30/06/2015

DIÁRIO DE BORDO: Sucumbir à chantagem

«Se o euro falhar, a Europa falha», disse Angela Merkel a propósito de uma eventual saída da Grécia da Zona Euro e Jean-Claude Juncker propõe «um acordo de última hora» ao governo grego

Ocorre-me um Jean-Claude alcoólatra (não é precisa muita imaginação) perante uma ameaça de extorsão por um chantagista Alexis (ainda é precisa menos imaginação) de divulgar publicamente o seu alcoolismo crónico, a implorar-lhe: «Alexis, imploro-te, não digas a ninguém. Isso arruinaria a minha carreira».

Convocar um referendo para decidir se o eleitorado aceita ou rejeita medidas de austeridade é a continuação da chantagem sobre a troika, irremediável demagogia, manipulação em estado puro e falta de coragem de submeter a verdadeira escolha que é permanecer ou sair da Zona Euro.

Pro memoria (245) – «A forma mais democrática de expressar a vontade popular são eleições não um referendo»


Adivinhe quem disse a propósito do referendo grego:
«You know better than me that if the Greek Prime Minister himself tries to have the people face such dilemmas, the real default will be inevitable, and the Greek banks and the Greek economy will collapse before we even reach the voting booth. Just because of the possibility that the people may face such a dilemma, they might vote “No.” »
O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras himself em Outubro de 2011 na sua encarnação de líder do Syriza, a propósito do referendo que o primeiro-ministro da época Papandreou pretendia convocar.

Continuando a citar o Greek Reporter:
«The current Prime Minister of Greece had then accused Papandreou of despair and had characterized his announcement of a referendum as a “disaster for the Greek economy” and a “harbinger of bankruptcy,” considering it a trick used by the Greek government in its effort to buy more time in power. And he had come into the following conclusion: “The most democratic way of expressing the popular will is elections, not a referendum

De boas intenções está o inferno cheio (35) – A religião é a política por outros meios? (VIII)

Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.


É certo que a ONU reconheceu o direitos dos bolivianos a mastigar a folha de coca, mas até mesmo para um papa como Francisco a coisa é um bocadinho esotérica ou sou eu, agnóstico, que estou a ver mal?

29/06/2015

Pro memoria (244) - O equívoco helénico, os desastres infligidos pela França e as pressões de Obama


Se, conforme a lenda (*), a Grécia dos coronéis tivesse sido 25 séculos antes o berço da democracia, o Zimbabué de Mugabe bem poderia ter sido o berço da humanidade e nem por isso alguém com juízo haveria de imaginar o soba no Conselho Europeu e o Zimbabué a ter condições para integrar um mercado comum e ainda menos uma união monetária. Entre outras razões porque o Zimbabué depois de uma década de socialismo africano com inflação de 4 dígitos começou agora a trocar dólares americanos por dólares do Zimbabué a uma taxa de 1 para 35 mil biliões (35 com 15 zeros). Quem diz o Zimbabué diz a República Centro-Africana.

Absurda a comparação? Réfléchissez à nouveau. Pois se Valéry Giscard d'Estaing, amigo do peito de Constantinos Karamanlís, abriu à Grécia em 1981 as portas da então Comunidade Económica Europeia, que só 5 anos mais tarde aceitaria Portugal e a Espanha (com ruidosa oposição e chantagem da Grécia, recorde-se), que sem isso nunca teria sido aceite, o que teria impedido d’Estaing de abrir as portas à República Centro-Africana já que se declarou em 1975 «amigo e membro da família» de Jean-Bédel Bokassa, o canibal presidente até 1987? Possivelmente muito pouco, para além da distância de Bruxelas a Bangui ser 2,5 vezes a de Bruxelas a Atenas.

Não satisfeita por ter infligido à União Europeia, pela mão do gaullista d’Estaing, o desastre da adesão grega, a França ainda infligiu uma década depois, pela mão do socialista François Mitterrand, o desastre do euro, fazendo a Alemanha aceitar a moeda única, com grande relutância de abandonar o querido deutsche mark, como contrapartida da reunificação. Duas décadas depois os dois desastres conjugaram-se para criar o desastre perfeito: a crise da Grécia a cavalo da crise do euro.

Por tudo isto, devemos ver com o maior cepticismo as pressões de Obama para ceder à Grécia e mantê-la na Zona Euro (tradução: mantê-la afastada da Rússia de Putin). Ainda que isso faça sentido para os Estados Unidos que, torrando triliões de dólares para manter um duvidoso controlo sobre as cliques que se sucedem no poder no Paquistão, devem achar barato os biliões de euros necessários para manter as cliques gregas no poder, não faz nenhum sentido para uma Europa já suficientemente dividida para manter no seu interior um Estado falhado governado por uma aliança de comunistas com chauvinistas cujo programa comum é a chantagem à UE.

(*) No dia seguinte a ter escrito este post, Henrique Raposo escreveu no seu blogue no Expresso o post «A Grécia não inventou a democracia», para o qual remeto, que explica o essencial sobre a lenda do berço da democracia,

Mitos (205) – A oposição à «ajuda» da Zona Euro à Grécia vem de Portugal, Irlanda e Espanha

Este é um dos mitos de estimação da esquerdalhada doméstica e acessoriamente da esquerdalhada grega.

E, no entanto, as críticas mais duras às chantagens e ao parasitismo do governo grego vêm de outras paragens. Por exemplo da Eslováquia, pela boca do seu ministro das Finanças Kazimir que foi citado como tendo dito a Varoufakis que os ministros das Finanças responsáveis só prometiam aos cidadãos benefícios que pudessem ser suportados. Mas não só a Eslováquia, também a Letónia, a República Checa, a Hungria e a Polónia.

O que há de comum a estes críticos da governação grega? Os seus povos provaram durante 40 anos, desde a ocupação pelos exércitos soviéticos até à queda do muro de Berlim, as receitas servidas pelas cozinhas comunistas e não estão com vontade de financiar os menus preparados pela palhaçada comunista do Syriza com os temperos da extrema direita chauvinista do Anel.

Já agora, deixem-me voltar a colocar a pergunta maldita: o que diria a esquerdalhada doméstica se a Nova Democracia formasse um governo com o Anel?

28/06/2015

Mitos (204) – Autópsia do radicalismo chique ateniense

«Durante cinco meses a Europa exigiu aquilo que nem Tsipras nem o Syriza podiam dar. E esse aquilo chama-se governo. A geração de líderes radicais (de que Tsipras é um exemplo) passou (ao colo das instituições e dos jornalistas) das universidades para os estúdios de televisão. Daí chegaram à política. Ou melhor dizendo aos movimentos. Não distinguem os votos das audiências. E confundem palmas com resultados.

A fragmentação dos Syriza, Podemos, BE. não acontece por acaso. São o resultado do excesso de egos e da falta de pensamento político desses agrupamentos que naturalmente ao primeiro choque com a realidade voltam ao seu estado natural: divididos e acusando-se de torpezas e traições. O Syriza, o Podemos ou o BE apregoam todos os dias a sua superioridade por enquanto movimentos serem uma alternativa aos velhos partidos. Nada mais falso. Eles são movimentos porque não conseguem ser partidos. Não têm líderes, não têm pensamento e não têm estratégia para tal.

Na verdade estes movimentos não passam de grupos, cada um deles a achar-se mais puro e mais revolucionário que os outros e o que nesta crise grega é crucial sempre prontos a acusarem os outros de terem traído, de se terem vendido… Era este calvário que Tsipras sabia que o aguardava em Atenas caso negociasse. E para esse exercício de solidão ele, Tsipras, o rapaz de quem as televisões gostavam, não tem nem personalidade nem um partido.

(…) Nesta crise grega houve de facto falta de experiência, de inteligência e de um partido que tivesse à frente um líder capaz de negociar logo ceder em muita coisa para ganhar outras. Não houve e daí o falhanço.

