31/03/2015

Dúvidas (86) - Separados à nascença? Porque não fazem uma coligação?

Há dois anos, o então líder do PS, António José Seguro, pretendia levar ao Congresso do PS a sua moção «Portugal tem Futuro» onde defendia uma «política europeia de progressiva mutualização dos sistemas de apoio ao emprego e de combate ao desemprego, em particular do subsídio de desemprego».

A coisa morreu logo ali porque Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, arrumou o assunto dizendo que o PS não deveria fazer promessas inexequíveis, como a mutualização do seguro de desemprego ou os eurobonds.
Não ser exequível já não seria pouco, mas além disso teria o mesmo inconveniente de quase todas as mutualizações europeias: em potência um meio de fazer pagar as políticas erradas pelos que têm as políticas certas, ou menos erradas, vá lá. Se, além do financiamento, ainda se quiser harmonizar as regras, então a coisa passaria a ser um desastre enfermando da mesma doença da moeda única: aplicar uma receita única a 28 economias com problemas distintos e, pior do que tudo, mesmo quando tem problemas parecidos, com causas bastante diferentes.

Morto politicamente Seguro, o governo PSD-CDS dito «neoliberal» agarrou a bandeira da mutualização do subsídio de desemprego e incluiu-a à calada num conjunto de propostas que vai apresentar ao Conselho Europeu de Junho. Digo à calada porque a coisa segundo o Expresso foi divulgada pela Reuters e publicada pelo New York Times.

ARTIGO DEFUNTO: Metendo os pés pelas mãos


A propósito da publicação pelo INE do «Procedimento dos Défices Excessivos (1ª Notificação de 2015) – 2015», que, note-se, tem uma única referência ao impacto da banca (a saber: que a capitalização do Novo Banco por agora não tem nenhum impacto, como se sabe), o DN espalha-se em dissertações delirantes sobre «o custo suportado pelos contribuintes com apoios ao sector financeiro e bancário, diretamente refletido nos sucessivos défices orçamentais desde 2008

Na dissertação, o jornalista confunde as ajudas de capital aos bancos, nomeadamente BCP e BPI (este já restituiu a totalidade da ajuda), que não têm impacto no défice e até foram um bom negócio para o Estado que recebeu juros muito acima dos correntes, com o aumento de capital da CGD e, pior de tudo, confunde aquelas ajudas e a injecção de capital na CGD com a torrefacção que José Sócrates pela mão de Teixeira dos Santos deixou montada para queimar dinheiro no BPN fazendo uma nacionalização do BPN que, nas palavras de Teixeira dos Santos, «não custou nada» e o nada vai já em 7 mil milhões.

Com estes delírios, o jornalista não apenas meteu na mesma caixa coisas completamente diferentes como, de caminho, tentou limpar a caderneta do governo que nos conduziu à bancarrota. Leva a medalha «preso 44».

30/03/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XVII) – Chutando a bola para a frente

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

«Greece Can No Longer Kick the Can Down the Road» titulou o Money Beat, um bom sumário do que pensam os 5 economistas que cita. Outro título sugestivo do WSL desmonta uma falácia a que o governo Syriza-Anel tem recorrido: «Greece’s Fate Lies in Athens’ Hands, Not Berlin’s».

Quem não parece preocupado é o governo grego que até esta manhã não tinha apresentado as propostas de reformas às «instituições» anteriormente conhecidas como troika, para além, supõe-se, dos documentos escritos em grego em telemóveis.

E, no entanto, o fundo do cofre está à vista.

Fonte: The Economist Espresso

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (34) – Conquistas de Abril

«A grande conquista de Abril foi elevar os heróis populares, como Eusébio e Amália, a heróis nacionais e os caciques locais, como Sócrates, a caudilhos nacionais.» (lido no Portugal Contemporâneo)

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Para tirar os trapinhos qualquer causa é boa, mas há umas melhores que outras (16)

Outros trapinhos tirados.


Levou algum tempo mas o movimento tirar os trapinhos chegou às massas femininas. Até recentemente era a vanguarda da Femen com as suas activistas que «libertavam o mamilo». Não mais. Graças às redes sociais chegou a «revolução» (sim, é essa a palavra) que «começou na Islândia, após uma jovem de 17 anos ter sido criticada no Twitter por participar numa campanha que defende que não deveria haver qualquer diferença entre a imagem de um rapaz em tronco nu e a de uma rapariga. Após o seu caso, a 'hashtag' #FreeTheNipple tornou-se viral e o Twitter está hoje cheio de fotos de mulheres a mostrarem os seus mamilos

Segundo o jornalismo de causas trata-se de «retirar a carga sexual atribuída por muitas culturas aos mamilos femininos». Para quando o movimento para retirar a carga sexual injustamente atribuída aos pénis?

29/03/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XVI) – Prontos para a bancarrota em grego

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Euclid Tsakalotos, ministro-adjunto das relações económicas internacionais, garante que a Grécia «está pronta, caso as coisas não corram bem, para uma rutura».

É bom que estejam prontos porque já saíram dos bancos gregos 7,6 mil milhões em Fevereiro e 20 mil milhões desde o início do ano e as «instituições», anteriormente chamadas de troika, não parecem estar pelos ajustes de libertar o dinheiro contra um documento «demasiado vago, não credível e não escrutinável», «em formato digital através de dispositivos móveis e escritos somente em grego».

ACREDITE SE QUISER: A ferramenta analítica do PS e a criminalidade que desce durante a crise

A ferramenta analítica do PS
Segundo o Expresso, o PS tem um grupo de economistas a trabalhar com uma «ferramenta analítica» que lhe permitiu avaliar que a descida do IVA da restauração de 23% para 13% «pode tonificar [foi esta a criativa expressão do jornalista de serviço] o PIB em mais 0,2%». Bendita «ferramenta analítica» que permitiu às luminárias da ciência triste do PS vislumbrar as virtualidades da redução de impostos. Infelizmente, nem a ferramenta nem os economistas socialistas nos iluminam onde a «ferramenta analítica» irá cortar na despesa pública para compensar as centenas de milhões de imposto perdido.

A ferramenta do PS chega com um atraso de 10 anos. Se tivesse chegado em 2006 talvez tivesse permitido ao governo socialista de então adiar a bancarrota.

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna citado pelo Expresso, apesar da «austeridade» da qual, segundo os manuais da esquerdalhada, deveria resultar o aumento de criminalidade pelos exércitos de proletários esfomeados, em 2014 inexplicavelmente o número de participações de crimes diminuiu de 6,7% e os crimes graves reduziram-se de 5,4%. Diminuíram ainda os roubos a correios (60%), os assaltos a ourivesarias (49%), a bancos (31%) e a residência (13,8%). Só não é inexplicável a redução de 15% dos casos de condução sob o efeito do álcool – a «austeridade» deixou os exércitos de proletários sem dinheiro para comprar briol ou ficaram a curtir as pielas na cama.

28/03/2015

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (81) – O obamismo não sabe escolher os inimigos

Depois de ter pedido formalmente ao Congresso no mês passado para declarar guerra ao grupo terrorista pomposamente autoproclamado Estado Islâmico, dando-lhe uma notoriedade com que o «califa» Abu Bakr al-Baghdadi não sonhou nem nos seus sonhos mais húmidos, Barack Obama assinou uma ordem executiva declarando «emergência nacional» devido à «extraordinary threat to the national security» colocada… pela Venezuela, insuflando assim mais um sopro de vida no chávismo moribundo. Maduro agradeceu e encenou imediatamente uma palhaçada convocando manobras militares com 80 mil tropas e observadores russos, invocando uma «ameaça intervencionista» à soberania da Venezuela.

Citando a Economist, receará Obama «um país com um governo que é incapaz de organizar um fornecimento fiável de papel higiénico, umas forças armadas cujas competências mais conhecidas são golpes de estado, contrabando de petróleo e tráfego de droga e de um presidente que passou a maior parte do mês de Janeiro viajando pelo mundo a pedir dinheiro?»

