31/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: agarrem-me que eu vou-me a ele

«Tinha e tenho condições políticas para obter um resultado surpreendente, mas o apoio do PS a outra candidatura cria uma situação nova e difícil», disse o poeta Manuel Alegre ontem em Viseu, numa intervenção muito festejada pela «frontalidade» e «coragem», que foi interpretada pelas pitonisas dos média como significando que renuncia à sua incontornável candidatura.

Agora é oficial. Estamos mesmo a afundar.

ARTIGO DEFUNTO: um ministro em construção

O Bloguitica cita aqui o caso do ministro das Finanças que é um exemplo de como os jornalistas, quando põem o chapéu de assessores de imprensa, se prestam a traficar influências para compor a imagem do assessorado, usando os seus colegas que ainda esperam, impacientes, na bicha para serem assessores. (via Blasfémias)

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: o ministro por objectivos

Secção George Orwell
Era uma vez um senhor professor que depois de ter sido sucessivamente delfim do herdeiro de Salazar, fundador dum partido rigorosamente ao centro (mais tarde renegado), ajudante do doutor Soares numa aliança espúria para constituir um governo equívoco (sabotado por ele próprio), adversário do mesmo doutor Soares numa eleição presidencial, mestre de cerimónias na assembleia internacional com maior proporção de lacaios de assassinos e corruptos, compagnon de route do doutor Anacleto Louçã em maninfestações várias, detractor do fuehrer ianque, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do governo socialista, admirador confesso da ajudante do fuehrer ianque, putativo proto-candidato a uma nova eleição presidencial, depois de tudo isto (pausa para respirar), depois de tudo isto, dizia, descobriu-se, com 50 anos de atraso, um émulo de Peter Drucker.

Onde outros teriam gasto milhões de euros em management consulting e recorrido às McKinsey, às BCG, às Roland Berger, o nosso professor Freitas atentou no estado desesperado das finanças públicas e decretou, ou, mais exactamente, despachou a adopção da gestão por objectivos no ministério que nesta fase ilumina com a sua presciência.

E assim emitiu uma das mais poderosas ejaculações de órgão legislativo deste governo, produzindo o Despacho Normativo n.º 42/2005 de 18 de Agosto em que «determina que todas as unidades orgânicas do Ministério dos Negócios Estrangeiros se orientarão pelo princípio da gestão por objectivos e estabelece os termos de execução desse sistema». Esta notável peça legislativa e gerencial pode ser consultada no Diário da República n.º 158 Série I-B.

Rendido a esta poderosa ejaculação o Impertinências concede ao inefável professor 5 chateaubriands pela genial redução da ciência da gestão ao direito administrativo e deseja-lhe os maiores sucessos na «execução desse sistema».

30/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: um inesperado exercício de lucidez política

«Esta ala esquerda chega sempre ao encontro da História com dez anos de atraso. Repare que algumas das medidas que agora estão a ser tomadas, por exemplo em relação à função pública, já deviam ter sido tomadas há dez ou quinze anos. O pior que se pode fazer não é retirar regalias, é criar expectativas às pessoas e deixar que elas programem a sua vida com base numa situação que é insustentável a médio prazo. Eu dizia isto no tempo do Guterres e respondiam-me que eu queria retirar direitos adquiridos. Agora, em nome do Estado Social, já se pode. Prepararmo-nos para a globalização implica que o Estado Social seja todo revisto de alto a baixo. E quando o social está em crise, temos que voltar ao individual, temos que olhar os cidadãos como consumidores, a pagar muitos dos serviços que o Estado lhes presta, e em compensação o Estado baixa os impostos.
...
Quem faz a maior contestação às mudanças que estamos a fazer - e são só mudanças no campo da logística, da intendência - são os sindicatos e os sectores ligados ao PC e ao BE. E eu estou convencido de que este país só tem sucesso quando o PC e o BE criticarem com razão. Porque, por enquanto, têm criticado sem razão. Ora, se o Presidente da República é eleito por uma aliança destas, vai levar a que a Presidência, com o aumento da crise, volte ao tempo do eanismo e desagúem em Belém todos os lobis de pressão sobre o Governo.
»

(excertos da entrevista do deputado socialista Ricardo Gonçalves ao Diário de Notícias de 29-08, um exercício de inesperada lucidez política rara no grupo parlamentar do PS, rara, aliás, em qualquer grupo parlamentar)

29/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: os chineses da (Auto)Europa

«A Volkswagen irá produzir o seu novo modelo todo-terreno Marrakesch na AutoEuropa, em Palmela, se os sindicatos alemães não concordarem com cortes salariais para reduzir os custos de produção, noticia hoje o semanário Der Spiegel». (Diário Económico)

DIÁRIO DE BORDO: o plano tecnológico

Plano tecnológico - estética neo-realista
(créditos: Techrepublic, um serviço notável para profissionais das TI)

28/08/2005

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: tal pai, tal filho

- Olha pai, sou gay.
- Deixa lá filho. E eu que tenho bicos de papagaio?
(Inspirado no doloroso lamento do doutor António Guerreiro, no caderno Actual do Expresso, acerca do estado da homossexualidade em Portugal: «é verdade que a Marcha do Orgulho Gay e Lésbico, em Lisboa, não é um espectáculo entusiasmante e resulta em algo pindérico e frouxo».)

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: uma nova área temática do Impertinências

O Plutão destes diálogos é o planeta mais pequeno do sistema solar, o mais afastado e o que tem a órbita mais inclinada relativamente aos outros. É por isso um planeta excêntrico, desalinhado, desconforme, fora do baralho e, portanto, impertinente. Aliás há quem não o considere sequer um planeta.
Os diálogos deste Plutão, são conversas excêntricas, ouvidas ou imaginadas, que talvez até nem sejam conversas.

Plutão a falar sozinho

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: crime, disse ele

Secção Insultos à inteligência
«Crime era o Algarve não ter estado no Euro 2004.» «Mas ... o estádio custa 450 mil contos por ano», lamenta-se o jornalista de O Independente, citando o outro candidato, que na página ao lado diz que são 8% das receitas correntes da câmara de Faro.

Sem se atrapalhar, o doutor Apolinário, cabeça de lista do PS por Faro, saca do argumento definitivo:
«As soluções passam por parcerias com privados para dinamizar a vida em torno do estádio, por exemplo, construir um hotel que permita melhor aproveitamento do turismo desportivo, passam pela construção de um parque de lazer para aquela região e por resolver o problema do hospital.»
Esperava-se que o doutor Apolinário explanasse o seu grandioso desígnio, por exemplo explicando onde irá desencovilar «privados» para torrar dinheiro no estádio. Ou, por exemplo, sugerindo a sua utilização para jogos de solteiros britânicos contra casados alemães, jogos que certamente produziriam inúmeras lesões que seriam tratadas no hospital a construir com o dinheiro de investidores russos amigos do presidente Putin.

Em vez disso, o doutor Apolinário arruma a questão negando que se trate dum «elefante branco» e classificando o bicho de «projecto estruturante». A ensombrar o radioso panorama ele só vê um pequeno problema: a câmara tem uma dívida de 74,5 milhões de euros (o que pelas minhas contas de merceeiro corresponde a 32 meses de receitas correntes).

Dito isto, é justíssimo atribuir ao doutor Apolinário 5 chateaubriands pela confusão genuinamente socialista entre «privados» e «tansos» e outros 5 bourbons pela sua capacidade notável de não esquecer nada e nada aprender. Enfim, tem tudo para ser um verdadeiro estradista na equipa do doutor Coelho.

27/08/2005

ARTIGO DEFUNTO: uma crónica mal-amanhada

No dia 15 recebi um email do jornalista Luís Moreira anunciando a sua crónica «TGV EM PORTUGAL / UM PROJECTO MAL AMADO» (ver News Release 429) publicada no site THE PORTUGAL DIGITAL JOURNAL.

