30/11/2016

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Estamos falidos, diz o quinto pérfido alemão

Há tempos, Nicolau Santos, o nosso pastorinho da economia dos amanhãs que cantam preferido, apresentou uma lista dos quatro pérfidos alemães (se fosse há 40 anos seriam chamados de «bando dos quatro») que estão «contra nós», a saber: o pérfido e inevitável Wolfgang Shauble pretende «desviar o foco das atenções do Deutsche»; o pérfido Klaus Regling porque «é alemão, convém não esquecer. E falou pouco dias depois de Wolfgang Shauble»; o outro pérfido Günther Oettinger porque «também é alemão»; finalmente o pérfido conspirador Otmar Issing «teve uma ligação ao Deutsche Bank, é amigo e trabalhou estreitamente com Vítor Gaspar».

Aguardo impaciente que o pastorinho complete a sua lista com o quinto pérfido alemão, Thomas Mayer, ex-economista chefe do Deutsche Bank (só podia ser), que tem a mania de chamar os «bois pelos nomes» e divulgou o segredo de Polichinelo de que Portugal está «falido». (fonte)

Dúvidas (175) - A lei dos grandes números

Porquê o mundo árabe com 5% da população mundial representa 45% do terrorismo mundial, 68% das mortes em conflitos armados, 47% dos deslocados internamente e 58% dos refugiados? (Arab Human Development Reports (AHDR) - United Nations Development Programm)

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (20)

Outras preces.

Borrifando a assistência com afectos
Não sou adepto da monarquia, mas quando comparo a postura institucional digna, a gravitas de Filipe de Espanha (ou do pai dele) com as palhaçadas de Marcelo de Portugal fico em dúvida. Volta Aníbal estás perdoado.

Exemplos do costume (48) - O branqueamento das responsabilidades

Imaginai por momentos a indignação en masse da esquerdalhada e dos mídia e da comentadoria (sim, eu sei, é quase a mesma coisa) se um governo não ungido acumulasse a soma de asneiras, incompetência e mentiras do governo socialista no processo da Caixa.

Imaginai de seguida a mesma indignação da mesma gente pela partilha e co-responsabilização por um presidente da República daquelas asneiras, incompetência e mentiras.

Imaginai por fim a reacção dessa gente perante a irresponsabilidade e cobardia de governo e a ligeireza do presidente, uns e outro fugindo com o rabo à seringa e inventando como bode expiatório a criatura que distraidamente se deixou nomear e cair dentro de tal saco de lacraus (gosto muito desta expressão usada por um esquerdalho da UDP numa intervenção no parlamento referindo-se a este).

Comparai o que imaginastes com o silêncio cúmplice, de uns, e a colecção de desculpas esfarrapadas, de outros. Estais agora preparados antecipar o que se passará em grande escala quando o quarto resgate chegar.

CASE STUDY: É preciso ser muito saudável para resistir a tanta doença (11.º capítulo). Estará tudo doido?

Outras doenças a que resistimos heroicamente


Números são considerados "surpreendentes": em 2008, menos de 20% da população tinha problemas de saúde mental. Agora são mais de 30%. Há mais jovens afectados. E mais homens a consumir antidepressivos e ansiolíticos.»

Pergunto-me, será por isso que o «PS chega aos 43% e fica perto da maioria absoluta»? Não vos inquieteis / congratuleis (usar conforme prescrição do médico de família), só o peru morre na véspera. Como aqui foi recordado «em Março de 2010, a um ano da declaração de falência e do resgate pela troika, Sócrates, apesar de 60% dos portugueses acharem que ele mentira ao parlamento, ainda teria 40% dos votos, o que não evitou que nas eleições do ano seguinte os socialistas fossem afastados do governo.»

Se um terço dos portugueses em geral estão meios doidos, dois terços dos médicos não vão poder fazer nada por eles porque estão em burnout, segundo um estudo da Ordem dos Médicos e do ICS da UL. Em pouco mais 4 meses é um enorme progresso em relação às conclusões do estudo da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos que só encontrou 40,5%.

CASE STUDY: Trumpologia (1) - Regras para prever o imprevisível

Regra um: preste mais atenção ao que o presidente eleito faz do que ao que diz. A sua escolha de nomeações para o governo é certamente um melhor indicador do que tweets antigos. Contudo, como não sabemos quem ele vai ouvir e quem ele vai ignorar - ou quem será o primeiro a ouvi-lo dizer "Você está demitido!" - confiar demasiado nas suas escolhas também pode ser um erro. 

Regra dois: preste atenção ao que o presidente pode fazer unilateralmente (rotular a China como manipulador de moeda ou reverter, regulamentos ambientais) e não confunda com o que exige uma aprovação do Congresso (investimento em infraestrutura, construção de muros).

(Lido no Economist Espresso)

28/11/2016

Lost in translation (281) - «Ditador brutal» disse um, «marcante», traduziu o outro

Observador
O presidente eleito Donald Trump, um conhecido racista, xenófobo e misógino, referiu-se a Fidel Castro como «um ditador brutal que oprimiu o seu próprio povo durante quase seis décadas», acrescentando. «a herança de Fidel Castro é de pelotões de fuzilamento, roubo, sofrimento inimaginável, pobreza e negação de direitos humanos fundamentais».

Já o presidente Marcelo, um campeão dos afectos, das liberdades e dos direitos num país que sofreu a longa noite fascista que fez em 48 anos uns 200 mortos, recordou a sua visita recente de homenagem ao agora defunto e referiu-se a ele como um «protagonista controverso mas marcante».

TRIVIALIDADES: Talvez devam agora experimentar uns Antónios Martins e Manuéis Silvas

«A Caixa Geral de Depósitos, S.A. informa que o Senhor Dr. António Domingues renunciou ao cargo de Presidente do Conselho de Administração. Mais informa que apresentaram igualmente a renúncia aos cargos de vogais do Conselho de Administração os Senhores Dr. Emídio José Bebiano e Moura da Costa Pinheiro, Dr. Henrique Cabral de Noronha e Menezes, Dr. Paulo Jorge Gonçalves Pereira Rodrigues da Silva, Dr. Pedro Lopo de Carvalho Norton de Matos, Dr. Angel Corcóstegui Guraya e Dr. Herbert Walter» (comunicado à CMVM).

Só quatro dos renunciantes davam para trocar por 10 Manuéis Silvas ou, em alternativa, trocá-los todos por um Dom Carlos a quem em privado chamavam Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo-Gotha, o que ficaria muito bem no banco de um regime merdoso que cultiva elites merdosas em inbreeding.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (59)

Outras avarias da geringonça.

Com o maior desaforo, Costa decidiu usar mais de 800 milhões de dinheiro dos contribuintes de todo o país para pagar a dívida da Carris que entregou sem ossos ao seu sucessor Medina. Medina aproveitou e anunciou novos passes sociais e o investimento de 60 milhões em autocarros.

«Só é cego quem não quer ver, escreveu João Vieira Pereira no Expresso Diário. Já ninguém se indigna que o primeiro-ministro ofereça ao seu amigo e sucessor na Câmara de Lisboa uma empresa. E que assuma, em nome dos contribuintes, a dívida desta. Tudo nas vésperas de uma ano de eleições autárquicas.» Pois parece que sim, não faltam cegos neste país a avaliar pelos resultados das sondagens que dão o PS perto da maioria absoluta. Contudo, no lugar de Costa, não deitaria foguetes porque essa proximidade é inquietante para PCP e BE e, por isso, tem um forte potencial corrosivo da geringonça, como provavelmente se irá ver.

