21/12/2023

CASE STUDY: Num Estado sucial zombie abundam as empresas zombie

O Gabinete de Estratégia e Estudos da Economia e do Mar publicou recentemente o estudo «Revisitar as Empresas Zombie em Portugal (2008-2021)», empresas zombie, isto é, empresas com prejuízos persistentes e sobre-endividamento (*). 


A primeira constatação é que, dependendo o número do ciclo económico, o peso das zombie é um fenómeno persistente na economia portuguesa, mesmo nas vacas gordas, que se acentuou durante a crise 2008-2013 e após a pandemia voltou a crescer. A segunda constatação é que uma proporção muito significativa de empresas zombie são zombies velhas com 10 ou mais anos o que é um facto extraordinário só possível numa economia pouquíssimo competitiva onde empresas inviáveis e nalguns casos falidas se arrastam durante anos à custa de subsídios e de crédito bancário de favor.    


Como seria de esperar, uma vez que as vendas por trabalhador de uma zombie são inferiores em 34%, a produtividade do trabalho é apenas uma pequena fracção (4,5 vezes inferior) da produtividade de uma empresa média "normal", sendo que a produtividade da empresa portuguesa média "normal" é em termos comparativos, sector a sector, mais baixa ou mesmo muito mais baixa do que na maioria das outras economias da UE. Também sem surpresa se constata que, sendo a produtividade das zombies mais baixa, os salários não poderiam deixar de ser também mais baixos.

O que, à primeira vista, é talvez mais surpreendente é o investimento por trabalhador nas empresas zombie ser superior em 32% ao das normais o que reflete um enorme desperdício de capital numa economia cronicamente descapitalizada.

Como chegámos aqui? Fizemos um longo caminho penoso desde a queda do Estado Novo até à adesão à UE e, desde então, tem sido um caminho pavimentado com os euros dos fundos europeus displicentemente desperdiçados, em parte para manter a flutuar as zombies.

Displicentemente desperdiçados? Não será exagero? Receio que não, veja-se o diagrama seguinte extraído do estudo Avaliação dos incentivos financeiros às empresas em Portugal de Fernando Alexandre da Universidade do Minho, que citei pela primeira vez o ano passado.

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(*) O estudo caracteriza as zonbie como «empresas com EBITDA negativo (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) ou sobreendividadas, com dificuldades no cumprimento de responsabilidades financeiras face aos credores, ao longo de vários anos, cuja manutenção no mercado impacta negativamente o desempenho da economia e limita a afetação eficiente de recursos.»

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