31/01/2018

SERVIÇO PÚBLICO: Duas visões antagónicas do conceito de liberdade

«Isonomia e liberdade», Ricardo Arroja no jornal Eco.

À laia de teaser:

«A tradição que até aqui retratei é a britânica. É aquela que me empolga e na qual me revejo. Mas há uma outra tradição, igualmente marcante, de liberdade na Europa: a tradição francesa. Ora, foi esta que, infelizmente, mais inspirou a política portuguesa nos últimos séculos. Digo infelizmente porque a tradição francesa de liberdade parte do contrato social de Rousseau que degenera na indeterminável vontade comum, abrindo o caminho a uma visão colectivista e construtivista da sociedade – uma formulação pouco defensora da liberdade. Conforme conclui Hayek, a liberdade francesa é deliberadamente doutrinária, é construída a partir do Estado e dele depende; já a liberdade britânica parte do indivíduo, de princípios geralmente aceites (costumes) e da jurisprudência do direito comum. São duas visões antagónicas do conceito de liberdade.»

Chávez & Chávez, Sucessores (63)

Outras obras do chávismo.


Uma em cada oito crianças venezuelanas sofre de desnutrição aguda. Para a combater e a dos pais dessas crianças, o camarada presidente Maduro inventou há uns tempos o Plano Conejo que consistiu em distribuir gaiolas com crias de coelhos nos bairros pobres, esperando que, comendo os coelhos quase tudo, engordassem com os restos de comida dos seus donos, se multiplicassem e fossem por seu turno comidos pelos donos esfomeados pela abundância que o socialismo bolivariano lhes proporciona. (fonte)

Algum tempo depois, Freddy Bernal, o ministro da "agricultura urbana", ao visitar os donos dos coelhos para medir o sucesso do seu programa, verificou que os coelhos não só não tinham sido comidos mas tinham-lhes sido dados nomes, usavam lacinhos, deitavam-se com os seus donos e foram adoptados como animais de estimação.

Em resposta, o governo lançou uma campanha para convencer os pobres venezuelanos a comerem as suas mascotes altamente nutritivas com «dois quilos e meios de carne com elevado teor de proteína e baixo colesterol», acusando os refractários de desrespeitarem o espírito do chávismo. Parece que a coisa não surtiu efeito.

30/01/2018

Pro memoria (368) – Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade

O aforismo que serve de título a este post é atribuído a Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler. Não sei se é ele o autor, mas está bastante conforme aos seus métodos, indistinguíveis do agitprop soviético inventado nos anos 20, métodos que provavelmente nele se inspiram.

Vem esta evocação a propósito de A mitologia esquerdista do agravamento das desigualdades em Portugal durante o governo PSD-CDS, post que publiquei há três meses e onde citei o paper «The Political Economy of Austerity in Southern Europe». Nessa ocasião republiquei também o post de Junho de 2014 sobre o mito «A crise agravou as desigualdades, teve efeitos mais graves em Portugal e os pobres foram os mais afectados e entre eles os idosos».

É claro que esses posts foram apenas duas gotas de água perdidas no oceano imenso da opinião travestida de factos publicada pelo jornalismo de causas e pelos opinion dealers. É por isso que relevo o artigo «A austeridade gerou desigualdade?» de Avelino de Jesus, economista e professor do ISEG, publicado recentemente no Negócios que, em concordância com o que por aqui temos escrito, conclui que «as políticas ditas de austeridade do pós-crise, em geral, tiveram um efeito de atenuação da desigualdade. Em particular, o efeito foi, em Portugal, dos mais fortes.»

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (120)

Outras avarias da geringonça.

Até pode ser que se venha a confirmar, mas a familiaridade de Costa com as meias verdades é tão grande que é melhor esperar para saber o que no final virá a ser o que ele anunciou, com pompa e circunstância perante a selecta plateia de Davos, como sendo um hub tecnológico da Google em Oeiras e que esta diz que será um centro «totalmente dedicado aos fornecedores». (fonte)

Falando de meias verdades, especialidade que o governo de Costa tem na generalidade, a estória das creches abertas aos sábados que seriam  já perto de mil e que se extensivas ao pessoal da Autoeuropa não constituiriam um tratamento de excepção, é mais uma grande peta e, ainda para mais, estupidamente inútil porque ainda que fosse excepção poderia perfeitamente justificar-se.