27/11/2016

SERVIÇO PÚBLICO: That's it

Finalmente no centro do mundo

Clicar para ampliar (Fonte: MarketWatch)
«Por que razão os portugueses não poupam? Já vimos que com taxas de juro como as de hoje em dia não espanta que isso aconteça. Os valores miseráveis obtidos nas aplicações de fundos constituem uma vergonha que arruína aforradores, idosos, pensionistas e todos os que vivem do pé-de-meia que honestamente acumularam. No entanto, essas taxas são iguais em toda a Europa, que poupa muito mais que nós. Além disso, a razão destes níveis doentios, em vários casos até já negativos, está na mesma atitude gastadora que dizimou a poupança. As taxas só estão baixas porque o Banco Central Europeu, contra a opinião da Alemanha parcimoniosa, tem andado a injectar quantidades gigantescas de dinheiro, precisamente para apoiar os países endividados.

Aqui aparece de novo a evidência de que dinheiro não é capital. Essa liquidez pode aliviar temporariamente a factura dos devedores, como o Estado português, mas não se transforma em recursos produtivos que gerem crescimento e resolvam a crise. Pelo contrário, serve, quando muito, de anestesia local, mas com o enorme custo de desincentivar a poupança e estrangular a rentabilidade dos bancos. Não é fácil que este clima de taxas de juro ínfimas seja propício ao crescimento sólido e saudável de que Portugal e a Europa precisam para vencer definitivamente a crise.

Portugal não tem capital porque vive há 20 anos acima das posses. É verdade que em 2008 isso abrandou. Só que, como a troika nos emprestou muito dinheiro, o país conseguiu ir descendo paulatinamente o desequilíbrio. Mas ele permanece. Desde 2008 que se anda a apertar o cinto e a vender propriedades ao estrangeiro para poder pagar as contas. Essa austeridade é necessária, mas não é a solução. Enquanto a poupança continuar a descer, a situação vai-se agravando

“As 10 Questões do Colapso. Portugal: a provável derrocada financeira de 2016-2017”, João César das Neves

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (15)

Outros excertos.

Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«Os "reformadores" têm de meter na cabeça uma verdade básica: na prática, o sistema de ensino não permite expulsar, repito, expulsar ninguém e assim, como se depreenderá, qualquer aluno tem a impunidade garantida. Do ministro ao último professor, toda a gente acredita que expulsar um aluno equivale a uma espécie de condenação à morte. Marçal Grilo, uma das pessoas mais deletérias que passaram pelo Governo, reservou para si a autoridade de aplicar essa pena capital e, segundo nos disse depois, ficou muito emocionado e tremente, quando em três casos durante quatro anos não a pôde evitar. Isto quase que significa uma licença para matar, coisa que as criancinhas percebem muito bem.

Quem não vive na lua está farto de saber o que a escola precisa e não precisa. Não precisa de psicólogos, nem de psiquiatras: precisa de um código disciplinar e de uma guarda que o execute. Não precisa de conselhos directivos, nem de lamechice pedagógica, precisa de um director (como defende o PSD), que ponha expeditivamente na rua quem perturbar a vida normal da escola, quer se trate de alunos, quer se trate de professores. Não precisa da ajuda, nem da "avaliação" dos pais; precisa que os pais paguem pelo menos parte da educação dos filhos (mesmo que em muitos casos esse pagamento seja um gesto simbólico).

A escola que por aí existe, como a democracia a fez, não passa de uma garagem gratuita onde os pais por comodidade e tradição metem as crianças. Não serve as crianças, que não a respeitam e, em grande percentagem, voluntariamente a deixam. Não serve os professores, que não ensinam e sofrem, ainda por cima, um vexame diário. Não serve a economia, a cultura ou o simples civismo dos portugueses. É inútil, quando não é nociva. Chegará, ou não chegará, o dia em que um governo se resolva a olhar para a realidade. Até lá não vale a pena gemer por causa de um monstro que Portugal inteiro viu crescer com equanimidade e deleite.»

O monstro, 02-06-2006

26/11/2016

PARABÉNS E, JÁ AGORA, GOSTARÍAMOS DE SABER COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA


Hoje, 26 de Novembro, em que se completa um ano da tomada de posse do governo e do início do funcionamento da geringonça, queremos dar os parabéns, em primeiro lugar a Costa que tornou tudo possível, a Jerónimo, sem cuja paciência a geringonça já teria soçobrado, e a Catarina, sem cujo fulgor a geringonça seria uma tristeza.

Desejamos a todos muitas felicidades mas não muitos anos de vida, porque não temos a certeza se a jangada de pedra algum dia se conseguiria recompor.

E, já agora, gostaríamos de perguntar aos mencionados como vão descalçar a bota quando a geringonça avariar por acabar o dinheiro dos outros. E. se não for pedir demasiado, perguntaríamos ao presidente Marcelo e a todos os outros comentadores, opinion dealers e jornalistas de causas levando a geringonça ao colo ou nela pendurados como vão explicar-se.

Impertinente                                         Pertinente

DIÁRIO DE BORDO: Com 57 anos de atraso, morreu Fidel Castro

Para bem dos cubanos e da humanidade, Fidel Castro bem poderia ter morrido logo a seguir ao dia 8 de Janeiro de 1959, depois de derrubado Batista, poupando muitas vidas, a miséria e a opressão que a sua ditadura comunista-familiar impôs ao povo cubano. É certo que isso impediria o presidente Marcelo dos Afectos de ir a Havana prestar homenagem a um ditador, mas sempre poderia ter ido visitar a campa de um libertador, tivesse Castro batido a bota depois de cumprida a missão,

Exemplos do costume (47) - Uma mancha mais rica

Por determinação do ministro anexo da Educação, o camarada Mário Nogueira, o seu factótum no ministério deu instruções aos serviços para deixarem de publicar os rankings das escolas baseados nas notas dos seus alunos nos diversos anos e disciplinas.

Segundo explicou João Costa, o ajudante do factótum, num eduquês intraduzível, «este indicador não premeia a retenção e ao mesmo tempo não premeia a seleção de alunos, porque estamos a comparar alunos comparáveis». O que se mede exactamente este indicador ou, em publiquês, o ranking alternativo? Suspeito que ninguém saiba, o que não tem qualquer importância porque «o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDE), Filinto Lima, aplaude as novidades».

E porquê o aplauso? Porque, como deixou perceber o ajudante do factótum, do novo indicador resultam «escolas que habitualmente ficam colocadas em 300.º lugar nos rankings a subirem ao top 5. No topo há uma mancha mais rica de públicas e privadas».

Suponha-se que na vila de Alguidares de Baixo há duas escolas cada uma com uma turma. Numa das escolas os alunos tiveram médias de 14 em dois anos consecutivos. Na outra escola as médias foram, respectivamente 4 e 5. Pelo ranking discriminatório do passado, a primeira escola estava muito melhor classificada em qualquer dos anos; 14 contra 4  e 14 contra 5. Pelo ranking alternativo a segunda escola que mostrou um progresso de 4 para 5 dá um bigode à primeira que não progrediu.

Sabe-se lá porquê, ocorreu-me a estória, já aqui contada algumas vezes, da auto-estrada mexicana. Uma auto-estrada que o governo mexicano teria inaugurado com pompa e circunstância pelo facto de dispor de 3 faixas, embora estreitíssimas. As faixas, de tão estreitas, originaram inúmeros acidentes, forçando o governo passado pouco tempo a reduzi-las para duas, com o argumento que da redução de pouco mais de trinta por cento do número de faixas resultaria um maior acréscimo de segurança. Talvez o resultado tivesse sido mais segurança, mas o que resultou, sem margem para dúvidas, foram enormes engarrafamentos que levaram o governo a voltar ao número original de faixas anunciando entusiasticamente que o número de faixas iria ser aumentado de cinquenta por cento.

25/11/2016

ACREDITE SE QUISER: Banca privada é a favor de um banco público

À primeira vista estranha-se que vários presidentes de bancos privados se pronunciem entusiasticamente a favor da manutenção da Caixa como empresa pública (fonte). Um deles chegou a dizer, como falasse do Espírito Santo, não o do BES mas o da Santíssima Trindade: «É uma luz que todos nós, os privados, temos de ver», disse com a voz  talvez embargada.