Tsipras nunca teve condições políticas para negociar um acordo. E também não as conseguiu criar. Procura agora condições para romper as negociações. Afinal o seu programa não é governar a Grécia. É ficar bem na fotografia. Ou pelo menos não estragar a imagem que ganhou nos estúdios de televisão onde politicamente nasceu e onde as teses dos radicais fazem sempre mais sentido que todas as outras.
»

Excertos de «Tsipras: o homem que não podia negociar», Helena Matos no Observador

ARTIGO DEFUNTO: Os movimentos diplomáticos vistos pelo jornalismo de referência


Um oitavo da primeira página do Expresso e seis oitavos da terceira dedicados a construir uma espécie de teoria da conspiração baseada em processos de intenção a propósito de uma entre meia dúzia de reaberturas de embaixadas. Usa-se a técnica do costume: um título pleno de insinuações e um texto inócuo. É um preocupante desperdício de talento conspirativo.

ESTADO DE SÍTIO: «A bolsa VIP do fisco» (5)

Continuação de (1), (2), (3) e (4)

Não é espantoso que uma questão relacionada essencialmente com a violação da confidencialidade dos dados fiscais tenha sido usada como arma de arremesso pela oposição e pelos sindicalistas e é agora pasto para os protestos destes últimos contra um «plano de acção desenhado pela Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) para reforçar a segurança informática e controlar o acesso aos dados fiscais»?

E porque protestam os sindicalistas? Por estarem «à margem das discussões»; por obrigar «os funcionários a justificar a consulta das informações fiscais»; por dificultar a «informação que os contribuintes solicitam via telefone ou via digital não lhes vai ser facultada» (é preciso uma grande lata e uma enorme falta de vergonha para contar estas estórias para serem lidas por quem algum dia tentou falar por essas vias para o Fisco).

Em conclusão, segundo o apparatchik do PCP que dirige o Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, as medidas do plano de acção «só se podem entender à luz de tentar encobrir o crime da constituição da lista VIP e a tentar esconder a incompetência do secretário de Estado Paulo Núncio nesta matéria».

27/06/2015

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (41) - Sentido de oportunidade


Porque será que o dislate «Syriza já conseguiu mais do qualquer governo bem comportado da Europa» do professor de Economia Política Ricardo Paes Mamede dito a dias da apresentação do seu «primeiro livro a solo», depois de 5 meses do governo grego a fingir que negociava, na véspera de Tsipras anunciar um referendo no dia 5 de Julho sobre a medicina prescrita pela troika pelas instituições para o homem doente da Europa e de o Eurogrupo recusar a extensão do programa, me fizeram lembrar a apresentação do livro «Testemunho de um Banqueiro» de João Rendeiro e as suas declarações auto laudatórias na véspera do pedido de resgate do seu banco BPP ao governo?

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (29) Unintended consequences (VIII)

Outras marteladas.

Tal como nos EU, com a inundação de dólares da máquina do quantitative easing da Fed, também no Japão a máquina do BoJ está a soprar a bolha dos mercados de capitais. O índice Nikkei 225 acaba de atingir o valor mais alto desde 1996 e desde Outubro o Nikkei aumentou 44% puxado pelas compras de acções dos grandes fundos de pensões para compensar a falta de rentabilidade das obrigações e nem por isso as perspectivas de crescimento deixarão de ser anémicas – 0,8% este ano.

Outro efeito não pretendido das políticas dos bancos centrais foi esta semana apontado pela OCDE que chamou a atenção para as taxas de juros baixas estarem a comprometer a solvência dos sistemas de capitalização das pensões (não vale a pena falar dos sistemas de distribuição que estão por natureza insolventes nos países envelhecidos) que têm quase metade dos seus activos representados por títulos de rendimento fixo. O mesmo risco estão a correr as seguradoras que têm de garantir aos seus segurados uma rentabilidade mínima dos seguros de capitalização e de pensões.

Porém, o mais fascinante é constatar que a Economist, que tem defendido o quantitative easing e as políticas de juros evanescentes, políticas que provavelmente estão a preparar a próxima crise e a recessão seguinte, dedicou o número de 13 de Junho a alertar para os riscos decorrentes da falta de espaço de manobra nas taxas de juro próximas de zero e nos triliões que inundam os mercados de capitais e imobiliário para poder usar essas políticas na próxima recessão. Dito de outro modo, queixaram-se de ser difícil tratar a próxima doença, causada pela medicina prescrita para tratar a anterior, com essa mesma medicina.

26/06/2015

Presunção de inocência ou presunção de culpa? (23) – Escarafunche-se

A propósito do relatório preliminar da auditoria do Tribunal de Contas à gestão de 2008 a 2012 da Câmara de Gaia, quando por lá se encontravam dois figurões da facção direita do Partido do Regime, a revista Visão começou a escarafunchar um deles – Marco António Costa, vice-presidente da Câmara de então actual vice-presidente do PSD.

Tudo indica haver muito a escarafunchar e, pela minha parte, aplaudirei o escarafunchamento. Contudo, não vou esforçar-me porque a experiência demonstra que podemos esperar do jornalismo de causas o zelo habitual a escarafunchar a facção direita do Partido do Regime. Reservo-me para escarafunchar a facção esquerda do Partido do Regime geralmente muito poupada aos escarafunchamentos.

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (40) – Os delírios românticos de Costa

Evocando a «libertação dos povos africanos e o fim do colonialismo» durante um almoço no Rato com embaixadores dos PALOP, António Costa talvez levado pela exaltação da palavra disse enigmaticamente que apesar da pertença à EU, «o país conserva inteira liberdade no domínio da concessão de autorizações de residência. (…) A autorização de residência garante a liberdade de circulação. É preciso eliminar barreiras, que tantas vezes têm dificultado não só o contacto das famílias, como o desenvolvimento económico e o contacto cultural».

Saberá Costa do que está a falar para 45 milhões de africanos e mais de 200 milhões de brasileiros? Se um por cento desses povos usasse da liberdade de circulação para residir em Portugal, o país teria uma crise humanitária com a população residente aumentada de um quarto.

Dúvidas (106) – Onde está escondido o lado escondido do novo dono da TAP?

Ao ler título do artigo da Visão «O lado escondido do novo dono da TAP» salivei de excitação, antecipando os podres de Humberto Pedrosa, o dono da Barraqueiro.

Primeira decepção. Não se trata de Humberto Pedrosa, anunciado como o maior accionista da Gateway, o consórcio que comprou 61% da TAP. Trata-se David Neeleman, anunciado como accionista minoritário e citado como tendo dito que «o Humberto é controlador» mas que o jornalismo de causas já provou que é quem manda. Como provou o jornalismo de causas tal coisa quando considera que em relação ao preso 44 nada está provado? Ora que pergunta. Porque a TAP era uma companhia de bandeira e Sócrates era uma bandeira da companhia.

Segunda decepção. Procurei avidamente o tal lado escondido. Seriam os 9 filhos? Seria o défice de atenção? Seria a religião mórmon? Seria os oito mil metros quadrados da casa? Seria só dormir 4 a 5 horas por dia? Seria por ter baptizado mais de 200 brasileiros? Seria por doar o seu salário ao fundo de emergência dos empregados? Seria por ajudar a limpar os aviões?

Por fim lá encontrei «um fracasso americano»: em 2007 um avião da JetBlue ficou 11 horas paralisado pela neve com 100 passageiros a bordo no aeroporto de NY. Uf! Pronto está explicado.

Mitos (203) – Take Another Plane ou Take Another Plan? (V)

Outros mitos (I), (II), III) e (IV)

Menos de 5 em cada 1.000 trabalhadores da TAP protestaram ontem contra a venda de 61% da TAP com a presença de Carmelinda Pereira, a célebre militante trotskista da facção lambertista, em representação da Fenprof.


Os momentos da justa luta contra a entrega da TAP ao capital monopolista imperialista foram registados para a história por Pacheco Pereira, o conhecido militante maoísta da AOC (*), reconstruído a partir do antigo líder parlamentar e dirigente do PSD com o mesmo nome.