Com essa crónica Luís Moreira pretendia explicar «que o autor do Blogue O ABRUPTO, José Pacheco Pereira, não tem razão, estendida também aos vários blogues que acompanharam a intendência de José Pacheco Pereira, sobre o novo Aeroporto de Lisboa, na OTA, e por extensão, sobre o TGV em Portugal.» Provavelmente todos os outros blogues acompanhantes terão recebido um email semelhante.

O que Abrupto pediu ao governo, e com ele os outros blogues, foi para «colocar em linha os estudos sobre o aeroporto da Ota». Esperava-se que quem quisesse demonstrar a falta de razão do Abrupto expusesse os links a tais estudos desconhecidos dos ignaros bloguenautas da intendência ao governo.

Procurei debalde nas 4 densas páginas A4 em que imprimi a crónica, qualquer referência a esses estudos. O que encontrei foi uma soma considerável de detalhes técnicos ou factos irrelevantes, mais de metade referentes ao TGV, que não estava incluído no peditório. As conclusões, que não resultam de qualquer demonstração, ainda que superficial, baseada nesses ou noutros factos, são meros artigos de fé cujo enunciado dispensaria o prolixo desfiar de trivialidades.

Em vez de artigos de fé o que precisamos, em relação ao novo aeroporto como em relação ao TGV, é de análises e avaliações profissionais que identifiquem as diferentes soluções alternativas, explicitem claramente as premissas de cada, incluindo os modelos de financiamento e de operação, e avaliem e comparem os respectivos custos e benefícios num horizonte temporal adequado. Só então fará sentido uma decisão económica racional que implique escolha entre alternativas e não um mero exercício argumentativo para justificar uma decisão contrabandeada.

Não vale argumentar que o investimento público é apenas uma pequena fracção do investimento total, passando ao lado das «contrapartidas» por baixo da mesa aos interesses privados que já se adivinharam e esquecendo défices de exploração que o estado napoleónico-estalinista poderá obrigar-se a suportar (ver o caso das SCUT). Não vale argumentar que o investimento público vai ser multiplicado, esquecendo a «desmultiplicação» resultante da redução do consumo e do investimento privados para financiar o investimento público.

26/08/2005

TRIVIALIDADES: erros nossos? má fortuna?

O milionário inglês Graham Pendrill foi passar férias ao Quénia e travou conhecimento com um grupo Masai a quem deu boleia. Criou laços tão fortes com a tribo que esta o adoptou como «mais velho», depois de lhe ter dado a beber urina de boi e de o ter baptizado de Siparo («o bravo»). Por deferência, o Sr. Pendrill foi promovido directamente ao topo da hierarquia, sem passar pela circuncisão nem pelo serviço regulamentar como guerreiro Masai.

Regressado a Inglaterra, o Sr. Pendrill passou usar no dia-a-dia a sua túnica tribal. Roído de saudade projecta vender o seu T-12 e mudar-se definitivamente para o Quénia.

Uma pergunta inevitável: porquê o engenheiro Sócrates não deu boleia aos Masai?

(Crédito da estória: Times que assim quase se resgata da publicação das barbaridades do jumento empertigado)

25/08/2005

NÓS VISTOS POR ELES: para dizer mal, é preciso amá-lo ou odiá-lo

Nesta rubrica já aqui dei conta do que dizem pensar de nós vários cidadãos estrangeiros:

Todos eles nos ficaram a conhecer (a nós ou à Jerónimo Martins) o que os autorizou a dizer coisas simpáticas ou antipáticas, mas certamente justas, do seu ponto de vista. Se disseram mal, disseram-no com um módico de conhecimento da causa. Só temos que agradecer-lhes por isso.

Diferente é o caso dum pedante prenhe de pesporrência que assinou como AA Gill uma review do restaurante Tugga na King's Road, Londres. Aceita-se que a luminária enfatuada não tivesse gostado da mistela que lhe foi servida. Também se aceita, com um pouco de esforço, que a alcachofra amaricada torne extensivo a toda a cozinha nacional o seu desamor pelas rações que lhe foram servidas no tugúrio.

Repudiam-se com veemência as considerações que a alimária emproada faz sobre um país onde nunca esteve e um povo que não conhece. Para dizer mal dum país é preciso amá-lo ou odiá-lo. Não basta não o conhecer.

Exortam-se todos os bloguenautas a enviar um email ao TimesOnLine com uma boa colecção de insultos dirigidos ao jumento empertigado. Chamar-lhe, como o fez a Vitriolica, «miserable little whingeing git» é um bom começo.

24/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: bushite ou bullshit?

Há várias coisas que me afastam de George W. Bush. O fundamentalismo evangélico e o pendor para o big government, em primeiro lugar. Depois, talvez, uma desconfiança mal disfarçada nos méritos dos mercados.

Há outras que me aproximam. Uma simpatia mitigada, como contrapartida ao ódio doentio que lhe devotam os crentes do politicamente correcto e a esquerdalhada em geral. E ainda a sua convicção democrática (aparentemente genuína) e o seu carácter resoluto, em contraste com as águas pantanosas que foram as presidências de Clinton, sobretudo a segunda.

Ah, já me esquecia, há mais uma: a sua paixão pela actividade física e as suas performances desportivas, que por certo irritam as luminárias da esquerdalhada, na sua maioria incapazes de levantar as flácidas bundas dos sofás onde ruminam as suas impotências.

23/08/2005

PUBLIC SERVICE: the nature of life itself

«Though my heart may be left of centre, I have always know that the only economic system that works is a market economy. This is the only natural economy, the only kind that makes sense, the only one that leads to prosperity, because it is the only one that reflects the nature of life itself, the essence of life is infinitely and mysteriously multiform, and therefore it cannot be contained or planned for, in its fullness and variability, by any central intelligence.»
Vaclav Havel, Summer Meditations

22/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: posso fazer uma pergunta?

Porque não investigam as autoridades brasileiras, com o mesmo zelo que aplicam na morte de Jean Charles de Menezes pela polícia inglesa, as dezenas de mortes causadas todos os anos pela polícia brasileira e jamais esclarecidas?

ARTIGO DEFUNTO: o argumento final

Admito que é temerária a invocação do professor Marvão Pereira, pelos doutores Álvaro de Mendonça e Nicolau Santos no Expresso, para justificar a conclusão de que «o investimento público no TGV, no novo aeroporto da Ota e nos outros mega-projectos incluídos no PIIP ... será pago, no pior dos cenários, no prazo máximo de onze anos». É uma conclusão possivelmente não demonstrável sem recorrer às premissas do costume e, sobretudo, sem escamotear que o financiamento desses projectos faraónicos se fará sempre à custa doutros projectos públicos ou privados.

Mas que pensar do argumento final que tais projectos «terão uma magnitude bem mais importante do que a Expo-98 ou o Euro-2004, esforços, esses sim. seriamente questionáveis, mas já esquecidos»?

21/08/2005

ARTIGO DEFUNTO: abaixo os factos e vivam as causas

Numa entrevista a O Independente, na sequência da atribuição dum prémio pelo Clube de Jornalistas, o jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos ilumina-nos com a sua visão do papel do jornalista, expressa em frases antológicas:
«O jornalismo tem que ser sobretudo o porta-voz daqueles que não têm voz.» «Não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador, do repórter.» (Defendo um jornalismo de indignação e) «também um jornalismo de causas».

Preocupado (sem razão, parece-me) com as ameaças de conversão do jornalismo de causas em jornalismo «indolor e incolor», BB solta um aflito grito de alma - «o que querem é capar-nos», disse, talvez receando a continuidade geracional do «jornalismo de causas».

Um exemplo clássico do «jornalismo de causas» (já aqui referido pelo Abrupto) é o tratamento jornalístico da morte do cidadão brasileiro pela polícia anti-terrorista inglesa. Antes mesmo de se saber que a polícia tinha «de facto» divulgado «informação» errada, já o jornalismo de causas bramava, exigindo a condenação da política e o castigo da polícia.

A polícia lamentavelmente errou na aplicação duma política certa e acertou indesculpavelmente numa política errada de adulteração dos «factos». Mas, aos olhos do «jornalismo de causas», essa adulteração não deveria constitui um pecado grave para quem, afinal, «não há factos».

