31/12/2023

ARTIGO DEFUNTO: O jornalismo que confunde preços com inflação

Jornal Eco

É claro que não foram os preços que caíram, como de resto se percebe no texto (mal escrito) do artigo. Ao contrário, os preços continuaram a aumentar mais lentamente, isto é, com uma inflação menor. Se fossem os preços a cair teríamos deflação. Num país normal, com uma imprensa de qualidade, seria um escândalo que um jornal económico escrevesse tais disparates equivalentes a que num jornal desportivo se confundisse velocidade com aceleração num artigo sobre a Fórmula 1. No Portugal dos Pequeninos esta confusão é vulgar nos jornalistas e nos políticos (o camarada secretário-geral do Partido Comunista fez recentemente a mesma confusão).

30/12/2023

A defesa dos centros de decisão nacional (28) - Vão-se os anéis e os dedos

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23), (24), (25), (26) e (27)]

Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela consequente descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.

Desta vez, foi a Greenvolt, uma empresa de energias renováveis nascida da Bioelétrica da Foz, há dois anos liderada por João Manso Neto, o talentoso gestor com aspecto de sem-abrigo, que foi suspenso das suas funções de CEO da EDP Renováveis acusado de corrupção activa. 

A semana passado a Greenvolt, actualmente na bolsa com sete accionistas portugueses de referência, entre os quais a Actium, uma participada da Cofina de Paulo Fernandes, foi alvo de uma OPA para 60% lançada pela KKR, uma private equity americana com uma carteira de investimentos de 600 mil milhões de euros equivalentes a 2,3 vezes o PIB português. É assim mais um exemplo de que, por via de regra, as empresas portuguesas se tendem a dividir em dois grupos: os elefantes brancos que permanecem portuguesas e as com viabilidade e sucesso que tendem a ser vendida mais tarde ou mais cedo a estrangeiros.

28/12/2023

O Grande Líder Xi Jinping apresenta-se aos seus súbditos como o filho espiritual da união de Karl Marx com Confúcio

 «Karl Marx e Confúcio podem ter vivido 2.400 anos separados, mas na televisão estatal chinesa eles passeiam juntos por uma antiga academia chinesa. Num bosque de bambu coberto de sol, um grupo de estudantes pintores convida os dois filósofos para serem seus modelos. Enquanto os jovens pintam, Marx e Confúcio conversam. Eles estão impressionados com os comboios de alta velocidade da China, entre outras coisas. Quando os retratos são revelados, os pensadores ficam surpresos. Marx é retratado com um manto da dinastia Tang; Confúcio é retratado em um terno e gravata ocidentais. Mas ambos estão encantados. "Estou na China há mais de cem anos", diz Marx (em mandarim). "Na verdade, sou chinês há muito tempo." Confúcio ri, acariciando a barba. O cabelo comprido parece um pouco estranho com o fato, diz ele, mas faz sentido continuar mudando.

A cena é de " Marx encontra Confúcio", série de televisão criada pelo departamento de propaganda da província de Hunan e lançada em outubro. Não é popular. No Douban, um site de filmes, recebeu apenas cerca de 100 críticas, a maioria delas negativas (por exemplo, "deixa-me doente"). Mas, para quem sabe disso, a série é uma boa maneira de entender o pensamento de Xi Jinping sobre Cultura, o mais recente ramo da filosofia do líder chinês.

Outras partes do pensamento de Xi enfatizam um controle mais rígido do Partido Comunista sobre coisas como diplomacia, defesa e economia. O Pensamento sobre Cultura de Xi Jinping, anunciado em Outubro, tenta fundir o orgulho na tradição chinesa com a lealdade ao partido. O seu princípio mais importante são as "duas combinações", um processo com décadas para tornar o marxismo mais chinês. A primeira combinação refere-se aos primeiros esforços para adaptar o marxismo à "realidade específica" da China. Essa flexibilidade ideológica permitiu que Deng Xiaoping, ex-líder da China, realizasse reformas económicas na década de 1980. A segunda combinação é a ideia de Xi: achinesar o marxismo fundindo-o com a cultura tradicional chinesa.

O esforço representa o culminar de uma reviravolta radical para o partido, que antes considerava a tradição seu inimigo. Durante a Revolução Cultural de 1966-76, os Guardas Vermelhos de Mao Tsé-Tung destruíram templos confucionistas, queimaram textos confucionistas e profanaram o túmulo do sábio. Os jovens denunciavam os mais velhos, contradizendo a ênfase do confucionismo no respeito filial. Mas após a morte de Mao, em 1976, o partido aproximou-se de Confúcio, ou pelo menos de uma versão simplificada dos seus ensinamentos que enfatiza a deferência à autoridade. Deng permitiu comemorações públicas do aniversário do filósofo. Jiang Zemin e Hu Jintao, sucessores de Deng, apropriaram-se das ideias confucionistas. No início dos anos 2000, estudiosos chineses debateram se o confucionismo poderia mesmo substituir o marxismo como ideologia orientadora da China.

Xi está a pôr fim a esse debate. O marxismo é a "alma" e o confucionismo a "raiz" da cultura chinesa, diz ele. Nenhuma ideologia pode ser abandonada. Em vez disso, eles devem ser fundidos.