(*) Ou terá sido «na OCMLP. Se bem que, tirando ele, ninguém deve saber qual era a diferença.» (ver comentário de JMG)

Lost in translation (243) – Pimenta na língua do homem de mão

«Os "cofres cheios" só servem de almofada transitória. Não resistem a uma crise prolongada caso os mercados apostem na saída de Portugal do euro», escreveu Teixeira dos Santos o ex-ministro das Finanças de José Sócrates durante 6 anos.

Recorde-se que quando Teixeira dos Santos fez o telefonema à revelia de José Sócrates a pedir ajuda financeira a tesouraria estava completamente seca e nem chegaria para pagar os salários dos funcionários públicos no mês seguinte – ver o diagrama neste post. Por isso, quando Teixeira dos Santos fala dos «cofres cheios» de Maria Luís Albuquerque - quase 20 mil milhões de euros - ele fala com o saber de experiência feito de quem tinha os cofres vazios com 1,4 mil milhões de euros no final do 1.º trimestre de 2011.

Quem não pensa com tanta benignidade a respeito das opiniões de Teixeira dos Santos é o jornalista João Vieira Pereira que escreveu: «só que partir deste cenário para se insinuar que, depois da Grécia, somos os próximos a cair é acima de tudo uma tolice. Ainda para mais quando é dito por pessoas com responsabilidades passadas. Às vezes é preciso alguma pimenta na língua. ... Ele não foi o travão do então primeiro-ministro, foi o seu homem de mão».

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXVIII) – A farsa grega

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

«Os historiadores do futuro vão realçar a culpa dos dois lados. Não se diz suficientemente o óbvio: o Syriza é profundamente incompetente. A figura de Varoufakis é embaraçosa. Vai há meses para reuniões europeias sem apresentar um único numero, ou uma única proposta com detalhes, porque é incapaz de fazer esse trabalho. Vive para a vacuidade do twitter. No final de 2014, a Grécia tinha um excedente primário nas contas públicas, a economia a crescer mais depressa do que Portugal, e a semelhança dos seus problemas com os de outros países europeus dava-lhe peso na zona euro. A Grécia estava a sair da crise, e um governo competente talvez fosse capaz de renegociar a dívida. Mas, em menos de seis meses de um governo Syriza de políticas desastrosas e discursos desavisados, a Grécia está sozinha a viver um cataclismo.

Do lado da Europa, houve pelo menos três erros capitais, todos fruto da hesitação e da falta de liderança. O primeiro deles foi impor um plano de austeridade exagerado à Grécia em 2010, com demasiados cortes, demasiado depressa (um erro que não foi repetido na Irlanda e em Portugal). Era esta a receita base do FMI, que não se podia aplicar sem ajustamentos à crise europeia. O segundo erro foi adiar a restruturação da divida grega até 2013. O terceiro erro foi não ter dado melhores condições ao governo Samarra, abrindo o caminho para o poder ao Syriza. Em 2015, a Europa já ofereceu mais do que tinha dado a Samarra em 2014, mas agora tem o Syriza do outro lado da mesa. Nestas três ocasiões, a Europa preferiu adiar o problema em vez de o resolver de forma decisiva

Excerto de «Acto final da farsa grega», Ricardo Reis no Dinheiro Vivo

E assim se chegou aos 320 mil milhões de dívida pública grega mais 110 mil milhões de exposição do BCE à banca grega, depois de os credores privados terem sido obrigados há 4 anos a um haircut de 50%. E, aos corações partidos que no nosso torrãozinho natal choram pelos danos que a aliança extrema esquerda-extrema direita infligiu aos gregos nestes últimos 5 meses, é oportuno recordar que a bancarrota da Grécia nos põe em risco em 4,6 mil milhões de euros (ver o detalhe aqui).

24/06/2015

Bons exemplos (97) – Um resultado por causa de e apesar de

Negócios
É indispensável para se compreender a importância deste resultado não esquecer que a raiz da bancarrota portuguesa foi a acumulação de 4 décadas de défices das contas externas ao ritmo médio anual de 8% do PIB. Foram estes défices que geraram uma dívida total líquida ao exterior que ultrapassa actualmente 400 mil milhões de euros, ou seja 2,5 PIB.

Este é um resultado só possível pelo colapso de socratismo. E é um resultado apesar deste governo ter feito o que não devia e não ter feito tudo o que devia.

Mitos (202) - O contrário do dogma do aquecimento global (VI)

Continuação de (I), (II), (III), (IV) e (V).

«Papa Francisco rende-se à ciência» foi o título escolhido pela Visão para um artigo sobre «a primeira encíclica papal ambientalista da História (onde se revela) que Francisco concorda com os cientistas: as alterações climáticas são reais e provocadas pelo Homem».

Em minha opinião falta qualificar a ciência à qual o papa Francisco se rendeu. Trata-se da ciência de causas, isto é a ciência dos cientistas que não hesitam em viciar dados para «provar» as premissas da sua causa do aquecimento global provocado pelo homem. Premissas às quais falta fundamento a respeito do aquecimento e do homem - ver os posts anteriores desta série.

Oremos para que o papa Francisco não se lembre de alegar a sua infalibilidade e tratar os cépticos da ciência papal como foram tratados Giordano Bruto e Galileu condenando-nos ao fogo eterno.

23/06/2015

BREIQUINGUE NIUZ: Not so fast Fast track

Nem tudo o que começou mal acabará mal. O senado americano terminou hoje o debate do processo negocial fast track do acordo Trans-Pacific Partnership com 11 países asiáticos. Tudo indica que o processo será amanhã aprovado pelo mínimo de 60 votos e que Obama terá poderes para negociar o acordo.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXVII) – Quem é quem nos amanhãs que cantarão na Grécia

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Antes de se começar a lançar foguetes e celebrar a chegado do navio grego ao porto de abrigo convirá conhecer quem está na ponte à roda de leme. Em «O equívoco grego: o Syriza não recusa um acordo, recusa o nosso modo de vida na União Europeia» José Manuel Fernandes traça no Observador um retrato esclarecedor sobre a dupla Tsipras-Varoufakis.

«Os radicais gregos não desejam apenas combater a austeridade – eles querem é tirar partido do descontentamento provocado pela austeridade para promoverem um tipo de sociedade radicalmente diferente da nossa. Eles não são reformistas ingénuos, são revolucionários que querem aparecer como pragmáticos. Tal como Álvaro Cunhal em 1975, eles não querem uma “democracia burguesa” – só são diferentes de Cunhal porque não sabem muito bem o que querem, pois longe vão os tempos da União Soviética.

A biografia do actual primeiro-ministro grego devia ter-nos alertado para o que ele realmente deseja. Quando entrou na política, no final dos anos 1980, fê-lo aderindo a um partido comunista pró-soviético na exacta altura em que o Muro de Berlim estava a cair. Quando deixou esse partido, não o fez por desilusão com o comunismo, mas para se juntar a uma força política porventura ainda mais radical. A sua vida foi passada nesses meios partidários e entre militantes associativos e sindicais. Umas vezes fez figura de moderado, outras de radical, navegando com habilidade por entre as múltiplas facções de uma extrema-esquerda grega permanentemente marcada por cisões e reconfigurações. Mesmo assim não há dúvida que encontrou o tom certo para cavalgar a onda do descontentamento popular, o que até não fi grande obra: Juncker disse-lhe recentemente que, se ele próprio tivesse concorrido a umas eleições com o mesmo tipo de promessas que o Syriza fez, não teria ficado pelos 36% dos votos, teria chegado aos 80%.

Varoufakis tem um percurso pessoal diferente, mas que também não nos devia criar ilusões. Ele é apenas mais um dos milhares de intelectuais radicalizados que têm ocupado, em todo o mundo desenvolvido, os departamentos de ciências sociais das universidades e utilizado essas plataformas para promoverem uma agenda política anti-sistema. Chomsky não é hoje a excepção, é antes a regra um pouco por todo o lado. Trata-se de gente que, apresentando-se como académicos, não hesitam ser aparecer como figuras de proa nos fóruns da “alter-mundialização” (como o nosso Boaventura Sousa Santos) ou em eventos como um “festival subversivo” (como fez Varoufakis no Verão de 2013, aí fazendo as suas confissões na qualidade de “marxista errático”). O piano, o apartamento com vista para a Acrópole e o cachecol da Burberry apenas ajudam a compor a imagem do intelectual “esquerda caviar”, uma imagem imensamente conveniente quando a maioria do eleitorado já não é composta por descamisados, mas sim por uma classe média que também sonha com o piano, o apartamento e o cachecol.»