À segunda vista entranha-se, por duas ordens de razões: (1) afinal uma Caixa privada seria o seu concorrente mais forte e (2) sem uma Caixa pública para socorrer os empresários do regime e os amigos do regime e para financiar os projectos do regime ficariam eles, os bancos privados, sobre a pressão do complexo político-empresarial socialista para o fazerem.

Aditamento:

É claro que mesmo com uma Caixa pública isso não é um seguro contra todos os riscos de contaminação da banca privada. Ora veja o exemplo, hoje mesmo noticiado:

«A SDC Investimentos (...), detida por Manuel Fino, “informa que não vai proceder ao reembolso do seu empréstimo obrigacionista, no valor de 20 milhões de Euros, que se vence no próximo dia 28 do corrente mês de novembro”. (...) estes títulos foram objecto de subscrição particular, “tendo como único titular das obrigações o Millennium BCP (...) [e] foram subscritos em 2007, quando Manuel Fino era accionista de referência do BCP (...).

Recorde-se que Manuel Fino se tornou accionista do BCP com dinheiro emprestado pela Caixa quando Santos Ferreira, na qualidade de factótum de José Sócrates, era o comissário do polvo no BCP. Atente-se à cronologia do golpe:
  • 1.º Semestre 2007 – Caixa financia accionistas hostis à administração do BCP
  • 15-01-2008 – AV juntamente com Santos Ferreira salta para a administração do BCP
  • 1.º Semestre 2008 – o BCP financia a Ongoing para adquirir o Diário Económico e uma posição na Impresa
  • Fevereiro 2009 – Caixa financia Manuel Fino que dá como garantia acções do BCP (valorizadas 25% acima da cotação)
E assim se percebe porquê a banca, pública e parte da privada, está mais contaminada com os créditos malparados do regime do que um gay praticante do poliamor com HIV.

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (14)

Outros excertos.

Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«(..) como se na mão-de-obra "qualificada" estivesse o fundamento de todo o progresso.

Não está e há muito tempo que é público e notório que não está. Um país não enriquece porque se educa. Pelo contrário, na maior parte dos casos, trata de se educar, quando enriqueceu. Basta pensar, por exemplo, que nunca ninguém promoveu a literacia por um motivo primariamente económico. Os judeus ensinavam a ler as crianças para que elas lessem o Talmude. Os protestantes, incluindo os da Inglaterra (e da Escócia), para que elas lessem a Bíblia. Os prussianos, para que lessem ordens de batalha (daí o mito universal de que a escola ganhara a guerra franco-prussiana). E os próprios franceses encheram a França de escolas, não para a "desenvolver" (nem sabiam o que isso era), mas para arrancara população às trevas do catolicismo. O Sul da Europa ficou à pane deste esforço, porque na Igreja se falava latim e os pais queriam os filhos para trabalhar.

A tecnologia moderna convenceu infelizmente algumas pessoas de cabeça fraca que uma licenciatura (ou um grau académico superior) abria as portas para um emprego estável e para uma vida de classe média. Claro que a frequência de uma universidade é um bem em si mesmo. Só que já não é a garantia de nada. Em economias como a americana, há emprego para pessoas com altas qualificações (não forçosamente técnicas) e para pessoas com baixas qualificações. No meio há muito pouco emprego e muito mal pago. A informática eliminou milhões de lugares e a "deslocalização" do trabalho outros milhões. Para o resto, o 12.º ano chega e às vezes, sobra. Os jovens deste 11 de Março são vítimas de um Estado que lhes mentiu e que os roubou e agora, quando eles se queixam, responde, como o sr. Sócrates, com o silêncio ou com insultos

História de um crime, 12-03-2011

Dedicatória
Este post é dedicado a António Costa, primeiro-ministro, que produziu ontem o seguinte juízo:
«Não temos licenciados e mestres a mais. Temos é emprego a menos para doutores, mestres e licenciados. É essa a transformação de mentalidade e reorientação do nosso esforço produtivo que temos que fazer para conseguir vencer»,
Vale a pena ler alguns comentários dos leitores do jornal i ao artigo onde é citado o profundíssimo pensamento.

24/11/2016

Rebeldes sem causa

«Se você tivesse apenas $ 2.220, poderia não se sentir terrivelmente afortunado. Contudo, seria mais rico do que metade da população mundial. Com $ 71,560 ou mais, estaria entre os 10% mais ricos. Se você fosse um sortudo possuindo mais de $ 744.400, como 18 milhões de americanos, faria parte do 1% global contra quem se estão a revoltar os eleitores em todo o lado. Alguns desses revoltados contra a elite global provavelmente não sabem que dela fazem parte.»

(The Economist Espresso)

ACREDITE SE QUISER: Quando o que subiu desce, o que desceu pode não subir e o que não desceu pode subir (3)

Este post é como que uma continuação de (1) e (2).

A ferramenta analítica do PS
Começo por recordar que a «ferramenta analítica» de um grupo de economistas do PS lhes permitiu avaliar em Março do ano passado que a descida do IVA da restauração de 23% para 13% «pode tonificar o PIB em mais 0,2%».

Recordo em seguida que o relatório dos 12 sábios do PS «Uma década para Portugal», apresentado em Maio do ano passado e autopsiado na série de posts «Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência», previa crescimentos de 2,4% e 3,1% para 2016 e 2017.

Recordo também que esses crescimentos tonificados pela descida do IVA da restauração vão ficar, segundo o próprio governo, reduzidos a metade.

Correndo o risco de maçar os leitores com tanta recordação, recordo ainda que, como aqui escrevi em Fevereiro passado, que se os preços da restauração não desceriam com a descida do IVA, como se concluiu de um inquérito do Expresso, aumentariam as margens de lucro, o que constituiria mais uma grande ideia socialista «inconseguida».

Há pouco dias, a Ibersol, um grande operador de restauração do grupo Sonae, informa-nos que nos primeiros nove meses do ano duplicou o resultado líquido o qual, ajustado de efeitos não recorrentes, aumentou 60%.

Mitos (244) - O contrário do dogma do aquecimento global (XII)

Continuação de (I), (II), (III), (IV), (V), (VI), (VII), (VIII), (IX), (X) e (XI).

Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os negacionistas – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.


Este post é dedicado aos negacionistas.

23/11/2016

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (19)

Outras preces.

«É urgente [a recapitalização] e, fechadas as contas deste ano – e as contas são fechadas, de um ano, em março do ano seguinte -, será uma prioridade quer a recapitalização pública quer o recurso ao mercado privado em termos obrigacionistas».

Foi assim a conversa do presidente Marcelo para patetas, que só não lhes insulta a inteligência porque os patetas a não têm, limpando, uma vez mais, a folha do governo que adiou a antes inadiável recapitalização da Caixa para evitar o impacto sobre o défice deste ano que lhe poderia fechar a torneira com que vai regando a sua clientela.

É apenas mais um pormenor de uma estratégia de prolongamento da vida assistida da geringonça, ganhando tempo para o PSD alijar aquele cujo chapéu «catavento de opiniões erráticas» o comentador Marcelo enfiou sem hesitação, substituindo-o por um factótum do presidente.

Actualização:

Se houvesse lugar a dúvidas sobre tal estratégia de MRS, seriam desfeitas pela sua intervenção na conferência promovida pelo Jornal de Negócios onde disse:
«Conseguimos garantir a estabilidade política que se considerava questionável. Estabilidade na existência do Governo. Estabilidade nas relações entre o Governo e a Assembleia da República, com uma prerrogativa particularmente complexa e nunca ensaiada em Portugal, na cooperação institucional entre Governo e Presidência da República.»
E não se trata de garantir a estabilidade política que é, de facto, sua obrigação. Trata-se de andar ao colo com um governo que ele tem a obrigação de perceber está a prolongar a vida política de Costa à custa de conduzir o país para o desastre  - se ele não consegue perceber isso ou não tem assessores que lho expliquem, deveria ter continuado a debitar opiniões erráticas na TV. Como escreveu o director do Público, «O seguro do Governo chama-se Marcelo».