" Marx encontra Confúcio" guia os espectadores por esse novo pensamento. Durante grande parte dos cinco episódios, os filósofos sentam-se em um palco na frente de estudantes e um elenco rotativo de académicos e funcionários do partido. Uma jovem vestindo hanfu, vestes tradicionais, arranca um guzheng, ou cítara antiga, ao fundo. Os filósofos conversam com hologramas de figuras como Vladimir Lenin e Mao, que explicam como seu pensamento é compatível. Os apresentadores do programa explicam então como tudo se encaixa no pensamento de Xi Jinping

Excerto de «Xi Jinping is trying to fuse the ideologies of Marx and Confucius» (tradução automática) 

27/12/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (97c) - EDIÇÃO ESPECIAL DE NATAL

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 97b)

A vocação do socialismo é promover a imigração dos pobres e a emigração dos ricos

O Dr. Paulo Pedroso, acusado de pedofilia no processo Casa Pia, licenciado em Sociologia e pós-graduado pelo ISCTE (a Madrassa do PS), ministro do Eng. Guterres, consultor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, ex-esposo da Dr.ª Ana Catarina Mendes (dirigente do PS e ministra do Dr. Costa), irmão do Dr. João Pedroso, advogado conhecido por ter sido contratado duas vezes pela Dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues, é actualmente presidente da associação cívica Causa Pública, defensora de uma esquerda de «reformas estruturais progressistas», que acabou de publicar um estudo que «defende que o imposto sobre ganhos de capital e rendas deve ser reformulado e sugere caminhos para aumentar a tributação dos “10% mais ricos”» que poderá muito bem inspirar as políticas de um novo governo tipo geringonça chefiado pelo Dr. Pedro Nuno.

A política energética socialista é chuva na eira e sol no nabal

A chuva na eira são os excedentes da energia de origem renovável que frequentemente são exportados a preço zero ou os défices de energia nos dias em que não há vento nem sol e tem de se importar electricidade, como neste Natal. A chuva no nabal é a dependência energética que em 2022, segundo o relatório “Estado do Ambiente 2022” do INE, voltou a aumentar 4,1 pp para 71,1%, essencialmente devido ao aumento das importações de produtos petrolíferos. 

Derrapagem é o outro nome para gestão socialista de obras públicas

Público

Choque da realidade com a Boa Nova

Há quatro anos, o Dr. Marcelo e a Dr.ª Ana Mendes Godinho anunciaram um plano para acabar com os sem-abrigo em quatro anos. Os 7.100 sem-abrigo de 2019 transformaram-se em 10.770 em 2022 e em 2023 são certamente mais. (fonte)

Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe

Depois de vários anos a diminuir, o desemprego recomeçou a subir. Em Novembro aumentou 3% em relação a Outubro e 5% em relação ao mesmo mês do ano passado. O número de trabalhadores em layoff em Novembro teve um aumento homólogo de 130%, envolvendo 570 empresas.

Tivesse o Dr. Costa mais tempo até ao fim do mandato e ele bem poderia acolher o diabo para o passar a seguir à oposição, seguindo o método do seu antecessor Eng. Sócrates.

26/12/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (97b) - EDIÇÃO ESPECIAL DE NATAL

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 97a)

A justiça como política por outros meios

Como borboletas a emergirem de casulos após vários anos de investigação, surgem à luz do dia os processos. A operação Influencer, que deu pretexto ao Dr. Costa para se pôr ao fresco tentando deixar como substituto o Dr. Centeno, foi desdobrada em três. O caso das gémeas, surgido após quatro anos presumivelmente para equilibrar as contas entre o Dr. Marcelo e o Dr. Costa, ainda está na fase de uma investigação administrativa pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde. A operação Tutti Frutti, envolvendo gente do PS e do PSD (o bloco central da trafulhice), surge agora como prioritária e já tem 5 procuradores e 5 inspectores a escarafunchar o caso. Finalmente, o julgamento do Eng. Sócrates, relacionado com a Operação Marquês que anda no ar há 10 (dez) anos, pretende o Tribunal Criminal de Lisboa que se inicie em Março, precisamente no mês em que decorrerão as eleições.

O Twinsgate do regime (1.ª temporada, episódio n)

Afinal, o Dr. Lacerda Sales, ex-SE da Saúde admitiu que se reuniu duas vezes com o Dr. Rebelo de Sousa Filho que lhe falou das gémeas brasileiras.

Unintended consequences, a maldição das políticas socialistas

Depois de incontáveis anúncios e medidas para tratar o “problema dos precários”, um sintoma da doença “rigidez do mercado de trabalho” agravada pelas políticas laborais socialistas, há uns meses o governo notificou 80 mil empresas (quase 9% do número de empresas activas) para converter 350 mil trabalhadores “precários” em permanentes sem cuidar de confirmar que se essas empresas tinham de facto trabalhadores em situação irregular.

Ironicamente, depois de oito anos desses anúncios e medidas, os “precários” aumentaram de 13,4% para 15,2% do total dos contratos de trabalho, e a suprema ironia é que o Estado sucial gerido pelos combatentes do trabalho “precário” aloja ele próprio quase 19 mil vítimas sob a forma de “recibos verdes”, um recorde absoluto.

Mais uma grande realização do governo socialista

Este ano em Lisboa e em dezenas de outros concelhos por tudo o país, metade dos alojamentos locais existentes não apresentaram comprovativos de actividade e não reabriram. Dos restantes, apenas o Porto (18%) e Almodôvar (17,4%) perderam menos de 20% dos alojamentos (fonte).

O Estado sucial só incentiva os funcionários cobradores de impostos

O governo apressou a garantir antes de entrar em “gestão corrente” que será pago o prémio de produtividade aos funcionários do fisco, transferindo para o Fundo de Estabilização Tarifário (FET) 5% do montante da cobrança coerciva.

«A educação é a nossa paixão». Num deserto de realizações, um dilúvio de anúncios

Em 2007 o Eng. Sócrates anunciou um programa de investimento de mil milhões de euros na requalificação das escolas secundárias até 2015. Em Lisboa, em 2019 a câmara presidida pelo Dr. Medina anunciou a requalificação de 55 escolas. Decorridos quatro anos só foram requalificadas três.

A gestão socialista transforma qualquer actividade lucrativa num elefante branco (continuação)

Da “estratégia de internacionalização” da Santa Casa de Misericórdia resultaram perdas estimadas então em 20 milhões e do conjunto de asneiras dos últimos anos resultou a transformação de uma instituição lucrativa num desastre adiado enquanto entre 2016 e 2020 (último relatório publicado) o número de apparatchiks aumentava de cinco mil, incluindo 290 chefes, para seis mil, incluindo 348 chefes (fonte).