Por isso, subscrevo a previsão de JMF (escrita na véspera da cimeira) e antecipo que esta saga vai continuar e arrisco ainda antecipar que acabará na Grexit, a menos que os líderes europeus aceitem em nome dos contribuintes europeus financiar a festa do Syriza com mais um perdão substancial da dívida e a continuação do financiamento do Estado grego sem contrapartida das reformas indispensáveis.

22/06/2015

De boas intenções está o inferno cheio (34) – A religião é a política por outros meios? (VII)

Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.

O Papa dos pobres

«Não duvido da sincera preocupação com os pobres do bom Papa Francisco, para usar uma expressão do óptimo Dr. Soares. Duvido é que os clichés repetidos por Sua Santidade melhorem a vida de um único pobre - embora suscitem o entusiasmo do Dr. Soares, o que é quase tão louvável. 

Já nas pessoas que utilizam pelo menos dois neurónios, o entusiasmo encolhe. É o caso do professor dinamarquês Bjørn Lomborg, antigo céptico do "aquecimento global" e hoje nem tanto, que escreveu um texto no USA Today sobre a recente encíclica alusiva às alterações climáticas. Naturalmente, o Papa simpatiza com as energias ditas renováveis. Naturalmente, Lomborg lembra que poucas políticas são na essência mais desiguais do que as "verdes", e que poucos investimentos são mais alheios ao destino dos desvalidos. 

Porém, para não ser acusado de críticas estéreis, Lomborg sugere soluções, ou questões com que um Vaticano compassivo se devia ocupar para se ocupar dos infelizes da Terra. Uma é o combate aos obstáculos nas trocas entre os países: não sendo a cura definitiva, a liberdade comercial é um contributo provado na redução da pobreza. Mas não consta que o Papa se destaque nos louvores ao capitalismo. A segunda questão é a disseminação global da contracepção e do planeamento familiar, mas a Igreja não promete liderar a causa. A bondade do bom Papa Francisco arrisca-se a ser um bocadinho inconsequente, um mal menor se comparado com os restantes entusiasmos do Dr. Soares.»

A crise explicada pelas criancinhas por ALBERTO GONÇALVES no DN

21/06/2015

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (112) - As coisas que a direita nos faz, analisadas por uma socióloga socialista

Segundo Mariana Vieira de Silva, socióloga socialista, membro da Comissão Nacional do Partido Socialista e «filha de quem é», «assumimos com demasiada facilidade uma ideia de culpa e de responsabilidade única nossa perante esta crise. A direita foi eficaz nessa construção da ideia que estávamos neste lugar por culpa nossa.»

Só mesmo a direita conseguiria levar-nos a assumir as culpas pelos desvarios do neoliberalismo e da economia de casino e da sanha das agências de rating, que nos forçaram a interromper o ciclo virtuoso sob a égide do Partido Socialista e do seu carismático líder José Sócrates, agora injustamente preso por uma cabala da direita com a cumplicidade dos juízes ao seu serviço, a assumir as culpas, dizia eu, por esses desvarios e essa sanha e ainda pela austeridade punitiva inspirada por Frau Merkel, determinada pela troika num memorando negociado e assinado pelo governo do PS executado por excesso pela mão do governo neoliberal de Passos Coelho e Portas, austeridade da qual só o socialismo de Costa nos salvará.

CONDIÇÃO MASCULINA: A revolta do «sexo fraco»

O número de 30 de Maio da Economist, uma revista que por aqui se lê há várias décadas, foi dedicado ao «weaker sex» que, como se sabe, nos dias que correm, é o sexo masculino do género Homo, espécie H. sapiens e subespécie H. s. sapiens - sexo a que os patetas do PC agora chamam género fazendo Carolus Linnaeus rebolar-se de riso na tumba. E porquê fraco, o que que já foi forte? Há várias razões, sendo que talvez entre as mais importantes que então referi:
  1. Rapazes e raparigas aprendem de modo diferente; 
  2. Os sistemas de ensino actuais estão orientados para optimizar os processos femininos de aprendizagem; 
  3. Desde cedo faltam os «role models» masculinos na escola (é mais difícil encontrar um homem professor no ensino pré-escolar e nos primeiros anos do ensino básico do que um lince na serra da Malcata) e na família (cada vez mais pais, sobretudo nas classes baixas, estão ausentes).
Pois bem, o leitor da Economist Paul James, um representante do «sexo fraco», resolveu lavrar o seu protesto em carta indignada que transcrevo (apesar da minha pouca inclinação para indignações).


20/06/2015

Títulos inspirados (43) - Um país à beira de um ataque de nervos


«Meio milhão de alunos do 4.º ao 12.º ano em stresse e um número indeterminado de pais à beira de um ataque de nervos. Portugal está no auge da época de exames», escreve-se no Expresso.

Terá esta gente um resquício de sentido das proporções? Quem está à beira da histeria são os jornalistas que escrevem estas idiotices. Se tivessem nascido 50 anos antes não teriam chegado à adolescência. 50 anos depois não conseguem sair dela.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (18)

Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», «Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais...»

«O PS nunca se distinguiu pela especial competência da gente que o dirigiu e governou o país durante mais de 20 anos. Algumas personagens foram com certeza melhor do que outras, mas nenhuma (tirando Salgado Zenha e José Manuel Medeiros Ferreira) deixou uma obra durável e uma memória presente e calorosa.

Mesmo agora, com uma eleição decisiva à porta, o pequeno grupo que rodeia Costa não se recomenda pelo que fez, nem muito menos pelo que diz. Na intimidade presumo que se acha mutuamente uma esperança; em público não passa da cartilha que já repetia no tempo de Seguro, e volta hoje a repetir com Costa, ornamentada por um vaguíssimo calão económico e por meia dúzia de promessas, que o cidadão comum não leva a sério, tanto mais que são aéreas e na sua maior parte hipotéticas.

O dr. Costa deu anteontem uma entrevista a este jornal em que, entre chover sobre o molhado e soltar livremente a sua fantasia, resolveu tratar de um problema real: a reforma do Estado. Pondo de lado a crítica sem sentido à coligação, Costa identificou três pontos, dignos do seu particular zelo: o mar, a modernização administrativa e (calculem!) o desenvolvimento e ordenamento regional. Mas, para chegar aos seus fins nestes três pontos cruciais, Costa não inventou melhor do que fabricar três novos ministérios, que permitam “existir um ministro (claro) com a função transversal”, que “articule” e defina as “políticas sectoriais”. Não quero dar um desgosto a este novo salvador da Pátria, só gostava de o informar que desde 1980 que se fala nessa tremenda habilidade; que Sá Carneiro teve um ministério da Reforma Administrativa; e Cavaco um ministério do Mar.

Isto só serviu, como é natural, para provocar um prodigioso número de querelas de competências; para aumentar o funcionalismo; e para paralisar o Estado nas matérias em que precisamente se queria que aumentasse a sua putativa eficácia. O que na situação em que estamos não aquece, nem arrefece, mas mostra bem por dentro a cabeça de António Costa: uma cabeça de alto funcionário, dedicada a fortalecer a administração central, a diminuir a força e a autoridade dos privados (que “ganham milhões com o outsourcing”) e, entretanto, a rabiscar organigramas para deleite dos militantes, que lá se tencionam pendurar. O PS um partido moderno? Não, um partido de burocratas sem responsabilidade e sem brilho.»

Os burocratas, Vasco Pulido Valente no Público

19/06/2015

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Está tudo explicado!

«Mulher de Tsipras ameaça deixá-lo se ceder aos credores»

«La Donna e un animale stravagante» é uma área temática cujo nome se inspira no dueto de uma ária da ópera de Gaetano Donizetti «Elisir d'amore» em que o charmoso Belcore e a alma simples Nemorino disputam o coração volúvel de Adina. É, por assim dizer, uma homenagem às gajas que um homem se esforça por compreender sem sucesso e, à falta de outra coisa, se limita a amá-las o melhor que pode e sabe.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXVI) – em vez do dilema do prisioneiro o paradoxo de Einstein

Outros purgatórios a caminho dos infernos.


