Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (122) - A Passarola Afundada (XIV)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

O Dr. Costa, o homem-elástico, esteve à beira da rotura

A evolução das sondagens colocou à prova a elasticidade do Dr. Costa que começou por recusar qualquer entendimento com o PSD, o CDS, o PCP, o BE, o PAN e o Chega, acabou a garantir que estaria capaz de falar com todos, excepto o Chega, e até mandou o adjunto que gosta de malhar na direita garantir que o PS estaria disponível por fazer um acordo de cavalheiros com o Dr. Rio o que, pressupondo a existência de pelo menos dois cavalheiros, não me parece nada realista. O Dr. Costa demonstrou assim, mais uma vez, que os princípios não são para ele um fim em si mesmos e reafirmou a sua devoção pelo groucho-marxismo.

O Dr. Costa além de muito elástico tem vários chapéus

Na verdade, até tem uma samarra que envergou para dar uma cor local à sua campanha no Alentejo.

Com o seu chapéu de líder do PS, o Dr. Costa criticou os políticos que defendem que o futuro das pensões fique dependentes do «jogo de mercado», ou seja políticos como ele próprio, cujo governo tem 4,5 mil milhões do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social aplicados em acções e 14,7 mil milhões aplicados em obrigações, uns e outros cotados em bolsa.

Com o seu chapéu de economista-chefe de S. Bento, o Dr. Costa anunciou o crescimento de 4,6% em 2021 antecipando-se ao INE. E se o INE não confirmar? Nesse caso o Dr. Costa poderia fazer como o sultão Recep Tayyip que demitiu o director do INE turco por publicar dados «incompatíveis com os valores nacionais e morais». Dêem-lhe tempo.

Choque da realidade com a Boa Nova

O muitas vezes anunciado contrato-programa da ferrovia assinado em Junho de 2021 com a IP, que faz parte do pomposíssimo Programa Nacional de Investimentos 2030, foi prorrogado pela terceira vez. Como se sabe, isso para o Dr. Costa e a sua equipa não é um problema, é uma oportunidade, a oportunidade de continuar a fazer anúncios sobre o mesmo tema, caso um eleitorado abúlico lhe dê a oportunidade de continuar em S. Bento a fazer anúncios.

A difícil convivência do socialismo com a aritmética

O Dr. Leão estimou em Setembro o custo até então das medidas de resposta à pandemia em 30 mil milhões de euros. O Conselho das Finanças Públicas, no relatório Perspetivas Económicas e Orçamentais 2021-2025 estimou o impacto líquido total dessas medidas em 4,2% do PIB em 2020 e 2021 o que em contas redondas (PIB de 2020 = 202,4 mil milhões e crescimento de 5% em 2021) dá 17 mil milhões em dois anos. O Tribunal de Contas estimou em Dezembro o custo dessas medidas em 2020 em 5,7% do PIB ou seja uns 11,5 mil milhões. A semana passado a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) estimou que entre Janeiro e Setembro de 2021 o impacto directo das medidas de política covid-19 no saldo orçamental foi de -4 milhões de euros. Será que o Dr. Leão está a aplicar o célebre multiplicador keynesiano ao custo das medidas Covid?

30/01/2022

DIÁRIO DE BORDO: Clowning for a cause (3)

Uma continuação daqui

Durante a campanha eleitoral Ricardo Araújo Pereira a propósito e também a despropósito fez humor com algum gosto e também com mau gosto e verrina, hostilizando e ridicularizando os visados, o que fez com quase toda a gente. Em contraste, foi notória a suavidade com que tratou o pessoal do BE e especialmente visível a simpatia com que acolheu os comunistas.

"Isto é gozar com quem trabalha", foi assim uma espécie de tempo de antena suplementar do PCP, a pretexto de inocentes piadas que eram mais oportunidades para o convidado brilhar.

Declaração (im)pertinente de voto - só se pode escolher o que está à escolha (4)

 

Entre o prejuízo da certeza e o benefício da dúvida, escolhemos o benefício da dúvida e votamos coligados para uma coligação.


Impertinente ............................................ Pertinente

29/01/2022

CONDIÇÃO MASCULINA: Pronto, ele disse-o. Vamos ver se vai ser cancelado pelo Wokeism

«Acho que os homens, na minha opinião, se tornaram demasiado feminizados. Há mulheres muito fortes na minha vida que não consideram a masculinidade como um sinal de opressão em relação a elas. Há muitos genes covardes, eu acho, que levam as pessoas a desistir dos seus jeans e vestir uma saia.»

Sean Penn em entrevista ao Independent 

Um exemplo de que o mundo não é unidimensional como acreditam e querem fazer acreditar as mentes unidimensionais. Sean Penn é um conhecido esquerdista que foi ao Iraque apoiar Saddam, ao Irão apoiar os aiatolas, defendeu o presidente Hugo Chávez e entrevistou o presidente cubano Raul Castro em Havana, et pourtant.

Lost in translation (359) - O que falhou foi claramente a Dielmar não ser "estratégica"

Um destes dias, o secretário de Estado Adjunto e da Economia falando sobre a intervenção do governo do Dr. Costa na Dielmar disse

«O que falhou foi claramente uma gestão que não correspondia às necessidades da empresa. A intervenção do Estado era minoritária e a gestão era dos accionistas privados. Por diversas vezes nós procuramos, do lado da intervenção pública, alterar a situação porque manifestamente não correspondia às necessidades que objectivamente existiam.»

Tendo acompanhado esta saga nas Crónicas da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa deveria perceber o que a criatura quis dizer. Não percebi e recorri ao expediente do costume: o web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data. Depois de 15 minutos o web bot devolveu uma mensagem ininteligível de erro terminada em fuck them.

Em desespero, alimentei o bot com o que escrevi sobre a Dielmar nas Crónicas nos últimos 3 meses e o resultado da tradução pelo bot foi:
«A verdade é que nenhum de nós no governo faz a menor ideia de como se gere um negócio. Somos quase todos funcionários públicos com empregos vitalícios e os poucos que não são estão em empresas parasitárias que vivem penduradas no Estado. Nem um negócio de venda de castanhas assadas num carrinha qualquer de nós seria capaz de lançar, quanto mais gerir uma empresa de confecções que só seria viável exportando a maior parte da sua produção. O que fazemos bem é torrar dinheiro em empresas “estratégicas”, que é o nome a que damos às empresas onde torramos dinheiro. O que fizemos, portanto, foi tentar que os sindicatos e os apparatchiks da câmara de Castelo Branco não nos chateassem, sobretudo com eleições à vista, e para isso injectámos lá dinheiro dos contribuintes e demos garantias que no futuro serão pagas pelos mesmos contribuintes, esperando que um “privado” ficasse com o mono. Porém, apesar de privados, os "privados" estranhamente não se mostraram muito entusiasmados em torrar lá o seu dinheiro.»