O resultado de uma auditoria estará pronto em Janeiro e ficará em “segredo de justiça” disse a nova provedora que admitiu perdas superiores a 50 milhões. O PS há dois meses votou contra o requerimento do PSD para o ex-provedor que durante o seu mandato desenvolveu a “estratégia de internacionalização”. Para o PS o “segredo de justiça” é a tampa do penico que deve manter-se hermeticamente fechada.

(Continua)

25/12/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (97a) - EDIÇÃO ESPECIAL DE NATAL

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Será o pedronunismo a salvação do PS? E do Portugal dos Pequeninos?

É um bom sinal o Dr. Pedro Nuno confirmar a incompetência dos governos de que fez parte ao garantir «agora, é a oportunidade, finalmente, de nós podermos fazer alguma coisa decente e de jeito pelo nosso país e pelas pessoas». E ainda porque, tendo feito parte durante oito anos de três governos e contribuindo activamente para a governação, está em boa posição para conhecer os problemas criados ou agravados durante oito anos por esses governos.

Finalmente votaram no Dr. Pedro Nuno 62% dos cerca de 40 mil militantes socialistas, ou seja, menos de 25 mil apparatchiks, e só com os 15 mil eleitos socialistas nas autarquias mais os assessores e empregados políticos chega-se a esse número. Ora como em eleições anteriores votaram mais de 170 mil, incluindo não filiados, conclui-se que não há muitos socialistas que acreditam no Dr. Pedro Nuno e, considerando a falta de discernimento da militância socialista isso é uma coisa positiva.

Há, contudo, um pequeno problema que é o próprio Dr. Pedro Nuno e o seu currículo limitado e constituído por desastres.

«Deve ser muito cansativo andar 8 anos à espera que o diabo chegue»

Disse o Dr. Costa ironizando o presságio de Passos Coelho. Se o diabo não chegou não foi culpa do Dr. Costa que fez o que estava ao seu alcance. Não chegou principalmente devido ao turismo que a geringonça sempre abominou e à bazuca de Bruxelas que permitiu ao Dr. Costa ir ao banco sacar os donativos da caridade da Óropa.
 
Expresso

Não fora a bazuca e o turismo e a obra costista ficaria reduzida à criação de pobres - a grande vocação do socialismo - como se pode ver no diagrama seguinte.

mais liberdade

Façam como eu e o Dr. Pedro Nuno não fizemos

Depois de inúmeros anúncios de planos para resolver o problema da habitação, o número de habitações construídas na última década terminada em 2021 foi 1/8 da média das três anteriores. Com uma desfaçatez que incrivelmente ultrapassa o elevado standard a que nos habituou, o Dr. Costa avisou o próximo governo «gostem ou não gostem, vão ter de cumprir os 32 mil fogos contratualizados com a União Europeia, porque se não os construírem perdemos o dinheiro».

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

Em Setembro de 2022 foi aprovada a nova “arquitectura” do SNS que se resumia a pouco mais do que um mantra (o CEO). Foi preciso esperar mais de um ano para aprovar os estatutos da “Direcção Executiva do SNS”, um novo monstro encavalitado no velho. Depois dos estatutos aprovados, foi preciso o governo demitir-se para agora se nomearem a correr 234 apparatchiks para 39 Unidades Locais de Saúde (ULS). De tudo isto só pode resultar mais um ano caótico a juntar aos anteriores quatro anos.

No momento, 33 das 39 ULS vão funcionar com limitações na próxima semana diz o CEO, o que em português corrente significa esqueçam as urgências até pelo menos ao dia de Reis e depois logo se vê, ou seja, teremos mais do mesmo.

mais liberdade



E, a avaliar pela falta de atractividade do SNS, o futuro será parecido com o passado.

A grande vocação do SNS é dar baixas, ou de como salvar o sistema com a iniciativa dos “utentes”

Desde 1 de Maio está disponível no Portal do SNS 24 a autodeclaração da doença, o que segundo coordenador do SNS 24 permitiu a emissão de mais de 217.000 autodeclarações de doença gerando «uma poupança para o sistema». Ora aí está a solução para o descalabro do SNS: autodeclarações, autoconsulta, autodiagnóstico, autoprescrição, auto etc.

(Continua)

24/12/2023

Christmas the woke way

Merry Christmas Folks
(African-American woman in
Santa Claus costume by Alami)

23/12/2023

Na intelectualidade "woke" coexiste a paranoia nos momentos de delírio com a hipocrisia nos momentos de lucidez

«Mas regressemos aos campi americanos. No meu artigo da semana passada classifiquei a posição das presidentes como hipócrita, pois elas posicionam-se como baluartes da liberdade de expressão quando, na realidade, as universidades a que presidem têm uma trajetória deplorável na defesa dessa liberdade. Um excelente artigo de Ben Sasse (antigo senador republicano e presidente ad Universidade da Flórida) publicado na muito liberal/progressista The Atlantic (“The moral decay of elite universities”) fez-me ver que não se trata de hipocrisia das presidentes, mas, sim, de ideologia. Uma ideologia que amplia a visão marxista da luta de classes como motor da história, definindo, agora, “opressores” e “oprimidos” num conjunto de categorias que vão para além da mera classe social e incluem a raça, a orientação sexual ou a religião.

A célula a que pertencemos nesta matriz multidimensional determina e explica, em última análise, de forma imutável, a posição de cada um perante as mais variadas situações. Nesta teologia neomarxista o estatuto de vítima é a verdade mais fundamental e que subjaz a todas as análises da realidade social ou natural. Impõe-se às elites “conscientes” (“awakened”) identificar no mundo e nas suas instituições as categorias de opressores e oprimidos e, assim, descodificar as suas narrativas e propósitos. Como nota Sasse, a presidente de Harvard – mulher e afroamericana – será uma vítima, não obstante ganhar cerca de 900 mil dólares por ano, enquanto que um empregado de limpeza, CIS, branco e ganhando 30 mil euros será um opressor.»