Lembram-se daquelas fotos com que o jornalismo de causa encheu as páginas dos jornais mostrando o idílio entre o Yanis e a Christine? Lembram-se daqueles comentários idiotas insinuando a grande identidade das duas almas que haveriam de encontrar soluções para respeitar as decisões democráticas dos gregos sobre o que os credores deveriam fazer por eles? Pois bem, o idílio acabou mal com a Lagarde a dizer ontem «temos de recomeçar o diálogo, mas com adultos na sala».

Lembram-se do Varoufakis especialista na teoria dos jogos cuja aplicação iria ajudar a encontrar soluções para respeitar as decisões democráticas dos gregos sobre o que os credores deveriam fazer por eles? Pois bem, ontem o Alexis na conferência de imprensa começou por contar a seguinte anedota:
«Dois homens estão na praia e um diz para o outro “vou-te dizer como fiquei rico. Incendiei o meu negócio, recebi o seguro e decidi viver disso”. Ao que o outro responde: “aconteceu-me algo semelhante. Uma inundação estragou o meu negócio, recebi o seguro e vivi feliz para sempre”. Ao que o primeiro pergunta: “como é que conseguiste começar a inundação?»

É nestes casos que o paradoxo de Einstein dá jeito para explicar o inexplicável:
«Há duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana; no que respeita ao universo, ainda não tenho a certeza absoluta.»

ARTIGO DEFUNTO: No melhor pano cai a pior nódoa

Como que a demonstrar mais uma ocorrência do aforismo popular e de que é sempre possível juntar mais dislates aos que já foram produzidos, João Miguel Tavares juntou-se ao pelotão dos opinion dealers que já disseram baboseiras sobre a venda da TAP e escreveu no seu artigo «Brincar aos aviões e às oposições»:
  • A TAP está a ser vendida «à velocidade a que Usain Bolt corre os 200 metros» quando é público (até no Público) que está para ser privatizada há uns 15 anos e até só não foi vendida por Jorge Coelho à Swissair porque esta faliu; 
  • «O Estado acabou de vender 61% – ou seja, o controlo da TAP – por pífios dez milhões», quando é público (até no Público) que a Gateway vai pagar 354 milhões de euros por uma empresa falida.

Pro memoria (241) – De como «um sinal de mudança que dá força» se transforma num que dá fraqueza

Não é espantoso que os 12 sábios da economia socialista que produziram o wishful thinking vertido no documento «Uma década para Portugal» tenham projectado um crescimento médio de 2,6% entre 2016 e 2019, que depende de circunstâncias incontroláveis e provavelmente só atingível com a ajuda da Nossa Senhora de Fátima? Só não é espantoso porque se trata das competências preditivas da Mouse Square School of Economics.

Aproveitando a deixa da cada vez mais provável Grexit, os sábios socialistas vieram agora lembrar que o documento também contém «um cenário de crise europeia profunda e prolongada» (cenário deliberadamente omitido nas apresentações públicas para não estragar os amanhãs que cantariam), nomeadamente por saída da Grécia da Zona Euro. Desse cenário resultaria:
«o emprego reduz-se cerca de 0.6% a partir de 2017 e, não obstante a redução da população ativa, implica a manutenção da taxa de desemprego em cerca de 13% até 2009. Neste cenário, o défice orçamental aumenta de 3.2% do PIB em 2015 para 4.6% em 2019 pressionado pelo aumento da despesa com juros e prestações sociais e pela descida da receita fiscal em linha com a redução da atividade económica e a evolução dos preços e salários. A dívida pública manteria uma trajetória ascendente atingindo os 135% do PIB em 2019 (121% do PIB no cenário central inicial)».
E, assim, já se está a passar na mente dos sábios do céu para o purgatório pela mão do Syriza, cuja vitória para António Costa já foi «um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha».

18/06/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXV) – Death march to Grexit

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Greek debt crisis: Key dates on the road to a possible Grexit (*)

  • Thursday June 18: Best chance for a deal - Eurozone finance ministers gathering in Luxembourg for their regularly scheduled monthly meeting hope a deal can be struck. 
  • Friday June 19: The morning after - Finance ministers will still be in Luxembourg for a second day of meetings, this time with all 28 countries in attendance. 
  • Sunday June 21: Possible emergency summit - Some officials believe a eurozone summit would be redundant if no deal is reached among finance ministers, since it is those finance ministries that are best equipped to negotiate the substance of any bailout agreement. 
  • June 22 onward: Worst-case scenarios - If no agreement can be reached, worst-case scenarios begin to kick in, including capital controls to limit withdrawals from Greek banks and prevent a complete financial meltdown 
  • June 25: Any other business - This is the date for the beginning of a long-scheduled EU summit.
  • June 30: Expiration date - The date Greece’s current bailout expires and when it is due to repay €1.5bn in loan repayments to the International Monetary Fund. 
  • July 1: Uncharted territory - If the bailout expires and Greece fails to make the IMF payment — but the ECB decides emergency loans to Greek banks can continue — Greece enters what Mario Draghi, ECB president, recently called “uncharted territory”. 
  • July 20: Drop-dead deadline - This may be the real drop-dead deadline: the date two bonds totalling €3.5bn fall due to the ECB.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXIV) – um dos prisioneiros do dilema na versão Varoufakis já se libertou

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Se o resultado que o governo Syriza-Anel visava alcançar, com uma combinação sistemática de desonestidade negocial e chantagem que há 5 meses insiste em adoptar, era fazer a troika aceitar as suas «linhas vermelhas», talvez devesse reconsiderar porque à versão Varoufakis da teoria dos jogos já falta um dos dois prisioneiros do dilema - e não é o prisioneiro grego.

Depois de 6 meses de funcionamento da máquina de alívio quantitativo do BCE a despejar dinheiro (com todas as consequências negativas futuros que aqui tenho denunciado), a verdade é que a curto prazo esse mecanismo protege a Zona Euro do contágio do quase certo default da Grécia, seguido com alguma probabilidade pela saída da Zona Euro e até da União Europeia. Leia-se o que a este respeito Anatole Kaletsky do Institute for New Economic Thinking escreveu no Guardian:

«In short, the ECB bond-buying programme has transformed the ECB from a passive observer of the euro crisis, paralysed by the outdated legalistic constraints of the Maastricht Treaty, into a proper lender of last resort. With powers to monetise government debts similar to those exercised by the US Federal Reserve, the Bank of Japan, and the Bank of England, the ECB can now guarantee the eurozone against financial contagion.

Unfortunately for Greece, this has been lost on the Tsipras government. Greek politicians who still see the threat of financial contagion as their trump card should note the coincidence of the Greek election and the ECB’s bond-buying program and draw the obvious conclusion. The ECB’s new policy was designed to protect the euro from the consequences of a Greek exit or default.

The latest Greek negotiating strategy is to demand a ransom to desist threatening suicide. Such blackmail might work for a suicide bomber. But Greece is just holding a gun to its own head – and Europe does not need to care very much if it pulls the trigger

17/06/2015

Pro memoria (239) – Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és


«A UE chegou a um acordo provisório para prolongar por mais seis meses a “fase 3” de sanções aplicadas a Moscovo na sequência das acções russas no leste da Ucrânia. Aproximação entre Tsipras e Putin poderá levar Atenas a inviabilizar acordo final sobre a matéria.» (Negócios)

Entretanto, não são apenas os líderes europeus que não confiam no governo Syriza, os autarcas gregos recusam entregar as suas reservas de caixa ao governo.

No prosseguimento da política de amizade entre os povos grego e soviético russo e a comunhão de ideias entre os camaradas líderes Alexis Tsipras e Vladimir Putin, vão ambos encontrar-se na próxima 6.ª feira, encontro que parece angustiar o jornalista do DN que prantou neste artigo um título que diz tudo sobre o que se passa no interior das suas meninges: «A Europa vai entregar a Grécia à Rússia, é isso?»