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (144) – Se ele o diz... (II)

Evoquei aqui os hábitos do PS de manipulação dos mídia reconhecidos pelo seu dirigente e deputado europeu Manuel dos Santos. Nem de propósito, foi agora confirmada mais uma incursão socialista comandada por José Sócrates com a ajuda do seu peão de brega Rui Pedro Spares, incursão baptizada com o pomposo nome de «Projecto Aljubarrota», que visava o controlo da TVI através da PT, como à época se registou no (Im)pertinências (por exemplo aqui e aqui).

Estou já a ouvir os admiradores de Sócrates a tentarem limpar a sua folha porque, uma vez mais, a estória nos chega através violação do segredo de justiça, justamente definido no Glossário como o mecanismo processual que obriga o putativo arguido a comprar jornais ou a ver televisão para tomar conhecimento da acusação.

Estão enganados. A violação do segredo de justiça não limpa a folha de Sócrates ou de qualquer outro arguido ou suspeito, apenas suja a folha da administração da justiça.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O transporte socialista é para ser pago por quem não viaja

O governo decidiu entregar à Câmara de Lisboa a Carris ficando os mais de 800 milhões do seu passivo como dívida do Estado, ou seja para ser paga pelos contribuintes desde Melgaço a Vila Real de Santo António, a maioria esmagadora dos quais não se senta num eléctrico ou autocarro alfacinha.

Entretanto, não se sabe quem paga os swaps que rebentaram nas mãos da Carris, não se conhecem as contas de 2015 e o regulador AMT não foi consultado. Admirado? Lembremos a divisa socialista L'État, c'est nous.

Na ocasião, enquanto Fernando Medina anunciava 60 milhões de investimento na compra de autocarros, Costa produzia a seguinte amostra do melhor do pensamento socialista: «Esta empresa não deve ser um produto financeiro. Deve prestar um serviço público. Antes, tinha de produzir EBITDAS, e não transportar pessoas. Mas a função primeira é de ser uma empresa para servir as pessoas. A natureza pública garante que a função não é desvirtuada»

O que escreveram o Blasfémias e o Insurgente sobre o tema dispensa-me de gastar mais latim. Ide a eles.

22/11/2016

A maldição da tabuada (42) - Há toda uma tradição de dificuldades dos socialistas com os zeros. São assim como que uns zeros à esquerda


Lembram-se das confusões de Mário Soares com milhões, milhares de milhões e biliões? Lembram-se das confusões de António Guterres com o valor do PIB («é só fazer as contas»)? Pois bem, na melhor tradição socialista

«PS esquece-se de três zeros na injeção de capital para a Caixa

Os socialistas apresentaram uma alteração à proposta de Orçamento para adiar a injeção de capital na Caixa para 2017. Mas o valor tem três zeros a menos do que o necessário.» (Economia online)

Como contribuição pessoal para debelar esta maldição que atinge tão fortemente os socialistas (atingiria também os comunistas e berloquistas se eles tivessem de fazer contas, mas, por agora, só mandam bitaites), coloco à disposição do PS a minha colecção de posts «Não saber a tabuada nunca foi uma desculpa para errar as contas» com 9 sugestões de zingarelhos para ajudar a falta de jeito a lidar com a aritmética.

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (13)

Outros excertos.

Mais um excerto (neste caso uma crónica completa) de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«Um estudo de Luís de Sousa, sociólogo do ICS, mostra que 63 por cento dos portugueses toleram (ou, mais precisamente, aprovam) a corrupção, desde que ela produza "efeitos benéficos" para a generalidade da população. Isto não é um sentimento transitório, provocado por trapalhadas recentes; é uma cultura. A cultura dessa grande guerra que cada um de nós tem com um Estado opressor e remoto e com governos que nunca respondem pelo que fazem ou deixam de fazer. O português médio execra a autoridade, seja sob que forma for, e vive no seu país como se vivesse sob ocupação estrangeira. O servilismo e a falta de carácter, que tanta gente pelos tempos fora lamentou, escondem a vontade de salvar a pele e a aspiração, muito natural, de enganar quem manda.

Não há regras para ninguém, porque ninguém cumpre as que por acaso há. Quem pode levar a sério uma escola em que o próprio ministério fabrica os resultados, proíbe legalmente a reprovação e aceita a violência? Quem pode levar a sério um regime que se diz democrático e selecciona o funcionalismo pela fidelidade partidária? Quem pode considerar um ponto de honra pagar impostos, quando a fraude e a injustiça fiscal são socialmente sinais de privilégio e esperteza? Quem vai pedir um recibo ao canalizador ou ao electricista ou a factura no restaurante, quando sabe que o Estado gasta sem utilidade e sem sentido? E quem vai obedecer às determinações da câmara do seu sítio, quando a câmara é uma agência de negócios de favor e uma bolsa de favores sem explicação e sem desculpa?

Não admira que o "povo dos pequenos" conspire constantemente contra a lei e até contra a decência. Que falte ao trabalho ao menor pretexto; que trabalhe mal, se trabalhar bem lhe custa; que peça aqui ou empurre ali, para se beneficiar ou aliviar; que tome as ruas uma lixeira pública; que guie, na cidade ou na estrada, como se estivesse sozinho; que minta a torto e a direito sobre o que lhe apetece e lhe convém; que não passe, enfim, de um miserável cidadão, indiferente à política e ao país. Não lhe ensinaram outra coisa. Os chefes são como ele. Os políticos são como ele. O Estado é como ele. Como exigir que ele se porte como Portugal inteiro não se porta? Claro que ele aprova a corrupção e consegue ver nela virtudes redentoras. Não é agora altura de mudar os costumes.»

O triunfo da corrupção, 12-03-2010

Esclarecimento:
Desta série de posts, nomeadamente deste post, não deve concluir-se a minha concordância total com a visão (queiroziana) de Pulido Valente, frequentemente redutora de uma realidade bem mais complexa do que fazem supor as suas simplificações, em parte inevitáveis pelo formato de crónica. Ainda assim, mesmo quando a simplificação vai longe demais, como aqui, a sua visão é um oportuno contraponto aos delírios da comentadoria doméstica fabricados por ignorância, estupidez ou encomenda.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um pastorinho queixa-se do resultado das suas políticas

Secção Assault of thoughts 

Era uma vez um pastorinho da economia dos amanhãs que cantariam mas não cantaram e, pelos vistos, não cantarão. Chamava-se Nicolau Santos e tinha o blogue «Keynesiano, graças a Deus», no Expresso, onde escrevia coisas que o John Maynard se ressuscitasse lhe diria Nicolau, Sir, you got stuck in the 30s. (O parágrafo anterior é uma espécie de introdução, que já escrevi de outras vezes, aos dislates da criatura)

Desta vez, o pretexto para lhe dedicar esta avaliação foi o seu escrito no Expresso Curto, o email da manhã de ontem do Acção Socialista, perdão Expresso, e a razão para a incluir nesta secção é a sua incontida admiração pela pessoa e pela doutrina do John Maynard que um dia escreveu: «Words ought to be a little wild, for they are the assault of thoughts on the unthinking».

E o que escreveu Nicolau no bendito Curto? A propósito da venda de uma participação no BCP aos chineses da Fosun a criatura produziu um relambório com as vendas das TAPs, das RENs, das EDPs, das ANAs, das concessões dos portos dos Sines para concluir: «é este o Estado que temos: sem poder para mandar naquilo que é verdadeiramente essencial para definir uma estratégia de desenvolvimento».

Pois será, e, apesar de países atrasados com o Reino Unido fazerem dessas coisas (*), vamos dar-lhe de borla que o nosso Querido Estado não deveria ter vendido ou concessionado essas empresas por serem indispensáveis «para definir uma estratégia de desenvolvimento». Dada a borla, façam-se ao pastorinho duas perguntas impertinentes: (1) onde podemos encontrar definida a «estratégia de desenvolvimento» durante as quatro décadas em que tivemos pleno controlo sobre tais pérolas? e (2) foi essa «estratégia de desenvolvimento» que nos endividou ao ponto de sermos resgatados e termos de vender o que havia para vender a alguém que queria comprar?