Esta tradução do bot parece saída da pena de um advogado que trabalha para o Estado. Para mim uma tradução curta e grossa ficaria como no título deste post. 

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O que escrevi sobre a Dielmar nas Crónicas nos últimos 3 meses:

28/01/2022

O Dr. Costa como groucho-marxista é o homem-elástico por excelência

O módulo de Young, ou módulo de elasticidade, mede a relação entre as tensões aplicadas e as deformações do material. Como se pode ver na evolução retratada nas citações seguintes, as deformações da política de alianças do Dr. Costa face às tensões das sondagens mostram sem sombra de dúvida que é feito de um material muito deformável. Mais de que um marxista, o Dr. Costa é um groucho-marxista: se com dificuldade podemos encontrar nele alguns princípios, com facilidade ele arranjará outros se não gostarmos dos originais.

17-08-2015 «um resultado que permita dar uma maioria absoluta»

26-09-2015 «Uma maioria absoluta é o que o PS precisa, é o que o país precisa»

04-10-2015 O Dr. Costa perde as eleições

10-11-2015 A geringonça chumba o programa de governo da coligação vencedora das eleições

26-11-2015 O Dr. Costa toma posse como primeiro-ministro da geringonça

27/01/2022

Novo Império do Meio, um gigante com pés de barro (3) - A engenharia social não costuma dar bons resultados

Continuação de (1) e (2)

China’s birth rate continues to fall

Primeiro foi política do filho único adoptada nos anos oitenta, algo só possível numa tirania, que acelerou a tendência para a taxa de fertilidade baixar quando melhoraram as condições económicas das famílias. A queda abissal do crescimento demográfico levou o Partido Comunista Chinês a tolerar primeiro dois e mais tarde três filhos. O resultado perverso foi que a taxa de natalidade e o crescimento demográfico ainda desceram mais. 

Igualmente perversa foi à resposta à liberalização do número de filhos que aumentou o número de abortos, o que levou Conselho de Estado a limitar o aborto aos casos médicos e o governo a considerar patriótico o dever de ter filhos. A complicar tudo, há preferência asiática por ter filhos em vez de filhas, o que está a levar à redução do rácio homens-mulheres. Em resultado de tudo isto o número de nascimentos desceu de 12,0 milhões em 2020 para 10,6 milhões em 2021 e o número de mulheres em idade fértil em 2021 foi 5 milhões inferior ao número de 2020.

O falhanço dos planos chineses de engenharia social é no campo demográfico o equivalente ao falhanço dos planos quinquenais na economia soviética.

26/01/2022

O problema da corrupção não é só moral (5) - Menos transparência do que os mais desenvolvidos e menos crescimento do que os mais opacos. É assim como o pior de dois mundos

Continuação descontinuada de (1), (2), (3) e (4)

Repetindo-me: se a corrupção fosse grave apenas por razões morais e éticas já seria mais do que suficiente para merecer a nossa atenção. Mas não é grave só por isso. É igualmente grave porque a corrupção é um factor de distorção do racional das escolhas económicas, que passam a ser feitas, não com base dos benefícios líquidos previstos, empresariais ou públicos, que delas se esperam que resultem, mas com fundamento no interesse de pessoas ou grupos que não têm legitimidade para intervir nessas escolhas.

Transparency International

25/01/2022

Para explicar a incompetência socialista podemos usar o dilema do Impertinente em alternativa ao trilema de Žižek

Como aqui recordei, faz mais de uma década, durante a ocupação comunista da Eslovénia, o filósofo esloveno Slavoj Žižek constatou que que, sob um regime de constrangimento ideológico, as virtudes de honestidade, inteligência e adesão sincera a esse regime eram incompatíveis.

Não quero insinuar, o que reconheço seria um pouco exagerado, que o trilema de Žižek se aplique simplisticamente ao regime mitigado de constrangimento ideológico que resulta do domínio pela esquerdalhada da maioria dos mídia no Portugal dos Pequeninos. 

Ainda assim, somos todos os dias confrontado com a incompetência governativa inexplicada mesmo por opções ideológicas - se é que este governo tem uma ideologia para além do propósito de inchar o Estado sucial para multiplicar oportunidades de negócio e de colocação da sua gente - pelo que sinto necessidade de uma ferramenta analítica para explicar esse facto dado que, não podendo garantir não haver socialistas competentes, o certo é não conhecer nenhum.

Como primeira tentativa de explicação, formulo o seguinte dilema: ou bem que todos os socialistas são incompetentes ou bem que os socialistas competentes vivem na clandestinidade.

24/01/2022

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (121) - A Passarola Afundada (XIII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

A mentira é o contrário da verdade e a mentira estúpida é o contrário da mentira inteligente

A mentira do Dr. Costa sobre as empresas falidas do antigo accionista da TAP de David Neeleman, o que segundo ele teria justificado a nacionalização da TAP, foi tão inútil e estúpida que até a imprensa amiga se viu em palpos-de-aranha para lhe limpar a folha. Como se fosse pouco, o Dr. Costa ainda teve arrogância para responder «era o que faltava» ao pedido de desculpa que Neeleman que lhe exigiu.

«Em defesa do SNS, sempre»

A semana passada foi a vez de chegar ao Hospital de Beja a epidemia de demissão dos chefes das urgências. Enquanto isso terminou na terça-feira passada a PPP do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, apesar do Tribunal de Contas ter concluído em Março do ano passado que «a gestão dos hospitais privados foi “genericamente mais eficiente” do que a média dos hospitais públicos, com custos operacionais por doente mais baixos e padrões de qualidade mais altos». (Económico)

É mais um exemplo da lei das consequências imprevistas típica das políticas socialistas - a pretexto de defenderem o SNS criam mais oportunidades de negócios para os malvados privados.

Para um socialista o que importa não é a separação de poderes é o poder

Foi recordado algures que a Dr. Van Dunem, quando já ministra da Justiça foi nomeada para o Supremo Tribunal de Justiça e trocou o chapéu de ministra pela toga para tomar posse em 2016.

A novela da «Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central» continua por mais uma temporada

Decorrido um ano e meio de nacionalização, a EFACEC tem mais 200 milhões de dívidas e facturou em 2021 menos de metade do que facturara no ano anterior. O governo acabou de a meter debaixo do tapete para evitar ser tema da campanha eleitoral, adiando por mais um semestre e acrescentando mais umas dezenas de milhões.

O algodão não engana. O Dr. Pedro Nuno Santos é um verdadeiro socialista

O Dr. Pedro Nuno Santos, comprou em Julho de 2020 a sucata da Renfe com amianto, declarando que Portugal (isto é, ele próprio) «pode ensinar a outros Estados estrangeiros e também a alguns privados como fazer bons negócios». Um ano e meio depois, foram recuperadas nas oficinas da CP 3 das 50 carruagens que aguardam certificação. A este ritmo não é certo que estejam todas recuperadas antes do Dr. Pedro Nuno se reformar.