De boas intenções está o inferno cheio (33) – A religião é a política por outros meios? (VI)

Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.

A propósito da anunciada encíclica sobre o ambiente, dois senadores republicanos americanos deram ao papa Francisco os seguintes bons conselhos:

James Inhofe, presidente da comissão do Ambiente do senado americano: «Everyone is going to ride the pope now. Isn’t that wonderful. The pope ought to stay with his job, and we’ll stay with ours. I am not going to talk about the pope. Let him run his shop, and we’ll run ours.»

Rick Santorum, um católico devoto e candidato à Casa Branca: «The church has gotten it wrong a few times on science, and I think we probably are better off leaving science to the scientists and focusing on what we’re good at, which is theology and morality

(Fonte: The Guardian)

Se Inhofe fosse europeu e assistisse à apropriação do papa por várias correntes, em vez de «everyone is going to ride the pope now», teria dito «everyone, mostly leftists, are riding the pope for a while».

16/06/2015

Pro memoria (238) – Os presos são todos iguais, mas há uns mais iguais que outros

Bedřich Fritta, The Life of a Privileged Detainee, 1943/44
João Sousa é o inspector da Polícia Judiciária de Setúbal colega do preso 44 em Évora. No seu blogue «Dos dois lados das grades» descreve no post «O labirinto obscuro do espírito da corte» o tratamento privilegiado de José Sócrates face aos outros presos, incluindo ele próprio. Vale a pena ler para confirmar que «José Sócrates paira sobre a lei, os normativos, a burocracia do sistema prisional: a mesma que legislou e aprovou!»

Dúvidas (104) - Bruxelas já está a arder?

«I don’t really feel the weight of the world economy. I feel the weight of the Greek people resting on my shoulders. If little Greece, in order to survive, brings down the financial world, it can’t be our fault. It would be as if Delaware brought down the United States economy. That would be the fault of the U.S., not Delaware.» Disse o ministro das Finanças Gregas (o que é diferente de o ministro grego das Finanças) ao New York Times.

De uma assentada, esta «varoufakisse» (citando Augusto Santos Silva depois de lhe ter falecido a paixão pelo Syriza) revela o estado de confusão que vai na cabeça de Yanis e possivelmente de todo o governo grego. Por um lado uma espécie de «ó Bruxelas, ó Mundo tenham medo, tenham muito medo pois implodiremos todos juntos». Por outro, ao colocar a Grécia no lugar de Delaware e Bruxelas no lugar de Washington, como se a União Europeia fosse um estado federal, esquece que, se fosse, ele não seria o ministro das Finanças Gregas a chatear Bruxelas com a versão para crianças da teoria dos jogos.

Mitos (201) – Quem é afinal o campeão das privatizações?

Apesar de todos os protestos de inocência e de todas as promessas de «desprivatização», o campeão das privatizações é… o Partido Socialista, como se pode ver no diagrama de Mário Amorim Lopes no Insurgente, o qual (diagrama) «nacionalizei».

De boas intenções está o inferno cheio (33) – A religião é a política por outros meios? (VI)

Outros posts sobre a religião como política por outros meios.

A propósito da anunciada encíclica sobre o ambiente, dois senadores republicanos americanos deram ao papa Francisco os seguintes bons conselhos:

James Inhofe, presidente da comissão do Ambiente do senado americano: «Everyone is going to ride the pope now. Isn’t that wonderful. The pope ought to stay with his job, and we’ll stay with ours. I am not going to talk about the pope. Let him run his shop, and we’ll run ours.»

Rick Santorum, um católico devoto e candidato à Casa Branca: «The church has gotten it wrong a few times on science, and I think we probably are better off leaving science to the scientists and focusing on what we’re good at, which is theology and morality

(Fonte: The Guardian)

Se Inhofe fosse europeu e assistisse à apropriação do papa por várias correntes, em vez de «everyone is going to ride the pope now», teria dito «everyone, mostly leftists, are riding the pope for a while».

ACREDITE SE QUISER: «É só para dizer que não é dado» disse ele

Usando as palavras do Expresso aqui citadas, a Gateway «vai efectivamente pagar 354 milhões de euros, aplicando 338 milhões para reforçar o capital da TAP.» TAP que, recorde-se, era a única companhia de aviação da União Europeia totalmente pública (ver este quadro), tem tido prejuízos todos os anos, tem passivos superiores a 2 mil milhões de euros (60% dos quais a curto prazo), tem uma situação líquida negativa de 500 milhões de onde resulta ter perdido todo o capital social o que, se fosse uma sociedade anónima, obrigaria a administração (CSC artigo 35.º) a convocar uma assembleia geral que teria de deliberar uma das seguintes opções:
  • a) A dissolução da sociedade; 
  • b) A redução do capital social para montante não inferior ao capital próprio da sociedade – opção indisponível porque os capitais próprios são negativos; 
  • c) A realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura do capital - opção indisponível por via das restrições comunitárias que impedem os governos de injectar capital nos operadores.
De onde resultaria que a TAP teria de ser dissolvida.

Pois bem, face a esta situação Marcelo Rebelo de Sousa, um professor de direito cujas performances televisivas espantaram o dificilmente espantável El País, formulou durante a sua prestação semanal de entretenimento na TVI a seguinte fábula: «O preço podia ser dez milhões, como podia ser, no fundo, um euro. É só para dizer que não é dado

Diz-se que este entertainer pode vir a ser presidente da República e transformar o palácio de Belém num centro de entretenimento e intriga.

15/06/2015

Dúvidas (103) – Será uma autocrítica do ex-PGR Pinto Monteiro com 5 anos de atraso?

«Há, em Portugal, uma contaminação política. Não estou a falar de nada em concreto, mas há, claramente, um uso dos tribunais para fins políticos, isso afirmo que é verdade. Começou por Sá Carneiro e prosseguiu.» Disse o ex-PGR Pinto Monteiro, o mesmo que, entre muitos outros serviços prestados ao governo, em parceria com o ex-presidente do STJ Noronha do Nascimento, mandou destruir no Verão de 2010 as escutas envolvendo José Sócrates.

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe?

Onde estamos depois das reformas do sistema de segurança social que nos foram prometidas garantir a sustentabilidade para os próximos 50 anos ou até durante o século XXI? Mais próximo da insustentabilidade, bem entendido.

Fonte: Economist
Também podemos assobiar para o lado e dizer que isso é um problema europeu, o que nada resolve porque, como diz o povo, com os problemas dos outros podemos nós bem. Ainda assim, do ponto de vista demográfico o nosso problema é maior do que a média: o nosso rácio de dependência dos idosos está e estará acima da média da Zona Euro e a população activa terá uma redução 6 pontos percentuais acima da redução média da Zona Euro até 2030. Ou seja mais pensionistas e menos contribuintes.

Qual a solução? Reduzir as prestações e/ou aumentar as contribuições, diria Monsieur de La Palice, não sendo socialista.

Mitos (200) – Quem foi afinal o maior destruidor de emprego?

«Se está convencido que este governo é o responsável pela maior destruição de empregos, esqueça. Os governos de José Sócrates, entre junho de 2008 e junho de 2011, assistiram à eliminação de 304 mil empregos. O atual governo, entre junho de 2011 e março de 2015, assistiu à extinção de 251 mil empregos.

Curiosamente, no período em que os governos de José Sócrates acompanharam o crescimento do emprego, observou-se a criação de 58 mil novos postos de trabalho (entre março de 2005 e junho de 2008, no seu auge). No atual governo, o número de postos de trabalho cresceu 135 mil, entre março de 2013 (o mínimo) e março de 2015.»

Mitos urbanos e realidades, João Duque no Expresso

Vem a propósito lembrar o que a este respeito se escreveu há 4 anos no (Im)pertinências.