Enquanto o pastorinho remói as impertinências, vamos atribuir-lhe 5 chateaubriands pelas confusões habituais entre causas e efeitos e outros cinco bourbons por nada aprender nem esquecer.

(*) Coisas feitas por países atrasados como o RU: entregaram a indústria automóvel aos indianos e alemães, os aeroportos aos espanhóis, a energia aos franceses e chineses, uma parte importante da banca a suíços, americanos, franceses e alemães e a organização dos Jogos Olímpicos aos australianos.

21/11/2016

Pro memoria (328) - Ainda os hei-de ler a louvarem o Donaldo

Um farol chamado Merkel

Outrora diabolizada por muita gente, a chanceler alemã, Angela Merkel, que anunciou que se recandidata à chefia do Governo alemão, é agora vista como a derradeira esperança para travar a onda nacionalista na Europa, num momento de alta tensão e incerteza. 


Angela Merkel antes de ser farol
Foi assim cum laude e esperança que o Expresso Curto se referiu à Bruxa da Austeridade, à versão moderna de Hitler, que a par das agências de rating e do neoliberalismo foi a grande responsável pelas nossas misérias e sofrimento antes da chegada da redenção pela mão da geringonça. Outrora diabolizada por muita gente, incluindo as gentes que escrevem no Acção Socialista Expresso, é hoje o nosso farol.

BLOGARIDADES: Portugal Contemporâneo, outra vez debaixo de olho

Durante algum tempo adormecido, sabe-se lá porquê, e por isso retirado do departamento SEMPRE COM UM OLHO NELES, o Portugal Contemporâneo voltou ao serviço activo com uns divertidíssimos posts com a transcrição de conversas entre Peter Throw, um conhecido Agent Provocateur, e o presidente eleito Donald.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (58)

Outras avarias da geringonça.

Começo pelas notícias largamente exageradas do crescimento com que o governo se auto felicitou e que a imprensa do regime obedientemente trombeteou. E exageradas porque, entre outras razões, uma parte significativa do crescimento do 3.º trimestre resultou do facto irrepetível da venda à Roménia por 180 milhões dos jactos F16, facto conhecido desde o fim de Setembro mas cuidadosamente não relacionado com o crescimento no 3.º trimestre pelos mídia amigos, com excepção do renegado CM.

Como também foi geralmente ignorado que a melhoria das exportações (turismo e venda dos F16) não evitou, segundo os dados do BdeP, a baixa do excedente externo devido à «deterioração da balança de capital e da balança financeira.

20/11/2016

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (143) – Se ele o diz...


Manuel dos Santos é um conhecido dirigente socialista, membro da Comissão Política, várias vezes deputado à AR, actualmente deputado europeu e inevitavelmente profundo conhecedor da cultura e da máquina socialista de manipulação dos mídia a que em entrevista ao SOL de sábado passado se refere com as seguintes palavras:

«Quando lhe disse que era muito difícil contrariar esta narrativa de esquerda, porque nos dá a aparência de poder, gostava que alguns militantes me explicassem o que lucraram com esta governação! Mas eles querem é o poder.

(…)

Para mim, as sondagens acabaram. A história do Governo PS é um milagre comunicacional, não tenho que me render a ele. Se alguma coisa este Governo tem feito, é uma comunicação absolutamente exemplar. 

Você quer melhor exemplo de como se trata um assunto (CGD) da maior importância a pontapé, como foi o caso? Foi uma sucessão de erros! E não sucede nada, não baixam as sondagens! Tem aí um bom exemplo. 

O Costa já conseguiu, obviamente, dizer que não tem nada a ver com isto. 

Ao que parece acreditam as sondagens, ele não é penalizado! E acreditam vocês, em geral. A comunicação social tem sido muito favorável e não tem explorado alguns falhanços brutais que tem havido na governação. A questão das viagens da Galp, a questão das falsas licenciaturas, a questão da Caixa Geral de Depósitos... Tudo isto tem passado na comunicação social com muita aceitação.

Volto a falar na massa militante. Eu conheço-os. Aprovaram em referendo o acordo PS/CDS em 1978 que Mário Soares lhes propôs. E 40 anos depois aprovam a 'geringonça'. O PS tem um tipo de cultura de aceitação passiva do que é dito pela liderança, sobretudo se vêem na liderança capacidade para os levar ao poder ou os manter no poder

Vivemos num estado policial? (10) - Ainda não, mas não é por falta de vontade

Recapitulação:

Segundo os números da UNODC, com 444,1 chuis (inclui PSP e GNR) por 100.000 habitantes, somos o terceiro estado mais policiado da Europa, apenas ultrapassados por Malta e pela Irlanda do Norte.

Segundo os números divulgados pelo SOL, 10% dos 21 mil polícias são sindicalistas de 13-sindicatos-13 diferentes e faltaram o ano passado 23 mil dias por actividades sindicais. 600 dos 2.100 sindicalistas são dirigentes e cada um tem direito a 4 dias de folga por mês, os restantes 1.500 são delegados sindicais e podem ter 12 horas de folga por mês. As folgas não usadas acumulam-se como «créditos» para o mês seguinte. Dirigentes e delegados sindicais não podem ser transferidos de local de «trabalho» sem acordo expresso.

Entre esses 13 sindicatos encontra-se o Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) que representa os oficiais da PSP com licenciaturas. O seu presidente fez declarações a vários jornais (incluindo uma entrevista ao ionline) expondo a roupa suja e abriu uma guerra com os outros sindicatos. O SNOP é agora um sindicato traidor.

Capitulação:

Pelo DN ficámos a saber que «o CDS volta a erguer a sua tradicional bandeira da Segurança Interna e vem propor um reforço de verbas para a admissão de mais 1135 polícias na GNR, na PJ, na PSP e no SEF. Hoje os centristas vão apresentar quatro propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE), que pressupõem um aumento de despesa total de 28,5 milhões de euros para que, em 2017, sejam abertos concursos que permitam a entrada de mais 500 polícias na PSP, igual número na GNR, mais 90 inspetores na PJ e mais 45 no SEF.»

Não será por acaso que o CDS produziu socialistas eméritos como o professor Freitas do Amaral, o engenheiro Basílio Horta e teve como fundadores proto socialistas, como o professor Adriano Moreira.

Outros casos de polícia: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8) e (9).

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (12)

Outros excertos.

Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«Talvez convenha perceber duas coisas sobre a corrupção. Primeira, onde há poder, há corrupção. E onde há pobreza, há mais corrupção. Destes dois truísmos resulta necessariamente que quanto maior é o poder ou a pobreza, maior é a corrupção. Portugal junta a uma atávica miséria um Estado monstruoso e autoritário e, por consequência, tem as condições perfeitas para produzir uma enorme quantidade de corrupção. Em Portugal nada se salva da corrupção: nem a administração local, nem a administração central, nem os partidos, nem os "negócios", nem os governos, nem o futebol. A corrupção está íntima da cultura "nacional", no centro da ordem estabelecida, na maneira como os portugueses tratam de si e se tratam entre si.

Não vale a pena, por isso, declamar, perorar, rugir e chorar. O mal só tem dois remédios: o enriquecimento do país, por um lado, e, por outro, uma drástica redução do Estado e, principalmente, da autoridade do Estado. Quanto ao enriquecimento, não parece próximo. Quanto à redução de um Estado com 700.000 funcionários, ninguém até hoje o conseguiu reformar. Pelo contrário, aumentou sempre, intocável e triunfante. Quarta ou quinta-feira, o dr. Silva Lopes perguntava na televisão porque não se metiam, pelo menos, meia dúzia de corruptos na cadeia. Como em Espanha. Ou em França. Ou na América. Não se metem, porque, a meter meia dúzia, acabavam por se meter uns milhares, ou umas dezenas de milhares. E também, evidentemente, porque nenhuma sociedade se persegue a si mesma.»