O doutor Daniel Oliveira, que tem a coluna de «opinião» «Choque e pavor» no Expresso, «informa-nos» esta semana que o brasileiro morto em Londres, na sequência dos atentados do mês passado, «foi executado pela polícia inglesa». Uma vez mais, «os factos correspondem à visão do mediador». Se o mediador entende que é «execução», passa a ser execução. Execução é diferente de «erro». «Erro», pelo menos desde que Lula foi eleito, é a execução regular com total impunidade pela polícia brasileira de facínoras, à mistura com inocentes.

É por isso é que um «jornalista» se «indigna» e se usar o seu jornal para promover maninfestações de protesto contra a «brutalidade» da polícia inglesa e a exiguidade da indemnização (8.000 salários mínimos brasileiros), isso não o obriga a «indignar-se» contra a regular brutalidade da polícia brasileira, nem a exigir um funeral para as vítimas dessa brutalidade. «Não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador». Ponto final.

20/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: o estresse nos humanos e nas plantas

Tenho uma amiga que defende e pratica uma filosofia de protecção incondicional da sua prole. Aos nossos filhos não devemos exigir-lhes, não devem cansar-se, bla bla, não precisam de estudar muito, bla bla, coitadinhos, bem basta a vida um dia, bla bla, se tiver que ser, bla bla, mas só se eu não puder evitar, bla bla.

Há poucos dias, vi no seu pequeno jardim várias árvores com uma pedra ou um tijolo pendurado. Explicou-me que o estresse as fazia revigorar.

A melhor aluna da turma (*)
(*) Phyllantus niruri, também conhecida por arrebenta-pedra, dissolve cálculos renais e promove a desobstrução do ureter.

BREIQUINGUE NIUZ: o governo e as calamidades

Calamidade anunciada
Pela boca do ministro da Administração Interna, o governo anunciou a intenção de alterar a legislação sobre o estado de calamidade pública, suprimindo a condição de só conceder apoios no caso de danos inseguráveis. O governo, pela boca do ministro, acaba de anunciar:
  1. a atribuição de um prémio aos negligentes e imprudentes que não pagam um prémio às seguradoras para proteger a sua propriedade;
  2. a punição dos contribuintes diligentes e prudentes que pagam um prémio às seguradoras para segurar a sua propriedade e irão pagar um prémio ao estado napoleónico-estalinista para segurar a propriedade dos negligentes e imprudentes.

Calamidade inaugurada
O primeiro-ministro deste governo vai inaugurar na próxima semana na Marinha Grande uma «incubadora de empresas» com 4.600 m2 que custou 3,1 milhões dos quais 1,2 milhões directamente extorquidos aos contribuintes. A «incubadora» destina-se a dar abrigo a 32 empresas (8 industriais e 24 de serviços), mas até agora só há 10 candidatos que estão a ser avaliados.

A coisa arrasta-se desde 2002, pelo que as frangas que tinham ovos para chocar há 3 anos ou foram chocá-los para outro lado ou foram usadas para fazer canja. A esperança, que nestas coisas dá sempre jeito, leva-nos a esperar que possamos contar com ovos no cu das 10 atrevidas frangas que estão na bicha. A fé ajuda-nos a considerar resolvido a favor da galinha o dilema de quem nasceu primeiro.

O resultado é garantido porque os putativos pintos, frutos do labor inovativo, serão devidamente tratados pela «equipa pluridisciplinar para apoiar as empresas».

19/08/2005

BLOGARIDADES: eles estão-me a morrer (2)

O mês de Agosto tem sido fatal. Primeiro o Jaquinzinhos, depois o Fora do Mundo e agora o Aviz.

Começo a sentir-me só.

SERVIÇO PÚBLICO: a ajuda humanitária é boa para os países ricos

Texto integral duma lúcida entrevista do economista queniano James Shikwati à revista Veja de 10-08 (link não disponível):

Veja – No mês passado, os sete países mais ricos concordaram em aumentar para 50 bilhões de dólares por ano a ajuda humanitária para a África. É uma boa notícia, não?
Shikwati – É bom para os países ricos, como manobra de relações públicas. Como medida útil para a criação de riqueza, que é o que os países africanos precisam, as doações não ajudam em nada. Se você der dinheiro a um mendigo e voltar a vê-lo na rua no dia seguinte, não se pode dizer que você o tenha ajudado. Ele continua mendigando. É isso que está acontecendo na África. Os países ricos anunciam mais e mais doações a cada ano. Temos de parar com isso. É preciso tirar o mendigo da rua. Temos de descobrir os potenciais desse mendigo, pois isso sim poderá melhorar sua vida. A África necessita é de uma chance para ser capaz de administrar e comercializar as próprias riquezas.

Veja – Por que as doações internacionais são ruins para a África?
Shikwati – Na década de 80, a África Subsaariana recebeu 83 bilhões de dólares em auxílio. No mesmo período, o padrão de vida na região caiu 1,2% ao ano. A doação só tornou os países africanos mais dependentes de ajuda. Precisamos conquistar a capacidade de resolver nossos problemas sozinhos. Minha mensagem é: "Por favor, não dificultem as coisas para nós. Não nos impeçam de pensar por nossa própria conta com essa política de nos afundar em dinheiro fácil".

Veja – De que maneira, exatamente, o dinheiro atrapalha?
Shikwati – O dinheiro da ajuda internacional prejudica o setor produtivo e a livre-iniciativa. No Quênia, parte do dinheiro que veio de doações internacionais foi investida no setor de telecomunicações, controlado pelo Estado de forma ineficiente. Desse modo, fica difícil para o setor privado competir com as empresas estatais. A situação na agricultura é ainda pior. O envio de toneladas e toneladas de alimentos atrapalha os produtores locais. Eles param de produzir o pouco que têm, porque são incapazes de competir com os alimentos distribuídos gratuitamente à população. Assim, criam-se novas famílias de pessoas pobres, que passam a depender da ajuda internacional. É uma espiral sem fim, que também desestimula o comércio de alimentos entre os países africanos. Se falta comida no Quênia, devido a uma seca, em vez de tentarmos fazer negócios com os países vizinhos, como Uganda e Tanzânia, pedimos comida aos países europeus ou aos Estados Unidos. Tudo o que nossos líderes precisam fazer é desenvolver estratégias para garantir que a ajuda financeira continue chegando.

Veja – O que o leva a pensar dessa forma?
Shikwati – Eu venho de uma região rural do Quênia e tive uma infância pobre. Quando entrei na faculdade, passei a me interessar pelos problemas africanos. Comecei a entender que capitalismo não é feito apenas com dinheiro, mas também com recursos humanos. Se você me der bilhões de dólares e eu não estiver preparado para saber o que fazer com isso, será dinheiro jogado fora. É sob essa perspectiva que eu interpreto os problemas da África.

Veja – Não é crueldade deixar sem ajuda os milhões de famintos da África?
Shikwati – Não é. Se você deixar a África lidar com seus problemas sozinha, o continente não vai fracassar ou morrer. Se os governos dos países desenvolvidos continuarem agindo como nossas babás, no entanto, nunca conseguiremos entrar na economia global. O caminho para o nosso desenvolvimento é ter acesso livre a outros mercados e conseguir investimentos externos.

Veja – Como fazer isso?
Shikwati – Os problemas que impedem a África de criar riqueza são, na verdade, institucionais. Eles limitam a capacidade do continente de expandir o próprio mercado. As alíquotas de importação de alimentos entre os países africanos são, em média, de 33%, comparados aos 12% que os produtos importados da Europa pagam por aqui. Se conseguíssemos abrir a África para os africanos, muitos dos problemas de desnutrição nunca chegariam a um nível crítico. Temos de convencer nossos governantes a abrir os mercados e a estimular a população a produzir. Os 50 bilhões de dólares que os países ricos querem nos dar serão um presente de grego. O único efeito será impedir o desenvolvimento do mercado interno africano. Vamos continuar para sempre dependentes de ajuda internacional.