Ainda os campi universitários, José Ferreira Machado no jornal Eco

22/12/2023

O TINA na Argentina

Dei-me conta ontem que Javier El Loco Milei, o novo presidente da Argentina, no seu discurso inaugural, depois de explicar a situação económica e financeira desesperada em que o neo-peronismo deixou o país, anunciou as medidas que o seu governo iria tomar e em relação a quase todas aplicou-lhe um TINA (There Is No Alternative), por exemplo:

  • En consecuencia, no hay solución alternativa al ajuste
  • debe quedar claro que no hay alternativa posible al ajuste
  • a conclusión es que no hay alternativa al ajuste y no hay alternativa al shock
  • No tenemos alternativas y tampoco tenemos tiempo.
Imagino que com tanto TINA toda a esquerdalhada e uma parte da direita argentina espumaram de raiva, como espumaram na época os seus homólogos portugueses quando a mesma expressão foi usada pelo governo PSD-CDS para justificar as medidas exigidas pelo programa que o governo cessante do PS assinara para resgatar o país da situação em que havia deixado a governação do Eng. Sócrates e dos seus acólitos. 

21/12/2023

CASE STUDY: Num Estado sucial zombie abundam as empresas zombie

O Gabinete de Estratégia e Estudos da Economia e do Mar publicou recentemente o estudo «Revisitar as Empresas Zombie em Portugal (2008-2021)», empresas zombie, isto é, empresas com prejuízos persistentes e sobre-endividamento (*). 


A primeira constatação é que, dependendo o número do ciclo económico, o peso das zombie é um fenómeno persistente na economia portuguesa, mesmo nas vacas gordas, que se acentuou durante a crise 2008-2013 e após a pandemia voltou a crescer. A segunda constatação é que uma proporção muito significativa de empresas zombie são zombies velhas com 10 ou mais anos o que é um facto extraordinário só possível numa economia pouquíssimo competitiva onde empresas inviáveis e nalguns casos falidas se arrastam durante anos à custa de subsídios e de crédito bancário de favor.    


Como seria de esperar, uma vez que as vendas por trabalhador de uma zombie são inferiores em 34%, a produtividade do trabalho é apenas uma pequena fracção (4,5 vezes inferior) da produtividade de uma empresa média "normal", sendo que a produtividade da empresa portuguesa média "normal" é em termos comparativos, sector a sector, mais baixa ou mesmo muito mais baixa do que na maioria das outras economias da UE. Também sem surpresa se constata que, sendo a produtividade das zombies mais baixa, os salários não poderiam deixar de ser também mais baixos.

O que, à primeira vista, é talvez mais surpreendente é o investimento por trabalhador nas empresas zombie ser superior em 32% ao das normais o que reflete um enorme desperdício de capital numa economia cronicamente descapitalizada.

Como chegámos aqui? Fizemos um longo caminho penoso desde a queda do Estado Novo até à adesão à UE e, desde então, tem sido um caminho pavimentado com os euros dos fundos europeus displicentemente desperdiçados, em parte para manter a flutuar as zombies.

Displicentemente desperdiçados? Não será exagero? Receio que não, veja-se o diagrama seguinte extraído do estudo Avaliação dos incentivos financeiros às empresas em Portugal de Fernando Alexandre da Universidade do Minho, que citei pela primeira vez o ano passado.

______________________

(*) O estudo caracteriza as zonbie como «empresas com EBITDA negativo (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) ou sobreendividadas, com dificuldades no cumprimento de responsabilidades financeiras face aos credores, ao longo de vários anos, cuja manutenção no mercado impacta negativamente o desempenho da economia e limita a afetação eficiente de recursos.»

20/12/2023

Lost in translation (368) ou «P'ra a mentira ser segura / e atingir profundidade, / tem de trazer à mistura / qualquer coisa de verdade.»

Visivelmente, o Dr. Mário Centeno tem de si próprio uma ideia mais excelente do que a maioria tem dele e isso, impulsionado por uma ambição que parece ignorar o princípio de Peter, leva-o a procurar freneticamente colocar-se a jeito para uma promoção. Tal ambição já o levou a alguns equívocos e o último foi a sua comunicação ao Financial Times que este citou no dia 13 de Novembro, como tendo sido dito no dia 12 de Novembro, 5 dias após o fatídico 7 de Novembro em que o Dr. Costa anunciou que iria demitir-se. Disse o Dr. Centeno ao FT:
“I had an invitation from the president and prime minister to reflect on and consider the possibility of leading the government. (...) the invitation for this reflection resulted from the conversations that the prime minister had with the president of the republic”

Um mês depois o Comité de Ética do BCE publicou o relatório de conclusões da sua avaliação da conduta do Dr. Centeno onde concluiu «he has neither been formally asked to take up the position of prime minister nor given an indication that he would be inclined to accept it» e, por isso, «did not act in a way that compromised his independence». 

A conclusão do Comité funda-se em duas considerações: (1) a informalidade de um convite que foi publicamente divulgado pelo primeiro-ministro demissionário e pelo presidente da República e (2)  a suposta falta de indicação do Dr. Centeno para aceitar esse convite. A primeira consideração é ridícula porque deixa supor que para ser considerado formal deveria ser feito por carta registada com aviso de recepção e a segunda foi desmentida pelo Dr. Centeno ao dar conhecimento formal do seu convite a um jornal financeiro internacional de grande  notoriedade. Ou seja, a conclusão do Comité é puro bullshit em dialecto europês para fazer esquecer um assunto polémico, bullshit que o Expresso aproveita para produzir uma peça com o seguinte título:    

«Comité de Ética do BCE conclui que convite de Costa “não comprometeu a independência” de Centeno»

Jogando com as palavras, como se um convite em si mesmo comprometesse alguém para além de quem convida e omitindo que o convidado considerou tão seriamente o convite que o divulgou ao Financial Times e assim «comprometeu a independência». Ou seja bullshit do jornalismo de causas à maneira do semanário de reverência.