Take Another Plan

Até o Dr. Costa foi ao Açores viajando na Ryanair, reconhecendo que também nos voos para as Regiões Autónomas (um dos álibis para manter o bezerro de ouro da TAP) os preços da TAP são mais ou mesmo muito mais caros.

23/01/2022

Não nos equivoquemos. O Dr. Costa não sofre de cegueira ideológica, ele sofre de falta de princípios a que chama pragmatismo

No artigo de opinião «Os custos da ideologia na política» no jornal Nascer do Sol, o economista Manuel Boto atribui as políticas dos últimos governos socialistas a «uma armadilha ideológica» onde supõe que o Dr. Costa tenha caído «que o tolhe nas opções das decisões racionais e mais lógicas para Portugal em cada momento».

Nada mais errado, Dr. Costa não caiu em nenhuma armadilha ideológica, nem está preocupado com as ideologias dos seus parceiros na geringonça, por cuja aliança sem princípios esses parceiros cobram o preço para satisfazerem as suas clientelas. O Dr. Costa perdendo as eleições de 2015 tomou uma decisão sem a qual não teria podido formar governo, decisão racional e lógica para ele e para um PS que procura ocupar o Estado sucial com os seus apparatchiks em benefício das respectivas clientelas.

"Eleições faz de conta". Quem não tem cão caça com gato e talvez o gato consiga caçar. Mas será que o gato caça o bicho certo?

Continuação de "Eleições faz de conta". Quem não tem cão caça com gato. Mas será que o gato consegue caçar?

Pela primeira vez nos quatro anos de liderança do Dr. Rio, o PSD está à frente do PS com 1 pp nas últimas sondagens da CNN. O facto é tão inédito que não pode ser ignorado, apesar das reservas quanto à metodologia da Pitagórica, à dimensão da amostra e à percentagem de indecisos. A má notícia é que se fossem estes os resultados uma coligação do PSD só teria mais votos do que uma geringonça ressuscitada com o apoio do Chega. 

Isso talvez signifique que o PSD do Dr. Rio pode ganhar as eleições o que é definitivamente muito menos mau do que a eleições serem ganhas pelo PS do Dr. Costa ou de outro qualquer, com ou sem geringonça. Mas as ideias do Dr. Rio não passam a ser boas pelo facto dele poder ganhar as eleições, sendo certo que a política é a arte do possível, como dizia o Otto von, que também disse outras coisas como comparar os parlamentos a fábricas de salsichas.

22/01/2022

Numa democracia defeituosa o chefe escolhe os deputados. Numa democracia funcional os deputados escolhem o chefe (2)

Continuação de (1)

Ainda antes de estar concluído o inquérito de Sue Gray, Second Permanent Secretary to Cabinet Office ao "partygate", inquérito cujas conclusões podem mandar Boris Johnson para reforma, um número indeterminado mas pelos vistos significativo de deputados está a entregar cartas de "não confiança" ao presidente do Comité 1922 (o equivalente aos nossos grupos parlamentares).

O que explica a rebelião desses deputados, muitos deles antes fervorosos apoiantes de BoJo, eleitos em 2019 pelas circunscrições das Midlands e do Norte conquistadas ao Partido Trabalhista, são as recentes sondagens que mostram o desagrado dos eleitores tradicionalmente trabalhistas pelo governo conservador (muito devido aos escândalos e ao estilo errático e fanfarrão de BoJo) prenunciando que em novas eleições esses lugares poderão ser perdidos. 

É a diferença entre um sistema onde os deputados dependem dos eleitores e elegem os líderes, como no Partido Conservador ou participam num colégio eleitoral como no Partido Trabalhista, em contraponto a um sistema, como o do Portugal dos Pequeninos, onde os deputados dependem dos líderes.

21/01/2022

Dúvidas (329) - À custa de querer parecer outros, ainda saberá ele, o homem-elástico, quem é? (4)

Continuação de (1), (2) e (3)

O Dr. Costa em 2015 assinou um papel com o PCP, o seu anexo verde e o Bloco de Esquerda e ainda há dois anos se vangloriava de que «o fim da incomunicabilidade entre as forças de esquerda em Portugal (de que ele foi o autor) eliminou o último vestígio que havia do Muro de Berlim. Foi uma conquista muito importante para a democracia portuguesa».

Por inacreditável que pareça, o mesmo Dr. Costa queixa-se agora que o chumbo do OE 2022 dos mesmos PCP e BE que lhe «cortaram as pernas» é «imperdoável» e classifica o PS que ele aliou à extrema-esquerda como «o partido do bom senso, da responsabilidade, do diálogo, da concórdia nacional que no PREC evitou a confrontação. E na pandemia soube unir o país». 

O Dr. Costa não tem um pingo de vergonha e até para ele é demasiado desaforo. O Dr. Mário Soares que nunca foi um modelo de coerência deve ter dado saltos na tumba.

20/01/2022

As teorias da conspiração alimentam-se das improbabilidades

Uma espécie de continuação de A pandemia como campo de batalha de crenças quase religiosas.

A pandemia, como todos os eventos geradores de pânico, é um domínio por excelência para construir teorias da conspiração, a começar pelas suas origens, que vão desde uma maquinação/acidente com arma biológica dos EUA/China/Rússia/... até às ondas do 5G, a tecnologia da quinta geração para redes móveis e de banda larga, esta última uma criação de D. Jelena Djokovich, esposa do tenista com o mesmo nome.

Ainda no mesmo domínio, as teorias da conspiração continuam em relação às medidas tomadas a pretexto da pandemia, muitas vezes baseadas casos extremamente improváveis a que os mídia geralmente dão relevo baseados no conhecido princípio de que notícia não é um cão morder um jornalista mas um jornalista morder um cão.

Lembrei-me disto ao ler ontem duas notícias: (a) uma cantora checa, para evitar ser vacinada, expôs-se deliberadamente ao contágio para obter um certificado de recuperação, foi infectada e acabou por morrer; (b) um garoto de 6 anos com a primeira dose de vacina e teste positivo morreu no hospital por causas ainda não determinadas. 

No primeiro caso, os paranóicos da vacinação, borrifando-se para o facto de a vacina apenas preparar o sistema imunitário e reduzir a probabilidade de morrer da Covid, gritarão "ó rejeccionistas estão a ver o que faz não se vacinarem?" No segundo, os "rejeccionistas", borrifando-se para o facto de até agora só terem morrido 3 crianças com menos de 9 anos e nenhuma delas vacinada, gritarão "ó maluquinhos das vacinas estão a ver o que faz ser vacinado". 

E, portanto, é isto. Feitas as contas, receio que as criaturas cépticas, com um módico de bom senso e não prosélitos de nenhuma dessas crenças constituam uma insignificante minoria.

19/01/2022

"Eleições faz de conta". Quem não tem cão caça com gato. Mas será que o gato consegue caçar?

