Os portugueses têm uma fortíssima tendência para se comportarem em manada. A primeira vez que me dei conta disso foi por alturas do 25 de Abril, ao ver nos tempos agitados que se seguiram conversões em massa de indígenas, durante anos submissos ou mesmo activamente aderentes ao Estado Novo, que de um dia para o outro se transmutaram em ruidosos democratas e até em revolucionários.
Mais tarde, tive oportunidade de conhecer o
modelo 5-D de Geert Hofstede, bastamente citado no (Im)pertinências (
por exemplo aqui), e constatar que os portugueses são entre os países estudados por Hofstede um dos povos menos individualistas ou, para dizer o mesmo por outras palavras, um dos povos mais colectivistas em todo o mundo.
Colectivismo que explica imensa coisa, a começar pelo desvelo pelo Estado e a continuar pelo pendor esquerdizante que ainda hoje alimenta instituições bizarras já extintas em outros países como o Partido Comunista, como também dá pasto a agremiações pós-modernas do politicamente correcto, como o Bloco de Esquerda, a que, por paródia, aqui chamamos frequentemente de Berloque de Esquerda.
Um exemplo em curso deste comportamento de manada é a indignação obsessiva (a manada é sempre obsessiva) e a condenação violenta do juiz Neto Moura por ter produzido uns acórdãos que a polícia de costumes da esquerdalhada, potenciada pelo megafone do jornalismo de causas, condenou com violência, chegando em certos casos ao insulto como o rolo de papel que Ricardo Araújo Pereira, um conhecido humorista também de causas, sugeriu fosse introduzido no ânus do juiz ou o jogo escatológico que apresentou no seu programa de televisão.
Leiam-se com a devida distância as partes mais polémicas desses acórdãos, como por exemplo as seguintes citadas pela
Visão:
«O adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) (e por isso a dita sociedade) vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher».
Repare-se que sendo certo que se pode reconhecer no autor uma mente um tanto atormentada por um passado de seminarista e comunista, por esta ordem, não é menos certo que também, se aumentarmos a distância, é possível vislumbrar uma vocação perdida de sociólogo, profissão que, se prosseguida, o teria protegido da manada esquerdista, ainda que dissesse alarvidades como as do professor doutor Boaventura de Sousa Santos.
Pois não é verdade que os preconceitos atribuídos pelo juiz Neto Moura à sociedade são partilhados por grande número de portugueses e portuguesas fora do Bairro Alto ou, vá lá, de alguns bairros de Lisboa e, vá lá outra vez, também do Porto? Que disso se faça um princípio moral é outra coisa, mas não parece ser o caso da criatura que até disse à revista Visão não ser tolerante com a violência doméstica.
Postfácio: por coincidência, este post é publicado no dia de Carnaval, mas isso não o torna necessariamente numa paródia. Dependerá de quem o lê.