Veja – O que a África tem para oferecer no mercado global?
Shikwati – Concordo que não há na África um setor produtivo comparável ao de outras regiões. O pouco que existe está sendo destruído pela ajuda internacional. Em 1997, havia 137 000 empregados na indústria têxtil da Nigéria. Em 2003, eram apenas 57 000. Porque os países ricos nos inundam com roupas doadas, que vão abastecer os mercados de rua nas cidades africanas. O que temos a oferecer são riquezas naturais, como ouro, petróleo, diamantes e um povo com um potencial que merece receber investimento.

Veja – O governo dos Estados Unidos anunciou que só fará doações aos países africanos menos corruptos. Essa é uma boa estratégia?
Shikwati – Antes de tudo, é preciso perguntar o que causa a corrupção. Os países ricos dizem que os pobres são corruptos. De onde vem o dinheiro roubado pelos corruptos? No caso da África, esse dinheiro vem dos Estados Unidos e da Europa. Boa parte dos alimentos doados é revendida pelos políticos nos armazéns de suas tribos. Americanos e europeus têm boas intenções, mas a ajuda internacional corrompe os governantes africanos. Concordo que a corrupção é um problema crônico no continente, mas ela não está no gene africano. Os próprios africanos precisam aprender a policiar a roubalheira de seus governantes.

Veja – É possível um país ter ao mesmo tempo desenvolvimento e dirigentes políticos corruptos?
Shikwati – É uma raridade. Quanto maior o fluxo de informações em um país, mais difícil é para as autoridades cometer atos ilícitos. Os países desenvolvidos são aqueles em que há liberdade na divulgação de notícias. Um dos motivos da corrupção na África é a falta de informação. Pergunte a um africano quanto de ajuda financeira seu país recebe por ano. Ele não saberá responder, porque o governo não divulga os dados. Na África, damos poder demais aos nossos governantes, e isso estimula a corrupção.

Veja – Como os regimes ditatoriais são afetados pelas doações internacionais?
Shikwati – Sem os donativos seria mais fácil se livrar dos ditadores. A ajuda financeira vem sempre acompanhada de uma política equivocada. Os governos usam o dinheiro para a guerra e para a compra de votos. Se um ditador tem apoio financeiro garantido, ele dificilmente vai se importar com a situação de seus cidadãos. Jeffrey Sachs (diretor do programa Metas de Desenvolvimento para o Milênio, da ONU) diz que o dinheiro deveria ser entregue não aos políticos, mas à população. O que ele quer? Uma África sem líderes? Não é uma questão de entregar o dinheiro nas mãos de políticos ou nas de cidadãos. A solução é não dar dinheiro algum.

Veja – O pensador americano Francis Fukuyama diz que a causa do subdesenvolvimento é a falência do Estado. O senhor acha que seria mais proveitoso se os países ricos ajudassem os pobres a construir as próprias instituições e leis, em vez de dar ajuda em dinheiro?
Shikwati – De forma alguma. Um país não pode ajudar o outro a construir o seu Estado. Isso se chama interferência. Se for do interesse das empresas dos países ricos lucrar nos países pobres, não devemos impedi-las. Mas não podemos permitir que governos venham fazer negócios em nome dessas companhias. O conhecimento técnico deve ser levado por empresas dispostas a se instalar na África. É preciso também permitir que os cidadãos de países em desenvolvimento circulem livremente pelos países ricos. Nossos jovens precisam viajar e estudar no Primeiro Mundo. Só assim estarão preparados para construir o próprio país.

Veja – Jeffrey Sachs diz que muitos problemas da África têm soluções bem simples, como a distribuição de mosquiteiros e a adoção de programas de educação sexual. O senhor concorda?
Shikwati – Sachs sabe muito bem o que os países ricos fizeram para combater a malária no tempo em que a doença existia na Europa. Eles não utilizaram mosquiteiros. Então por que prescrever isso para a África? Os mosquitos não esperam a pessoa dormir para picá-la. Deveríamos investir em projetos para erradicar o mosquito, porque ele sim é a causa da malária. Quanto aos programas de educação sexual, não precisamos que Sachs venha nos dizer isso. É por essa razão que critico a tendência da ONU de assumir o papel de babá dos pobres. Se isso acontecer, os africanos se tornarão uns zumbis, uns inúteis que não sabem de nada.

Veja – Por que só a África fica de fora do crescimento global?
Shikwati – A pobreza na África é artificial. Ou seja, é criada pelas guerras e por governantes corruptos. Os líderes lutam por causas nacionalistas, passando por cima das fronteiras, impedindo o desenvolvimento do comércio regional. Dessa forma se multiplica o número de pobres. Note que a ajuda financeira à África está baseada em estatísticas exageradas. Se os dados sobre a aids fossem corretos, todos os quenianos estariam mortos. Recentemente se descobriu que não são 3 milhões de infectados, e sim 1 milhão. A aids tornou-se uma doença política, usada como apelo de marketing para atrair mais dinheiro em doações externas. É triste que isso esteja acontecendo, porque as pessoas estão realmente morrendo.

Veja – No fim da II Guerra, a Alemanha estava em ruínas. Recuperou-se em poucos anos com a ajuda financeira dos Estados Unidos. Um Plano Marshall seria uma solução para a África?
Shikwati – A Alemanha, antes da guerra, não estava no mesmo estágio em que se encontra hoje a África. Era um país industrializado, com instituições consolidadas. Bastou injetar dinheiro e iniciar a reconstrução para a indústria alemã retomar a produção. A África não mudou quase nada desde a independência. É preciso começar do zero, o que complica qualquer plano de desenvolvimento.

Veja – Por que o senhor acha que a Europa está tão empenhada em ajudar os países africanos?
Shikwati – Primeiro, porque os europeus foram os colonizadores e pretendem se manter influentes no continente. Há interesses concretos, como conquistar o apoio africano nas negociações na Organização Mundial do Comércio. A forma encontrada para garantir essa influência é inundar os governos africanos com dinheiro. Há outra razão, talvez mais emocional. Os países ricos querem se sentir bem. É como se dissessem: "Nós somos os mocinhos, estamos ajudando".

Veja – O Brasil busca o apoio da África para sua candidatura a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Isso o coloca na categoria dos países que querem exercer influência na África?
Shikwati – Pelo menos no caso do Brasil isso é feito às claras. O país não esconde suas intenções. Um dos meus argumentos contra as doações é que os representantes dos países ricos não vêm aqui e dizem: "Olha, meu amigo, eu lhe dou esse dinheiro e você me dá seu apoio na ONU". É uma negociação, mas eles disfarçam. Se for do interesse da África aceitar a ajuda brasileira em troca de um voto na ONU, que seja assim. Isso é normal nas relações internacionais. O que não se pode é esconder isso da população.

18/08/2005

CASE STUDY: inversão do ónus da prova? (2)

Depois do «esforço analítico despendido para fundamentar conclusões que são consideradas no mundo do pensamento único como um acquis da economia oficial», vem o esforço panfletário (1), (2), (3) e (4) do doutor Vital Moreira. (lido n'O Insurgente)

O paradigma da bondade incontornável do investimento público sob ameaça leva os fiéis a terçarem armas pela sua causa com redobrado zelo.

BLOGARIDADES: eles estão-me a morrer

No princípio do mês foi o Jaquinzinhos, agora o Fora do Mundo. O jazigo das baixas em combate, aí ao fundo à direita, está a ficar sem espaço. Será uma epidemia?

17/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: «quem pode desprezar os americanos?»

Pergunta e responde Alexandre Brandão da Veiga num interessantissimo artigo de opinião no Jornal de Negócios.

CASE STUDY: inversão do ónus da prova?

Folheio a Análise Mensal de Julho, da série Estudos Económicos e Financeiros do BPI, que considero uma instituição relativamente fiável (pelo menos suficientemente fiável para lhe confiar as parcas poupanças com que tentarei enfrentar durante algum tempo a anunciada insolvência do sistema de segurança social). Convém esclarecer que, não havendo instituições absolutamente fiáveis, há inúmeras instituições absolutamente infiáveis - para começar todas as que não estão submetidas ao escrutínio do mercado.