A corrupção em Portugal, 03-02-2008

19/11/2016

DIÁRIO DE BORDO: Estou a ver mal ou…

… num curso de comandos, a única tropa que ainda está capaz de combater para defender a jangada de pedra, em que dois recrutas morreram durante os exercícios, está um poucochinho fora do contexto a psicologia de pacotilha de uma procuradora que diagnosticou nos alegados responsáveis «um ódio patológico, irracional contra os instruendos, que consideram inferiores por ainda não fazerem parte do Grupo de Comandos, cuja supremacia apregoam, à gravidade e natureza dos ilícitos»?

E, se não for perguntar muito, haverá «perigo de continuação da actividade criminosa e de perturbação do inquérito» que justifique detê-los preventivamente?

O que não preciso de perguntar é a razão da impância do ministro da Defesa, a quem depois destas decisões de grande coragem cívica, não lhe cabe um feijão no rectum, como soía dizer o meu avô. Afinal, a criatura que manda agora na tropa foi dispensado do SMO (por ter pé o chato?) e entrou pela primeira vez num quartel depois de entronizado ministro, como escreveu o Pertinente.

(Eu sei que não existe o substantivo «impância» - de impante, a qualidade de quem não lhe cabe um feijão no rectum. Ainda.)

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (18)

Outras preces.

Vamos admitir que sim, que o menino Marcelo de 8 anos de idade, filho de Baltazar Rebelo de Sousa, à época subsecretário de Estado da Educação Nacional de Salazar, estaria na primeira fila da plebe que na Praça do Comércio via passar a rainha Isabel II em 1957. Afinal já passaram quase 60 anos.

Mas que diabo, não se lembraria o agora presidente que há menos de metade do tempo, em 1985, ele não era «líder da oposição», nem líder de coisa nenhuma, muito menos da oposição ao governo do Bloco Central de que fazia parte o PSD?

Será mais uma ocorrência do síndrome Vichyssoise?

Pro memoria (327) - «Luz no fundo do túnel», disse ele


«Moedas diz que pela primeira vez há “luz ao fundo do túnel”»

«Comissário europeu e ex-secretário de Estado-adjunto de Passos Coelho diz que "pela primeira vez" Portugal está no bom caminho em relação ao défice e que já se começa a ver "luz ao fundo do túnel". (Observador)

Carlos Moedas já demonstrou não ter muito jeito para a política (o episódio da sua conferência de imprensa sobre o relatório do FMI em 2013 é lendário) e parece tentar compensar a falta de jeito esforçando-se por parecer político, dizendo coisas que até os políticos profissionais hesitariam em dizer. Com esta conseguiu dizer numa só frase dois disparates/mentiras (cortar conforme o gosto): (1) se há coisa que os portugueses em geral e os políticos em particulares, dia sim dia não, vêem são «luzes no fundo do túnel»; (2) quanto ao «está no bom caminho», se ele não sabe como o défice de 2016 está a ser fabricado aplica-se a primeira alternativa, se sabe aplica-se a segunda.

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (11)

Outros excertos.

Mais um excerto (neste caso uma crónica completa) de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«A devoção do povo de Felgueiras pela sra. Fátima espantou muita gente. Os felgueirenses começaram por a eleger, quando ela já andava a contas com a justiça, e, a seguir, na sua esmagadora maioria, aprovaram a sua fuga e até os delitos que alegadamente cometera. Quem estudou a história política do País não se deve espantar. No antigo regime, ou seja, na monarquia absoluta., o povo só conhecia o Estado por duas razões: porque lhe tirava o imposto (em dinheiro ou em espécie) e porque o mandava para a tropa. Uma vez por outra, embora raramente, também o enforcava ou metia na cadeia. A relação entre o soberano e os seus súbditos acabava quase sempre aqui: e os representantes de Lisboa na província eram inomináveis tiranetes, que exploravam e aterrorizavam os locais. Veio o liberalismo (um parto dificil) e, no momento em que o liberalismo conseguiu enfim estabilizar, os portugueses descobriram de repente que os políticos precisavam deles - pelo menos, do voto de alguns deles. Foi nessa altura que se estabeleceu o negócio que ainda hoje dura: os políticos davam qualquer coisa ao povo (estradas, pontes, fontanários, favores de carácter pessoal) e o povo dava em paga o seu voto aos políticos. Convém perceber a natureza eminentemente "democrática" desta transacção. A um povo pilhado e saqueado uma troca - mesmo unilateral - parecia o paraíso. Ninguém se interessava por saber se os políticos roubavam, desde que fornecessem a tempo a sua "parte". Uma "parte" choruda fazia um bom político; uma "pane" mesquinha um mau político. Tal qual como um pai remoto. A roubalheira, de resto, decorria em altas regiões, que o homem da rua ignorava. Coisas para poderosos. Contra Lisboa e contra o mundo, queria um protector e dispensador de benesses: não queria mais nada. A corrupção que se lixasse.»

A corrupção, 16-05-2003

17/11/2016

CASE STUDY: De como uma mistura explosiva de megalomania, incompetência e incúria pode multiplicar o passivo da câmara de Lisboa

O caso Feira Popular/Parque Mayer envolve Santana Lopes, Carmona Rodrigues, José Sá Fernandes (o amigo Zé), António Costa e, por último, Fernando Medina a dormir em cima do assunto. Começou em 2002, não se sabe quando acabará e poderá custar mais de 300 milhões e atirará a dívida da câmara de Lisboa para a estratosfera autárquica à frente da Maia e Vila Nova de Gaia, até agora os campeões do endividamento.

Leia a estória completa contada no Observador.

ACREDITE SE QUISER: Se não puderem engolir um sapo ao menos comam uma barata

Lembro-me de Vasco Pulido Valente ter feito muitos anos atrás uma previsão qualquer avisando que se falhasse deixaria de ser analista. Falhou e, assumindo a falha, garantiu que daí em diante deixaria de ser analista e passaria a ser… comentador.

Melhor exemplo foi o do especialista em sondagens Sam Wang da universidade Princeton, uma das oito da Ivy League, que previu que Donald Trump não ultrapassaria os 240 delegados prometendo que, se ultrapassasse. ele comeria um insecto. Enganou-se por muito e, ao contrário da enorme horda de analistas, comentadores, jornalistas de causas e outros opinion dealers que erraram com estrondo as previsões ou tomaram estas pelos seus desejos, este tomou a palavra pelo seu valor e comeu um grilo com mel.


Ainda assim, Sam Wang ficou longe dos comunistas a quem o camarada secretário-geral Álvaro Cunhal mandou que engolissem um sapo e votassem em Mário Soares nas eleições presidenciais de 1986. Eles obedeceram e Mário Soares ficou em Belém 10 longos anos, enquanto os comunistas digeriam o sapo.

Na minha modesta opinião, considerando ser o sapo um animal de tamanho desproporcionado às finas gargantas das luminárias que se tomam por Oráculo de Delfos e o grilo um animal demasiado simpático para tais gargantas, parecer-me-ia mais adequado engolirem uma barata.

Pro memoria (326) - O «fora de perigo» arrisca-se a ser uma notícia ligeiramente exagerada

«Banca nacional fora de perigo é boa notícia em dia de balanço negativo sobre UE»

(jornal negócios)

«Os bancos portugueses têm 18 mil milhões de euros em créditos malparados nos seus balanços. A este valor acrescem cerca de 15 mil milhões de euros em imóveis que terão de vender.» (jornal Económico

16/11/2016

Títulos inspirados (64) - Uma especialidade do semanário de referência (II) - a subida a jacto

Sequência de (I)

Expresso Diário de ontem

Venda de F-16 usados dá gás à subida do PIB

«Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 1,6% no terceiro trimestre. Para os bons resultados da balança comercial, até a venda dos F-16 à Roménia contribuiu, explica o próprio INE. (...) E na evolução das exportações, em setembro, destaca-se mesmo a venda de aviões militares para a Roménia, num contrato cujo valor ascende a cerca de 180 milhões de euros. »

(Correio da Manhã)

Se o CM sabe, o jornalismo de causas também sabe, mas é preciso continuar a soprar o balão de oxigénio da geringonça. Sem os 180 milhões dos F16 os 0,8% do crescimento em cadeia no 3.º trimestre teriam sido pouco mais de metade.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (84) – Fazendo o lugar do outro

Este é provavelmente o último episódio de uma longa série.

