Outras preces
«O Marcelo que dois anos depois dos incêndios diz que ameaçou dissolver a Assembleia da República no ano seguinte aos acontecimentos é o mesmo que um ano antes de Pedrogão disse que ia estar atento às medidas contra os fogos e que em 2017 disse que tinha sido feito o máximo possível?»
Perguntou, impertinentemente mas muito pertinente, o blasfemo Telmo Azevedo Fernandes e eu respondo.
Pode ser o Marcelo que «só se Cristo descer à terra» se candidataria a líder do PSD; ou o que garantiu ter havido um jantar, que nunca existiu, com vichyssoise de entrada; ou o que garantiu a Isabel II que, com oito anos de idade, filho de um ministro de Salazar, estava na primeira fila da plebe que na Praça do Comércio a viu passar na visita a Lisboa em 1957 e que voltou a encontrar-se com ela em 1985 como «líder da oposição». A mesma criatura a quem o «Presidente da República Federativa do Brasil, (...) pediu para ser recebido» mas não apareceu. A mesma que em pleno incêndio de Pedrógão Grande garantiu que «tudo está a ser feito com critério e organização», para poucos dias depois garantir que se iria «apurar tudo, mas mesmo tudo, o que houver a apurar». Ou pode ser ainda a mesma criatura que depois de ter minimizado o desaparecimento de munições em Tancos, veio dias depois defender «uma investigação que apure tudo, factos e responsabilidades». Ou a mesma criatura que garantiu «não faço comentários sobre os meus antecessores» enquanto comentava o que Cavaco Silva, seu antecessor em Belém, disse enaltecendo a ausência de verborreia de Macron, chapéu que Marcelo enfiou pressurosamente na cabeça. Ou não. Não sabemos.
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