ao governo que, como o próprio reconhece, sendo o problema principal a retracção do investimento, a solução terá que passar pelo seu aumento? Não ocorrerá ao governo que se o investimento for público (TGV, novo aeroporto, etc.), terá que ser financiado directa ou indirectamente com mais impostos e não terá senão um efeito marginal e evanescente na capacidade produtiva? Não ocorrerá ao governo que o aumento do investimento privado interno carece da (inexistente) poupança das famílias (endividadas) ou das decisões de investimento das empresas (endividadas)? Não ocorrerá ao governo que as empresas que produzem para o mercado interno não têm muitas razões para investir dada a retracção do consumo? Não ocorrerá ao governo que a retracção do consumo é o resultado inevitável do elevado nível de endividamento e do aumento das taxas de juro e do aumento do desemprego? Não ocorrerá ao governo que as empresas que produzem para exportação não são suficientemente competitivas, nem na qualidade e inovação, nem nos preços? Não ocorrerá ao governo que, por estas últimas razões, o país não é suficientemente atractivo para investimento directo estrangeiro, a menos que maciçamente subsidiado (por mais impostos)?

Não ocorrerá ao governo que no caminho para a convergência económica, para usar o europês, o seu papel não é fazer o lugar das empresas e das famílias, não é fazer o lugar do outro, é fazer o papel que ninguém poderá fazer por ele? Ou seja numa palavra
encolher:
reformar a administração pública, reduzir o aparelho de estado e a sua omnipresença sufocante, aliviar a burocracia, tornar a justiça eficiente, financiar a saúde e a instrução públicas, administrar o 1.º pilar dum sistema de pensões e pouco mais.