23/03/2015

SERVIÇO PÚBLICO: Os maiores défices são de memória e de vergonha

Com inesperada falta de jeito Maria Luís Albuquerque disse há dias «temos cofres cheios para poder dizer tranquilamente que se alguma coisa acontecer à nossa volta que perturbe o funcionamento do mercado, nós podemos estar tranquilamente durante um período prolongado sem precisar de ir ao mercado, satisfazendo todos os nossos compromissos».

Trilema de Žižek
Com esperada falta de escrúpulos, a esquerdalhada indignou-se com a constatação de Maria Luís Albuquerque. Entre os indignados encontra-se, como era de esperar, António Costa que recorreu a uma retórica tão demagógica usando desempregados, pobrezinhos e criancinhas que não hesito em classificá-la com um exemplo clássico do trilema de Žižek representado aqui ao lado.

Com um pouco menos de falta de jeito, Passos Coelho respondeu à indignação assim: «agora há quem fique ofendido porque a ministra das Finanças disse que tínhamos os cofres cheios. Deviam ficar ofendidos de saber que quando cá chegámos [ao Governo] os cofres estavam vazios, não havia lá um tostão».

Perante as faltas de jeito e a faltas de escrúpulos é oportuno voltar aos factos e vou por isso republicar parcialmente este post já antigo para recordar o estado da tesouraria deixado pelo preso n.º 44. Quanto ao estado actual da tesouraria é aproximadamente o mesmo do gráfico de há dois anos que...



... confirma que a tesouraria socialista estava à beira da ruptura no final do 1.º trimestre de 2011 e que foi essa iminência que retirou a margem a Teixeira dos Santos para enfiar outra vez o problema para debaixo do tapete, como andava a fazer há muitos meses, e o forçou a encostar José Sócrates às cordas e obrigou este a lançar a toalha ao chão pedindo a intervenção da troika. O Memorandum of Understanding foi negociado (digamos assim para simplificar) em Abril e Maio e é assinado a 17-05-2011. O governo «neoliberal» toma posse a 5 de Junho e a primeira tranche do empréstimo chega nesse mês, escassamente a tempo de cobrir mais de meia dúzia de mil milhões de euros de pagamentos previstos para os quais não havia dinheiro. É a entrada dessa 1.ª tranche que explica o salto no saldo de caixa no final do 2.º trimestre de 2011.

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