19/12/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (96b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 96a)

Entidade para a opacidade

Desde Julho de 2019, quando o parlamento aprovou a sua criação, até hoje a Entidade para a Transparência, cujo propósito principal seria fiscalizar as declarações de rendimento e de património dos políticos, arrasta-se de Herodes para Pilatos e ainda aguarda instalações. Sabendo-se que no Portugal dos Pequeninos, desde pelo menos o Convento de Mafra, até a fé precisa de instalações condignas e, depois destas estarem disponíveis, mais uns anos para a “instalação”, é fácil prever que o próximo governo e os seus nomeados ficarão a salvo da fiscalização.

O Twinsgate do regime (1.ª temporada, episódio n)

A presidente do CA do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte informou na comissão parlamentar de Saúde que a primeira consulta das gémeas brasileiras foi pedida pela secretaria de Estado da Saúde. O Dr. Lacerda Sales, SE de então, negou ter pedido a consulta. Foi a secretária.

Tudo o que sobe desce? Nem tudo. A carga fiscal, por exemplo

Segundo o relatório Riscos orçamentais e sustentabilidade das finanças públicas 2023 do CFP, a carga fiscal (estimada em 37,2% este ano) vai continuar a subir até 38,7% em 2037. 

Com a evidente decadência do nível de serviços públicos prestados pelo Estado sucial, a rule of thumb de gestão «entre bom, depressa e barato, escolhe dois» terá de ser modificada para «entre mau, devagar e caro, não precisas escolher».

O Estado sucial como máquina de extorsão

Vem a propósito citar Helena Garrido que fez um exercício de comparação das taxas de IRS aplicáveis ao vários escalões entre 2010 e 2023 corrigidos com a taxa de inflação do ano anterior e concluí que apenas num deles as taxas desceram.


O que faz correr o Dr. Centeno? Como bom socialista, ele não serve as instituições, ele serve-se delas

Continua o esforço de promoção com várias centenas de referências nos mídia na última semana (pesquisa Google "mário centeno" site:pt, última semana).

De volta ao velho normal. Os juros da dívida pública

Expresso

Segundo as previsões do OE2024, os custos de emissão da nova dívida, actualmente em 3,5% a 10 anos, continuarão a subir e a taxa média do stock de dívida em 2024 é estimado em 2,3%.

«Dinheiro deitado para a sanita»

O PRR, a bazuca do Dr. Costa, seguro de vida do PS e de invalidez do Portugal dos Pequeninos, tem uma dotação de 22,2 mil milhões, dos quais têm investimentos aprovados 15,3 mil milhões e destes foram pagos 3,1 mil milhões (2/3 para entidades públicas e apena 1/3 para os “privados”) (fonte)

Com base na experiência de quatro décadas passadas e no pessoal político disponível, podemos concluir sem margem para dúvidas que o aforismo em título do Sr. O’Leary é também aqui aplicável.

Copo meio cheio ou meio vazio

Em 2022 o PIB per capita a PPP português era o 20.º da UE, ou se quisermos o 8.º mais baixo, apesar de ter subido 3,4 pontos percentuais para 78,7% da média da UE, por força da estagnação das grandes economias (Alemanha, França e Itália). Já no consumo individual os portugueses atingem 87% da média da UE, mais quase 10 pontos percentuais (fonte). Falta dizer que consomem proporcionalmente mais do que produzem à custa de uma das taxas de poupança mais baixas da UE.

Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe

As exportações continuam a descer há sete meses e, apesar das importações também terem descido, o défice da balança comercial aumentou para 2,9 mil milhões em Setembro (fonte). Também o volume de negócios do sector industrial continuou a cair para 10,3% (fonte)

18/12/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (96a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Pode não ser maquiavelismo. Pode ser apenas desorientação

Desde o dia 7 de Novembro em que anunciou estar a ser investigado, iria demitir-se e possivelmente não viria a ter no futuro qualquer cargo político (depois corrigiu para “cargo executivo”), o Dr. Costa já disse quase tudo e o seu contrário e ziguezagueou dia sim, dia não. Os seus admiradores exaltam a sua capacidade táctica, evidente para eles, e os seus detractores apontam o igualmente evidente maquiavelismo. Ouso pensar que a criatura apenas está desorientada porque parece ter um objectivo difuso (sair do rodapé da História), não tem obviamente uma estratégia e, portanto, falta-lhe um plano.

Terá o Dr. Costa dado um tiro no pé há cinco anos?

Há cinco anos o Dr. Costa preparou cuidadosamente a manobra e mandou a ministra da Justiça de então concluir, dez meses antes do termo do mandato, que não poderia ser reconduzida a procuradora-geral Joana Marques Vidal, que havia causado sérios embaraços ao governo e sofria de perigosa independência. Em sua substituição, e em conúbio com o Dr. Marcelo, foi nomeada Lucília Gago sugerida pela ministra da Justiça. Decorridos cinco anos o Dr. Costa, e com ele os apparatchiks e os escribas socialistas, apontam o dedo acusador à actual PGR por ter incluído uma referência ao primeiro-ministro no comunicado sobre a operação Influencer o que, segundo ele, o terá forçado a demitir-se.

"Jobs for the boys", "No men for the jobs"

mais liberdade

Quem disse que o governo do Dr. Costa não fez reformas?