Num artigo de opinião sobre «Despesa Pública», um quadro de topo e uma técnica do BPI dedicam o melhor do seu esforço analítico, em 4 densas páginas A4 corpo 8, a concluir que «o nível das despesas sobre o PIB é um mau alvo da política económica», porque «não revela o nível ou a qualidade dos serviços públicos« que aliás «não destoam da UE. Não revelam um Estado esbanjador. É claro que há problemas de eficiência e desperdício ... mas ... » bla bla bla.

O que é que isto tem de extraordinário? Não foi já foi dito e escrito muitas vezes. Sem dúvida. Mas a novidade é o esforço analítico despendido para fundamentar conclusões que são consideradas no mundo do pensamento único como um acquis da economia oficial, axiomas da doutrina económica dominante que não careciam até há pouco de demonstração.

Na melhor hipótese, a novidade do exemplo (há outros) poderá significar talvez que está a dar alguns frutos a intervenção cívica dumas almas penadas de pendor liberal, nas suas diversas encarnações e manifestações, principalmente na Bloguilha.

Se for isso, pode ser um sinal importante. A mudança de paradigma. A diferença entre empurrar um comboio parado e manter um comboio a andar. Ou, como dizem os advogados, a inversão do ónus da prova.

16/08/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: tout va très bien, Monsieur le premier ministre

Lisboa está vazia? Nem toda. Todos os corpos alfacinhas estão espojados à torreira do sol na Quinta do Lago (classe A), na Caparica e na Quarteira (classes D e E) ou noutros algarves (restantes classes)? Todos os neurónios e sinapses alfacinhas estão desligados e todas as mentes turbadas pelo calor deglutem preguiçosamente as imagens do milésimo incêndio? Nem todos os corpos, nem todas as mentes. Há pelos menos duas excepções: o Impertinências e ele.

Ele não disse porquê, mas eu suspeito que foi inspirado na conversa telefónica entre o engenheiro Sócrates, numa pausa do safari, e o doutor Costa, entre dois incêndios.

Ele, o meu amigo AB, enviou-me a letra da deliciosa chanson «Tout va très bien, Madame la Marquise» escrita e composta em 1936 por Paul Misraki (pode ser ouvida aqui na versão de Ray Ventura).

Tout va très bien, Madame la Marquise

Allô, allô James !
Quelles nouvelles ?
Absente depuis quinze jours,
Au bout du fil
Je vous appelle ;
Que trouverai-je à mon retour ?

Tout va très bien, Madame la Marquise,
Tout va très bien, tout va très bien.
Pourtant, il faut, il faut que l'on vous dise,
On déplore un tout petit rien :
Un incident, une bêtise,
La mort de votre jument grise,
Mais, à part ça, Madame la Marquise
Tout va très bien, tout va très bien.

Allô, allô James !
Quelles nouvelles ?
Ma jument gris' morte aujourd'hui !
Expliquez-moi
Valet fidèle,
Comment cela s'est-il produit ,

Cela n'est rien, Madame la Marquise,
Cela n'est rien, tout va très bien.
Pourtant il faut, il faut que l'on vous dise,
On déplore un tout petit rien :
Elle a péri
Dans l'incendie
Qui détruisit vos écuries.
Mais, à part ça, Madame la Marquise
Tout va très bien, tout va très bien.

Allô, allô James !
Quelles nouvelles ?
Mes écuries ont donc brûlé ?
Expliquez-moi
Valet modèle,
Comment cela s'est-il passé ?

Cela n'est rien, Madame la Marquise,
Cela n'est rien, tout va très bien.
Pourtant il faut, il faut que l'on vous dise,
On déplore un tout petit rien :
Si l'écurie brûla, Madame,
C'est qu'le château était en flammes.
Mais, à part ça, Madame la Marquise
Tout va très bien, tout va très bien.

Allô, allô James !
Quelles nouvelles ?
Notre château est donc détruit !
Expliquez-moi
Car je chancelle
Comment cela s'est-il produit ?

Eh bien ! Voila, Madame la Marquise,
Apprenant qu'il était ruiné,
A pein' fut-il rev'nu de sa surprise
Que M'sieur l'Marquis s'est suicidé,
Et c'est en ramassant la pell'
Qu'il renversa tout's les chandelles,
Mettant le feu à tout l'château
Qui s'consuma de bas en haut ;
Le vent soufflant sur l'incendie,
Le propagea sur l'écurie,
Et c'est ainsi qu'en un moment
On vit périr votre jument !
Mais, à part ça, Madame la Marquise,
Tout va très bien, tout va très bien.

15/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: não há milagres

Não obstante a criação de círculos uninominais anunciada pelo PS potenciar a responsabilização individual dos eleitos, favorecer a criação de maiorias e uma clarificadora polarização, suspeito que, só por si, não fará grande coisa pela salvação do regime.

Esquecendo, por agora, que este experimentalismo constitucional ad hoc é um sintoma preocupante de uma doença talvez grave, fica por resolver como se evitará a multiplicação de deputados independentes do queijo limiano, candidatos a um mensalão, ou pelo menos a uma mesada, e a uma póstuma sinecura.

Algumas alterações serão necessárias para dar um mínimo de eficácia à mudança, como a revisão das incompatibilidades, o aumento da remuneração dos deputados, a redução do seu número e um trade off entre os círculos uninominais e o círculo nacional.

Ainda assim, se tudo corresse bem e seria a primeira vez em séculos, a qualidade do pessoal político levaria uma geração a melhorar e sem ela teremos inevitavelmente uma democracia representativa que representará a mediocridade dos seus agentes.

PUBLIC SERVICE: shame on you Mr. Prez

«So the four inCREDibly rich fuckers flew into Portugal airport in a HUGE private jet this afternoon.
...
And Prez. Jorge pins some MEDALS (Ordem de Liberdade) on the four of them, which was acutely funny...
U2 acted like a bunch of pissed up boy-banders and the Republic of Portugal looked really really silly for an extra five minutes of today.
»

U2 and Jorge2 or the shitty Four and the boring One
(from Vitriolica's blessed blasphemy)

SERVIÇO PÚBLICO: arqueologia governamental

O ano 2000 está a ser o foco das escavações governamentais na busca de velhas ideias falhadas que escaparam à co-incineração e que podem agora ser recicladas e apresentadas como novas aos crentes.

O programa SIME, inventado no 2º consolado do engenheiro Guterres, foi desenterrado, brunido, rebaptizado como PRIME e apresentado o mês passado pelo doutor Pinho em Santa Maria da Feira.

O MegaMail, inventado há 5 anos pelo professor Mariano Gago, sempre no prolixo 2º consolado do engenheiro Guterres, foi igualmente desenterrado, brunido, rebaptizado "e-mail por cidadão" e contado pelo engenheiro Lino. Como da primeira vez ninguém reparou, a câmara de eco do Expresso levou a coisa para a primeira página do caderno Economia. (via Blasfémias)

14/08/2005

TRIVIALIDADES: sabia que

Segundo as estimativas do doutor Rogério Fernandes Ferreira no Independente, os portugueses torram 2 mil milhões de euros por ano no Euromilhões - o equivalente a 1,5% do PIB.

ARTIGO DEFUNTO: as coisas que eles me fazem lembrar (ACTUALIZADO)

«Já Marcelo Rebelo de Sousa devia invocar objecção de consciência e não se pronunciar sobre este assunto (o mensalão, a PT e o BES), como fez no domingo passado na RTP. Ele sabe porquê», escreveu o doutor Nicolau Santos na sua coluna Cemporcento do caderno de Economia do Expresso.

Ele sabe porquê? E nós que pagamos 3 euros por 400 g de papel ficamos sem saber?

Dez páginas à frente, o mistério é resolvido pela Bianca Castafiore no Em Foco.

