29/01/2022

Lost in translation (359) - O que falhou foi claramente a Dielmar não ser "estratégica"

Um destes dias, o secretário de Estado Adjunto e da Economia falando sobre a intervenção do governo do Dr. Costa na Dielmar disse

«O que falhou foi claramente uma gestão que não correspondia às necessidades da empresa. A intervenção do Estado era minoritária e a gestão era dos accionistas privados. Por diversas vezes nós procuramos, do lado da intervenção pública, alterar a situação porque manifestamente não correspondia às necessidades que objectivamente existiam.»

Tendo acompanhado esta saga nas Crónicas da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa deveria perceber o que a criatura quis dizer. Não percebi e recorri ao expediente do costume: o web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data. Depois de 15 minutos o web bot devolveu uma mensagem ininteligível de erro terminada em fuck them.

Em desespero, alimentei o bot com o que escrevi sobre a Dielmar nas Crónicas nos últimos 3 meses e o resultado da tradução pelo bot foi:
«A verdade é que nenhum de nós no governo faz a menor ideia de como se gere um negócio. Somos quase todos funcionários públicos com empregos vitalícios e os poucos que não são estão em empresas parasitárias que vivem penduradas no Estado. Nem um negócio de venda de castanhas assadas num carrinha qualquer de nós seria capaz de lançar, quanto mais gerir uma empresa de confecções que só seria viável exportando a maior parte da sua produção. O que fazemos bem é torrar dinheiro em empresas “estratégicas”, que é o nome a que damos às empresas onde torramos dinheiro. O que fizemos, portanto, foi tentar que os sindicatos e os apparatchiks da câmara de Castelo Branco não nos chateassem, sobretudo com eleições à vista, e para isso injectámos lá dinheiro dos contribuintes e demos garantias que no futuro serão pagas pelos mesmos contribuintes, esperando que um “privado” ficasse com o mono. Porém, apesar de privados, os "privados" estranhamente não se mostraram muito entusiasmados em torrar lá o seu dinheiro.»

Esta tradução do bot parece saída da pena de um advogado que trabalha para o Estado. Para mim uma tradução curta e grossa ficaria como no título deste post. 

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O que escrevi sobre a Dielmar nas Crónicas nos últimos 3 meses:

11-10-2021

Na corrida contrarrelógio para salvar a Dielmar os putativos compradores, numa manobra que visa extrair mais dinheiro, primeiro desistiram e, depois do Dr. Siza Vieira lá ter injectado mais 320 mil euros, vão pensar melhor. Mas 320 milhões não chegam nem para mandar cantar um cego quanto mais para zerar as dívidas à banca (6 milhões), a fornecedores (2,5 milhões) e à Segurança Social (1,7 milhões).

01-11-2021

Depois de anunciar várias vezes o salvamento da Dielmar por empresários que tiveram o juízo suficiente para saltar fora quando perceberam o que se propunham comprar, foi anunciado uma oferta 25 vezes maior do que a dos empresários desistentes. Oferta que qualquer pessoa com um módico de bom senso desconfiaria e classificaria como lunatismo, a não ser que tenha lá nas entrelinhas a condição de um subsídio que cubra a oferta.

08-11-2021

Escrevi que a oferta 25 vezes maior do que a dos empresários desistentes apresentada há duas semanas era uma coisa perfeitamente lunática e, nem de propósito, poucos dias depois veio a saber-se que o autor da proposta estava acusado de burla e falsificação. Entretanto, um outro interessado Outfit 21 desistiu da compra por não ter conseguido financiamento e os sindicatos acusam o Dr. Costa de na campanha para as autárquicas ter lá ido garantir que a Dielmar era para salvar, o que desabona tanto o Dr. Costa pelas suas promessas vãs, como os sindicatos pela sua credulidade.

15-11-2021

Os credores da Dielmar decidiram o seu encerramento. Restou ao Dr. Siza ir pedir a um empresário de Viseu amigo do governo que ficasse com os activos que restam do mono por 250 mil euros, deixando dívidas para o Estado (incluindo segurança social) de quase 10 milhões, 6 milhões à banca e 2,5 milhões a fornecedores.

06-12-2021

Pela enésima vez, a venda da Efacec e da Dielmar foram sucessivamente a anunciadas e adiadas.

13-12-2021

A Dielmar que ia ser vendida, que já foi vendida, que final ainda não, voltou a estaca zero e foi aberto novo concurso para a compra da marca e dos activos industriais. Se nos lembrarmos que, depois de mais de um ano desta novela, a imagem da marca está pelas ruas da amargura e que os activos industriais estão obsoletos, é prudente não depositar muitas esperança no concurso.

27-12-2021

O Dr. Siza já estava em Agosto numa «corrida contrarrelógio para salvar a Dielmar» desistiu depois de lá torrar uns 8 milhões e deixou a coisa entregue ao administrador de insolvência que queria vender pelo mínimo de 384 mil euros e a melhor proposta, porque única, foi de 250 mil.

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