Outras avarias da geringonça e do país.
Com a nomeação da camarada esposa do camarada ministro Pedro "faz tremer as perninhas dos banqueiros alemães" Nuno Santos para chefiar o gabinete do camarada ministro e amigo Duarte Cordeiro, foi dado mais um passo para aumentar a família governamental. Sem esquecer a nomeação em Janeiro da camarada esposa de Duarte Cordeiro, para a direcção do Fundo para a Inovação Social. Como escreveu João Miguel Tavares «Susana Ramos, que é mulher de Duarte Cordeiro, que é chefe de Catarina Gamboa, que é mulher de Pedro Nuno Santos, que é ministro de António Costa, tem quase 160 milhões de euros sob a sua tutela directa, para “apoiar projectos de impacto na sociedade"».
Com isso a família governamental ficou ainda maior e mais coesa e sabe-se o quanto a coesão é importante em todas as organizações onde a solidariedade e a fidelidade são indispensáveis. Vejam-se os casos da Mafia e das suas sucursais Cosa Nostra, Camorra, 'Ngrandetha, etc. e repare-se como os capo dei capi fazem as suas escolhas de membros da família com a louvável preocupação de não os prejudicar pela sua relação familiar.
Não é pelo facto de a TAP ter retomado os prejuízos em 2018, perdendo 118 milhões, que a decisão da geringonça reverter a privatização passou a ser uma medida demagógica e nociva para satisfazer comunistas e berloquistas. Já era, mesmo que a TAP tivesse tido lucro o ano passado. Com o prejuízo tornou-se além disso uma decisão estúpida. Tão estúpida como a redução do IVA da restauração que hoje é claríssimo só trouxe ganhos para os empresários porque os consumidores viram os preços manterem-se para depois aumentarem e o aumento do emprego, que de facto se registou, ter-se-ia registado de qualquer maneira com o aumento da procura induzido pelo turismo.
Muitas vezes a estupidez coexiste com o medo. É também o caso deste governo que se encolhe com os lóbis. Os casos do lóbi da Associação Mutualista que protege Tomás Correia, que por sua vez sabe demasiado e protege eminências pardas do regime, e o do lóbi dos devedores do malparado do BES e do Novo Banco são apenas mais dois na fila. E, por falar em Novo Banco, desmonte-se o mito de que o dinheiro está a ser dado ao "fundo abutre" Lone Star, Não, não está. O dinheiro está a ser dado aos devedores do malparado a quem estão a ser perdoadas total ou parcialmente as dívidas.
E ainda a propósito do BES e do Novo Banco, registe-se que, depois do fogo de barragem sobre Carlos Costa e o BdP, ficou agora claro o leitmotiv da partitura de Costa-Centeno escrita no diploma de «reforma da supervisão» que é meter no bolso o BdP e a independência da sua administração, já de si pouca.
A redução do preço dos passes sociais nas grandes zonas metropolitanas, pois é disso que se trata, é uma medida positiva para as famílias das zonas metropolitanas de Lisboa e Porto com menores rendimentos (e negativa para as outras que as terão de pagar) e poderia justificar-se em qualquer altura. Ao ser tomada a meses das eleições, mostra bem o supremo oportunismo de Costa que tenta capitalizar em votos nas eleições nacionais e nas eleições municipais de Lisboa, para ajudar a carreira do afilhado Medina a quem deu um protagonismo inusitado. A justificação dessa medida com a milagrosa redução da circulação de veículos nas grandes cidades, além de desnecessária, resulta de um misto de falta de escrúpulos e ignorância, como a evolução do transporte público nas grandes áreas metropolitanas tem mostrado.
Não obstante as várias «bombas eleitorais», como lhe chamou o Expresso, num raro assomo de independência, que vão desde os anúncios de Pedro Marques de investimentos que provavelmente nunca verão a luz do dia, aos passes, às «inaugurações em catadupa na saúde» e outros «anúncios simpáticos» (ver aqui a longa lista de José Manuel Fernandes), a popularidade de Costa atingiu o seu valor mais baixo com 9,2 pontos em 20 e as intenções de voto do PS continuam cair deixando a maioria cada vez mais longe (ver o barómetro da Aximage - quem não gostar pode ver as sondagens mais amigas do Expresso).