Quase tão popular como Maduro, o herdeiro de Chávez

A defesa dos centros de decisão nacional (12) – Unintended consequences (III)

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7),  (8), (9), (10) e (11)]


Recordando: a coisa começou com um Manifesto dos 40, seguido pouco depois pelo Compromisso Portugal, fóruns de empresários e gestores que defendiam a manutenção no rectângulo dos chamados centros de decisão nacional. Ainda a tinta das assinaturas dos manifestos e compromissos não tinha secado e a família Vaz Guedes vendia a Somague aos espanhóis da Sacyr Vallehermoso.

Uns anos antes, por volta de 2005, Diogo Vaz Guedes anunciou com pompa e circunstância que haveria de abrir uma dúzia de hotéis nos 12 anos seguintes e para tal criou com António Mexia e Miguel Simões de Almeida a Aquapura. Dez anos depois a Aquapura está num processo de falência, que no newspeak se passou a chamar PER (Processo Especial de Revitalização) com uma dívida de 46 milhões – a quase totalidade detida pelo BES Investimentos, who else?

Outro centro de decisão nacional foi a Ongoing, a quem o Impertinente dedicou inúmeros posts, cujo deus ex machina foi o tio Ricardo do BES. Beneficiária do desnatamento da PT, cúmplice dos crimes que a derrubaram e vítima da sua queda, a Ongoing está ela própria próxima da ruína com uma dívida que se estima em 500 milhões. Os seus criadores – Nuno Vasconcelos e Rafael Mora – tão amigos que eles foram, estão agora desavindos.

E assim continua o fracasso de uma estratégia, muito celebrada por essa variedade do jornalismo de causas que baptizámos jornalismo promocional, assente no conúbio entre o capitalismo de compadres e o complexo político-empresarial socialista.

27/03/2015

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (22) – O mito da deflação (V)

Outras marteladas.

«A Zona Euro, em particular, parece estar em perigo, já que os preços estão a cair pela primeira vez desde 2009. Diz-se que esta deflação é má porque torna ainda mais difícil para os devedores pagarem o que devem - especialmente nas economias problemáticas da periferia da Zona Euro como a Grécia, Irlanda, Itália, Portugal e Espanha.

Mas esse receio é infundado, porque se baseia num mal-entendido. O que importa para a capacidade do serviço da dívida é o rendimento dos devedores, e não o nível geral de preços.

Com os preços do petróleo a cair, o rendimento real das famílias (ajustado pela inflação) deverá aumentar, porque não têm que gastar tanto dinheiro em combustíveis e aquecimento. Preços mais baixos do petróleo facilitam a vida das famílias altamente endividadas nos Estados Unidos ou na periferia da Zona Euro – e não o contrário. A queda dos preços no consumidor deve, portanto, ser vista como um bom sinal.

A maioria das empresas também vai beneficiar de menores custos de energia, melhorando a sua capacidade de pagar as suas dívidas. Isto também é particularmente relevante na periferia da Zona Euro, onde o sector não financeiro acumulou demasiadas dívidas durante o boom de crédito que antecedeu a crise financeira global de 2008. Além disso, embora a maioria das poupanças decorrentes da queda dos custos da energia possam, inicialmente, traduzir-se em maiores lucros, ao longo do tempo a concorrência vai forçar as empresas a transmitir parte desses ganhos excepcionais em forma de preços mais baixos ou salários mais altos.

Esta é outra consequência importante do petróleo barato: preços mais baixos tornam mais difícil calcular o ponto em que a pressão salarial se torna inflacionária. Uma vez que os salários podem aumentar em maior medida sem alimentar a inflação, a Reserva Federal dos Estados Unidos poderia sentir-se inclinada a atrasar a subida dos juros – algo que se espera que aconteça no verão.

As finanças públicas também devem beneficiar da deflação proporcionada por preços mais baixos do petróleo. As receitas estatais dependem do valor da produção nacional, não só do consumo. Embora os preços mais baixos do petróleo deprimam os preços no consumidor, deveriam impulsionar a produção e o PIB global.

Sem grandes variações nos preços das matérias-primas, o índice de preços no consumidor evolui juntamente com o deflator do PIB (o deflator de preços para toda a economia). Mas isso não vai acontecer este ano, porque os preços no consumidor estão a cair, enquanto o deflator do PIB (e o PIB nominal) continua a aumentar. Isso deve proporcionar receitas sólidas aos governos, o que é uma boa notícia para os Estados altamente endividados do mundo industrializado, mas particularmente para a periferia da Zona Euro.

A queda dos preços (no consumidor) na Zona Euro deve ser vista como um desenvolvimento positivo para todos os importadores de energia. A periferia da Zona Euro, em particular, pode esperar uma combinação ideal de taxas de juros baixas, uma taxa de câmbio favorável do euro e um aumento dos rendimentos reais como resultado do petróleo barato. Num ambiente deflacionário, os preços mais baixos do petróleo dificultam a tarefa do Banco Central Europeu de alcançar a sua meta de inflação próxima de 2%. Na realidade, os preços mais baixos do petróleo representam um benefício para a Europa - especialmente para os países que enfrentam maiores dificuldades.»


Excerto de «Porque a deflação é boa para a Europa», Daniel Gros no jornal de negócios

26/03/2015

Dúvidas (85) - «Caro porteiro Lello: não dá para gerir a clientela com a boca fechada?»

«Todos os partidos têm o seu porteiro de discoteca, e o do PS chama-se José Lello. A sua função é controlar a clientela, actividade que pratica há décadas com muita alegria e evidentes proveitos, recompensando quem se porta bem e dispensando uns carolos a quem se porta mal. Desta vez, a vítima foi Henrique Neto, um dos raríssimos socialistas que não embarcaram na aventura socrática e que nunca se cansaram de avisar quem era o senhor engenheiro técnico e para onde ele estava a conduzir o país.

Confrontado com o anúncio da candidatura de Neto à Presidência da República, José Lello decidiu chamar-lhe o “Beppe Grillo português”, o que faz tanto sentido quanto Batatinha acusar Henrique Neto de ser um palhaço

«O irmão Lello», João Miguel Tavares no Público

DIÁRIO DE BORDO: O Estado Sucial é uma espécie de tentativa de ter sol na eira e chuva no nabal

«The inherent vice of capitalism is the unequal sharing of blessings; the inherent virtue of socialism is the equal sharing of miseries».

Winston Churchill

CASE STUDY: O homem providencial para o Estado Previdência (11)

(Outros feitos do homem providencial)

Adicionalmente às promessas anteriores, Carlos César, o homem de Costa na presidência do PS, prometeu que quando o ungido chegar a S. Bento os clientes do BES serão ressarcidos «na íntegra das aplicações que eles fizeram». (*)

Deixando antever o que fará se levado ao colo até S. Bento pelos amantes do Estado Sucial, as corporações e os ressabiados do regime, António Costa deixou na câmara de Lisboa uma derrama de 1,5% como adicional ao IRC das empresas com sede em Lisboa (simplesmente a maioria das empresas que pagam IRC e a maioria deste). É a taxa máxima e nem sequer tem uma taxa reduzida, ao contrário de uma parte significativa das câmaras.

Eis aqui, portanto, prenunciado o paradigma do que será a governação socialista se os eleitores distraidamente lhe derem a vitória nas próximas legislativas: aumenta-se a despesa pública e aumentam-se os impostos.

(*) Segundo a estimativa citada pelo Expresso, a «íntegra» a que se refere Carlos César do papel comercial emitido pelas empresas do GES pode atingir 6 mil milhões de euros (6.000.000.000 €) isto é 3,4% do PIB de 2014 ou seja mais do que défice do OE previsto pelo governo para 2015. É, sem dúvida, mais um exemplo do trilema de Žižek.