Sondagem das Sondagens - Rádio Renascença

O diagrama acima compara os resultados das eleições de 2019 com a média das últimas sondagens da Pitagórica, Aximage, CESOP/UCP, ICS/ISCTE e Intercampus. Mais de 2 anos depois das últimas eleições, as intenções de votos no PSD aumentaram praticamente o mesmo das do PS. 

Sob reserva de que sondagens são sondagens e, como se viu nas eleições autárquicas, falham decisivamente, se o PSD, depois de quatro anos de liderança do Dr. Rio, está a 8 pp do PS com um governo desgastado por 6 seis anos no poder e vários pp abaixo do resultado das eleições de 2015 conseguido por um PSD desgastado por quatro anos de governo a resgatar um Estado falido, temos de concluir que o Dr. Rio não é obviamente o cão que o PSD precisa e está longe de demonstrar que é um gato que saiba caçar.

Lost in translation (358) - A mentira é o contrário da verdade e a mentira estúpida é o contrário da mentira inteligente

Spectator 

Desta vez, para traduzir não precisei do web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data. A Spectator adiantou-se a traduziu assim o bullshit de BoJo:

«No one told me I was in charge»

18/01/2022

TRIVIALIDADES: A socorrer as vítimas de acidentes, como no resto, o Estado sucial é ineficiente (e provavelmente ineficaz)

Uma vez outra, reparo que nas notícias sobre acidentes são mencionados sempre "operacionais" e viaturas que "estiveram no local". A olho, os números de uns e outros sempre me pareceram excessivos mas, desta vez, resolvi tirar as coisas a limpo e, para os leitores do (Im)pertinências não pensaram que aqui também se pratica o palpite e se sofre da maldição da tabuada, fiz a pesquisa «feridos acidente operacionais viaturas site:pt» e encontrei na última semana os seguintes acidentes:

Nestas matérias, como em todas as outras, os apparatchiks que pululam no Estado sucial queixam-se sempre de "falta de recursos". Feitas as contas, em 13 acidentes com 37 vítimas "estiveram no local" 185 "operacionais" e 76 viaturas, a uma média de 5 "operacionais" e 2 viaturas por vítima.

17/01/2022

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (120) - A Passarola Afundada (XII)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

O Dr. Costa não ofende a verdade porque não se aproxima dela o suficiente para lhe causar danos

Por falta de espaço, não é costume nestas crónicas tratar das mentiras que a classe política avia a um eleitorado ignaro e distraído. Abro uma excepção e cito duas do Dr. Costa no debate com o Dr. Rio: ter baixado o peso dos impostos no PIB, afirmação que até o Avante da Sonae desmentiu, e ter nacionalizado a TAP para evitar a sua falência porque a Azul do accionista David Neeleman estava falida, o que é falso.

Take Another Plan

Nos tempos do governo do Sr. Eng. Sócrates, o amigo do Dr. Costa Dr. Lacerda Machado, na qualidade de administrador da Geocapital intermediou a compra em 2005 no Brasil da Varig Engenharia e Manutenção, hoje uma empresa participada da TAP que a Comissão Europeia obrigou a vender.

É um mono que segundo o Dr. Pedro Nuno Santos terá custado até agora quase mil milhões de euros à TAP, e que se estima irá ainda custar mais 110 milhões, milhões que o mesmo Dr. Pedro Nuno classifica de «uma brutalidade». Perguntarão, como assim? quase mil milhões em 16 anos? então o Dr. Santos não torrou na TAP mais de dois mil milhões em apenas um ano e meio e já prometeu continuar com 1.200 milhões? Pois foi, mas ele é uma pessoa modesta e prefere salientar obra dos seus antecessores.

Recorde-se que depois do dinheiro que lá enterrou, o Dr. Pedro Nuno anunciou sem se rir que no futuro a TAP deve integrar-se num grande grupo de aviação e, também sem se rir, o Dr. Costa no debate com o Dr. Rio prometeu vender 50% do capital.

Ex-ministro absolvido por ser um «cidadão médio normal»

Se a incompetência, a desfaçatez ou o ridículo fossem mortais o Dr. Azeredo Lopes teria falecido logo no dia da sua entrada como ministro da Defesa numa instalação militar, entrada que aconteceu pela primeira vez por ter sido dispensado do Serviço Militar Obrigatório (pé chato?). Como sobreviveu à comédia de Tancos, poderia ao menos ter sido condenado pelas acusações que o MP lhe fez sobre o papel que lá desempenhou. Não foi por várias razões, incluindo por ter lido mas não ter entendido um memorando e uma "fita do tempo" que o tribunal considerou ser difícil de entender para um «cidadão médio normal».

Ex-ministro reconhece que governo de Sócrates deu uma «resposta insuficiente» à crise

O ex-ministro em causa é o Dr. Teixeira dos Santos que numa entrevista à RTP3 reconheceu mais de 10 anos depois que o governo do qual foi ministro das Finanças deu uma «resposta insuficiente» à crise e agora acha «que o país ficou mais robusto após a troika».

16/01/2022

Numa democracia defeituosa o chefe escolhe os deputados. Numa democracia funcional os deputados escolhem o chefe

The Spectator

Numa democracia avariada o Dr. Costa e o Dr. Rio afastam os candidatos a deputados em quem não confiam e escolhem os candidatos amigos.

Numa democracia funcional, o líder do partido e primeiro-ministro é escolhido pelos deputados eleitos. 

Numa democracia avariada se o primeiro-ministro organiza uma festa com os seus próximos na residência oficial violando as regras do confinamento, isso é lá com ele.

Numa democracia funcional se o primeiro-ministro organiza uma festa com os seus próximos na residência oficial violando as regras do confinamento isso é com o parlamento e os deputados do seu partido. E mesmo que o primeiro-ministro peça desculpa ao parlamento, o funcionário público responsável por verificar o cumprimento do código de conduta dos membros do governo irá fazer um inquérito.

É o que está a acontecer em Westminter em que Sue Gray, Second Permanent Secretary to Cabinet Office, a funcionária pública que já mandou três membros do governo para a reforma por conduta inadequada, iniciou um inquérito que pode muito bem levar à demissão do primeiro-ministro Boris Johnson e de outros membros do governo que em Maio do ano passado estiverem numa festa nos jardim do 10 Downing St a beber uns copos. Se assim for, o novo líder dos tories e primeiro-ministro será eleito pelos respectivos deputados.

15/01/2022

A arte de bem titular toda a notícia (4)

No dia 10 o INE publica o Destaque com o seguinte título Exportações e importações aumentaram 15,7% e 32,3%, em termos nominais - Novembro de 2021, onde informava que o resultado desses aumentos foi o agravamento do défice da balança comercial: 
O défice da balança comercial de bens aumentou 1 162 milhões de euros face ao mês homólogo de 2020 (aumentou 389 milhões de euros em relação a novembro de 2019), atingindo 2 097 milhões de euros em novembro de 2021.
O défice da balança comercial tem sido um problema crónico na economia portuguesa contribuindo para o endividamento face ao exterior. Num curto período durante o governo "neoliberal" o défice diminuiu para voltar a aumentar com o governo socialista e se diminuiu em 2020 foi pela redução das importações resultante da queda da procura de bens durante a pandemia.  