«O banqueiro (doutor Ricardo Salgado, presidente do BES) agradeceu a defesa do BES (e da PT) feita pelo comentador, com quem passa habitualmente férias, em magníficos cruzeiros pelos mares turcos. O banqueiro terá preparado Marcelo para uma eventual onde de ataques pessoais, com alegações injuriosas sobre o facto de um dos seus filhos trabalhar na PT e ter iniciado a carreira no BES

(Esta estória fez-me lembrar os estertores finais do regime fassista. Por duas razões. Primeiro, porque os jornalistas continuam a escrever como se quisessem (*) fintar o lápis azul da censura. Segundo porque, este caso, como milhares de outros, é um exemplo da cada vez mais frequente promiscuidade entre um número limitado de famílias, ou de grupos de interesses, ou de capelinhas, umas vezes nos lugares da noite, outras estendendo-se na cama, outras nos clubes de golfe, e as mais das vezes prolongando-se na distribuição de lugares e de sinecuras. Promiscuidade semelhante, apenas mais vulgarizada, à que se vivia no seio das então «200 famílias» e respectiva criadagem e serventuários. A ingenuidade de muitos jovens, como o Impertinências na época, esperava que o 25 de Abril dissolvesse numa sociedade civil menos colectivista esses clubes a huis clos. Ainda não se tinha demonstrado, uma vez mais, que a mudança de regime não muda as mentalidades.)

(*) Escrevi «quiZessem» sem querer, mas um talvez jornalista fez o favor de me corrigir, dando assim algum préstimo à profissão. Obrigado.

13/08/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o sapo

Quando aqui insinuei maldosamente que o proto-candidato doutor Soares seria um camaleão, parecia-me uma classificação adequada.

Parecia-me, mas estava enganado. Percebi-o quando ele me telefonou . «Continuas o mesmo ignorante de sempre em zoologia», disse ele. «O Soares não é um camaleão. O Soares é um sapo», acrescentou. «Sempre foi um sapo, mas desta vez vai ser engolido por toda a esquerda dentro e fora do PS», precisou.

(Fechei os olhos e vi o tronchudo doutor Soares a escorregar com dificuldade pelas gargantas dilatadas e doridas do poeta Alegre, dos inefáveis doutores Carrilho e Prado Coelho, do senhor Jerónimo, do doutor tele-evangelista e tutti quanti.)


O candidato-sapo preparando-se para ser engolido pela esquerdalhada

12/08/2005

TRIVIALIDADES: salto à vara

O ministro das Finanças justificou a nomeação do doutor Vara para a administração da Caixa pelas suas «qualidades e capacidades», pela sua licenciatura e pela «ligação à Caixa há mais de 20 anos». (Diário Digital)

O ministro esqueceu-se de informar que a licenciatura do doutor Vara tinha sido concluída (na Universidade Independente) 3 dias antes da nomeação e que a sua carreira na Caixa consistiu em muitos anos num lugar de funcionário administrativo do nível 9 numa qualquer agência, até que a sua demissão do governo do engenheiro Guterres (pela escandaleira da fundação) lhe proporcionou o regresso à Caixa e uma promoção súbita a director do nível 16, seguida agora da ascensão aos céus da administração do sarcófago bancário.

(Via Insurgente e Grande Loja do Queijo Limiano)

SERVIÇO PÚBLICO: otários tirem as cartas da manga (REPOSIÇÃO)

«PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?»
(Abrupto)

O ruído do silêncio do governo e dos média fala cada dia mais alto, aqui e ali quebrado pelo ruído das palavras, como no Público de 11-08 (ver comentários no Blasfémias).

11/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: ainda não chegámos aos anos 80

«O preço do crude atingiu hoje novos máximos nas praças internacionais, chegando aos 65,66 dólares em Londres e aos 66 dólares em Nova Iorque.» (DE)

Já estivemos mais longe dos anos 80 mas ainda não chegámos lá.

CASE STUDY: o milagre da multiplicação

A discussão sobre os milagres do investimento público é semelhante a uma discussão que dois engenheiros agrónomos e um engenheiro hidráulico poderiam ter (mas certamente não têm) sobre as putativas melhorias que resultariam de usar a mesma água de rega, substituindo um sistema de torniquete, em condições regulares de funcionamento, por um sistema de canhão de água em mau estado, com as bombas desferradas e a tubagem furada. Certamente o engenheiro hidráulico não se esqueceria que, apesar a água ser a mesma, os dois sistemas teriam eficiências diferentes e, por isso, resultados diferentes. Seguramente os engenheiros agrónomos teriam em consideração que não seria indiferente regar batatas ou couves de Bruxelas.

É por isso é que é difícil perceber porque esquecem os otários que a grana pública que pretendem torrar nas Otas e TGVs seria sempre extorquida, através dos impostos, ao consumo privado e, pior que tudo, na sua maior parte, ao investimento privado. Ou teria uma extorsão diferida para pagar o serviço da dívida pública, se fosse esta a forma de financiamento, o que no final viria a dar o mesmo. A menos que. (*)

Também é difícil perceber porque se esquecem os otários que a gestão dos projectos públicos costuma ser o que se sabe. Para só citar alguns casos famosos: santa Engrácia (as obras duraram várias gerações), centro cóltural de Belém (triplicou o custo orçamentado), comboio pendular (triplicou o custo orçamentado e ainda hoje está por concluir), metro do Porto (duplicou o custo e ainda a procissão vai no adro), metro de Coimbra (passaram vários anos, ainda estão nos projectos e já torraram milhões de euros).

É mais difícil entender porque esquecem os otários que o investimento público, se não tiver efeitos mensuráveis no aumento da produtividade ou da capacidade produtiva instalada, não passará de afundamento de grana. Escrevo «mensuráveis» porque um otário pode sempre imaginar que a visão de estádios de futebol vazios pode ser boa para a auto-estima dos portugueses ou que frequentar a Casa da Música aumentará a produtividade do bom povo tripeiro (garantido é o aumento da despesa para cobrir os défices de exploração).

Vem tudo isto a propósito do gráfico que o Semanário Económico de 05-08 publicou nas páginas dedicadas ao tema investimento público (não há link disponível). O gráfico cobre o período 1985-2005 e mostra que o rácio investimento público/PIB variou num apertado intervalo [3,0%;4,6%] (com picos no consolado guterrista), taxa de variação do PIB se situou no intervalo [-2,0%;+7,5%] (com picos no consulado cavaquista) e as duas variáveis têm uma correlação negativa (-0,1). O contributo do investimento público para a taxa de variação do PIB flutuou no intervalo [-1,1%;+2,6%] e tem uma correlação pouco significativa (0,4) com a taxa de variação do PIB. Se desfasarmos as variáveis de 1, 2 ou 3 anos, para termos em conta a maturação do investimento, as correlações continuam negativas (no 1º caso) ou pouco significativas (no 2º caso). Conclusão? Investimento público em Portugal não garante crescimento. Garante apenas torrar inutilmente dinheiro dos contribuintes ou, na melhor hipótese, torrar mais do que o necessário.

Chegado aqui, pergunto-me: como é possível explicar os milagres do investimento público português com a falácia dos multiplicadores? Como todos os milagres: só com muita fé.

(*) Não vou perder tempo com um trade off imaginário entre despesa pública corrente e investimento público porque nenhum otário, nem em sonhos, propõe o aumento deste à custa da redução daquelas.

10/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: o camaleão

O que se poderia escrever sobre a «estratégia para captar votos ao Centro» do doutor Soares acabou, agora mesmo, de ser escrito no Grande Loja.

Aguardemos o latir da matilha quando perceber que foi enganada (outra vez).


Candidato presidencial do PS

TRIVIALIDADES: you too? why not?

Não percebo a admiração. Nada mais natural do que o presidente da República condecorar os U2 com a Ordem da Liberdade antes do concerto a que vai assistir.

Primeiro, porque no estado actual das finanças públicas é melhor desperdiçar uma medalha do que torrar os 500 euros que podem custar na candonga os bilhetes para o concerto.

Segundo, porque quem já deu centenas de medalhas (ou talvez mais de um milhar) a quase outras tantas nulidades anónimas, pareceria mal não aproveitar a vinda de rapazes tão mediáticos para lhes pendurar a lataria no peito.