25/03/2015

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (104) – Há as listas VIP do PS e as outras

«António Costa, número dois do governo que em 2007 alterou o Código de Processo Penal e criou a lista VIP [das entidades – o Presidente da República, o primeiro-ministro e o presidente da Assembleia da República – em que o acompanhamento das escutas telefónicas é da competência exclusiva ao presidente do STJ], é a mesma pessoa que, não só se indigna com a "lista VIP" do Fisco - porque esta "mina confiança dos cidadãos" nos organismos públicos... - como ainda suspeita da existência de "fortes indícios criminais" no caso...»

Com jornalismo assim, quem precisa de censura?... 

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: As causas das coisas e as consequências das coisas


«As sociedades empobrecem porque o anterior efeito de riqueza, financiado com dívida, era falso. A austeridade ou o empobrecimento não são políticas, são efeitos das políticas que corrigem desequilíbrios que não se podem manter – e que nunca deveriam ter sido tolerados. Mudar de governo é possível, mudar de política não é possível

Joaquim Aguiar no jornal negócios

24/03/2015

¿Por qué no te callas? (15) – É melhor ficar calado e deixar as pessoas pensarem que é idiota do que falar e acabar com a dúvida


«Durante a sessão parlamentar [no parlamento europeu], Marisa Matias teceu duras críticas ao BCE, acusando-o de "chantagear" a Grécia. "Deixe-me discordar de praticamente tudo o que disse", realçou Draghi, apontando para os 104 mil milhões que o BCE tem expostos à dívida grega, o equivalente a 65% do PIB da Grécia. "Esta é a maior exposição na zona euro. Que tipo de chantagem é esta? Julgue você mesma", perguntou-lhe.» (Expresso)

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XV) – A hermenêutica das epístolas de Alexis e Yanis

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

É cada vez mais indispensável uma paciência de santo para aturar o casal Tsipras-Varoufakis. Reuniões psicodramáticas vão a caminho da dúzia. Epístolas dirigidas às luminárias europeias já são quatro: 18 de Fevereiro, 23 de Fevereiro, 5 de Março e 15 de Março.

Em matéria epistolar os rendilhados retóricos são tão elaborados que é indispensável um guião para os interpretar. É o que nos oferece o Financial Times em 5-densas páginas-5 que começam por uma advertência:

«For those who are having a hard time following every twist an turn in Tsipras’ dispute with his bailout lenders, the letter is filled with a lot of jargon and references to multiple previous exchanges of letters, which can be confusing even to a Greek crisis veteran. For that reason, below is an annotated version of the Tsipras letter, which is our modest attempt to explain its intricacies to the uninitiated.»

e terminam com um lamento: «This isn’t going to get any easier for either of us».

Não vai ser fácil para ninguém. Pela minha parte, não estou optimista quanto à eventual saída da Grécia da Zona Euro - isso seria uma bênção para todos e em especial para os portugueses. Pelo contrário, é possível que a Grécia consiga com as suas chantagens e a preciosa ajuda da geoestratégia de Obama continuar na Zona Euro e vir a ser para a União Europeia o que Paquistão é para os Estados Unidos, mas com os talibãs no governo.

23/03/2015

SERVIÇO PÚBLICO: Os maiores défices são de memória e de vergonha

Com inesperada falta de jeito Maria Luís Albuquerque disse há dias «temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado, nós podemos estar tranquilamente durante um período prolongado sem precisar de ir ao mercado, satisfazendo todos os nossos compromissos».

Trilema de Žižek
Com esperada falta de escrúpulos, a esquerdalhada indignou-se com a constatação de Maria Luís Albuquerque. Entre os indignados encontra-se, como era de esperar, António Costa que recorreu a uma retórica tão demagógica usando desempregados, pobrezinhos e criancinhas que não hesito em classificá-la com um exemplo clássico do trilema de Žižek representado aqui ao lado.

Com um pouco menos de falta de jeito, Passos Coelho respondeu à indignação assim: «agora há quem fique ofendido porque a ministra das Finanças disse que tínhamos os cofres cheios. Deviam ficar ofendidos de saber que quando cá chegámos [ao Governo] os cofres estavam vazios, não havia lá um tostão».

Perante as faltas de jeito e a faltas de escrúpulos é oportuno voltar aos factos e vou por isso republicar parcialmente este post já antigo para recordar o estado da tesouraria deixado pelo preso n.º 44. Quanto ao estado actual da tesouraria é aproximadamente o mesmo do gráfico de há dois anos que...



... confirma que a tesouraria socialista estava à beira da ruptura no final do 1.º trimestre de 2011 e que foi essa iminência que retirou a margem a Teixeira dos Santos para enfiar outra vez o problema para debaixo do tapete, como andava a fazer há muitos meses, e o forçou a encostar José Sócrates às cordas e obrigou este a lançar a toalha ao chão pedindo a intervenção da troika. O Memorandum of Understanding foi negociado (digamos assim para simplificar) em Abril e Maio e é assinado a 17-05-2011. O governo «neoliberal» toma posse a 5 de Junho e a primeira tranche do empréstimo chega nesse mês, escassamente a tempo de cobrir mais de meia dúzia de mil milhões de euros de pagamentos previstos para os quais não havia dinheiro. É a entrada dessa 1.ª tranche que explica o salto no saldo de caixa no final do 2.º trimestre de 2011.

22/03/2015

ACREDITE SE QUISER: Semper idem

«O Senhor Marechal Sir W. Beresford e eu temos repetidamente solicitado aos governantes do país para adoptar medidas de forma a fornecerem as tropas com algum regularidade e para manterem a organização enquanto o exército estivesse acantonado em Rio Maior; estes nossos pedidos não foram atendidos e na altura do avanço do exército as tropas portuguesas não tinha quaisquer provisões nem meios para estas serem fornecidas. Estas tropas estavam para avançar nos terrenos devastados pelo inimigo e é bem verdade que a brigada do General Pack bem como a do Coronel Ashworth não comeram durante quatro dias embora estivessem a marchar constantemente ou a lutarem com o inimigo.

Fui forçado a dar ordens ao Chefe do Serviço de Intendência britânico para fornecer as tropas portuguesas ou então deixá-las morrer de fome e a consequência é que as provisões destinadas às tropas britânicas acabaram e nós teremos de parar até recebermos mais…»

Excerto de uma carta de Arthur Wellesley, 1.º Duque de Wellington escrita no Palácio da Viscondessa do Espinhal na Lousã, hoje hotel Mélia, por volta do dia 17 de Março de 1811, talvez depois de comer o jantar preparado para o general Massena que fugiu precipitadamente.

21/03/2015

Pro memoria (227) – Um episódio mal conhecido do PREC

«Com a classificação de "secreto", o projeto de lei constitucional punia com pena de prisão todos quantos tivessem desempenhado uma longa lista de funções durante os 48 anos de ditadura: desde a instauração, a 28 de maio de 1926, até à sua liquidação, a 25 de abril de 1974. Sem qualquer processo e muito menos julgamento, a prisão prolongar-se-ia "por um a quatro anos", prorrogável por mais dois.

O artigo 12º do projeto elencava os cargos que davam direito à prisão automática de todos os que os tivessem desempenhado: Presidente da República e do Conselho de Ministros; ministro, secretário e subsecretário de Estado; diretor-geral, secretário-geral e inspetor-geral; presidente da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa; conselheiro de Estado; diplomata em representação na NATO, EFTA e ONU; diretor das Casas de Portugal no estrangeiro; governador-geral, governador, secretário-geral e secretário provincial nos territórios ultramarinos; reitor, vice-reitor e secretário da universidade, diretor de faculdade e de institutos científicos, culturais e artísticos do Estado; membro do Conselho Superior Judiciário, procurador-geral da República, magistrado junto dos tribunais plenários, conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas; administrador-delegado por parte do Estado junto de empresas; administrador de institutos de crédito e bancários do Estado; membro dos vários escalões de direção do partido único; comissário nacional da Mocidade Portuguesa, presidente do Movimento Nacional Feminino; diretores de órgãos de comunicação social defensores "do ideário fascista."