Quereis exemplos? Tomais três, entre muitos outros possíveis.
  • Exemplo 1: O esvaziamento da CReSAP (ver tópico anterior), criada pelo governo PSD-CDS para seleccionar dirigentes públicos com base na competência.
  • Exemplo 2: O combate os alojamentos locais que são uma prova de algo que deve ser evitado a todo o custo – a iniciativa privada – prossegue em bom ritmo. Este ano em Lisboa só metade dos alojamento existentes apresentaram comprovativos de actividade.
  • Exemplo 3: A aprovação in extremis pelo parlamento dissolvido da criação de um “responsável pela identidade do género” encarregado de receber a comunicação da «situação de crianças e jovens que manifestem uma identidade ou expressão de género que não corresponde à identidade de género à nascença».
«A educação é a nossa paixão»

Esgotados os ímpetos reformativos do governo na identidade de género, não admira que, apesar de em oito anos o número de alunos no ensino público não universitário ter diminuído de 120 mil, os governos do Dr. Costa aumentaram em 10 mil o número de professores, e ainda assim três meses depois do início do ano lectivo foi necessário contratar mais 3.100 sem formação em Ensino (o que talvez seja uma vantagem) e continua a haver alunos sem aulas em Português, Inglês ou Ciências (fonte).

O Dr. João Costa tira a casaca e faz um flic-flac para a frente

Secretário de Estado desde 2015 e ministro da Educação desde 2022, o Dr. João Costa anda há oito anos a explicar aos professores que não é possível a recuperação total do tempo de serviço congelado durante o resgate que se seguiu ao governo socialista do Eng. Sócrates. Desembarcado do governo em demissão, o Dr. Costa entrou a bordo da embarcação do Dr. Pedro Nuno e apressou-se a declarar considerar que a recuperação não só é “justa” como a considera possível.

Continua) 

17/12/2023

SERVIÇO PÚBLICO: Lisboa, uma cidade assim-assim no género bom

The world’s most liveable cities in 2023

«The liveability survey was designed to help companies calculate hardship allowances for staff who were moving to a new—and possibly less tolerable—city. As a by-product, it also provides a snapshot of the most, and least, desirable cities to live in, at least if you’re an expat.»

16/12/2023

Talvez devêssemos agradecer a Elon Musk cuja megalomania, arrogância e messianismo fazem do futuro do X uma incógnita

Em Julho do ano passado Elon Musk anunciou a intenção de comprar o Twitter e foi obrigado a comprá-lo em Outubro por um valor superior ao seu valor de mercado. Desde então os seus constantes disparates e ziguezagues estratégicos, o despedimento de 80% do pessoal fizeram o "X" (o novo nome do Twitter) perder não só utilizadores como anunciantes. Aos anunciantes, caso pretendessem pressioná-lo, disse-lhes «go fuck yourself».

Fonte

De modo que, como mostram os dois gráficos acima, o futuro do X é uma incógnita. Não me parece caso para ficarmos preocupados, sobretudo os que, como nós aqui no (Im)pertinências, não usam esta ferramenta muito mais apropriada (e usada principalmente) para debitar apelos, exortações, palavras de ordem ou quaisquer sound bites que caibam em 280 caracteres, facilmente suficientes para excitar a amígdala mas dificilmente para activarem o lóbulo frontal.

15/12/2023

In the New Middle Kingdom, cinema in general is politics by other means, and in particular it is another means to glorify President Xi

 «The Communist Party wants to use film as an ideological tool: it has tightened its control over the country’s movie industry, demanding that storytellers “eulogise the party, the motherland, the people”. Films must be made with “ethics and warmth” and offer a “trustworthy, lovable and respectable image of China”.

In short, the party wants more movies like “Creation of the Gods I: Kingdom of Storms”, the winner of the Golden Rooster for Best Feature Film this year. The fantasy epic dramatises the battles of kings and spirits in ancient China. State-affiliated film groups say it is an example of how movies can promote cultural self-confidence in line with Xi Jinping Thought, the philosophy of China’s leader, which every schoolchild is required to study. (...)

The Communist Party wants to use film as an ideological tool: it has tightened its control over the country’s movie industry, demanding that storytellers “eulogise the party, the motherland, the people”. Films must be made with “ethics and warmth” and offer a “trustworthy, lovable and respectable image of China”.

In short, the party wants more movies like “Creation of the Gods I: Kingdom of Storms”, the winner of the Golden Rooster for Best Feature Film this year. The fantasy epic dramatises the battles of kings and spirits in ancient China. State-affiliated film groups say it is an example of how movies can promote cultural self-confidence in line with Xi Jinping Thought, the philosophy of China’s leader, which every schoolchild is required to study. (...)

In the past, indie films made without state approval could be shown only at private screenings within China and at international festivals. But in 2016 China passed a new law requiring all films to obtain permits, regardless of whether their makers planned to distribute them abroad, in Chinese cinemas or online. Anyone involved in producing a film without a permit could be fined and banned from the industry. That has made it much harder for independent film-makers to find actors, crew and financial backers.

As a result, most of China’s top actors, directors and producers have chosen the more straightforward option. Many are prepared to self-censor, or to lend their talents to the party’s propaganda efforts, if it means their work gets a nationwide release. (...)»

Excerpt from «Two film awards reveal the battle for the future of Chinese cinema»

14/12/2023

Those who can, do; those who can’t, regulate

Thierry Breton, Commissioner for Internal Market

(Anand Sanwal, CBINSIGHTS newsletter)

Those who can, do; those who can’t, regulate, George Bernard Shaw would say if he were still alive and interested in artificial intelligence.

13/12/2023

Mitos (333) - Lisboa no Estado Novo não era um deserto cultural

Para quem tenha sido infectado por uma década ou mais de ensino "progressista" e de formatação esquerdista da História, é difícil de imaginar que se passassem na Lisboa dos anos 50 coisas como esta descrita por Jorge Calado, cientista e melómano.  