Dito isto e concluindo-se que os factos relevantes são um aumento das importações superior ao das exportações e o consequente agravamento do défice comercial, veja-se como os diferentes jornais titularam os mesmos factos relatados pelo INE:
Repare-se que dois jornais fazem de porta-vozes do ministro, um apenas titula o aumento das exportações e um único jornal (o DN) sublinha o facto mais relevante que é o agravamento do défice.

14/01/2022

Dúvidas (328) - Ficarão os devotos de Trump como os Tupis do Padre Anchieta?

«President Trump on Vaccines: From Skeptic to Cheerleader

He once blamed vaccines for autism. Now he’s demanding the quick development of one for the coronavirus, but shows limited understanding of the science.» (NYT

«Former President Donald Trump was booed by a portion of an audience in Dallas on Sunday when he said he had received a Covid-19 booster shot, according to video of the closed press event that was shared on social media.» (CNN)

 «"Well, I’ve taken it. I’ve had the booster,” Trump said in the interview. “I watched a couple of politicians be interviewed and one of the questions was, ‘Did you get the booster?’ .... And they, ‘Oh, oh,’ they’re answering it — like in other words, the answer is ‘Yes,’ but they don’t want to say it. Because they’re gutless.”» Donald Trump em entrevista ao canal conservador One America News Network (abc news)

[Corria o ano de 1554, num certo dia, numa breve parada, após longa, acelerada e extenuante caminhada para Reritiba à frente dos Tupis que lhe carregavam as trouxas, o Padre Anchieta deu-se conta que os índios, sentados sobre as suas tralhas se recusavam a recomeçar. Perguntando-lhes o porquê, explicaram-se os Tupis, com grande soma de pachorra, que na rapidez da caminhada a alma lhes tinha ficado para trás e tinham precisão de esperar por ela.]

Conseguirão os devotos de Trump acompanhar a sua extenuante caminhada ou ficarão como os índios Tupis na estória do Padre Anchieta?

13/01/2022

DIÁRIO DE BORDO: Estórias do outro mundo (6) - Um telefonema de Melmac sobre prisão perpétua e castração química

Outras estórias do outro mundo: (1), (2), (3), (4) e (5)

Conheci Alf, aka Gordon Shumway, em pessoa (se é que "pessoa" é aplicável a um natural de Melmac) no Verão de 2002, quando ele passava férias com os Tanners na Quinta da Balaia. A primeira vez que o vi teria uns 245 anos e corria atrás de um gato, um dos muitos que lhe atribuíram ter comido nas redondezas.

Depois disso Alf ligou-me algumas vezes através do Skype, que em Melmac se chama Skalpe, sobre vários temas do Portugal dos Pequeninos que ele acompanha regularmente através do Holomac (o canal de TV por holograma de Melmac). O seu último contacto foi a pretexto do reviralhismo, uma doença julgada extinta e epidémica nos tempos do doutor Salazar, de que sofreu o Dr. Mário Soares durante a intervenção da troika, síndrome que, segundo Alf, seria explicada pela manipulação da mente do Dr. Soares durante o alegado rapto em 2014 por uma civilização avançadíssima do planeta Kepler-186f.

Desta vez o telefonema de Alf foi sobre a campanha eleitoral em curso que ele tem acompanhado nos resumos de um programa do Holomac dedicado às civilizações primitivas de outras galáxias. Alf estranhou não se discutirem ideias sobre envelhecimento da população, sustentabilidade do sistema de pensões, crescimento económico, baixa produtividade, carga fiscal, corrupção e o peso crescente do Estado. Ele entendeu que os temas principais da campanha eram a prisão perpétua, que ele sabia ter sido abolida há mais de 130 translações, e a castração química dos pedófilos. Lá tentei explicar, sem sucesso, que para os partidos domésticos essas são questões vitais, mas ele arrumou um assunto com uma pergunta "porque não eliminam os dois problemas repondo a pena de morte?", acrescentando "de uma cajadada matam dois gatos".

12/01/2022

Dúvidas (327) - À custa de querer parecer outros, ainda saberá ele, o homem-elástico, quem é? (3)

Continuação de (1) e (2)

«Tenho acompanhado os debates e o meu destaque vai para António Costa. O primeiro-ministro está em grande forma. Seja quem for o adversário, encontra o ponto fraco de cada um e não larga. Com Jerónimo de Sousa, Costa é um responsável estadista das contas certas, que reprova a imprudência da extrema-esquerda. Com André Ventura é a La Pasionaria de São Bento, último reduto anti-fascista. Com Inês Sousa Real é um pragmático ambientalista, contra as utopias bucólicas do PAN. Com Francisco Rodrigues dos Santos é um progressista e compassivo homem de esquerda, face à tacanhez conservadora. Com Rui Tavares é um garante da solidez governativa.

Aposto que hoje, com Catarina Martins, vai ser o político consciente que não sacrifica o equilíbrio orçamental em troca de medidas populistas, e na quinta-feira, com Rui Rio, o político humanista que não sacrifica as pessoas em troca de equilíbrio orçamental. Ainda vai conseguir culpar Catarina Martins pelas eleições antecipadas. E colar Rui Rio, que sempre foi crítico da PAF, a Passos Coelho, ao mesmo tempo que consegue evitar que se fale do facto de ter sido número dois do Governo Sócrates, que conduziu o país à bancarrota e chamou a troika.

António Costa é uma espécie de canivete suíço político. Tem um truquezinho para lidar com cada situação. Desde o tempo em que traiu António José Seguro ou que passou a não falar em José Sócrates, que se sabia que Costa tem duas caras. Mas agora, no espaço de uma semana, vimos que afinal tem mais meia-dúzia. O mais impressionante é que é credível com qualquer uma delas. Sempre ouvi dizer que os opostos se atraem, mas não sabia que era possível reunirem-se na mesma pessoa. Costa é o Tom e o Jerry, o Lennon e o McCartney, o Bucha e o Estica, tudo amalgamado. Quando o adversário é extremista, Costa é moderado. Quando é utópico, ele é realista. Quando o opositor é de direita, Costa é paladino da igualdade. Quando é de esquerda, Costa pugna pela liberdade. E tem sempre defesa para qualquer ataque que lhe façam sobre os 6 anos em que governou. Como um camaleão, que se adapta ao ambiente para sobreviver, António Costa também se farta de dar à língua. No fundo, tem dupla face como aquela fita-adesiva que cola dos dois lados: para ganhar, tanto se pode juntar à esquerda, como à direita.»