Igual pena era extensiva, pelo artigo 22º "a todos" os empresários "que tenham incorrido ou venham a incorrer" em situações de: fraude fiscal; fuga de capitais para o estrangeiro; não cumprimento da legislação laboral "com manifesto prejuízo moral ou material do trabalhador"; corrupção (ou simples tentativa) "de qualquer elemento pertencente ao aparelho estatal"; crimes contra a economia nacional e a saúde pública; "sabotagem da economia nacional por qualquer meio"; "fomento de manobras e práticas divisionistas e de traição entre as classes trabalhadoras"; e "manifesta má-fé no processo de contratação coletiva". Iguais medidas eram aplicáveis "aos trabalhadores e seus representantes" que colaborassem com a entidade patronal nas práticas anteriores

Excerto do texto «Nem a Rússia nem a China nem Cuba foram tão longe», parte do conjunto «Fascistas para a prisão – já!» resultante de um trabalho de investigação de José Pedro Castanheira publicado na Revista do Expresso do dia 14

Felizmente, o projecto em causa, bastante ilustrativo de até onde nos poderia ter levado o PCP e os seus compagnons de route, acabou por ficar esquecido no calor dos acontecimentos, graças também à resistência de alguns democratas que ainda restavam no aparelho gonçalvista em formação que no ano seguinte haveria de levar o PREC à beira da guerra civil.

CASE STUDY: Os conglomerados mistos e a preocupante harmonia dos deputados a esse respeito

De cada vez que os políticos se excitam com uma possível intervenção na economia lembro-me da velha anedota do miúdo que vê na TV um documento sobre cirurgias ao coração e resolve abrir o tórax ao avô que dormitava na cadeira de baloiço com a faca de trinchar. É mais ou menos isso que se pode vir a passar com a recente excitação em S. Bento a propósito caso GES. Leia-se o que a esse respeito escreveu no jornal negócios Avelino de Jesus, um economista impertinente.

«O BE, pela fogosa estrela da comissão de inquérito, propõe alterações legislativas no sentido que os bancos não possam ter participações qualificadas no capital de outras empresas. O PSD - pelo seu deputado arrependido do liberalismo - também avançou que quer apertar o cerco aos conglomerados mistos. O Banco de Portugal e a CMVM já tinham pedido o reforço dos poderes dos reguladores percebendo-se que também visam aquela figura que os incomoda.

Justifica-se tal aversão a esta forma de organização empresarial?

As posições sobre esta questão, que acima refiro, revelam um lamentável desconhecimento sobre as virtualidades do conglomerado misto e - pior ainda - sobre os factores de crescimento da economia portuguesa.

Apesar da crise e da desconfiança que a classe política tende a desenvolver face aos conglomerados mistos, as vantagens destes têm vindo a ser evidenciados pela análise empírica, contrariando o essencial dos pressupostos e mesmo de verdadeiras pulsões que alimentam aquela desconfiança.

Destaco, por falta de espaço, apenas 3 pontos

Continuar a ler aqui.

20/03/2015

Bons exemplos (92) – A troika não passou As instituições não passaram por lá…

Uma redução de 5% da despesa pública em 6 anos com o PIB a crescer, durante uma crise, é obra.

Fonte: The Economist Espresso


PIB a preços constantes (Fonte: Trading Economics)

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XIV) – da falta de dinheiro ao dedo de Varoufakis

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Nem todos parecem felizes com o estado de coisas em Atenas como mostram estas imagens da SIC Notícias dos «protestos de grupos de anarquistas, que resultaram em actos de vandalismo». Estes actos se tivessem tido lugar há 2 meses teriam sido os protestos de cidadãos indignados.

Entretanto, apesar de mais uma injecção de liquidez de 400 milhões do BCE à banca grega, o dinheiro aproxima-se perigosamente do fim, com os bancos a perderem na terça-feira passada quase 400 milhões de euros em depósitos - cerca de cinco vezes mais do que a média dos dias anteriores.

Fatalmente, o apoio popular ao governo Syriza-Anel vai-se perdendo tendo descido de mais de 80% para menos de 60% - é possível enganar toda a gente durante algum tempo mas só é possível enganar alguns durante todo o tempo. (Observador)

Na parte humorística, temos o dedo de Varoufakis que andou para cima e para baixo e finalmente, não obstante o empenhamento do jornalismo de causas a tentar limpar a folha da criatura, parece ter-se confirmado que o homem mandou mesmo f*d#r a Alemanha – ver o explicador do Insurgente sobre «O dedo do Varoufakis».

Para concluir com coisas sérias, compare-se o resultado do show off da dupla Tsipras-Varoufakis em diversos palcos europeus, com versões domésticas a insultar a inteligência dos gregos (de cada vez menos, pelos vistos), com os resultados negociais conseguidos pela Irlanda e por Portugal descritos por Pedro Romano no artigo «As lições dos bons alunos» cuja leitura se recomenda e de onde roubo o quadro seguinte.


Actualização:

Stavros Karagkounis, coordenador político do Syriza na região de Atenas e assessor de Tsipras, falou ontem à Agência Lusa em nome dos povos: «O povo de Portugal, o povo espanhol e os povos do sul da Europa em geral estão do lado do governo grego e os governos de Portugal e de Espanha estão contra o povo grego e contra os povos de Portugal e de Espanha. Porque a política que aplicam é contra os interesses do povo português, espanhol e, em geral, contra o sul da Europa»,

A Agência Lusa a ouvir o apparatchik do Syriza é equivalente à agência de notícias grega ANA ouvir o presidente da distrital de Lisboa do PSD a falar em nome dos povos do Sul da Europa que, segundo ele, não estariam dispostos a pagar as asneiras dos sucessivos dirigentes políticos e da cleptocracia grega.

19/03/2015

ARTIGO DEFUNTO: Os nucleótidos no ADN do Público


A propósito do delirante artigo «TAP: Nascida há 70 anos com liberdade no ADN» escrevi hoje este post onde concluí que no ADN do jornalismo de causas praticado pelo Público encontramos mais facilmente os nucleótidos do PCP do que os nucleótidos da liberdade.

Recebi entretanto dois indignados emails censurando-me por desrespeito por um jornal tão amante da liberdade. Sem mais delongas, dou de barato o amor à liberdade, que me confesso incapaz de medir, mas insisto nos nucleótidos do PCP (ou da família) que, por não muito estranha coincidência, estiveram bem patentes na manipulação das primeiras páginas do Público em dois dias consecutivos, anteontem e ontem a respeito das eleições em Israel e da prisão de José Sócrates, como mostrou jcd no Blasfémias. Ora confira-se aqui e aqui.

Dúvidas (84) - Terão os Estados Unidos uma política externa?

«US political dysfunction is having international implications in terms of its power. By refusing to pay its contribution to the IMF and refusing to agree on voting reforms to give China a bigger say, the US have given China a public relations free hand. Now, the AIIB is not just about the voting shares in the IMF, but it is one part of it and certainly makes it easier for US allies to defy it in that arena.»

Simon Baptist, Chief Economist and Asia Regional Director, EIU.

Sem esquecer o episódio do Bibi a discursar no Congresso sobre um componente essencial da política externa americana a convite do speaker republicano e sem esquecer a carta aberta escrita por vários senadores republicanos lembrando aos aiatolas que um acordo sobre o seu programa nuclear pode ser anulado pelo próximo presidente.

ACREDITE SE QUISER: Foi encontrado o nucleótido da liberdade no ADN da TAP

Já tem vários dias e só agora que me caiu debaixo do olho este título surpreendente do Público (sim, é verdade, ainda me deixo surpreender por este jornal): «TAP: Nascida há 70 anos com liberdade no ADN».