28/01/2018

BREIQUINGUE NIUZ: Roger FedEx, o melhor de sempre

Melbourne 2018, o 6.º e, tudo por junto, o 20.º
Por ocasião de Wimbledon traduzi o que Alessandro Baricco tinha dito assim: os outros jogam ténis, Roger Federer respira.

Mitos (269) - A promoção das minorias pela acção afirmativa/discriminação positiva

«Fazer todos os dias as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade» (Albert Einstein, Benjamin Franklin ou Rita Mae Brown, um deles disse isso).
Desde o fim dos anos 60 que os Estados Unidos adoptam políticas de affirmative action (acção afirmativa que na Europa por vezes se designam por discriminação positiva) para promover a minoria negra. Nunca até hoje foram adoptadas as mesmas políticas para as minorias latinas ou asiáticas.

Sendo certo que o rendimento não é o único factor para medir o sucesso socioeconómico de uma minoria ou grupo étnico, ainda assim, tenha-se em conta que os rendimentos familiares estimados por grupo étnico (Income and Poverty in the United States: 2015, Bernadette D. Proctor, Jessica L. Semega, and Melissa A. Kollar) eram em milhares de USD: asiáticos 74,4; brancos não latinos 60,3; latinos 42,5; negros 35,4.

Note-se que os asiáticos, que até hoje nunca beneficiaram de nenhum programa de affirmative action são a minoria mais bem sucedida, em contraste com os negros que tiveram praticamente o exclusivo desses programas e são a minoria menos bem sucedida.

27/01/2018

O bom e o mau gosto são muito relativos

Exemplo de mau gosto e reaccionarismo:

Donald Trump foi citado (ele nega) como tendo descrito El Salvador, Haiti e certos países africanos como «shithole countries» durante um encontro com senadores há duas semanas.

Exemplo de bom gosto e progressismo:

Donald Trump pediu emprestado ao Guggenheim de NY um Van Gogh para pendurar no seu apartamento. A resposta do museu, muito celebrada pelos mídia progressistas, foi que o quadro não estava disponível e em troca o museu oferecia uma sanita de ouro com o título America da autoria do italiano Maurizio Catellan. A sanita esteve em exposição durante um ano disponível para os visitantes nela evacuarem e urinarem.

The golden shithole intitulado America de Maurizio Catellan

Exemplo (imaginário) de mau gosto e reaccionarismo:

A Obra imaginária intitulada Italy de John Doe

BREIQUINGUE NIUZ: Ricochete

Hillary Clinton Chose to Shield a Top Adviser Accused of Harassment in 2008

«A senior adviser to Hillary Clinton’s 2008 presidential campaign who was accused of repeatedly sexually harassing a young subordinate was kept on the campaign at Mrs. Clinton’s request, according to four people familiar with what took place.

Mrs. Clinton’s campaign manager at the time recommended that she fire the adviser, Burns Strider. But Mrs. Clinton did not. Instead, Mr. Strider was docked several weeks of pay and ordered to undergo counseling, and the young woman was moved to a new job.»

26/01/2018

CASE STUDY: Um imenso Portugal (37)

[Outros imensos Portugais]

A doutrina Somoza foi pela primeira vez formulada pelo presidente Franklin Delano Roosevelt em 1939 ao explicar o apoio americano ao ditador Somoza: «he may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch».

Exemplos contemporâneos da doutrina Somoza:
 «Só o povo será o tribunal de Lula», Marina Mortágua no jornal i
«Partido Comunista Português solidariza-se com a luta das forças democráticas e progressistas brasileiras e do povo brasileiro em defesa da democracia e pelo direito de Lula da Silva se candidatar nas próximas eleições presidenciais no Brasil.»
Na versão luso-brasileira, aplicada à condenação ao caso Lula em segunda instância por unanimidade dos juízes com pena agravada de 9 para 12 anos, esta doutrina foi descrita por Henrique Monteiro assim: «a Justiça é uma coisa boa para atacar o centro e a direita e má para atacar a esquerda».

Henrique Monteiro no Expresso Diário

25/01/2018

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: A ruína do Estado assistencialista falhado e a extorsão dos sujeitos passivos é apenas uma parte do problema...