José Diogo Quintela no Observador

11/01/2022

De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (54) - Qual a letalidade do Covid-19? (10) O caso de Portugal 23 meses depois

Este post faz parte da série De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva e é uma continuação de Qual a letalidade da Covid-19? (9) O caso de Portugal 18 meses depois

Recordando a distinção entre taxa de letalidade, que relaciona o número de óbitos com o número de infectados, e a taxa de mortalidade que relaciona o número de óbitos causados por uma epidemia com a população, num caso e noutro com referência a uma determinada área (mundo, pais, região, cidade, etc.).

Recordando também algumas das patetices (nalguns casos pura manipulação) que os mídia publicaram no início da pandemia: 
  • 06-03 - «O novo coronavírus é igual à gripe? Não. Mata 26 vezes mais» (Sábado)
  • 19-03 - «Organização Mundial de Saúde (OMS) avançou na semana passada que a taxa de mortalidade do vírus se encontra nos 3,4%» (Expresso)
  • 29-03 - «a taxa de letalidade subiu para 2% » (SIC Notícias)
  • 12-04 - «Em Portugal, a taxa de mortalidade situa-se agora ligeiramente acima dos 3%» (ionline)
  • 13-04 - «A taxa de mortalidade subiu para 3%, disse a ministra da Saúde» (DN)
  • 13-04 - «OMS diz que o novo coronavírus é dez vezes mais mortal que o vírus da gripe de 2009» (Público)
  • 16-04 - «Portugal tem taxa de letalidade de 3,3%. A média europeia é de 8,6%» (DN)
  • 19-04 - «A taxa de mortalidade belga está perto dos 15%» (Observador)
  • 20-04 - «o que fez baixar ligeiramente a taxa de mortalidade para 3,52%» (Observador)

Como se pode ver no gráfico seguinte, à medida que são feitos cada vez mais testes aumenta o denominador da taxa de letalidade, isto é, o número de novos casos, e o numerador aumenta a um ritmo cada vez menor em resultado de:

  • menor gravidade das novas variantes do SARS-Cov-2
  • parte das pessoas de risco (idade e comorbilidades) já faleceram
  • evolução do conhecimento médico e de novas terapias e 
  • percentagem crescente de vacinados. (*)
Assim, depois de ter atingido um máximo de 4,4% no princípio de Junho do ano passado, a taxa de letalidade foi descendo gradualmente situando-se em 1,2%.
 


O próximo gráfico mostra a mesma evolução por regiões.

Escola Nacional de Saúde Pública

(*) Uma palavra para os efeitos adversos das vacinas que segundo os dados do Infarmed em quase 20 milhões de doses administradas apenas foram registados cerca de 21.500 casos até ao final de 2021. É claro que sempre se podem construir teorias da conspirações mas, nesse caso, compete aos conspiradores o ónus de prova.

Post scriptum: uma outra palavra para o facto de um número não determinado mas provavelmente significativo dos óbitos atribuídos à Covid, são apenas mortes por outras causas de pessoas que estavam infectadas mas em que o SARS-Cov-2 não foi a causa adequada da morte, como se diz no direito - leia-se por exemplo o artigo «Quedas de idosos fazem saltar mortes por covid-19» do PÁGUNA UM.

10/01/2022

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (119) - A Passarola Afundada (XI)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Os amanhãs que o Dr. Costa promete irão cantar

Um governo mais compacto tipo task force (sim, ele prometeu isso e ninguém lhe perguntou porquê, depois de 6 anos com os maiores governos desde Dona Maria II), um salário mínimo de 900 euros no final da legislatura (sim, ele prometeu isso, e ninguém lhe perguntou quem vai pagar um salário mínimo que pode ser mais de 80% do salário médio), foram algumas entre muitas outras promessas do Dr. Costa. Porém, as mais impressionantes foram as de fazer «crescer (o PIB) por ano, em média, ( ... ) um ponto percentual acima da média da zona euro (19 Estados- membros)» e «reduzir, no mínimo, até 2026, o peso da dívida pública no PIB para valores inferiores 110%» (leia-se aqui o que João Duque escreveu sobre este milagre).

Até no peditório o governo do Dr. Costa é incompetente

Espanha, França, Grécia e Itália no final do ano já tinham cumprido todos os requisitos para receberem a segunda tranche do PRR. O governo do Dr. Costa ainda anda às voltas do "acordo operacional" com a CE e não cumpriu ainda os 34 marcos e as 4 metas para aceder à mineração do guito europeu.

A «Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central» pode estar a caminho de vir a ser mais uma EP

Desde Julho de 2020 o Dr. Siza Vieira tenta impingir sem sucesso a EFACEC da Dr.ª Isabel dos Santos que o governo nacionalizou. Os putativos interessados foram-se sucessivamente desinteressando e a DST, o último deles, está por um fio, segundo o Expresso. Nesta altura o governo já lá enterrou 115 milhões em garantias a empréstimos bancários e 1.050 milhões da linha Covid. É claro que nenhum "privado", como se chama em socialês uma criatura que não depende totalmente do Estado sucial, no seu perfeito juízo vai ficar com um mono sem ser devidamente "compensado" por todas as razões já conhecidas e mais uma que acabou de ser conhecida: uma acção de indemnização de 53 milhões proposta pela empresa brasileira Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM). Daí que para evitar o escândalo nos títulos dos jornais de one shot de umas centenas de milhões , o desfecho mais provável é o mono vir a juntar-se às centenas de outros que constituem o sector "empresarial" do Estado e diluir não já as centenas de milhões mas os milhares de milhões por várias décadas - deve ser isto que estão a chamar plano B.

09/01/2022

A maldição da tabuada (58) - É um completo desaforo, mas também podem ser dificuldades com a aritmética

Outras botas para descalçar

«… o PS acaba de prometer fazer "crescer (o PIB) por ano, em média, ( ... ) um ponto percentual acima da média da zona euro (19 Estados- membros)". Mas também promete "reduzir, no mínimo, até 2026, o peso da dívida pública no PIB para valores inferiores 110%”. Imagine-se que os 19 Estados-membros crescem 1%. Nesse caso o PIB português deveria crescer 2%. Se a taxa de inflação média no período for de 2% a taxa nominal do PIB será de 4%. Mas para limitar a dívida a 110% do PIB o défice acumulado de quatro anos não pode ser superior a 1%! Sabem o que isso significa? Significa que temos de reduzir o défice quase imediatamente a zero logo em 2022! E para isso, o que vão fazer? Com promessas de despesa crescente o que nos vão rapar em impostos? Se prometem reduzir os impostos diretos e querem reduzir o consumo de combustíveis onde nos vão sugar os nossos rendimentos? Na eletricidade que carregam os automóveis elétricos? Nos consumos caseiros? Como? Como? Como?» 

