Perguntava-me como António Domingues, baseado apenas na informação pública, concluiu que a Caixa precisaria de 5 mil milhões de euros quando o relatório de 2015 da anterior administração, certificado pelo ROC Deloitte, não refere qualquer necessidade de capital e a administração cessante depois de um mandato de 5 anos, com acesso a toda a informação que Domingues não terá tão cedo, informou a tutela que bastariam 800 a 1.200 mil milhões de euros.
Na verdade, é uma pergunta retórica, com duas explicações mais prováveis. Uma, a de que Domingues se quis precatar, aproveitando o estado de necessidade da geringonça, para a pressionar a extorquir aos sujeitos passivos uma almofada de capital, uma espécie de seguro contra as inevitáveis derrapagens. É possível, mas Domingues não é parvo e percebe que isso, só por si, teria uma consequência e vários riscos. Ceteris paribus (uma premissa que no mundo real só é realista no Estado), a consequência é que essa almofada manteria a rentabilidade dos capitais próprios nas profundezas do inferno onde se encontra. Um dos riscos é que com um excesso de capital ficariam insuportáveis as pressões para financiar aos projectos do regime - os mesmos que deixaram a Caixa onde ela se encontra, com a ajuda do papel atribuído pelos governos à Caixa de albergaria dos utentes da vaca marsupial pública.
Fonte: «O futuro da Caixa», Avelino de Jesus no negócios |
Para quem não faça a menor ideia da qualidade dos quadros da Caixa, talvez deva saber que os seus juristas deram a Domingues um parecer no sentido de os administradores não estarem obrigados a divulgar os rendimentos e património porque a lei em causa de 1983 se refere a empresas «participadas pelo Estado» e a Caixa não é participada. Então é o quê? É detida a 100%. É caso para dizer que os juristas da Caixa não são incompetentes porque são 100% incompetentes.
Aditamento:
Não resisto a citar a verrina de Vasco Pulido Valente que acabei de ler depois de ter escrito o post. Aqui vai.
«Mas como querem estes senhores que os levem a sério, quando um governo normal e um Presidente normal teriam tratado do assunto em meia dúzia de dias, sem desentendimentos, sem conflitos, sem a exaltada polémica que por aí consola e alimenta os comentadores? Que o problema de nomear um nova administração para a Caixa Geral de Depósitos sirva de causa e de pretexto para pôr o país num estado de indignação geral (quer a favor de Domingues, quer a favor da lei) é um sintoma da nossa incapacidade nacional e da crescente deterioração do regime em que infelizmente vivemos.»
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