... a outra parte é a construção de um Estado orwelliano que quer controlar o que dizemos, o que pensamos, o que comemos e até quer usar helicópteros (que faltam para transportar feridos e doentes do interior para os hospitais centrais onde existem recursos) ou drones (que faltam para a vigilância das florestas e a detecção precoce dos incêndios) para controlar a velocidade nas estradas e criar com os operadores “inibições de sinais” com respostas automáticas para chamadas recebidas que indicam que “o condutor está ao volante e não pode atender a chamada”. (fonte)

Global Competitiveness Index 2017-2018

É o mesmo Estado que nos encrenca a vida e faz o possível para encrencar a iniciativa privada praticando o princípio que The Gipper definia assim: «If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it.»

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (LXVI)

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Retrospectiva:

Alguém se lembra da excitação pueril do BE nos idos de 2015 quando o Syriza foi o partido mais votado e formou governo coligado com o Anel (um partido que não fora a coligação com o Syriza seria classificado pela esquerdalhada como neonazi) e das peregrinações que se seguiram de luminárias berloquistas a Atenas?

Não. Ninguém se lembra. É a memória curta que garante que os povos estão sempre disponíveis para serem aldrabados, para terem as meninges massajadas por qualquer vigarista e para correrem atrás de qualquer maluco.

Em menos de 3 anos o Tsipras, o Syriza e o governo grego fizeram o percurso clássico dos doentes terminais nas suas 5 fases: negação, revolta, negociação, depressão e, finalmente, aceitação. Politicamente evoluíram do esquerdismo infantil para a social-democracia colorida e, para responder ao estado comatoso em que os socialistas do Pasok deixaram a Grécia, aplicaram a mesma receita que o governo PSD-CDS teve de aplicar para responder ao estado comatoso em que os socialistas do PS deixaram Portugal.

Compreensivelmente, desde finais de 2015, a Grécia, o Syriza e Tsipras desapareceram do radar do berloquismo. Afinal eles estavam a aceitar e pôr em prática a mesma receita de "austeridade" que as luminárias do BE vilipendiavam em Portugal.

Actualização:

Fonte: ekathimerini
Quem imaginaria que milhares de manifestantes gregos no centro de Atenas protestassem contra o governo do Syriza, cujo primeiro-ministro é o camarada Tsipras idolatrado por berloquistas e modelo de Costa in illo tempore, pelas restrições ao direito de greve que o Parlamento iria aprovar e aprovou poucos dias depois em troca de mais fundos de resgate, como parte das negociações em que agora participa o Mário Centeno, o ministro de Costa e nosso Ronaldo das Finanças.

24/01/2018

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (50)

Outras preces.

«177 horas, sete minutos e 48 segundos. Entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa foi o protagonista da informação nos canais generalistas (RTP 1 e 2, SIC e TVI), com mais 16 horas que o primeiro-ministro, o segundo lugar neste ranking elaborado mensalmente pela Marktest. Se as notícias em que foi interveniente passassem consecutivamente, seriam precisos sete dias completos, mais nove horas, cinco minutos e 29 segundos para as ver.» (Público)

Quando um dia, mais tarde ou mais cedo, o motor do rebocador que puxa a economia portuguesa começar a gripar e nos cair outra vez por cima o enorme calhau que vimos acumulando há décadas, a populaça, que hoje aplaude - os mais néscios - ou escuta com benevolência - os mais distraídos - as inanidades desta dupla, babar-se-à de indignação e raiva proporcional ao aplauso e à benevolência de hoje.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O problema dos fundos europeus

«... O problema inerente aos fundos: substitui o mercado da oferta e procura de bens e serviços pelo do acesso aos corredores do poder e da troca de favores. Por muito que o Estado passe a ter prioridades mais sensatas, o simples facto de ser o Estado a defini-las e a distribuir o dinheiro que lhes será destinado faz com que a actividade de quem acabar por obter esses fundos seja, em primeiro lugar, o lobbyismo junto dos decisores políticos, não aquela que o Estado teria considerado prioritária.

O problema dos fundos europeus não está na qualidade da decisão política de quem os distribui. Está no facto de serem distribuídos por decisão de um governo, com todos os riscos (complicações burocráticas, corrupção, etc.) que lhe são inerentes.»

O problema dos fundos, Bruno Alves no Económico

23/01/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (119)

Outras avarias da geringonça.