14/06/2015

ARTIGO DEFUNTO: O preço de venda da TAP visto pelo jornalismo de referência

No topo da pág. 2 da “broadshit” do Expresso:


Na parte inferior da mesma página:

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: O ónus da prova

As reacções dos opinions dealers, incluindo comentadores e jornalistas de causas, e de uma parte muito significativa da opinião pública à privatização da TAP (só 40,6% dos inquiridos pela Eurosondagem concordam) e à concessão dos transportes públicos mostram uma vez mais porque somos um dos povos mais colectivistas e mais avessos ao risco do planeta (ver os índices de Hofstede para Portugal já aqui muitas vezes citados).

A maioria dos portugueses tem uma desconfiança tão grande da iniciativa privada e a sociedade civil aceita ser tão sufocada pelo Estado que, diferentemente de um povo com maior apreciação da liberdade (liberdade e não baderna), para quem é preciso provar a necessidade ou o benefício da intervenção do Estado, nomeadamente a apropriação de um empresa tornando-a estatal (o que entre nós se chama eufemisticamente “pública”), no caso dos portugueses o “ónus da prova” está do lado de quem preconiza a empresa privada.

E isso faz toda a diferença.

Mitos (199) – A nossa justiça falha porque não tem os meios (2)

Em uma espécie de continuação deste longínquo post, veja-se o diagrama seguinte publicado na revista Tabu do jornal SOL. O que terá acontecido por voltas de 1995 que explique o aumento acelerado a partir daí dos processos judiciais pendentes nos tribunais? Terão sido dizimados em massa magistrados?


Foi com esta dúvida angustiante que procurei uma resposta na PORDATA e confirmei no diagrama seguinte que não ocorreu nenhuma exterminação maciça de magistrados e muito menos dos efectivos totais de pessoal. Pelo contrário.


O que ocorreu foi uma quebra do número de processos findos por magistrado e, consequentemente, um inevitável aumento dos processos pendentes por magistrado, para o qual não conheço explicação para além da coincidência do início de uma longa estadia de 12,5 anos do Partido Socialista no poder.

13/06/2015

Mitos (198) – Take Another Plane ou Take Another Plan? (IV)

Outros mitos (I), (II) e (III)

A propósito da decisão de vender 61% da TAP ao consórcio Gateway de David Neeeleman e Humberto Pedrosa, os tapistas e as suas câmaras de eco nos mídia excederam-se uma vez mais a dizer e a escrever coisas biblicamente estúpidas. Dois de entre dezenas de exemplos possíveis:
Não vou repetir tudo o que já escrevemos no (Im)pertinências (ver a etiqueta TAP) desmontando a mistificação à volta do tema. Vou simplesmente e a propósito das reacções à venda recomendar a leitura do artigo «Quero tudo, quero já e quero de borla» de Paulo Ferreira no Observador e, muito especialmente, o post esclarecedor e faqtual «FAQ sobre a TAP» no Insurgente.

DIÁRIO DE BORDO: 10 de Junho, dia negro da exclusão radioso da inclusão social

Impõe-se uma correcção ao meu post do dia 10. Critiquei, uma vez mais, o Venerando Chefe de Estado por não estar a cumprir o seu Pograma de Combate à Exclusão concentrando as medalhas em alfacinhas e, vá lá, alguns tripeiros, em vez de as distribuir pelas Forças Vivas Concelhias ou Distritais.

Um amigo que se preocupa com estas coisas, chamou-me a atenção para a existência na lista dos contemplados deste ano de três costureiros a par do Professor Teixeira dos Santos (condecorado não sabemos pela sua colaboração com o preso 44 na bancarrota ou se por o ter atraiçoado e chamado os bombeiros de Bruxelas para emprestarem os cobres necessários para pagar os vencimentos), de oficiais generais, de artistas e de intelectuais. Incluir na lista de luminárias a medalhar os costureiros é, só por si, um gesto notável.

Faço aqui um parêntesis para apontar o mau exemplo do meu amigo ao comentar a propósito das comendas da Ordem do Infante D. Henrique atribuídas aos costureiros que «o Infante deve estar a dar voltas na tumba». Não acredito. Quem deve estar a dar voltas na tumba é António Champalimaud com o que está a ser feito com o seu legado.

Seja como for, o gesto é ainda mais notável porque entre esses três costureiros se encontra um do Fundão. É um gesto, tardio embora, demonstrativo que o Venerando Chefe de Estado está no bom caminho e, se dispusesse de mais alguns mandatos, poderia fazer chegar as medalhas a cada canto do país.

12/06/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXIII) – as coisas nunca estão tão más que não possam piorar

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Há opiniões para tudo. Há quem pense ser possível a Grécia empurrar o problema com a barriga para a frente até ao Inverno e esperar por um terceiro resgate. Há quem proponha a adopção pela Grécia de um Limited Purpose Banking seguido de default.

quem explique que enquanto os gregos mostram o seu apego aos euros retirando-os dos bancos gregos e aplicando-os no estrangeiro (ou metendo-os no colchão), os bancos gregos pedem liquidez ao BCE via Banco Central da Grécia e quando a Grécia entrar em default e sair do euro o Banco Central entra em falência e os prejuízos são suportados pelo BCE e os outros bancos centrais nacionais, resultado muito conveniente para o governo grego poupar o eleitorado e minimizar o impacto da saída do euro.

É bem possível – ainda anteontem o BCE aumentou em 2,3 mil milhões de euros a Assistência de Liquidez de Emergência à Grécia tendo elevado para 83 mil milhões o limite máximo de cedência de liquidez à banca grega.

Até que ponto a troika «as instituições» aguentam não sabemos. Só sabemos que a troika já nem se poderá chamar assim a partir do momento em que o FMI sair do trio como parece estar a acontecer - o porta-voz do FMI já anunciou a retirada da sua equipa das negociações.

Pela minha parte tendo a concordar com Joaquim Aguiar que escreveu no Negócios que «a Grécia é um Estado falhado, a evoluir para o estatuto de Estado pária, porque nem sequer tem capacidade para formular soluções para os problemas que gerou no seu interior. É um Estado e uma democracia que só existem se for à custa dos outros

E, diferentemente do que habitual, desta vez também tendo a concordar com o Guardian, um jornal britânico inclinado para a esquerda, que descreve desta forma pitoresca o afastamento do FMI:
«You’ve got to ask yourself one question. Do I feel lucky? Well, do ya, punk?” The lines spoken by Clint Eastwood in Dirty Harry sprang to mind when the International Monetary Fund (IMF) announced that it had called its Greek negotiating team home from talks in Brussels.»

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Socialistas escondidos atrás da justiça

«Como é que não há um único socialista (com a exceção de Henrique Neto) com coragem para dizer que o comportamento de Sócrates é indecente? Como é que não há no Largo do Rato um pingo de clareza moral? Um ex-primeiro-ministro do PS recebeu milhares e milhares de euros em malas de dinheiro oriundas de um homem que enriqueceu com a governação Sócrates; a forma e a substância da cena são imundas, mas ninguém no PS é capaz de dizer que José Sócrates manchou o nome do PS e da democracia. Em vez de mostrarem clareza moral, os socialistas têm difundido a tese técnica e amoral ("deixemos a justiça fazer o seu trabalho") ou a tese imoral do "preso político". Lamento, mas Sócrates não é um preso político, é só um político preso que devia estar sozinho, mas que estranhamente continua acompanhado. E isso é estranho.»

Henrique Raposo no Expresso

11/06/2015

Manifestações de paranóia/esquizofrenia (9)

«Esquizofrénico é alguém que perde a capacidade de pensar de uma forma lógica e, consequentemente, de comunicar e de se relacionar, passando a viver num mundo paralelo e sem as normas pelas quais se regem as pessoas ditas normais».
Quanto mais conheço manifestações do pensamento politicamente correcto mais aprecio a definição de um aluno da Griffith University que ganhou o concurso de 2012 para a definição mais apropriada para um termo contemporâneo. Desta vez foi o «cientista cognitivo Guy Claxton, professor convidado do Kings College, em Londres. Para ele a borracha "é uma forma de mentir para o mundo, dizendo "eu não errei, acertei à primeira"." Claxton diz mesmo que se trata de um "instrumento do diabo"

O que levanta desde logo uma magna questão: «Será que as escolas deviam proibir o uso de borracha?»

