Por coincidência no mesmo dia 29, separados por poucas horas, foram publicados dois comentários sobre o nepotismo e a endogamia na sociedade e em particular na política portuguesa: «Cleptocracia de qualidade» de Nuno Garoupa, no Público, e «Há novidade, sim, Dr. António Costa» de Rui Ramos, no Observador.
Rui Ramos foca-se mais em particular no nepotismo e na endogamia do governo socialista português e, embora aceite que um e outra têm estado geralmente presentes na política portuguesa, vê-os no caso do governo actual como um fenómeno exacerbado a um nível nunca antes atingido.
Nuno Garoupa vê o nepotismo e a endogamia como característicos da sociedade portuguesa mas considera que não conduzem necessariamente à kakistocracia, isto é ao governo dos piores, por oposição à meritocracia. E, segundo ele, por razões históricas e culturais, o sistema político português é uma kakistocracia. Concordo que é o governo dos piores e discordo das consequências do nepotismo e da endogamia que, a meu ver, se lhes dermos o tempo que já lhes demos, enviesam de tal modo os processos de escolha que conduzem inevitavelmente ao governo dos medíocres e, com mais tempo, ao governo dos piores.
Na minha humilde opinião de analista social de fim de semana, ambos têm razão no essencial. Rui Ramos tem razão ao salientar o grau excepcional de nepotismo e de endogamia neste governo socialista que não tem precedentes históricos. Nuno Garoupa tem razão em caracterizar o sistema político português como «uma “kakistocracia” e cleptocracia legitimadas nas urnas» e por isso considera responsáveis todos os partidos políticos.
Acrescento que, como a igualdade entre os animais da quinta de Orwell, os partidos são todos responsáveis mas há uns mais responsáveis do que outros. E nisto o Partido Socialista deixa os outros a grande distância, sobretudo nos governos de Sócrates e Costa, o primeiro que potenciou o compadrio, como variante do nepotismo, e levou o país à bancarrota, e o segundo que pratica todas as variantes do nepotismo e está a criar as condições para nova bancarrota.
"Na civilização do espectáculo,infelizmente,a influência que a cultura exerce sobre a política,em vez de lhe exigir que mantenha certos padrões de excelência e integridade,contribui para o deteriorar moral e civicamente,estimulando o que possa nele haver de pior,por exemplo,a simples farsa.Já vimos como,ao ritmo da cultura dominante,a política foi substituindo cada vez mais as ideias e os ideais,o debate intelectual e os programas,pela mera publicidade e pelas aparências.Consequentemente,a popularidade e o êxito conquistam-se não tanto pela inteligência e pela probidade,mas sim pela demagogia e pelo "talento" hístriónico.Assim dá-se o curioso paradoxo de que,enquanto nas sociedades autoritárias é a política que corrompe e degrada a cultura,nas democracias modernas é a cultura(ou aquilo que usurpa o seu nome) o que corrompe e degrada a política e os políticos.A cultura deveria preencher o vazio que a religião ocupava outrora(no Ocidente).Mas é impossível que isso aconteça se a cultura(no seu sentido mais estruturante),atraiçoando essa responsabilidade,se orienta decididamente para a facilidade,evita os problemas mais urgentes e se torna mero entretenimento." (do 5º capítulo do livro A Civilização do Espectáculo)
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