Esta crónica é a 119.ª a anunciar desde 19 de Novembro de 2015 a avaria irreparável da geringonça. Adivinho que alguns dos leitores poderão pensar que o anúncio é manifestamente exagerado. Mas não, não é. A geringonça está irreparavelmente avariada há algum tempo, desde que uma das suas três pernas (para efeito do notário são quatro, contando com a perna-de-pau de Os Verdes) declarou que só anda se lhe apetecer.

Um sintoma de que a perna comunista da geringonça já anda por ela própria é a profusão de greves marcadas ou ameaçadas, como no caso dos oficiais de justiça, dos professores e dos médicos.

22/01/2018

Lost in translation (301) - Rui, podes ficar com o lugar vago do Jerónimo

«Com o líder parlamentar do PS, Carlos César, a elogiar a eleição interna no PSD e a antever “melhores condições para o diálogo”. Tudo porque, com a escolha do sucessor de Passos Coelho, o PSD deixa de ser “errático, indefinido e ausente das grandes decisões” e os socialistas vão passar a ter um interlocutor mais “seguro, com continuidade e previsibilidade”.» (Observador)

ACREDITE SE QUISER: Quanto mais, mais; quanto menos, mais; ...

Segundo um estudo citado pela Economist, baseado em dados do UK Biobank referentes a meio milhão de pessoas, a correlação entre os componentes genéticos de certos atributos humanos e o número de descendentes de cada pessoa (factor designado como «lifetime reproductive success») deu os seguintes valores (os valores positivos significam uma relação no mesmo sentido - por exemplo, mais descendentes<->maior índice de massa corporal; valores negativos significam o contrário - por exemplo, mais descendentes<->menor nível educacional):


Repare-se que os componentes genéticos do nível educacional (educational attainment) e da capacidade para pensar em abstracto e resolver problemas (fluid-intelligence score) apresentam as correlações mais negativas com o sucesso reprodutivo medido pelo número de descendentes. De onde se poderia concluir que a inteligência média da espécie humana poderá ter tendência a decair visto que são os menos dotados que têm mais descendentes ou os que têm mais descendentes são menos dotados (passo ao lado do distinguo que é muito perigoso) É claro que, uma vez mais, correlação não é causação. Em todo o caso, e uma vez mais, é melhor ligar o desconfiómetro.

21/01/2018

A anti-selecção na educação ou como maus alunos dão maus professores que dão maus alunos que dão...

A  anti-selecção (adverse selection) é um conceito originário das ciências actuariais aplicado principalmente à actividade seguradora e resulta da chamada assimetria da informação. Um exemplo clássico: uma pessoa com uma doença grave sabe que a sua esperança de vida é mais curta do que uma pessoa saudável e as suas despesas médicas e hospitalares serão mais elevadas enquanto viver e terá por isso, em média, uma propensão maior a procurar um seguro de vida ou um seguro de doença; uma seguradora se não tiver essa informação aceitará o seguro com um prémio para um risco "normal"; pior ainda, se essa seguradora tiver uma tarifa mais elevada do que a média do mercado não será atractiva para os clientes de risco "normal" e os clientes com risco agravado para quem o prémio é secundário tenderão por isso a representar uma proporção maior da carteira dessa seguradora.

O que faz uma seguradora para evitar a ruína do seu negócio de risco? Faz a selecção de riscos obtendo mais informação sobre os riscos que lhe são propostos (no exemplo, com questionários e exames médicos) e desincentivando a procura dos clientes que representam "maus riscos" (no exemplo, com agravamento do prémio, limitações do capital seguro, franquias, etc.). Uma seguradora que não contrarie a anti-selecção está condenada a ir à ruína.

O que se passa na "selecção" de professores pelo ministério da Educação proporciona um outro exemplo de anti-selecção. Actualmente o ambiente nas escolas públicas é geralmente mau, as infraestruturas estão frequentemente degradadas, em consequência de décadas de influência esquerdista não existe uma cultura de exigência e de mérito e, inevitavelmente, a profissão de professor é socialmente desprestigiada e relativamente mal-paga. Nada disto atrai a competência e, pelo contrário, constitui uma saída profissional escapista para os menos competentes e menos diligentes que uma vez colocados nas fábricas de inducação produzem maus alunos. Como o governo pode usar os impostos dos sujeitos passivos o ensino público nunca irá à ruína. Está criada a espiral do demérito.


