Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.
«(..) como se na mão-de-obra "qualificada" estivesse o fundamento de todo o progresso.
Não está e há muito tempo que é público e notório que não está. Um país não enriquece porque se educa. Pelo contrário, na maior parte dos casos, trata de se educar, quando enriqueceu. Basta pensar, por exemplo, que nunca ninguém promoveu a literacia por um motivo primariamente económico. Os judeus ensinavam a ler as crianças para que elas lessem o Talmude. Os protestantes, incluindo os da Inglaterra (e da Escócia), para que elas lessem a Bíblia. Os prussianos, para que lessem ordens de batalha (daí o mito universal de que a escola ganhara a guerra franco-prussiana). E os próprios franceses encheram a França de escolas, não para a "desenvolver" (nem sabiam o que isso era), mas para arrancara população às trevas do catolicismo. O Sul da Europa ficou à pane deste esforço, porque na Igreja se falava latim e os pais queriam os filhos para trabalhar.
A tecnologia moderna convenceu infelizmente algumas pessoas de cabeça fraca que uma licenciatura (ou um grau académico superior) abria as portas para um emprego estável e para uma vida de classe média. Claro que a frequência de uma universidade é um bem em si mesmo. Só que já não é a garantia de nada. Em economias como a americana, há emprego para pessoas com altas qualificações (não forçosamente técnicas) e para pessoas com baixas qualificações. No meio há muito pouco emprego e muito mal pago. A informática eliminou milhões de lugares e a "deslocalização" do trabalho outros milhões. Para o resto, o 12.º ano chega e às vezes, sobra. Os jovens deste 11 de Março são vítimas de um Estado que lhes mentiu e que os roubou e agora, quando eles se queixam, responde, como o sr. Sócrates, com o silêncio ou com insultos.»
História de um crime, 12-03-2011
Dedicatória
Este post é dedicado a António Costa, primeiro-ministro, que produziu ontem o seguinte juízo:«Não temos licenciados e mestres a mais. Temos é emprego a menos para doutores, mestres e licenciados. É essa a transformação de mentalidade e reorientação do nosso esforço produtivo que temos que fazer para conseguir vencer»,Vale a pena ler alguns comentários dos leitores do jornal i ao artigo onde é citado o profundíssimo pensamento.
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