«Athènes compte sur Obama pour convaincre l’Allemagne d’alléger sa dette»


Enquanto isso, numa outra galáxia:

«Puerto Rico Bonds Are Collapsing

With all eyes focused on Greek ATM lines, collapsing Chinese ponzi schemes, and European bank implosions, one could be forgiven for forgetting about another crisis occurring closer to home. As we detailed here, Puerto Rico is now "in a death spiral" and PR bonds are collapsing this morning...»

CASE STUDY: Caixa, uma demonstração de que é possível ter o pior de dois mundos

Podia ser a Caixa, mas é uma mãe Opussum,
uma espécie de gambá da família Didelphidae 
O préstimo do banco público chamado Caixa tem sido financiar os elefantes brancos do regime, financiar os projectos inviáveis dos amigos do regime, proporcionar tenças aos amigos do regime e dar emprego aos amigos dos amigos do regime. Pontualmente, tem servido para controlar as empresas que não são consideradas amigas do regime. Para ser possível tudo isso, são extorquidos regularmente os fundos necessários aos sujeitos passivos. Da próxima vez serão 5 mil milhões de euros ou, grosso modo, o equivalente a 2,7%  do PIB, ao défice anual do OE ou a 40% das receitas de IRS.

Desta vez, dizem-nos, vai ser diferente. Irá? Para começar o processo de nomeação da administração está de facto a ser diferente. No passado, os dois partidos do então chamado arco de governação, ou seja PS e PSD, entendiam-se para nomear alternadamente um dos seus para presidente, compondo o resto da administração com mais gente «de confiança».

Desta vez, o processo de nomeação, que decorre há mais de 6 meses e pode terminar com a demissão de alguns ou todos os nomeados, já envolveu o presidente Marcelo, o primeiro-ministro Costa, vários ministros e secretários de Estado, dirigentes dos partidos da geringonça – o novo arco da governação – e até da oposição.

Devemos reconhecer que até ao momento está a ser diferente. A geringonça está a demonstrar que é possível fazer coexistir os vícios públicos com os privados.

[A pretexto do texto «Uma lição cruel de política a Centeno e a Domingues» de Bruno Faria Lopes no jornal negócios]

Títulos inspirados (63) - Uma especialidade do semanário de referência

Expresso Diário de ontem

Um outro título de Fevereiro de 2011 que podemos voltar a ver

Aditamento:

A notícia de ontem do Expresso Diário celebra uma taxa de anual de crescimento do PIB no 3.º trimestre de 1,6%. Alguém se lembra da celebração do Expresso do Destaque do INE de 14 de Fevereiro de 2014?

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (10)

Outros excertos.

Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«Quando se raspa um socialista acaba sempre por se encontrar um tiranete. No meio do espectáculo pouco edificante das prisões de Sócrates, ninguém perdeu tempo a discutir, ou a investigar, o papel do cavalheiro na imprensa e na televisão. Mas nem Mário Soares, no fim, escapou à regra de interferir na política editorial do Diário de Notícias de Mário Mesquita. Para gente tão penetrada da sua virtude e da sua razão a crítica é fundamentalmente um escândalo, que em democracia tem de se aturar - com conta, peso e medida. Os processos para manter a canalha do jornalismo na ordem ou, pelo menos, numa ordem tolerável, são vários: a compra, a rápida promoção para a vacuidade, urna ou outra ameaça e, se nada disto der resultado, a calúnia e o despedimento das cabecinhas que persistem em "pensar mal". »

Raspar um socialista…, 19-09-2015

14/11/2016

DIÁRIO DE BORDO: Devo ficar preocupado?

Os escritos dos jornalistas de causas (quase todas as criaturas que escrevem nos jornais portugueses) prenunciam o Apocalipse que se seguirá à mudança de residência de Trump para a Casa Branca.

Devo estar preocupado, eu, que se fosse americano, não teria votado no homem? Não tenho a certeza, porque as competências preditivas desta gente são miseráveis. Não me refiro apenas às eleições americanas, mas quase tudo o que previram e, até onde a minha memória alcança, não acertaram uma. Por exemplo, não previram o resgate em 2011, previram o Apocalipse com o governo PSD-CDS, previram o sucesso do Syriza na Grécia, não previram a vitória eleitoral da coligação, andam a cantar loas às manobras de sobrevivência de Costa e hosanas aos sucessos da geringonça com o tsunami a caminho.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (57)

Outras avarias da geringonça.

Lembram-se do IMI Mortágua, aquele que iria retirar aos ricos para dar aos pobres? Dependendo dos esquemas adoptados um grupo económico pode chegar até a não pagar IMI nenhum (ver aqui como).

A semana que passou foi de grande excitação no seio da geringonça com a Web Summit. Como escreveu o Impertinente, foi «excelente termos 50 mil forasteiros, com um razoável poder de compra, durante quatro dias em Lisboa a lotarem os hotéis, os restaurantes e os bares e a gastarem umas dezenas de milhões de euros». Quanto ao resto é do domínio da ilusão sempre presente nas mentes lusitanas de que todos os nossos problemas, neste caso o atraso tecnológico e a falta de ímpetos inovadores, se resolve com quick fixes.

De boas intenções está o inferno cheio (46) – A religião é a política por outros meios? (XVIII)

Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.

«O papa Francisco disse que os comunistas "pensam como os cristãos", numa entrevista publicada esta sexta-feira pelo jornal italiano "La Repubblica".

"São os comunistas que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade em que os pobres, os débeis e os excluídos é que decidem. Não os demagogos, os Barrabás, mas o povo, os pobres, tenham fé em Deus ou não, mas são eles que temos de ajudar a obter a igualdade e a liberdade", afirmou o papa, na entrevista.»

Li o Expresso e, desconfiando do jornalismo de causas, corri a La Reppublica para confirmar que o papa tinha dito isso. E disse mesmo.

Como é possível, um católico, o chefe da igreja católica, de uma penada absolver uma nomenclatura de assassinos, demagogos e Barrabás e os milhões de comunistas seguidores de uma doutrina em nome da qual num século foram suprimidas as liberdades a metade da humanidade em duas dúzias de regimes despóticos, foram presos, torturados e assassinados uma centena de milhões de seres humanos, muitos deles católicos?

13/11/2016

ARTIGO DEFUNTO: Fazendo o frete

Uma espécie de complemento deste outro ARTIGO DEFUNTO, que poderia ter sido treslido.

Se acreditarmos em Rui Rio na entrevista ao DN (por sinal um boa entrevista) a campanha, de que o Acção Socialista Expresso está a ser o expoente máximo, para levar a criatura num andor até à liderança do PSD tem como móbil entropiá-lo a ele, Rui Rio. A mim, parece-me mais provável que a campanha vise entropiar Passos Coelho.

(Eu sei que “entropiar” – de entropia, medida da desordem de um sistema - não existe como verbo. Ainda.)

A mentira como política oficial (27) - «Atirar areia para a cara das pessoas» (III)

Continuação de (I) e (II)

Perguntava-me como António Domingues, baseado apenas na informação pública, concluiu que a Caixa precisaria de 5 mil milhões de euros quando o relatório de 2015 da anterior administração, certificado pelo ROC Deloitte, não refere qualquer necessidade de capital e a administração cessante depois de um mandato de 5 anos, com acesso a toda a informação que Domingues não terá tão cedo, informou a tutela que bastariam 800 a 1.200 mil milhões de euros.