Teria o Público feito o mapeamento do genoma da criatura TAP? Teria lá encontrado liberdade no meio de sequências fascizantes (era o que eu esperava que o Público encontrasse numa criatura criada em 1945 em pleno regime a que costumam chamar fascismo)?

A resposta à minha inquietação encontrei-a logo nas primeiras linhas da peça laudatória: «A TAP é provavelmente a única companhia aérea do mundo cujo fundador é um herói da liberdade … [escreveu] Frederico Delgado Rosa, neto e biógrafo de Humberto Delgado, o General Sem Medo,… [no] texto que assina nas páginas da revista de bordo que este mês está colocada no banco da frente em todos os 77 aviões da TAP, que todas as semanas levantam voo cerca de 2.500 vezes».

Está explicado. Tudo o que temos pensado e escrito aqui no (Im)pertinências sobre a «companhia de bandeira» fica posto em causa porque, afinal, o ácido desoxirribonucleico da TAP tem lá uns nucleótidos de Humberto Delgado. Fica-nos a dúvida se na altura da criação da TAP nos idos de 1945 o «General Sem Medo» já teria expurgado todos os nucleótidos do fascismo até então predominantes, desde 1926 quando participou no golpe de 28 de Maio e em 1941 quando publicou artigos na revista «Ar» de grande simpatia para com o nazismo em que escreveu sobre Hitler
«O ex-cabo, ex-pintor, o homem que não nasceu em leito de renda amolecedor, passará à História como uma revelação genial das possibilidades humanas no campo político, diplomático, social, civil e militar, quando à vontade de um ideal se junta a audácia, a valentia, a virilidade numa palavra
Ou quando foi nomeado em 1944 pelo governo de Salazar Director do Secretariado da Aeronáutica Civil, ou em 1951 e 1952 quando foi procurador à Câmara Corporativa ou quando foi nomeado em 1952 adido militar na embaixada em Washington onde viveu durante cinco anos. É nesse período que a lenda situa a sua conversão à liberdade, a caminho dos 50 anos e após 3 décadas de situacionista emérito - dizem os detractores que a conversão se deve mais a vaidades e ambições insatisfeitas do que a convicções.

É claro que pelo meio, em 1945 e 1946, Delgado criou a TAP e lá deixou nucleótidos não fascistas que trazia escondidos no seu ADN. Nucleótidos que passaram despercebidos até ao atento PCP quando em 1958 Delgado se candidatou a PR, e, talvez por isso, começou por apoiar o anticomunista Cunha Leal, uma relíquia da I República, para finalmente apoiar o compagnon de route Arlindo Vicente e praticamente só depois do assassinato de Delgado, numa manobra típica do tacticismo de Cunhal, o recuperou para o património antifascista.

E assim assistimos, 5 décadas depois, a propósito da «resistência» à privatização da TAP, ao reescrever da história pelo jornalismo de causas em cujo ADN encontramos mais facilmente os nucleótidos do PCP do que os nucleótidos da liberdade.

Fica-me uma dúvida igualmente inquietante: defenderiam os prosélitos com a mesma convicção a manutenção da TAP na esfera do Estado se esta, em vez de ter sido criada pelo «General Sem Medo», tivesse sido criada pelo almirante Henrique Tenreiro?

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia

«Se não houver dois Estados haverá um; e, se só houver um, ele será árabe» disse o escritor israelita Amos Oz, comentando a recusa da solução de dois Estados por Bibi, na véspera do Likud ganhar uma vez mais as eleições.

Porquê? Houari Boumédiène, ministro da Defesa e mais tarde presidente da Argélia, explicou na década de 60 num discurso (salvo erro nas Nações Unidas) que a arma atómica dos árabes era o útero das suas mulheres.

ACREDITE SE QUISER: Como um bastardo sem remissão foi adorado por uma multidão de patetas

Certamente Steve Jobs foi um pequeno génio e talvez não tivesse sido um sacana terminal «ruthless, deceitful, and cruel» como o descreve Alex Gibney no seu documentário «Steve Jobs: Man in the Machine» (ver The Daily Beast), mas há poucas dúvidas que era literalmente um bastard que enganou da forma mais mesquinha o seu amigo e sócio Steve Wozniak, tratou de forma miserável a sua namorada e mãe do seu filho, a quem começou por negar a paternidade, e imensa outra gente com quem se cruzou, incluindo muitos dos que trabalhavam para ele.

Não obstante, Steve Job era idolatrado por uma multidão de patetas e, acrescente-se, muitos dos radicais do género chic abriam para ele uma excepção no ódio aos "capitalistas". Mais ou menos a mesma multidão odiava Bill Gates, que não é nenhum santo, mas face a Jobs mereceria ser beatificado. Entre outras razões porque criou a Fundação Gates a que se dedica full time com a mulher Melinda e a quem doou uma parcela importante da sua fortuna ao mesmo tempo que convenceu umas dezenas de capitalistas malvados – entre eles Warren Buffet, o sage of Omaha - a doarem pelo menos metade das suas fortunas para filantropia.

Enquanto isso, Jobs, profundamente egoísta e egocêntrico, quando voltou do seu exílio à Apple em 1997 suspendeu todos os programas filantrópicos e só mais tarde deixou a Apple doar uns milhões de dólares – trocos – ao Fundo Global para a luta contra a SIDA.

Et pourtant ainda hoje aos mesmos patetas lhes treme a voz quando dele falam, ou a pena quando sobre ele escrevem.

17/03/2015

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (33) – Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

«Os sonhadores (ou os oportunistas) que se julgavam sempre do lado da História e se imaginaram sempre como detentores de uma inquestionável superioridade moral, vêm-se agora em contrapé. E o drama (a desorientação?) atinge também a esquerda moderada.

É que se houve uma esquerda que ajudou a salvar o capitalismo dos seus excessos muito contribuindo para os nossos Estados Providência, aquilo de que hoje mais precisamos é de quem nos ajude a salvar esse mesmo Estado Providência dos excessos de uma esquerda que ainda não parece ter percebido que 2015 não é 1965 e ainda menos 1917.»

«Hollande, Dilma, Syriza, até o Podemos: o que sobra senão a desilusão?», José Manuel Fernandes no Observador

ESTADO DE SÍTIO: «A bolsa VIP do fisco»

Há episódios neste Portugal dos Pequeninos que constituem um paradigma de uma sociedade sufocada por um Estado omnipresente capturado por corporações de todos os tamanhos e feitios.

Há dois meses, durante uma acção de formação na Torre do Tombo, possivelmente um dos lugares mais apropriados para o efeito, o formador informou os formandos que a auditoria interna tinha instalado um sistema chamado «Bolsa VIP» que permitia identificar os funcionários fiscais que acedessem sem autorização a essa lista de contribuintes, que incluiria políticos, alta finança e grandes empresários.

Dois meses depois, os deuses da manobra política saberão porquê, a coisa torna-se pública, o governo nega a existência de tal lista e ninguém acredita, os sindicatos queixam-se que já há processos disciplinares por acesso indevido e queixam-se que assim não se pode trabalhar, bla bla, e há quem acredite.

Se este fosse um país normal, os milhões de sujeitos passivos ter-se-iam levantado como um só sujeito activo exigindo fazer parte dessa «Bolsa VIP”, que é como quem diz qualquer funcionário fiscal que acedesse sem autorização aos dados de qualquer contribuinte deveria ser exemplarmente punido.

Como não é um país normal (ou, vá lá, talvez seja, mas será rançoso), a questão da garantia da confidencialidade dos dados dos cidadãos ficou completamente perdida.

16/03/2015

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Nanny State segundo o governo «neoliberal»

«Se entendi correctamente, o VEM destina-se sobretudo a emigrantes desempregados e investe uma "subvenção não reembolsável" de 10 mil ou 20 mil euros por projecto. 