«Como?», pergunta-se o prof João Duque na sua coluna habitual do Expresso

A pandemia como campo de batalha de crenças quase religiosas

De um lado os que consideraram gripezinha uma pandemia com uma taxa de letalidade várias vezes superior à da gripe comum. De outro os que anteciparam uma taxa de letalidade muitas vezes superior à que de facto se está a verificar e consideram a pandemia como uma ameaça existencial para a humanidade.

De um lado os que preconizam o uso de máscaras em todas as circunstâncias. De outro os que defendem que as máscaras são inúteis para prevenir um contágio que se faz principalmente através de aerossóis.

Também há os que perante a suposta ameaça existencial defendem a concentração de todos os recursos médicos e hospitalares no tratamento da pandemia, ainda que a realidade mostre que daí resulta um excesso de mortalidade por outras causas superior à mortalidade pela pandemia. 

De um lado os que, contra toda a evidência histórica, incluindo os resultados já disponíveis das vacinas Covid, defendem que as vacinas são uma emenda pior do que o soneto. De outro os que lhe atribuem efeitos miraculosos e que defendem a sua imposição a todos.

Também há os que, quando ainda não estão vacinados todos os adultos de risco, defendem que às crianças saudáveis, com um risco mínimo de adoecer com gravidade, lhes seja administrada uma vacina que, como qualquer outra, não impede o contágio .

Feitas as contas, receio que as criaturas cépticas, com um módico de bom senso e não prosélitos de nenhuma dessas crenças constituam uma insignificante minoria.

08/01/2022

São todos iguais mas há uns menos iguais do que outros

A tabela seguinte ordena 23 dos 35 países membros da OCDE segundo o desempenho económico durante a pandemia até ao final do 3.º trimestre com base em cinco indicadores. 
Posição de Portugal nos cinco indicadores: 
  • PIB 2.ª maior queda
  • Rendimento per capita 3.ª maior queda
  • Cotação das acções 7.º maior aumento 
  • Investimento 11.º maior aumento
  • Dívida Pública 11.º maior aumento
Note-se que que as posições menos más no 3.º 4.º e 5.º indicadores resultam de fenómenos perfeitamente circunstanciais: no caso do aumento das cotações deveu-se ao facto do ponto de partida ser muito baixo (o aumento entre 24-02 e 01-10 foi inferior a 2%); no caso do investimento, a pandemia seguiu-se a quatro anos de cortes e cativações; finalmente, a dívida pública já era a 3.ª mais alta da UE antes da pandemia.

07/01/2022

SERVIÇO PÚBLICO: Menos máscaras, menos confinamento e mais ventilação (3)

Continuação de (1) e (2)

Há muitos meses que se conhecem os mecanismos de transmissão da pandemia nomeadamente o papel crítico dos aerossóis e a consequente importância da ventilação, como referi nos posts anteriores. No entanto, raramente se têm retirado consequências em termos das medidas a tomar. Tem por isso uma importância acrescida a carta aberta que um grupo de centenas de especialistas em saúde pública, clínicos e cientistas publicou no passado dia 3 na British Medical Journal da qual cito a seguir as cinco recomendações principais:

«Acolhemos com satisfação a orientação recente da Organização Mundial da Saúde sobre o uso de máscaras na comunidade e na área de saúde, mas acreditamos que mais pode ser feito para suprimir a transmissão sem impactar negativamente a atividade econômica ou social. Consequentemente, apelamos à Organização Mundial da Saúde e aos governos nacionais para:

  1. Declarar inequivocamente o SARS-CoV-2 como um patógeno aerotransportado e enfatizar as implicações para a prevenção da transmissão. Uma mensagem clara da Organização Mundial da Saúde ajudará a remover a confusão que tem sido usada para justificar políticas desatualizadas.
  2. Promover o uso de máscaras faciais de alta qualidade para reuniões internas e outros ambientes de alta transmissão. Os benefícios significativos do mascaramento comunitário agora estão bem estabelecidos. Respiradores (por exemplo, N95, P2 / FFP2 ou KF94) devem ser preferidos em todos os ambientes internos onde as pessoas se misturam e para profissionais de saúde em todos os momentos. 
  3. Aconselhar sobre ventilação e filtração eficazes do ar. É hora de ir além de abrir as janelas e buscar uma mudança de paradigma para garantir que todos os prédios públicos sejam idealmente projetados, construídos, adaptados e utilizados para maximizar o ar limpo para os ocupantes - estratégias que têm demonstrado reduzir a transmissão SARS-CoV-2.
  4. Estabelecer critérios para impor ou relaxar medidas para reduzir a propagação de covid-19 com base nos níveis de transmissão na comunidade. A localização, teste, rastreamento, isolamento e suporte eficazes continuarão a ser essenciais para interceptar a transmissão. Baixas taxas de transmissão dão a todas as medidas disponíveis a melhor chance de serem eficazes, criando um ciclo positivo e auto-reforçador de controle da doença. Apoio financeiro e prático suficiente para o isolamento deve ser implementado em todos os lugares, especialmente em países de baixa e média rendimento e áreas mais pobres de países de alto rendimento.
  5. Apoiar medidas urgentes para alcançar a igualdade global de vacinas, incluindo a partilha de vacinas, suspensão de patentes de vacinas, remoção de barreiras à transferência de tecnologia e estabelecer centros de produção regionais para criar um suprimento local abundante de vacinas de alta qualidade em todos os lugares. O lançamento global da vacina deve incluir esforços coordenados para lidar com a desinformação para garantir que as pessoas tenham acesso a dados precisos e oportunos sobre a eficácia e proteção da vacina.»

06/01/2022

A democracia não está de boa saúde em lado nenhum e na Ásia está gravemente doente

«Em Mianmar o chefe das forças armadas tomou o poder com um golpe em fevereiro e, desde então, governou pelo terror. O general Min Aung Hlaing não apenas eliminou anos de frágeis conquistas democráticas. Com obstinada ignorância, tenta colocar seu país de volta a um modelo de disciplina, ordem e governo militar benevolente. Na realidade, as suas tropas massacram cidadãos desarmados enquanto os investidores estrangeiros fogem e a economia implode. Longe de unir Mianmar, ele está acelerando a sua dissolução.

Mianmar tornou-se a segunda ditadura militar no Sudeste Asiático, juntando-se à vizinha Tailândia que também está sob o comando de um (agora aposentado) general de inteligência limitada, Prayuth Chan-ocha, o primeiro-ministro. Uma das piadas mais sombrias do ano passado é que o general Min Aung Hlaing pediu conselhos a Prayuth sobre a construção de uma democracia florescente.

Os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático também incluem duas ditaduras leninistas, Laos e Vietnã (ou três, se, ironicamente, incluirmos Singapura); uma monarquia absoluta, Brunei, com chicotadas e amputações como possíveis punições; e uma autocracia muito pobre, Camboja, onde Hun Sen, no poder por quase 37 anos, concede favores com a generosidade de um imperador de outrora em Angkor.