«Hoje é inimaginável, mas o Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) era, então, um dos melhores e mais prestigiados teatros de ópera da Europa. Certamente melhor que Madrid (praticamente sem ópera), e com melhores elencos que Paris. Apresentava, em média, 15 títulos por temporada! Wagner era cantado pelos solistas de Bayreuth, e Mozart pela elite dos cantores da Ópera Estatal de Viena. Em 1949 e 50, Tebaldi cantara cá sete papéis (Mozart, Rossini, Verdi, Gounod, Giordano). Em 1958 — o ano da Callas — tivemos a Elektra, de Christel Goltz, e a Brünnhilde (“Die Walküre”), de Birgit Nilsson, a estreia (!) do “Così fan tutte”, de Mozart, com o superlativo elenco da Ópera de Viena, “Falstaff” com Tito Gobbi e Renata Scotto (aos 24 anos), Giulietta Simionato e Luigi Alva na “Italiana in Algeri”, “Dialogues des Carmélites”, de Francis Poulenc, um ano após a estreia mundial no Scala de Milão e com a mesma encenadora (a célebre Margherita Wallmann), “Príncipe Igor” (estreia portuguesa), do químico Borodine, etc. Quanto ao parceiro da divina Callas, o desconhecido Alfredo Kraus, afirmar-se-ia como o tenor predileto da casa! (Em 1958 cantou também o Duque de Mântua e o Chevalier de la Force nos “Dialogues”.)

Excetuando Itália, Londres e Nova Iorque — onde cantou regularmente — e Grécia, México, Brasil e Argentina no início da carreira, Callas apresentou-se em óperas completas em muito poucas cidades do continente europeu. A Companhia do Scala de Milão levou-a a Berlim e Viena (com a “Lucia di Lammermoor”, dirigida por Karajan) e a Colónia (com “La sonnambula”); Paris só a viu em cena pela primeira vez, em 1964 (“Norma”), no final da carreira. A vinda a Lisboa foi um golpe de génio e sorte de José Duarte de Figueiredo, o diretor vitalício do São Carlos (por alcunha, “O Figueirinhas”).»

Excerto de «A mulher que morreu três vezes», Jorge Calado na Revista do Expresso

12/12/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (95b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 95a)

O Twinsgate do regime

Não vou repetir, nem mesmo na versão resumida, a estória conhecida de toda a gente, do presidente, do seu filho, das gémeas brasileiras e dos inúmeros apparatchiks governamentais que intervieram no caso que, a este respeito, parece uma espécie de reedição do caso do «Secretário de Estado (que) pediu à CEO da TAP para mudar voo de Marcelo, para "aliado" não passar a "pesadelo"». Quando a estória das gémeas foi conhecida escrevi aqui «que o Dr. Costa não deixará de cobrar o preço do silêncio das hostes governamentais a este respeito». Enganei-me. O Dr. Costa não fez a cobrança precisamente porque, como se veio a perceber, as hostes governamentais estão envolvidas até ao pescoço. Em vez disso, o Dr. Costa está a deixar o Dr. Marcelo torrar em fogo lento, tentando minimizar as baixas nas suas tropas que, espera ele, sempre serão menos do que as do exército adversário.

O que faz correr o Dr. Centeno? Como bom socialista, ele não serve as instituições, ele serve-se delas

A ambição do Dr. Centeno é tão grande que se arrisca a anular o seu talento, que não sendo pequeno está longe de estar altura. A semana passada voltou a produzir uma nova análise macroeconómica à margem dos técnicos, dando mais um passo para transformar o BdP numa instituição unipessoal, enquanto declarava enfaticamente «era o que faltava o governador não poder partilhar a sua opinião com os portugueses». E, acrescentado o acto à palavra, deu em estilo presidencial uma «aula aberta» numa escola secundária.

No Portugal dos Pequeninos os eleitores são de compreensão lenta

Sondagem Expresso/SIC do ISCTE

Dois terços dos eleitores precisaram de oito anos para se darem conta da incompetência do governo e o terço restante nunca chegará a perceber.

O Dr. Pedro Nuno continua imparável rumo à liderança

Dentro de dias terão lugar as eleições do novo secretário-geral do PS que esperamos ardentemente aqui no (Im)pertinências dêem a vitória ao Dr. Pedro Nuno, o temerário dirigente socialista cujas realizações vão desde fazer tremer a pernas dos banqueiros alemães até pagar uma indemnização de meio milhão à CEO (que pode chegar 5,9 milhões) que havia contratado, depois de ter enterrado no elefante branco da TAP mais de três mil milhões, passando por uma longa lista de outras realizações como a compra de carruagens velhas a Espanha, o arrastamento dos leilões 5G, os vários programas falhados de habitação acessível, entre outras. É provavelmente a luminária socialistas com o mais elevado rácio ambição/talento, o que não é dizer pouco.

Então não estamos a crescer mais do que a Óropa?

Não. No terceiro trimestre o PIB da UE não teve variação face ao segundo trimestre, o da Zona Euro contraiu 0,1% e o Portugal desceu 0,2%. O que continua a crescer imparável são as vendas de automóveis em Portugal que cresceram 28% até Novembro.

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (95a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

«A educação é a nossa paixão». Correndo bem, é nossa realização. Correndo mal é problema deles

Desde 1995, enquanto que a endoutrinação woke aumentava, a despesa pública com educação caía de 5,5% do PIB para 4,6% (fonte). Os resultados dos testes PISA 2022, divulgados há dias, dão uma medida do desastre e mostram uma queda face a 2018 de 21 pontos em Matemática, 15 pontos em Leitura e 7 pontos em Ciências, quedas superiores à média dos países da OCDE em 41%, 54% e 249%, respectivamente (fonte). 

As percentagens de alunos de baixo desempenho (abaixo do nível 2) aumentaram em todas as áreas e no caso da Matemática o descalabro foi particularmente grave, porque o desempenho teve pela primeira vez uma queda e quase 30% dos jovens apresentaram baixo desempenho (mais 6,4 pontos percentuais do que em 2018).

João Marôco

Para os aviões descolarem é preciso o governo aterrar

Em 2008 o governo do Eng. Sócrates aprovou Alcochete como a localização do novo aeroporto, apesar do «Alcochete? Jamé!» do seu ministro das Obras Públicas. Em 2011, o Eng. Sócrates exilou-se em Paris deixando o Estado sucial intervencionado pelos credores e sem cheta para aeroportos o que levou o governo gestor da falência a abandonar o projecto. Decorridos quinze anos, o aeroporto de Lisboa é considerado o quarto pior do mundo e alguns dias depois, na véspera de ser anunciada a dissolução do parlamento, resultante da demissão do Dr. Costa três semanas antes, o seu governo anuncia Alcochete como a melhor localização.