Títulos inspirados (42) - «Cavaco condecora socialistas, mas volta a deixar Sócrates de fora»

Nota, e bem (sim, porque diabo não haveria dar uma medalha a um sujeito só porque está em prisão preventiva suspeito de vários crimes?), a TVI, salientando que «José Sócrates é o único dos antigos primeiros-ministros de governos constitucionais que ainda não foi condecorado». Possivelmente Cavaco Silva até gostaria de lhe ter dado uma medalha mas deve ter receado que o preso 44 se recusasse a aceitá-la como fez com a pulseira. Não perde pela demora. No próximo ano o futuro presidente da Nóvoa irá colocar-lhe uma no peito, nem que tenha de ir a Évora.

Dúvidas (102) – «Vendemos 21% do PIB desde 2008. E o que ganhámos?»

«Vendemos 21% do PIB desde 2008. E o que ganhámos?» pergunta a jornalista do i num artigo em que cita livro «Portugal à Venda» de Ana Suspiro. A pergunta pressupõe que a venda teve o propósito de ganhar alguma coisa e a jornalista responde: «desde 2008, empresários e governos portugueses venderam 37 mil milhões de euros em activos. A bolsa desapareceu, as empresas desvaneceram-se e agora... pouco ou nada sobra».

A pergunta certa seria porque tivemos de vender? Esta é  uma pergunta a que têm sido dadas respostas variando entre a ignorância e a estupidez, por um lado, e a desonestidade, por outro. Que foi por causa da crise, das agências de rating, do chumbo do PEC IV, da Alemanha ou, nos casos mais delirantes, que foi o governo neoliberal para desmantelar o sector público. As respostas fundamentadas e honestas são respostas inconvenientes que pouca gente está interessada em dar porque põe em causa 4 décadas de políticas públicas, 4 décadas de governação, 4 décadas de escolhas feitas pelos eleitores, 4 décadas de negócios de empresários portugueses, 4 décadas de consumo dos portugueses, etc.

10/06/2015

DIÁRIO DE BORDO: 10 de Junho, dia negro da exclusão social (REPUBLICADO)

Já não falo mais do meu caso. Apesar das minhas críticas vitriólicas à Nação, não deixo de ser um seu filho, pródigo, mas Filho malgré moi. Mas vou estoicamente esquecer o meu caso. Aceito, rendo-me, desisto de lutar por uma Comenda.

Mas que dirão uns milhares de Portugueses que nunca mereceram uma atenção no 10 de Junho? Que devem pensar esses excluídos, a quem nunca um Venerando Chefe de Estado prantou uma Comendazinha no peito? Desde que foi instituído o Dia da Pátria, por coincidência no mesmo dia consagrado pelo fassismo à raça, já passaram por Belém Generais, Marechais, Doutores, Professores, uns Republicanos, outros fassistas, ainda outros Democratas ou Socialistas ou Social-democratas e esses milhares de excluídos continuam à espera, impacientes.

Esperava que o professor Cavaco, que inscreveu no seu Pograma o Combate à Exclusão, erradicasse esta mancha do Estado Social. Imaginei que … finalmente tínhamos um critério claro e inequívoco - o Venerando iria a partir de agora condecorar, Concelho a Concelho, ou Distrito a Distrito, quem sabe?, as Forças Vivas Concelhias ou Distritais. É certo que, mesmo sendo o Distrito a unidade escolhida, o Venerando precisaria de 4 Mandatos, mas sempre se poderia alterar a Constituição da República, por uma Boa Causa. Se os neo-liberais admitem alterá-La para abolir os Direitos Adquiridos, porque não alterá-La para aumentá-Los - os do Presidente (o Direito a condecorar) e os dos Cidadãos (o Direito a serem condecorados)?

E as quotas? Para as Portuguesas, para não ir mais longe, que mais uma vez se viram colossalmente desvalorizadas nas comendas, com apenas 20% delas.

[Com pequenas alterações este post já foi publicado em 2006, 2009, 2011 e 2013. Falta de inspiração? Certamente, mas a meu favor invoco que nestas áreas da mitologia patriótica a tradição ainda é o que era e, por isso, não há nada de novo a dizer.]

CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (2)

Outros amanhãs.


Continuando os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», vou abordar tanto quanto possível sequencialmente os seus cinco capítulos: 1. Princípios de governação económica pela confiança no futuro; 2. Diagnóstico económico e social; 3. O cenário macroeconómico; 4. Medidas para transformar as condições de crescimento da economia portuguesa e 5. Cenário final.

1. Princípios de governação económica pela confiança no futuro


Este capítulo começa com o enunciado grandiloquente dos «princípios fundamentais» com os quais quase todo o espectro partidário concordaria, com a possível excepção do «estimular a iniciativa privada» (com os limites habituais que nas práticas socialistas acabam por transformá-la num conúbio Estado-Empresas do Regime, no passado representadas pelo GES, PT, Mota-Engil et al.), princípio com o qual os comunistas petrificados teriam alguma dificuldade em conformar-se.

Continua com a exaltação da obra socrática das infra-estruturas que «colocariam o país numa posição privilegiada para fazer face às dificuldades» (seria exportando kms de auto-estradas?) e só não colocaram porque «as políticas adotadas foram erradas», isto é «face a um problema de oferta» não estimularam a procura com o investimento público e privado. Não explicam os crânios socialistas com que dinheiro se continuaria a fazer auto-estradas, a terceira travessia do Tejo e lançar o TGV e como é que, supondo que os credores o emprestassem, isso resolveria o problema da oferta – enfim, talvez resolvesse o problema da oferta dos países que exportam os bens que importamos, como no passado.

À boa maneira dos bourbons, de quem se dizia que nada aprendiam nem esqueciam, os 12 sábios lá vêm com a lengalenga do governo ter ido «mais além do que estava acordado no Memorando de Entendimento» - a este propósito releia-se este post.

Para tentar elevar a água ao seu moinho, os sábios adulteram os factos. Como se a «redução do investimento em capital físico e humano» que tem mais de uma década se tivesse iniciado em 2011 com a austeridade. Comparem-se as médias da Formação Bruta de Capital Fixo a preços constantes (Fonte: Pordata) em 2000-2002 – 43.352 e 2009-2011 - 36.331 (milhões de euros).

E avançam as mesmas receitas de sempre do «aumento de recursos para área de transferência de tecnologia» para reforço das «instituições de ensino superior e dos centros de transferência de tecnologia existentes», recursos que, supõe-se, estariam disponíveis porque a «sustentabilidade orçamental só pode ser avaliada num quadro de médio e longo prazo» (do you know what they mean? don’t you?). Nesses amanhãs que cantarão o ajustamento orçamental será prosseguido escrevem: respeitando os direitos e a Constituição; como parte de uma estratégica de crescimento económico; num quadro que garanta estabilidade; com autonomia e responsabilidade às instituições públicas e, last but not least, com o «respeito pelos compromissos internacionais (...) em conjunto com uma pressão negocial», ou seja uma espécie de estratégia grega, com boas maneiras e sem o Alexis e o Yanis.

Este capítulo termina com a lamúria também habitual sobre «os jovens, os desempregados de longa duração, os trabalhadores precários e independentes e as famílias de rendimentos médios e baixos suportaram a maior parte dos custos da crise». Lamúria que passa por cima de alguns factos, como seja o de que as pessoas menos afectadas pelas medidas foram as de menores rendimentos (veja-se aqui o mito desmistificado com os dados da OCDE), mas a lamúria é precisa para camuflar a defesa da base eleitoral do partido do Estado em Portugal: funcionários públicos e pensionistas a quem a austeridade atingiu com mais dureza. Ou mistura evoluções de médio e longo prazo com supostos efeitos das medidas de austeridade: há 20 anos, em 1994, havia 345 mil trabalhadores com contrato a termo, menos do que os 390 mil em 1984; em 2008, antes da crise financeira, os contratos a termo já tinham mais do duplicado para 708 mil e, curiosamente, comprometendo a demonstração da tese, em 2014 descerem para 644 mil.

(Continua)