Na prática, é o seguinte. Um sujeito que, por causa do azar ou da crise, não se safou aqui e, por causa do azar ou da injustiça dos homens, não se safou em nenhuma outra nação reconhecida pela ONU, possui, apesar disso, uma ideia genial. O sujeito contacta o Estado e dá-lhe conta da sua vontade em voltar à pátria a fim de empreender imenso. O Estado avalia a proposta e, em caso positivo, dá-lhe alguns milhares subtraídos aos contribuintes que, sabe Deus como, ainda empreendem por cá. O sujeito VEM e empreende. A ideia genial consuma-se. Suíça ou Angola arrependem-se de desaproveitar o brilhantismo lusitano. O Dr. Lomba sobe a uma comenda presidencial. O sujeito enriquece. Ao contrário do sujeito, o investimento original não regressa - nem ao Estado nem aos contribuintes. Os contribuintes festejam nas ruas. Portugal é grande. O governo também

Alberto Gonçalves no DN

CASE STUDY: A atracção por Belém - a lista dos que não se excluem não pára de crescer (7)

Outras atracções.


Da última vez a lista já tinha 15-criaturas-15:
  • António Sampaio da Nóvoa, uma invenção de Mário Soares, pode ser descartada a todo o momento 
  • Santana Lopes, estava escrito nas estrelas, já se chegou à frente e ao contrário dos outros não esperou pela vaga de fundo - espera que a vaga de fundo vá atrás dele 
  • António Capucho, já se mostrou disponível e para não haver dúvidas declarou que votará no PS
  • Francisco Louçã, o tele-evangelista, não se excluiu 
  • Durão Barroso, nega, mas não resistiria a uma vaga de fundo (ou só talvez mais tarde)
  • António Guterres, diz que está livre 
  • Marcelo Rebelo de Sousa, só será candidato se Cristo descer à terra, mas como já desceu uma vez... 
  • Rui Rio admite candidatar-se se houver «muita gente que desejava mesmo e deposita muita confiança em mim», ou seja espera a famosa vaga de fundo
  • Bagão Félix, um socialista do CDS 
  • Carlos César, um socialista do PS 
  • Jaime Gama, um dos socialistas menos socialista do PS 
  • Carvalho da Silva, um dos ex-comunistas mais socialista e outra das reservas de Mário Soares
  • Marinho e Pinto, um cata ventos socialistas ou outros
  • Manuela Ferreira Leite, proposta por Pedro Adão e Silva, um guru de António Costa, como uma candidata do socialismo orgânico de evolução na continuidade 
  • Paulo Morais, proposta por si próprio como um candidato do Norte orgânico alternativo a Rui Rio.
Dessa lista talvez tenhamos de retirar Durão Barroso e António Guterres - depois de uma década a respirar ares de civilização hesitam a respirar o mofo de Belém.

Esta semana surgiram mais duas candidaturas:
  • Maria de Belém, pelo nome uma espécie de candidata natural e avant la lettre 
  • Luís Amado, mais outro dos socialistas menos socialista, a par de Jaime Gama - ambos, não por acaso, ex-ministros dos Negócios Estrangeiros.

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (4) - A maldição do jornalismo promocional

aqui escrevi sobre a YDreams liderada por António Câmara, empreendedor do ano em 2009 e um dos darlings empresariais do jornalismo de causas económicas. Nessa altura a Ynvisible, a nova empresa do grupo YDreams, acabada de entrar na bolsa de Frankfurt, estava a perder metade do seu valor numa semana.

Voltei a escrever quando já estavam por pagar subsídios de férias e salários e tinha começado a debandada do pessoal. Volto agora a fazê-lo quando, segundo o Expresso, a YDreams está afundada em dívidas de 18 milhões de euros e pediu um plano de revitalização especialO seu promotor António Câmara, até recentemente louvaminhado pelos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, aparece agora relegado para os «baixos» dos «altos e baixos».

É mais um caso em que em vez do venture capitalist se constitui uma coligação constituída pelo governo de serviço, a banca do regime com a Caixa à cabeça, tudo cozinhado pelos lóbis partidários e devidamente promovido pelo jornalismo de causas, que leva ao colo as empresas. Se tem sucesso, o empreendedor vende a empresa em poucos anos, vai viver dos rendimentos e passa a ser convidado para todos os fóruns sobre empreendedorismo e inovação onde é apresentado como um veterano a quem se pede conselho. Se não tem sucesso, é o calvário do costume: antes da débâcle tenta extrair uns dinheiros para os dias maus e, claro, deixa de ser convidado seja para o que for e o jornalismo de causas económicas tenta esquecer o caso e passa para o seguinte.

A YDreams é mais uma das fatalidades nas empresas de sucesso do regime atingida pela maldição do jornalismo promocional. Aqui fica o alerta aos candidatos a empresários do regime para se cuidaram assim que começam a ser falados pelos jornalistas profissionais da promoção, como o famoso Nicolau Santos.

Na fase de zombi em que entrou, a YDreams arrisca-se a ser atingida pelo efeito Lockheed TriStar e transformar-se numa pequena Qimonda que o Expresso (sempre ele) também promoveu em tempos e agora coloca à cabeça da lista dos «campeões dos incentivos» com 123 milhões recebidos de vários programas.

15/03/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XIII) – tudo como dantes, com menos dinheiro e as mesmas mordomias

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Os deputados gregos que não estão nada mal em matéria salarial (conferir no «Study Salary Atlas in the 27 EU countries»), estão a levar tão a sério a luta contra a austeridade que, com excepção de menos de 50, os restantes reclamaram um carro do Estado grego falido. Entre os que recusaram encontra-se a maioria dos 17 deputados do Potami. Entre os que passarão a ter as suas bundinhas transportadas às custas do erário público encontram-se 144 dos 149 deputados do saco de gatos trotskistas, maoístas, comunistas reciclados et al. que dá pelo nome de Syriza.

Para tornar mais divertida a estória só falta confirmar a preferência dos deputados gregos por carros alemães e pelo Lexus, como parece poder inferir-se desta foto.

14/03/2015

Pro memoria (226) – O estalinismo está vivo no jornalismo de causas (Aditamento)

Escrevi neste post que «o New York Times publicou uma foto da marcha da comemoração do 50.º aniversário do Blood Sunday em Selma, Alabama da qual suprimiu George W. Bush que se encontrava na cabeça da manifestação a meia dúzia de metros de Obama.» Isso motivou o seguinte comentário de um leitor:

«Acredito que as fotos ou são foto-montagens, ou tiradas em fases diferentes do percurso. Basta atentar na distribuição dos personagens que fazem a "linha da frente". Se formos pela hipótese de "fase diferente do percurso", Obama, sua gravata, as mãos e a inclinação do corpo são diferentes. O restante pessoal é quase todo diferente. Se cortaram alguém, deve haver dezenas de fotos a prová-lo. Com telemóveis ou pads é canja.»

Na verdade, o NYT não «suprimiu George W. Bush», no sentido de apagar a criatura da foto. Isso fariam os apparatchiks ao serviço do estalinismo que não tinham de enfrentar o contraditório e podiam dar-se ao luxo de uma manipulação grosseira. O NYT fez aquilo que o jornalismo de causas moderno faz: uma manipulação muito mais subtil que adopta os ângulos, enquadramentos e perspectivas mais adequados à sua causa, como o mostra os exemplos de todos os dias nas reportagens das manifestações em que centenas aparentam ser milhares e milhares aparentam ser dezenas ou centenas de milhares.

O que o NYT fez foi que é feito todos os dias nas nossas televisões. Adoptou o enquadramento adequado para mostrar (na primeira página) o que queria mostrar e esconder o que queria esconder, como se pode ver na foto seguinte tirada praticamente no mesmo local e com poucos minutos de diferença.


13/03/2015

Ressabiados do regime (15) - Congresso quê?