Terceiro, porque se um editorial de Los Angeles Times já tinha proposto o Bono Vox para presidente do Banco Mundial porque raio não haveria o doutor Sampaio de prantar-lhe a medalha. A propósito, recorde-se que quem acabou por tirar o lugar ao Bono foi Paul Wolfowitz, neo-con e cúmplice do fuehrer ianque.

O MEU LIVRO DE CABECEIRA: «Portugal, Hoje - O Medo de Existir» (3)

[continuação de (1) e (2)]

José Gil dedica um capítulo inteiro do seu livro ao tema «queixume, ressentimento, invejas» que segundo ele povoam a mente dos portugueses. Não por acaso, queixume e inveja são dois atributos comummente associados ao estereotipo feminino, apesar de não explicitamente referidas por Hofstede como caracterizadoras do feminino na dimensão feminino/masculino.

Um aspecto interessante e original salientado por José Gil, é a existência duma «vítima» em estado de vulnerabilidade como condição prévia para a inveja proliferar. Essa vítima «não sabe o que quer», ou, como o Impertinências costuma enfatizar, «quer sol na eira e chuva no nabal».

É claro que, roído de inveja pelo sucesso do outro, ou pela aparência de sucesso, o português não admira sinceramente quem o alcança: «a admiração é quase sempre de fachada».

09/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: ainda m'espanto às vezes e cada vez mais m'avergonho (*)

Ao pestanejar pelas dezenas de páginas do estudo de Outubro de 2004 «Desenvolvimento integrado das infra-estruturas de transporte em Portugal» da Espírito Santo Research, dirigido por Miguel Frasquilho, caíram-me os olhos nas primeiras linhas do Sumário Executivo que poderiam ser subscritas por um aluno do 1º ano de economia da Moderna:
«As infra-estruturas de transporte têm um tempo de vida útil bastante longo. O facto de exigirem montantes de investimento bastante elevados - e que são pouco flexíveis - implica que quaisquer erros cometidos na tomada de decisão saiam muito caros e tenham efeitos de longo prazo nefastos.»
Recordei então, outra vez, as palavras do ministro das Obras Públicas (segundo o Público de 20-07):
«"Cada um dos projectos será depois avaliado à medida que for sendo implementado", afirmou o ministro, considerando que essa é a atitude normal neste tipo de obras.»
Como terá sido possível um homem competente e bem preparado, que não pode desconhecer o que um estudante de Economia não ignora, sucumbir à tentação jacobina de usar os argumentos «adequados» aos fins que supõe justos?

(*) Vá-se lá saber porquê, assaltou-me a divisa do Abrupto.

08/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: mais do mesmo não adianta

«É difícil fazer desaparecer o eucalipto, porque arde e no ano seguinte já rebenta outro. O pinheiro, depois de cada ciclo de fogo, reaparece, embora mais débil. Por outro lado, temos a ignorância nacional. Podem comprar os aviões, dar desculpas, mobilizar as populações, mas enquanto não se fizer o ordenamento florestal, não conseguem nada.

No Instituto Nacional de Investigação Agrária estão 600 cidadãos, pagos como professores universitários, a estudar o nascer e o pôr do sol, quando deviam estar a fazer o melhoramento das espécies. Por exemplo, o castanheiro tem a doença da tinta, a França já conseguiu resolver o problema, se não somos capazes vamos aprender. Os nossos carvalhos da Serra de Monchique são únicos e não são tratados. Há uma senhora isolada no politécnico de Bragança a estudar as espécies e agora foram buscar para subdirector da Direcção-Geral das Florestas a única senhora que estudava os carvalhos na universidade em Vila Real.»
(Entrevista de António Campos ao JN de 27-06, via Blasfémias)

CASE STUDY: e se de repente as arvorezinhas

Agora que o país já está a arder, outra vez, seria bom aproveitarmos para questionar os fundamentos da política florestal «democrática» que é essencialmente igual à política florestal «fascista». Essencialmente diferente é a composição da floresta original e a de hoje que resulta de séculos utilização irracional e anti-económica dos solos induzida pela intervenção do estado napoleónico-estalinista (a respeito da diferença de composição ver este esclarecedor post do Blasfémias)

Um bom começo para questionar a bondade do «culto» da floresta, seria analisar as press release do FRS) que «conclui que não há provas científicas que as florestas aumentem ou estabilizem o fluxo de água em áreas desérticas ou semidesérticas. Recomendando que, se a falta de água for um problema, os governos imponham limites à plantação de florestas». (The Economist)

Mais do mesmo não adianta.

SERVIÇO PÚBLICO: o «valerioduto» - um programa do PT que funcionou

«Está cada vez mais evidente o esquema armado pelas cabeças mais brilhantes do PT. Apesar de ter beneficiado somente "elites de camaradas", o "Valerioduto" foi um dos poucos, se não o único, programas de distribuição de renda que realmente funcionaram no governo Lula.»
(Carta do leitor Ricardo Hin de Manaus, AM, na Veja de 3 de agosto)

A confirmar-se que o GES participou na montagem do valerioduto, pelo menos podemos dizer que entrou no único programa de Lula que funcionou. É obra.

07/08/2005

TRIVIALIDADES: corruptos e incompetentes?

Acumulam-se os factos tornados públicos dos dois lados do Atlântico de reuniões, confirmadas por todos ou só por alguns, que geralmente divergem no propósito que nunca é claro ou verosímil.

Desconte-se o habitual sensacionalismo, desconte-se a subtil insídia do Expresso, desconte-se tudo isto e, ainda assim, o que fica parece bastante grave. Suficiente para arruinar a credibilidade do grupo Espírito Santo, ou o que sobrou dela depois dos sobreiros da herdade dos Salgados.

O mais espantoso não são as fintas à burocracia ou o aproveitamento do clima de corrupção generalizada na nomenclatura do PT. Não é novidade. Não há corrupção sem burocracia, sem regras tortuosas e irracionais, como não há corruptores sem corruptos.

O mais espantoso é a absoluta incompetência com que o GES se deixa apanhar, envolvendo o seu topo na escandaleira, deixando rastos por todo o lado.

06/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: o doutor Carrilho é sobrinho de Lang, neto de Malraux e bisneto de António Ferro

Num dos seus últimos posts, o Abrupto estabelece a génese do ministério da cultura «como mecanismo ideal de propaganda do Estado, e por contágio, do governo».

Dessa génese extrai o Impertinências uma geneologia:


le penseur lui-même, son oncle, grand-papa, avozinho

Mais do que de cultura, estamos a falar de Cóltura (com maiúscula), assim definida no

SERVIÇO PÚBLICO: eles comem tudo e não deixam nada (2)

Há pouco mais de 2 meses escrevi aqui que «a revista mensal do maior sindicato alemão IG Metall» apresentou uma capa com o sugestivo título «Empresas americanas na Alemanha - Os sanguessugas», a pretexto do controlo que empresas multinacionais americanas têm sobre empresas alemãs.



Convenientemente, o IG Metall esqueceu então os inúmeros casos em que o controlo se faz no sentido inverso. Certamente o IG Metall achará agora normal o anúncio da compra pela alemã Adidas-Salomon, por US$ 3.800 milhões, da americana Reebok com o objectivo expresso de competir directamente com a Nike.

04/08/2005

DIÁRIO DE BORDO: será o liberalismo um estado de espírito? (7)

[Prosseguindo a série «será o liberalismo um estado de espírito?» (1), (2), (3), (4), (5) e (6)]

Invulgarmente pragmática a referência que Rui Ramos faz no seu artigo no DE «Para além do Estado Social» à necessidade de distinguir o «estado de espírito» do «espírito do estado».
«Uma coisa é o "liberalismo" teórico que cada um de nós, lendo e estudando, pode elaborar para consumo intelectual privado. Outra coisa há-de ser uma "política liberal". Essa será feita por políticos que precisarão de persuadir eleitores, e barganhar com adversários. Ninguém pode, de antemão, prever exactamente a forma que hão-de ter ideias postas em comum, nem os compromissos que será necessário aceitar para ressalvar certos princípios. Dependerá das circunstâncias. É frustrante? É assim.