Na verdade, é uma pergunta retórica, com duas explicações mais prováveis. Uma, a de que Domingues se quis precatar, aproveitando o estado de necessidade da geringonça, para a pressionar a extorquir aos sujeitos passivos uma almofada de capital, uma espécie de seguro contra as inevitáveis derrapagens. É possível, mas Domingues não é parvo e percebe que isso, só por si, teria uma consequência e vários riscos. Ceteris paribus (uma premissa que no mundo real só é realista no Estado), a consequência é que essa almofada manteria a rentabilidade dos capitais próprios nas profundezas do inferno onde se encontra. Um dos riscos é que com um excesso de capital ficariam insuportáveis as pressões para financiar aos projectos do regime - os mesmos que deixaram a Caixa onde ela se encontra, com a ajuda do papel atribuído pelos governos à Caixa de albergaria dos utentes da vaca marsupial pública.

Fonte: «O futuro da Caixa», Avelino de Jesus no negócios
A outra explicação adere melhor aos factos conhecidos e pode coexistir com a primeira, minimizando os seus riscos. Trata-se da redução de efectivos que, segundo Domingues já garantiu, será por reformas antecipadas e acordos de rescisão. Tudo por junto, não vai ser barato aliviar a Caixa dos dois mil utentes previstos, com as generosas tenças de que desfrutam (veja-se o quadro acima). Se receberem dois meses por cada ano e tiverem em média 30 anos de antiguidade a factura não ficará longe de mil milhões de euros.

Para quem não faça a menor ideia da qualidade dos quadros da Caixa, talvez deva saber que os seus juristas deram a Domingues um parecer no sentido de os administradores não estarem obrigados a divulgar os rendimentos e património porque a lei em causa de 1983 se refere a empresas «participadas pelo Estado» e a Caixa não é participada. Então é o quê? É detida a 100%. É caso para dizer que os juristas da Caixa não são incompetentes porque são 100% incompetentes.

Aditamento:

Não resisto a citar a verrina de Vasco Pulido Valente que acabei de ler depois de ter escrito o post. Aqui vai.

«Mas como querem estes senhores que os levem a sério, quando um governo normal e um Presidente normal teriam tratado do assunto em meia dúzia de dias, sem desentendimentos, sem conflitos, sem a exaltada polémica que por aí consola e alimenta os comentadores? Que o problema de nomear um nova administração para a Caixa Geral de Depósitos sirva de causa e de pretexto para pôr o país num estado de indignação geral (quer a favor de Domingues, quer a favor da lei) é um sintoma da nossa incapacidade nacional e da crescente deterioração do regime em que infelizmente vivemos.»

DIÁRIO DE BORDO: Também já tinha tido essa dúvida cartesiana

«Como é que um povo tão maduramente democrata e superiormente inteligente ao ponto de ter eleito Obama há oito e quatro anos, afinal é tão estúpido que pode ser capaz de elevar Trump a Presidente.»

Mário Ramires no jornal SOL

12/11/2016

Títulos inspirados (62) - Excesso de zelo

«Quem teve pelo menos uma pensão actualizada por Passos será excluído do aumento extra»

Percebe-se a boa intenção da jornalista de serviço no Público. Contudo, o excesso de zelo acaba por prejudicar a imagem da geringonça precisamente junto de uma parte da sua clientela. 

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (9)

Outros excertos.

Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«Só que tudo isto, que serve para sublinhar o óbvio, não esclarece a substância do anacronismo, que uma extrema-esquerda com 20 por cento do voto manifestamente é.

O isolamento de Portugal esclarece melhor essa estranha ressurreição. Ao contrário da Europa, a classe média indígena (a que pertence o que resta da velha classe operária) foi poupada à longa desilusão com o "socialismo real" e com as múltiplas variedades de marxismo-leninismo que o pretenderam corrigir e substituir. A Ditadura não permitiu que se visse a subserviência do PC à estratégia global da URSS, ou, por exemplo, que se vivesse Budapeste e Praga como se viveu em França ou em Itália. A brevidade do PREC salvou muita fantasia. A falência filosófica e doutrinal da "grande narrativa" da esquerda quase não se sentiu em Lisboa. O PC português (para não falar do Bloco, mais tardio e periférico) não sofreu o descrédito do PC italiano ou espanhol, nem fugiu, escorraçado e melancólico, para o refúgio patético do eurocomunismo. É nesse vácuo histórico, na ausência dessa decisiva memória, que assentam e alastram os 20 por cento de Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa.»

A extrema-esquerda, 11-07-2009

11/11/2016

SERVIÇO PÚBLICO: Marx revisto pelo politicamente correcto (o marxismo cultural)

«Primeiro foi o Brexit, agora Trump. De cada vez, vemos os vigilantes da correcção política recorrer ao mesmo truque: inventar uma classe que no país em causa represente, segundo eles, um estado primitivo da humanidade, e atribuir a essa classe toda a responsabilidade pelo resultado. Quer no Reino Unido, quer nos EUA, esse papel coube aos “brancos pobres” e às “classes trabalhadoras”. Teriam sido eles, habitando paragens abandonadas pelo progresso (o norte de Inglaterra ou o “rust belt” americano), que votaram Brexit ou que elegeram Trump. Mas porquê esta fixação nos “brancos pobres”, quando sabemos que, por exemplo, a maioria dos brancos qualificados também votou em Trump, assim como 3 em cada 10 “latinos”?»

Continue a ler «Porque é que os pobres votam Trump?», Rui Ramos no Observador

Bons exemplos (115) - Crime e castigo

Uma jornalista da revista e a própria Rolling Stone, uma conhecida e influente revista americana de música e cultura popular e mais tarde também de política, fundada em S. Francisco nos sixties e enquadrada no movimento hippie, foram condenadas por difamação a pagar indemnização 2 milhões (a jornalista) e 1 milhão (a revista) de dólares à Universidade de Virgínia por terem escrito e publicado, com pseudónimos e sem verificar as fontes, uma notícia falsa sobre uma violação pretensamente ocorrida no campus da universidade.

Um excelente exemplo de como se deve responsabilizar os jornalistas e os mídia pelo que fazem, como acontece com todos os outros profissionais e as empresas para as quais trabalham.

DIÁRIO DE BORDO: Pensamentos da noite

A democracia não é um resultado, é um processo.

Não, o mundo tal como o conhecemos não vai acabar. Pelo menos para já.

A política não está pior do que quando éramos jovens. Apenas hoje sabemos mais dos políticos. Nenhum líder político do passado, por maior que tenha sido o seu prestígio, resistiria a exporem-lhe as cuecas sujas na 1.ª página.

10/11/2016

Curtas e grossas (40) - Trump ganhou, os mídia americanos e europeus (e as empresas de sondagem) perderam

«Hillary Clinton não foi a maior derrotada na madrugada de quarta-feira. À frente dela estão as empresas de sondagens. E à frente das empresas de sondagens estão os jornais, as televisões (a certa altura, até a Fox News se afastou de Trump), e basicamente todos nós, que trabalhamos na comunicação social. 

(...)  Os jornalistas gostam de olhar para si próprios como um contrapoder, mas frequentam os mesmos restaurantes dos políticos, vivem no mesmo ecossistema, usam os mesmos talheres. E dentro desse quadro mental – que também é o meu – não havia forma de Donald Trump vencer as eleições depois de tudo aquilo que disse e fez.

(...) O problema é que 50% dos eleitores americanos não só estavam fora desse quadro mental liberal, qualificado e endinheirado, como o odiavam profundamente. Trump nunca se cansou de repetir que o sistema estava viciado e que a comunicação social comungava do vício. A mensagem passou: 60 milhões de americanos ignoraram olimpicamente tudo o que viram, leram e ouviram ao longo de ano e meio. Não admira o ar de defunto da comunicação social. No dia 8 de Novembro de 2016 ocorreu uma espectacular derrota do jornalismo.»

Do “fuck it!” ao “what the fuck?!?”, João Miguel Tavares no Público