«Congresso anti-sistema junta notáveis desalinhados», titula o jornal SOL.

Eu diria mesmo mais, citando MBM no Insurgente: «Anti-sistema!? Eanes foi presidente 10 anos e é um dos “fundadores” do regime. Sampaio da Nóvoa foi reitor de uma das principais universidades. Carvalho da Silva liderou a CGTP, um dos principais pilares da organização corporativa do regime durante anos. Marinho Pinto foi bastonário da Ordem dos Advogados, outro pilar corporativo.»

Lost in translation (231) - Lifestyle radical chic

Ver aqui a coisa em todo o seu esplendor

Não, não é um problema moral. É problema de imagem, porque em política, como dizia o Botas, o que parece é.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (13)

Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», (2), (3), (4), (5), (6), (7) , (8), (9), (10) e (11).

«Ou seja, tudo indica que elogiar os progressos do país num casino cheio de chineses tenha prejudicado mais Costa do que os atrasos de pagamento à Segurança Social prejudicaram Passos Coelho. …

Daqui até ao Outono há mais do que tempo para surgirem notícias que comprometam o PS muito para além de Sócrates. A ser verdade o que anda a ser publicado, não é possível que a manipulação de concursos estatais e o forrobodó das obras públicas possam ter sido realizados sem uma razoável teia de cumplicidades. E se mais suspeitas caírem em cima dos socialistas até às eleições, tudo pode vir a ser posto em causa.

Parte do que se passa com António Costa tem, pois, a ver com a dificuldade de renovação do PS e com uma maior proximidade aos socráticos do que aquela que António José Seguro tinha. Com Costa vieram demasiadas caras antigas, demasiados assessores antigos, demasiada tralha socrática — e o que seria um trunfo em Outubro transformou-se num pesadelo a partir da noite de 21 de Novembro de 2014. O que se passa com António Costa é isto: o peso do passado está a comprometer o seu futuro. E a procissão ainda vai no adro.»

«O que se passa com António Costa?», João Miguel Tavares no Público

Registo com estupefacção (é mentira – já vivo em Portugal há demasiados anos para ficar estupefacto) que um momento chinês quase único de sinceridade de António Costa o tenha aparentemente prejudicado mais do que os múltiplos momentos de insinceridade (este é o meu momento Zen de sucumbir ao politicamente correcto). São as consequências indesejadas da propriedade recursiva dos incentivos errados que leva os políticos a insultar a inteligência/louvar a estupidez (cortar conforme a preferência) dos eleitores prometendo-lhes quimeras na esperança de os eleitores retribuírem elegendo-os para depois os insultarem por não terem cumprido o prometido.

Ressabiados do regime (15) – Rui Rio, uma oportunidade de negócio excelentíssimo

«Rui Rio decide até ao outono se quer ser líder do PSD, Presidente da República ou coisa nenhuma» titulou a Visão, talvez para polir o ego da criatura sem perceber o ridículo do polimento.

Apesar de não ter má ideia da criatura – parece saber a tabuada, o que coloca desde logo num patamar superior ao de muitos políticos, e conseguiu colocar no seu lugar o Alberto João Jardim das Antas – parece-me haver um desvio tão pronunciado entre a ideia que o homem tem de si próprio e o seu presuntivo papel na vida política que me ocorre dizer que com ele se poderia fazer um negócio excelentíssimo: comprá-lo pelo que ele vale e vendê-lo pelo que ele julga que vale.

12/03/2015

SERVIÇO PÚBLICO: O volta-face de Piketty

Afinal, o próprio celebrado Thomas Piketty, autor de «Capital in the 21st Century», um calhamaço com quase 700-páginas-700 que deixou a salivar de excitação Paul Krugman, keynesianos unidos de todo o mundo e a esquerdalhada em massa incluindo economistas, sociólogos, opinion dealers, jornalistas de causas and all that jazz, afinal, dizia eu, e cito Robert Rosenkranz no WSJ, «now in an extraordinary about-face, Mr. Piketty has backtracked, undermining the policy prescriptions many have based on his conclusions. In “About Capital in the 21st Century,” slated for May publication in the American Economic Review but already available online, Mr. Piketty writes that far too much has been read into his thesis».

Para quem, como eu, não tiver ganas de ler as 700-páginas-700 do celebrado calhamaço, recomendo a leitura das mais digeríveis 15 páginas do volta-face «About Capital in the 21st Century», que é afinal um bom exemplo da diferença entre a ciência de causas sem escrúpulos e a ciência de causas com escrúpulos, que é capaz de reconhecer os excessos de tortura da ciência em nome das causas.

Pro memoria (226) – O estalinismo está vivo no jornalismo de causas

«Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado» escreveu em 1948 George Orwell no seu «1984», possivelmente inspirado nas práticas correntes à época na União Soviética de José Estaline de reescrever a história e suprimir nas fotos os caídos em desgraça (a maioria assassinados ou apodrecidos no Gulag) – exemplo: Leon Trotsky desapareceu completamente das fotografias oficiais.

Pois bem, muitas décadas depois, o New York Times publicou uma foto da marcha da comemoração do 50.º aniversário do Blood Sunday em Selma, Alabama da qual suprimiu George W. Bush que se encontrava na cabeça da manifestação a meia dúzia de metros de Obama. Ora compare-se a primeira foto publicada pelo NYT centrada em Obama com a foto seguinte.

Fonte: Telegraph via Insurgente

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XII) – tudo como dantes, mas com menos dinheiro

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Enquanto o dinheiro se vai esgotando, o governo Syriza-Anel, depois de assaltar as reservas de caixa dos fundos de pensões e de entidades do sector público, foi agora a correr ao fundo de recapitalização da banca retirando-lhe 555 milhões de euros antecipando-se à recuperação pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) de 11 mil milhões de euros que só poderão vir a ser usados para recapitalizar os bancos e por autorização expressa do BCE e do FEEF.

Enquanto isso, Panos Kammenos, ministro grego da Defesa e líder do Anel, o partido de extrema-direita coligado o Syriza, ameaçou: «se a Europa nos deixa nesta crise, nós vamos inundá-la de imigrantes, e vai ser ainda pior para Berlim se nessa onda de milhões de imigrantes económicos estiverem também alguns jihadistas do Estado Islâmico».

Se Kammenos com a sua minúscula moca fala grosso, fazendo o contrário do que aconselhou Roosevelt («speak softly and carry a big stick»), o seu colega Varoufakis ao enviar mais esta proposta ao Eurogrupo ignorou outro sábio conselho («if you have nothing to say then keep your mouth shut»).

Proposta que nas suas longas 11 páginas contém inúmeras vacuidades e pelo menos uma reforma que se não fosse apresentada por um governo «amigo» faria relinchar de indignação toda a esquerdalhada - imagine-se um exército de estudantes, donas de casa e turistas pagos à hora, munidos de gravadores e câmaras vídeo, recrutados para caçarem os infractores fiscais.

10/03/2015

Mitos (192) – Herr Nein Wolfgang Schäuble

En août 2013, le philosophe Jürgen Habermas, peu susceptible de sympathie avec les Conservateurs de son pays, saluait en Wolfgang Schäuble « le dernier européen » du cabinet Merkel, il saluait une tribune signée par le ministre et publiée dans plusieurs pays européen et titrée «non à l'Europe allemande.

C'est ensuite un enfant de la culture ouest-allemande de l'après-guerre qui allie un attachement indéfectible à la démocratie libérale en politique à la « culture de la stabilité » en économie. Wolfgang Schäuble déteste les extrêmes en politique, comme la RFA les a toujours abhorrés, elle qui a successivement interdit en 1955 le parti communiste et en 1969 le parti néo-nazi NPD. On se souvient qu'il avait regretté après les élections européennes de mai 2014 qu'une « formation fasciste », le Front national, fût arrivée en tête en France. Il n'a pas hésité, alors que certains politiques de la CDU voulait se rapprocher des Eurosceptiques d'Alternative für Deutschland, de les qualifier de "honte pour l'Allemagne." Et l'on n'a guère besoin d'insister sur ses rapports avec Syriza."