Quanto às democracias nominais da região, nas Filipinas, o presidente Rodrigo Duterte agrediu a justiça e e a imprensa. Na Indonésia, o presidente Joko Widodo, conhecido como Jokowi, usa as leis da Internet para silenciar os críticos e desfigurou a comissão anticorrupção. O movimento reformista da Malásia sucumbiu às mesmas negociações sujas tal como o partido corrupto a quem retirou do poder em 2018. Em 2021, alguns dos reformistas juntaram-se a esse partido para formar um novo governo.

No Sul da Ásia, ainda menos alegria. Uma teocracia de tráfico de drogas tomou o poder no Afeganistão. No Sri Lanka, o presidente Gotabaya Rajapaksa e seus irmãos continuam a transformar o Estado num feudo familiar. E na Índia, o primeiro-ministro, Narendra Modi, persegue os críticos, atiça as tensões sectárias e esvazia as funções de supervisão do Parlamento. A ironia dos seus planos em escala imperial para remodelar Nova Deli está à vista: o antigo edifício do parlamento irá tornar-se um museu da democracia.»

Democracy declined across Asia in 2021

05/01/2022

Lost in translation (357) - «M'espanto às vezes», como o Sá de Miranda, até que sou iluminado pelo nosso tradutor automático...

Como habitualmente, ao sobrevoar os jornais deparei-me com expressões enigmáticas em vários dialectos e apliquei-lhe a receita costumeira submetendo-as ao nosso tradutor automático. Eis duas delas traduzidas por um web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data:

  • «Henrique Gouveia e Melo, ex-coordenador da task force de vacinação, na tertúlia de comemoração dos 157 anos do DN, em resposta à pergunta: "O que o DN representa para si?"» respondeu «Um precursor do jornalismo livre»

Tradução: O DN em 157 anos serviu de câmara de eco a toda a sorte de regimes com destaque para os tempos do PREC em que foi dirigido pelo falecido José Saramago e atingiu o apogeu do que eu considero imprensa livre.     

  • «Num atentado nunca visto à liberdade de imprensa em Portugal na era digital, os sites do EXPRESSO e da SIC, bem como algumas das suas redes sociais, foram esta manhã alvo de um ataque informático”, escreveu a Impresa numa nota enviada às redacções a comunicar o ataque de ransonwere aos seus sistemas informáticos.

Tradução: Por falta de um sistema eficaz de protecção de ransonwere, os sites do EXPRESSO e da SIC foram atacados e estão sob controlo do bando de hackers Lapsus$ o que nos impede de ter acesso ao sistema e continuarmos a produzir o jornalismo possível sem hostilizar o Dr. Costa e o Dr. Marcelo, que resto são nossos amigos e por quem temos imenso respeito.

De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (53) - Ómicron? So much ado for so little

Este post faz parte da série De volta à Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva.

Nos dois gráficos seguintes estão representadas as infecções (gráfico de cima) e os óbitos (gráfico de baixo) pelo SARS-CoV-2 em dois períodos:

  • Da 2.ª semana de Outubro de 2020 até à 2.ª semana de Fevereiro de 2021 (do lado esquerdo) 
  • Da 1.ª semana de Outubro de 2021 até ao dia 2 de Janeiro deste ano (do lado direito).

O primeiro período corresponde à maior letalidade registada até agora e o período actual à vaga de infecções pelo Ómicron, uma variante muito mais contagiosa e, como se vê, muitíssimo menos letal. Qual o racional para o presente histerismo e o endurecimento das medidas?

03/01/2022

A maldição da tabuada (57) - Mais um socialista que só conhece os números imaginários

DISCLAIMER: Não frequento o Twitter e não costumo ler o que escreve o Dr. Galamba. Um amigo enviou-me uma imagem com a bacorada original da luminária que «frequentou um doutoramento em Filosofia Política na London School of Economics» e que da teoria dos números só conhece os números imaginários. O original foi apagado, mas, pelos vistos, pôde ser recuperado.

Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (118) - A Passarola Afundada (X)

Avarias da geringonça e do país seguidas de asfixias

Computadores para a escolas, um case study do socialismo em acção

Em Abril de 2020 foi anunciada a compra de 1.200.000 computadores só autorizada em Julho. Em Janeiro do ano passado, tinham sido entregues 100 mil. Em Março do ano passado foi anunciado pela terceira ou quarta vez a aquisição de mais 350 mil. O Tribunal de Contas concluiu em Julho seguinte no seu relatório que 60% dos computadores anunciados só estariam disponíveis no próximo ano lectivo 2021-2022.

Em Outubro passado, o Avante da Sonae anunciava que o «Ministério já comprou mais 600 mil computadores e no mês seguinte, na falta dos 600 mil, o mesmo Avante anunciou que o Ministério vai comprar 15 mil computadores de secretária para as escolas». No princípio de Dezembro, outro órgão da imprensa amiga anunciava que há «600 mil computadores prestes a ser distribuídos pelos alunos» e no final do mês outro órgão da imprensa amiga consolava o povo com uma retrospectiva do passado lembrando que em 2020 foram distribuídos 450 mil e 300 mil em 2021 e, como dizia disse o Eng. Guterres a respeito do PIB, «é só fazer as contas» e chegamos a 750 mil.

Se o Dr. Costa ganhar as eleições o delegado da Fenprof no ministério terá a oportunidade continuar a fazer anúncios de que vai comprar, já encomendou, já comprou, vão chegar, chegarão em breve, estão prestes a chegar, até ao dia em que anunciará ufano chegaram!

A excelência na torrefacção

O ministro do Plano congratulou-se por ter "executado" 3.400 milhões dos fundos europeus no que foi o segundo melhor ano de sempre. Para um marciano como eu, há três coisas surpreendentes neste feito: 1.ª desde logo o verbo "executar" aplicado a gastar o dinheiro doado pelos contribuintes europeus; 2.ª os "projectos" em que esse mesmo dinheiro foi "executado" terem sido aprovados por gente que nunca geriu uma empresa, nem criou um negócio, nem mesmo um carrinho para vender castanhas assadas, ou criou um posto de trabalho; last but not least o primeiro melhor ano de sempre foi atingido pelo governo neoliberal de Passos Coelho em 2012.

Take Another Plan. Até para o Dr. Pedro Nuno Santos é demasiado

Depois de ter patrocinado a renacionalização da TAP promovendo com o dinheiro dos contribuintes a compra das participações dos accionistas privados e pelo caminho ter já torrado mais de dois mil milhões e comprometido mais 1.200 milhões que o multiplicador socialista transformará seguramente em muitos mais, o Dr. Pedro Nuno anunciou sem se rir que no futuro a TAP deve integrar-se num grande grupo de aviação. Ora os grandes grupos de aviação que existem são privados, a não ser que o Dr. Pedro Nuno queira a TAP a ser participada da China Southern Air Holding Company.