14/08/2005

ARTIGO DEFUNTO: as coisas que eles me fazem lembrar (ACTUALIZADO)

«Já Marcelo Rebelo de Sousa devia invocar objecção de consciência e não se pronunciar sobre este assunto (o mensalão, a PT e o BES), como fez no domingo passado na RTP. Ele sabe porquê», escreveu o doutor Nicolau Santos na sua coluna Cemporcento do caderno de Economia do Expresso.

Ele sabe porquê? E nós que pagamos 3 euros por 400 g de papel ficamos sem saber?

Dez páginas à frente, o mistério é resolvido pela Bianca Castafiore no Em Foco.

«O banqueiro (doutor Ricardo Salgado, presidente do BES) agradeceu a defesa do BES (e da PT) feita pelo comentador, com quem passa habitualmente férias, em magníficos cruzeiros pelos mares turcos. O banqueiro terá preparado Marcelo para uma eventual onde de ataques pessoais, com alegações injuriosas sobre o facto de um dos seus filhos trabalhar na PT e ter iniciado a carreira no BES

(Esta estória fez-me lembrar os estertores finais do regime fassista. Por duas razões. Primeiro, porque os jornalistas continuam a escrever como se quisessem (*) fintar o lápis azul da censura. Segundo porque, este caso, como milhares de outros, é um exemplo da cada vez mais frequente promiscuidade entre um número limitado de famílias, ou de grupos de interesses, ou de capelinhas, umas vezes nos lugares da noite, outras estendendo-se na cama, outras nos clubes de golfe, e as mais das vezes prolongando-se na distribuição de lugares e de sinecuras. Promiscuidade semelhante, apenas mais vulgarizada, à que se vivia no seio das então «200 famílias» e respectiva criadagem e serventuários. A ingenuidade de muitos jovens, como o Impertinências na época, esperava que o 25 de Abril dissolvesse numa sociedade civil menos colectivista esses clubes a huis clos. Ainda não se tinha demonstrado, uma vez mais, que a mudança de regime não muda as mentalidades.)

(*) Escrevi «quiZessem» sem querer, mas um talvez jornalista fez o favor de me corrigir, dando assim algum préstimo à profissão. Obrigado.

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