Não bastam ideias "liberais". Precisamos de políticos "liberais". Mas não esperem tudo desses políticos. Talvez um projecto inspirado pelas tradições ditas liberais seja a solução para os problemas do Estado Social. Talvez. Nunca será, porém, a solução dos problemas dos portugueses. Esses, se tiverem solução, devem ser resolvidos por cada um dos portugueses. Há certamente vida para além do Estado Social. Mas há-de ser a vida que cada um de nós quiser e poder ter. Ninguém tem o direito de pedir mais, e ninguém tem poder para dar mais.»

À atenção dos seguidores do liberalismo lírico.

ESTÓRIA E MORAL: benefício da dúvida ou prejuízo da certeza?

Estória
Não sendo frequentador do Blog de Esquerda cheguei pelas recomendações do Blasfémias.

O que se pode ler são alguns factos interessantes (fonte DE). Por exemplo: a Espírito Santo Activos Financeiros é um dos maiores proprietários na zona projectada para o aeroporto da Ota. Eventualmente por feliz coincidência, o doutor Pinho, um dos mais eméritos otários, chegou a ministro da Economia vindo do grupo Espírito Santo.

Uma vez mais, depois dos sobreiros e da ventoinha do PT a salpicar a PT, de que o GES é o accionista de controlo, aparentemente temos embrulhado nas trapalhadas da Ota o mesmo grupo «que parece cada vez mais uma versão queque para tias e tios dos grupelhos do senhor Santo e do senhor Bibi».

Moral
Les bons esprits se rencontrent.

03/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: a ventoinha do PS começa a trabalhar (ACTUALIZADO)

Escreve hoje o DN sobre a alegada «recusa da administração da CGD em participar nos financiamentos privados aos grandes investimentos públicos, como o futuro aeroporto da Ota e a rede de TGV.»

O professor Campos e Cunha não aceitou gastar 2,25 milhões de euros para mudar a administração da Caixa. O professor Campos e Cunha demitiu-se (foi demitido) a semana passada.

Uma das primeiras medidas do novo ministro das Finanças foi acrescentar esses 2,25 milhões de euros ao défice para substituir a administração da Caixa por uma nova equipa (comentário impertinente aqui). Essa equipa inclui o famoso Vara, o fundador de fundações, e um passarão finório chamado Maldonado Gonelha, sucessivamente electricista, sindicalista, ministro de Soares e administrador do Montepio Geral, também conhecido amigo da doutora Cardona que, inesperadamente, foi confirmada na nova administração. A presidência desta grotesca equipa foi entregue ao doutor Santos Ferreira, conhecido socialista e amigo do peito do engenheiro Guterres, pertencente ao chamado lóbi de Macau, de cujo aeroporto foi director. Diz-se dele que alia uma reconhecida competência a uma muito maior habilidade para navegar nas águas turvas da política.

O doutor Santos Ferreira foi, até há dias, «vice-presidente da Estoril-Sol de Stanley Ho que ... é igualmente presidente da Sociedade Gestora da Alta de Lisboa (SGAL). A SGAL consiste num mega-projecto imobiliário que se desenvolve sobre uma superfície aproximada de 300 hectares, junto ao Aeroporto da Portela» (ver Bloguítica aqui).

SERVIÇO PÚBLICO: a trampa na ventoinha do PT

A trampa na ventoinha do PT de Lula, movida por Jefferson, atravessa o Atlântico e acaba de atingir desta vez a PT (Portugal Telecom).

Pode ser que sim, pode ser que não, mas o grupo Espírito Santo começa a ficar com mau aspecto com salpicos em várias das suas empresas.

(Como se vê nos piores panos caiem as melhores nódoas: no PT, uma esquerda mais corrupta que a mais corrupta das direitas; no GES, um grupo que parece cada vez mais uma versão queque para tias e tios dos grupelhos do senhor Santo e do senhor Bibi)

DIÁRIO DE BORDO: o rapaz ainda se faz

Esqueci quem me recomendou o Live in Tokyo de Brad Mehldau gravado em Fevereiro de 2003 e publicado em 2004. Só me lembro de ter pensado: é cedo; tenho que deixá-lo amadurecer. Como os livros, também nos CDs resisto aos best sellers. Quanto aos DVDs nem se fala - não entram cá em casa antes de 2010.

Deveria esperar mais um ou dois anos mas a amostra do que o rapaz é capaz de extrair do piano agarrou-me. Ouçam-me o que ele faz com o sonho do Thelonious.

02/08/2005

ESTÓRIA E MORAL: uma primeira impressão com segundas intenções

Estória
Era uma vez um ministro das Finanças que carregava nos ombros um pesado encargo: o de reduzir a voracidade da vaca marsupial pública que os seus inúmeros antecessores tinham ajudado a engordar.

Por onde começa o ministro a desincumbir-se de tão pesada tarefa? Demitindo o presidente e vários administradores do maior sarcófago financeiro do país - uma aberração chamada Caixa Geral de Depósitos. Entre os novos nomeados incluiu o senhor Vara que foi funcionário menor do sarcófago, depois secretário de estado do desaparecido senhor engenheiro Guterres. Forçado a demitir-se pelo escândalo das fundações, foi promovido a director coordenador e voltou agora ao sarcófago nomeado como administrador, fazendo companhia à doutora Cardona.

Moral
Não há segunda oportunidade para criar uma primeira boa impressão (doutor Jaime Gama, citado por Sérgio Figueiredo)

O MEU LIVRO DE CABECEIRA: «Portugal, Hoje - O Medo de Existir» (2)

[continuação de (1)]

Outro aspecto argutamente observado por José Gil é a falta de frontalidade dos portugueses, a sua «recusa do enfrentamento».

Não é para chatear, mas isso não é novidade nenhuma. Os estudos de Hofstede, citados até à náusea pelo Impertinências (a última das vezes aqui), evidenciam a extrema feminilidade da cultura portuguesa e um dos traços dessa dimensão feminina é a obsessão do consenso, mesmo à custa de concessões suspeitas à clareza.

O que é novidade é que José Gil cita uma diplomata francesa que chamou aos portugueses «os chineses do Ocidente», partilhando a mesma sinuosidade discursiva. Se estes têm uma cultura claramente mais masculina, como explicar esse suposta convergência na «recusa do enfrentamento»?

Talvez a razão se possa encontrar na dimensão distância ao poder, em que os chineses nos batem, como, uma vez mais, os estudos de Hoffsted mostram, e que os leva, ainda mais do que a nós, a dar enorme importância ao status quo, a construir hierarquias pesadas e rígidas, e, consequentemente, ao receio obsessivo de perder a face, porque o que está em causa são as barreiras que nos separam do poder, do superior, do chefe, do patrão.

Essas barreiras, no nosso caso reforçadas pelo desvelo feminino de evitar conflito, acumulam tensões fortíssimas que periodicamente são «descarregadas» com um bota-abaixo menor (golpe de estado) ou maior (revolução). O que, a ser exacto, poderá explicar a nossa aversão ao reformismo que envolve negociação, gradualismo, em suma envolve o «enfrentamento» pacífico.

01/08/2005

SERVIÇO PÚBLICO: otários tirem as cartas da manga

«PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?»
(Abrupto)

SERVIÇO PÚBLICO: antevisão

«O ministro das Obras Públicas ... afirmou hoje que travará a construção de novas linhas ... até que fique solucionada a sustentabilidade económico-financeira do projecto, que acusa de já ter gasto o triplo das verbas inicialmente previstas. ...garantiu que "há desenvolvimentos deste projecto já executados que não têm suporte financeiro. O Governo anterior não o assegurou, o que cria uma situação difícil ...", argumentou ainda.»
(notícia do Público de sábado passado, que poderá ser uma antevisão a 4 anos das declarações a respeito do TGV do sucessor do engenheiro Lino, que entretanto já estará a fruir as suas várias reformas)