«Wolfgang Schäuble, l'énigmatique européen», Romaric Godin redactor de La Tribune

A superioridade moral imobiliária do socialismo

Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Héron Castilho, Lisboa (José Sócrates); Passy, 16ème, Paris (José Sócrates); Avenida da Liberdade, Lisboa (António Costa); Rua Milharada, Massamá (Pedro Passos Coelho)

09/03/2015

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Há o antes e apesar de e há o durante e por causa de


«Pedro Passos Coelho não se explicou com particular clareza na história dos atrasos à Segurança Social e ao IRS. Porém, acertou se calhar inadvertidamente em cheio quando jurou não ter, "ao contrário de outros", usado o cargo para enriquecer. De facto, há que separar os pecadilhos cometidos por quem não espera mandar nisto e os esquemas elaborados por quem manda. E não se trata apenas da dimensão das falhas: terríveis ou minúsculos, os deslizes que regressam para prejudicar os senhores no poder não são comparáveis aos deslizes que advêm desse mesmo poder e beneficiam os respectivos titulares. A imprevidência não é igual ao abuso. 

 José Sócrates, que enfiou o barrete com esplendor, está detido por suspeita, presumivelmente fundada, de artimanhas complicadas e decorrentes de funções governativas - não por assinar belas moradias na Beira Interior ou concluir licenciaturas ao domingo. Espertezas destas não são um achado jornalístico: são a regra no "meio", aliás confirmada nas notícias que de imediato se espalharam sobre a lisura cívica dos que implícita ou explicitamente desataram a pedir a cabeça do primeiro-ministro, do Dr. Costa (alegadas trapalhadas na sisa) ao Sr. Alegre (reforma de três mil euros por três meses na RDP).»

«Um perfeito político» por ALBERTO GONÇALVES no DN

Se me for permitido, acrescentaria às referidas trapalhadas as várias do Dr. Soares (Macau, prédio da fundação oferecido pelo Júnior, subsídios à fundação and so on), do Dr. Cavaco (acções do SLN), só para me limitar às Mais Altas Figuras do Regime,

ACREDITE SE QUISER: São pobres e muito mal agradecidos

«Quando decorreram já 25 anos desde que os fundos europeus começaram a entrar em Portugal, a soma total de verbas atribuídas ao país é superior à riqueza criada num ano. Desde 1989, três anos depois da adesão à CEE, Portugal recebeu 178 mil milhões de euros da EU», ou seja cerca de 20 milhões por dia. Portugal é o segundo país que mais fundos recebe, proporcionalmente. (Jornal i)

Segundo o Eurobarómetro, citado pelo Expresso, só 38% dos portugueses têm uma imagem positiva da EU, 24% associa-a ao desemprego, 72% vê-a responsável pela austeridade e 62% demasiado burocrática.

Demonstrando que tem todas as condições para ser primeiro-ministro deste país, António Costa também acha que os responsáveis pelas nossas desgraças não são os portugueses, são ELES - é a União Europeia. Pode ler-se aqui o que ele pensa a esse respeito e, já agora, o que eu penso a respeito do que ele pensa.

08/03/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again (7)

O mês passado as vendas de veículos ligeiros aumentaram 31%, tendo sido vendidos cerca de 30 mil veículos nos dois primeiros meses. Segundo as previsões da ACAP as vendas de veículos ligeiros devem atingir 187 mil. Lá se vão uns 2 mil milhões de euros em importações ou 1,1% do PIB.

O que posso dizer sobre isto? Nada que não tenha já dito. Vou por isso repetir-me.

É certo que, com cerca de 4,5 milhões de veículos de passageiros em circulação com uma idade média de quase 12 anos, 187 mil novos veículos por ano são insuficientes para a renovação do parque automóvel que careceria de 400 – 500 mil por ano. Contudo, se por um lado cada novo automóvel significa pelo menos dezena de milhar de euros no saldo da balança comercial, por outro o parque automóvel português é desproporcionado em relação à população e ao poder de compra quando se compara com as médias europeias. É o resultado de incentivos errados desde a adopção do Euro: crédito artificialmente barato e fácil.

Com um parque com a dimensão actual, para se ter uma idade média compatível com a segurança – por exemplo 8 anos – seria necessário importar mais de meio milhão de carros novos todos os anos, ou seja uma quantia astronómica superior ao défice de 2013 ou a 3 anos de exportações da AutoEuropa. Mais um sinal de vivermos acima das nossas posses.

Disso resulta que, não se podendo reproduzir a primeira década prodigiosa deste século, por nos faltar o crédito externo, ou importamos menos automóveis e reduzimos gradualmente o parque automóvel à dimensão da nossa capacidade de o pagar ou aumentamos a exportação de outros bens. Sol na eira e chuva no nabal não será possível.

07/03/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XII) – já estão a assaltar os mealheiros

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Sem acesso aos mercados e com os fundos da troika - perdão instituições – congelados, o vencimento de um empréstimo de 1,5 mil milhões do FMI ainda este mês e a tesouraria seca, o governo Syriza-Anel está a assaltar as reservas de caixa dos fundos de pensões e de entidades do sector público usando operações de recompra de curto prazo através das quais os fundos e essas entidades fazem depósitos com os quais o banco central grego financia a agência de gestão da dívida pública que oferece como colateral obrigações do tesouro grego. (Reuters)

António Costa, um admirador das políticas do governo grego, deveria fazer uma cimeira com Tsipras ou pelo menos enviar um assessor a Atenas para se familiarizar com estas técnicas.

06/03/2015

¿Por qué no te callas? (14) – A arte de dar tiros nos pés

«Houve anos em que entreguei declarações e pagamentos fora de prazo com coima e juros, umas vezes por distracção, outras por falta de dinheiro», disse Passos Coelho ao SOL.

Vem nos manuais: se queres evitar especulação e matar o assunto conta tudo quanto há para contar de uma só vez; dá respostas antes que te façam perguntas e evita o ridículo (que é mortal),

CONDIÇÃO MASCULINA: E porque não vestirem sutiãs?

«Figuras públicas calçam saltos altos em defesa dos direitos da mulher». Parece haver uns quantos homens que não encontram o seu soi-disant self identitário ou, para adaptar a paródia que escrevi há 10 anos para ironizar com as tretas do falecido Prado Coelho,
talvez ocultem o desejo recalcado, o ímpeto reprimido, a vontade semântica de resolver o assunto in situ. Repressão auto-infligida que conduz inescapavelmente ao trespasse simbólico, à ponte desconstruída por um processo identitário do self para a persona intuída da mulher desconhecida. Um self sem salvação, nem ressurreição, nem redenção. Um self pleno de subjectividade racional, singular, patriarcal e eurocêntrica, onde reside, afinal, um foco de tensões entre retrocesso e progresso. Um self polimórfico criador de subjectividades que anseiam ripostar ao centro, desconstruindo-se para o efeito.

A atracção fatal entre a banca do regime e o poder (28) - Já não damos mais para este peditório

[Mais atracções fatais]


«Gestores do BES e ESFG terão praticado 4 atos de gestão ruinosa e desobedecido a 21 ordens do Banco de Portugal» (Observador)

Depois de vai para 6 anos a pregar aos peixinhos escrevendo sobre as trafulhices do deus ex machina e das suas criaturas, agora que até nos cabeleireiros (e nos barbeiros, para não nos acusarem de porcos machistas) se elabora tão abundantemente sobre o BES, o GES, o Ricardo, a Comporta e o diabo a sete, enough is enough.

Os contribuintes do (Im)pertinências resolveram por unanimidade só voltar a escrever sobre este tema quando o tio Ricardo for julgado.