O Estado sucial não funciona fora das horas de expediente

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) é um paradigma do funcionamento do Estado sucial administrado incompetentemente pelo PS. Só quatro anos depois do assassinato de um cidadão ucraniano por inspectores do SEF os autores do crime foram julgados e condenados. Enquanto isso, para disfarçar a incompetência e a negligência, o governo resolveu desmantelar o SEF e substituí-lo pela Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e a Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros (UCFE). Outras funções foram transferidas para a PSP, a GNR e a PJ, o Instituto dos Registos e Notariado (IRN), o Sistema de Segurança Interna (SIS) e as autarquias.

Entretanto, os imigrantes que são identificados pela GNR recebem uma notificação para se apresentarem na AIMA nas “horas de expediente” (8 às 20h dos dias de semana) (fonte).

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

A urgência obstétrica e ginecológica em Lisboa, assegurada pelos hospitais de S. Francisco Xavier e Santa Maria, não tem médicos em vários dias de Dezembro. (fonte)

O PS abre via rápida de acesso ao SNS

O representante do PS na Comissão Parlamentar de Saúde falando sobre o envolvimento de S. Exª e do seu filho no caso das gémeas brasileiras, postulou que «nenhum cidadão deve ser discriminado positiva ou negativamente pela circunstância de ser pai, filho ou neto de alguém que tenha mais ou menos notoriedade». Abriu-se assim a qualquer cidadão acesso para obter para os seus familiares, amigos ou conhecidos actos médicos, desde uma simples uma consulta na urgências até à cirurgias complexas.

(Continua)


10/12/2023

DIÁRIO DE BORDO: Charlie Munger, o falecido parceiro do meu capitalista preferido, era também um homem notável

Uma continuação deste R.I.P.

A última (reunião no Centro de Convenções de Pasadena) ocorreu em 2011, quando Munger, que morreu em um hospital de Los Angeles em 28 de novembro aos 99 anos, tinha 87 anos. Foi sua última reunião de accionistas como chefe da Wesco, um conglomerado financeiro prestes a ser totalmente incorporado na Berkshire e, portanto, o fim de seu show de um homem só. Ele falou durante três horas. Como de costume, brincou gentilmente com a audiência, dizendo-lhes: "Vocês precisam encontrar um novo herói de culto". No entanto, ele claramente gostava de proferir o que alguém chamou o seu sermão da "Igreja da Racionalidade". Ele sorriu quando o aplaudiram de pé.

(...)  Munger discutiu o que achava ser o seu legado inadequado, embora se orgulhasse de atributos como moralidade básica, autodisciplina e objetividade. Aconselhou pais ricos a cuidar de seus filhos (não tentem motivá-los com dificuldades artificiais, disse ele, porque eles inevitavelmente vão odiá-los por isso). Discutiu a importância de ser racional no meio de enviesamentos enganosos (que ele chamou de "efeito Lollapalooza"). Até deixou uma palavra simpática para The Economist, descrevendo-a, de acordo com um anotador, como sua "revista adulta" favorita.

E, no entanto, essas não foram reflexões dispersas. Elas transpareciam uma visão de mundo cuidadosamente pensada sobre a vida, o investimento e a cultura empresarial que ele expôs extensivamente em escritos e palestras sempre que não estava no centro das atenções como o seu companheiro Sábio de Omaha. Como disse Buffett, Munger influenciou toda a filosofia de investimento da Berkshire ao introduzir a visão de que é "melhor comprar um bom negócio a um preço justo do que um negócio justo a um bom preço". Em outras palavras, ele merece uma grande parte do crédito por transformar o conglomerado financeiro na potência de US$ 780 bilhões em que se tornou.

Embora os dois homens tivessem uma estranha semelhança física (Munger, pelo menos mais tarde na vida, era mais corpulento), intelectualmente eles tinham forças diferentes. Buffett é um mestre do directo e do simples; Munger era um pensador complexo ("Charlie fala, eu apenas movo os meus lábios", brincou Buffett certa vez). Como as melhores duplas – pense em Bill Gates e Paul Allen na Microsoft, Mickey Mantle e Roger Maris no New York Yankees, e John Lennon e Paul McCartney nos Beatles – seus pontos fortes se complementaram, produzindo algo quase mágico. No caso de Buffett e Munger, a magia durou 60 anos. Durante esse tempo, eles nunca tiveram uma disputa. (...)

Em termos de honestidade, ele colocou a confiabilidade dos líderes empresariais e a solidez de suas contas acima de tudo. Ele odiava artifícios (o termo EBITDA, disse ele, deveria ser substituído por “ganhos de merda”). Ele desprezava abertamente a “megalomania” de alguns banqueiros de investimento, a quem culpou pela crise financeira de 2007-09.»

09/12/2023

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Portugueses no topo do mundo (61) - "Quem é capaz, faz, quem não é, ensina"

Outros portugueses no topo do mundo.

Uma vez mais, várias escolas de gestão portuguesas conseguiram boas posições no ranking europeu do Financial Times. Entre as noventa escolas do ranking encontramos quatro portuguesas, o que tem de se considerar uma boa performance visto Portugal representar 2,3% da população da UE e menos de 1,7% do seu PIB nominal.

Sendo inegavelmente um excelente resultado, fica a pergunta como explicar que as escolas de gestão têm um nível elevado em termos relativos num país em que reconhecidamente a gestão das empresas e do Estado está a anos-luz de ser de excelência, para dizer o menos? Não me ocorre melhor resposta do que dada por George Bernard Shaw na sua peça "Man and Superman": «Those who can, do; those who can’t, teach».