«Durante cinco meses a Europa exigiu aquilo que nem Tsipras nem o Syriza podiam dar. E esse aquilo chama-se governo. A geração de líderes radicais (de que Tsipras é um exemplo) passou (ao colo das instituições e dos jornalistas) das universidades para os estúdios de televisão. Daí chegaram à política. Ou melhor dizendo aos movimentos. Não distinguem os votos das audiências. E confundem palmas com resultados.
A fragmentação dos Syriza, Podemos, BE. não acontece por acaso. São o resultado do excesso de egos e da falta de pensamento político desses agrupamentos que naturalmente ao primeiro choque com a realidade voltam ao seu estado natural: divididos e acusando-se de torpezas e traições. O Syriza, o Podemos ou o BE apregoam todos os dias a sua superioridade por enquanto movimentos serem uma alternativa aos velhos partidos. Nada mais falso. Eles são movimentos porque não conseguem ser partidos. Não têm líderes, não têm pensamento e não têm estratégia para tal.
Na verdade estes movimentos não passam de grupos, cada um deles a achar-se mais puro e mais revolucionário que os outros e o que nesta crise grega é crucial sempre prontos a acusarem os outros de terem traído, de se terem vendido… Era este calvário que Tsipras sabia que o aguardava em Atenas caso negociasse. E para esse exercício de solidão ele, Tsipras, o rapaz de quem as televisões gostavam, não tem nem personalidade nem um partido.
(…)
Nesta crise grega houve de facto falta de experiência, de inteligência e de um partido que tivesse à frente um líder capaz de negociar logo ceder em muita coisa para ganhar outras. Não houve e daí o falhanço.
Tsipras nunca teve condições políticas para negociar um acordo. E também não as conseguiu criar. Procura agora condições para romper as negociações. Afinal o seu programa não é governar a Grécia. É ficar bem na fotografia. Ou pelo menos não estragar a imagem que ganhou nos estúdios de televisão onde politicamente nasceu e onde as teses dos radicais fazem sempre mais sentido que todas as outras.»
Excertos de «Tsipras: o homem que não podia negociar», Helena Matos no Observador
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