À longa lista dos anúncios das grandes iniciativas em curso, devemos acrescentar os mais recentes que revelados pelo semanário de reverência, agora cada vez mais o diário do governo. Para além da engenharia social inspirada pelo berloquismo, cuja última realização é o projecto de lei da «residência alternada», temos dois mega-projectos. A reutilização de água do esgoto, cujo horizonte é 20% de reutilização até 2030 (repare-se a visão de longuíssimo prazo do governo de Costa), é um deles. O outro é o «pacto de competitividade» com os empresários de 6 sectores que os 3/4 de uma das enormes páginas do caderno de Economia, ilustrada com foto janota do amigo Siza Vieira e preenchida com uma escrita encomiástica, não são suficientes para perceber do que se trata salvo que terá cinco fases, a saber diagnóstico, captação, encontros, piloto e resultados.
Saindo do universo paralelo destes anúncios e voltando à terra, vamos encontrar os hospital públicos que adiam os exames oncológicos para fazerem colonoscopias preventivas porque dão mais dinheiro (no gosto pelo dinheiro o público já alcançou o privado). E se tivéssemos ido à feira de vinhos de Duesseldorf teríamos ouvido o Costa a anunciar às centenas de produtores portugueses presentes que andam há anos a tentar promover as suas marcas, nalguns casos com bastante sucesso, que ouviram aterrados que o governo iria criar uma «marca chapéu» denominada «Vinhos de Portugal». Eu sei que é difícil a alguém que nunca teve um trabalho, que não faz a mínima ideia do que seja um mercado, uma marca, uma empresa ou uma porra qualquer de um negócio, perceber a asneira, mas algum dos amigos ou familiares que o rodeiam poderia tentar explicar-lhe.
Continua a agitação entre a freguesia eleitoral da geringonça. O prémio da criatividade é devido aos inspectores da Judiciária que fazem greves diárias de protesto de 19 minutos. Também houve outras greves menos criativas como as dos funcionários das escolas em protesto por as vagas anunciadas estarem a ser ocupadas por funcionários que já estavam nas escolas - não é para qualquer um perceber as subtilezas da gestão de recursos humanos da vaca marsupial pública.
Ao mesmo tempo que se empluma com as grandes realizações orçamentais o governo, pelas mãos do Ronaldo das Finanças, consegue um alívio de uma redução do saldo estrutural positivo de 0,25%, a que estava obrigado em 2020, para um saldo nulo. Fez bem, porque em 2020 vão cair as sequelas eleitoral do ano de 2019.
Se tivéssemos dúvidas sobre se o Portugal do Costa é o mesmo Portugal dos portugueses com os dados do BdP que mostram o aumento em Janeiro do endividamento do sector não financeiro de 3,9 mil milhões (devido ao aumento da dívida pública) para 720,0 mil milhões de euros, elas teriam ficado esclarecidas.
Não é que Costa esteja totalmente errado. Ele acerta na parte do aumento, apenas esquece outras coisas que também aumentam. Por exemplo, ele diz que estamos a crescer acima da média europeia (o que é verdade) mas não diz que a grande maioria dos países cresce mais do que Portugal, nem fala de outra coisa que cresce que é o défice do comércio externo (um padrão recorrente nas crises anteriores), apesar do turismo, défice que se calhar vai continua a crescer com a UE que representa 3/4 das exportações portuguesas a desacelerar. E também não fala do custo do trabalho em Portugal que também aumentou mais no 4.º trimestre muito mais do que na UE (10,3% contra 2,8%), nem da produtividade que tem vindo a baixar.
Para terminar por hoje, registo que o economista (com hífen) Aguiar-Conraria, após longos anos de reflexão e estudo, concluiu que «sem poupança não há investimento e sem investimento não há crescimento». São coisas como estas que dão razão ao nosso Querido Presidente Marcelo quando nos revela que «nós portugueses somos os melhores».
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