Leia-se o ensaio «Os bons alunos não querem ser professores. E isso é um problema» de Alexandre Homem Cristo no Observador de onde roubo o diagrama acima que mostra os «desempenhos no PISA 2006 a matemática e leitura dos alunos que ambicionam ser professores (azul) e os restantes alunos (castanho), por país.» Repare-se como o desempenho dos alunos que pretendem vir a ser professores só é substancialmente diferente dos restantes em Portugal e é significativamente mais baixo do que os outros países e nomeadamente da Finlândia.

Outro indicador que confirma esta inferência são as notas médias de entrada no ensino superior em 2017 (ver o respectivo quadro no ensaio de Homem Cristo) que mostram a área Professores/ Ciências Educação com as notas mais baixas, a uma distância de quase 30 pontos em 200 das áreas de matemática, saúde e engenharia.

O que fazer? Muitas coisas diferentes e também começar a fazer como as seguradoras e esperar que as coisas melhorem gradualmente. Como sempre, é preciso pouco tempo para estragar e serão precisos muitos anos para recuperar.

20/01/2018

CASE STUDY: Trumpologia (28) - Baixaria do Donaldo, o exercício dos néscios

Mais trumpologia.

Aproveitando o primeiro aniversário da administração Trump (mais parecida com uma trupe de circo do que com uma administração), os jornais encheram-se de flagelações do Donaldo. Quase ninguém escapou ao convencionalismo mais atroz na baixaria da criatura, recorrendo a primarismos que só encontram paralelo nos primarismos do visado. É como se fosse o menor múltiplo comum de que ninguém prescinde desde as diversas facções da esquerdalhada à direita complexada e envergonhada a querer mostrar serviço.

Para citar apenas o semanário de reverência, que se considera a si próprio o lugar geométrico da respeitabilidade, o Expresso online de ontem contém um considerável acervo de patetices a respeito da criatura - são oito manifestações a que só escapa por uma unha negra Henrique Raposo.


Estranhamente, Daniel de Oliveira desta vez esteve ausente do circo. Ainda bem, porque não desfez uma das poucas coisas inteligentes que se escreveram no semanário acerta de Trump e que recordo no recorte acima.

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Portugueses no topo do mundo (7)

Outros portugueses no topo do mundo.

New York Times
A lista do NYT tem de tudo: cidades como Nova Orleães (a primeira da lista), Cincinnati, Glasgow, Sevilha, Belgrado; regiões como Emilia-Romagna, Costa do Cambodja; locais como o rio Rogue no Oregon, Parque Nacional de Liuwa na Zambia, Ribera del Duero na Espanha; e até países como Colômbia, Estonia, Islândia e, vá lá, São Tomé e Príncipe.

Fora São Tomé e Príncipe, única referência à lusitanidade, em vão procurei na lista do NYT alguma das regiões, cidades ou locais portugueses. Agora que os afectos e as realizações do socialismo nos colocaram no topo do mundo, é um forte golpe na auto-estima pátria. Deveríamos boicotar o NYT.

18/01/2018

Contra o histerismo da manada que odeia os homens (2)

Depois de Catherine Deneuve e das outras 99 actrizes francesas, em entrevista ao Paris-Match, sobre as actrizes que denunciaram «le harcèlement sexuel», Brigitte Bardot «n'a pas mâché ses mots» (Le Point), que é como quem diz não teve papas na língua:

«Concernant les actrices, et pas les femmes en général, c'est, dans la grande majorité des cas, hypocrite, ridicule, sans intérêt. Cela prend la place de thèmes importants qui pourraient être discutés. Moi, je n'ai jamais été victime d'un harcèlement sexuel. Et je trouvais charmant qu'on me dise que j'étais belle ou que j'avais un joli petit cul. Ce genre de compliment est agréable.»

Ressabiados do regime (21) - O PS-D em reconstrução


«António Capucho quer regressar ao PSD depois de, em 2014, ter sido expulso do partido por ter apoiado uma lista adversária nas autárquicas em Sintra.» (Observador)

É difícil perceber porque não aderem estas criaturas ao verdadeiro PS-D, que é o PS.

A Bitcoin e as doenças terminais


Bitcoin: Tales from the crypto

The price of Bitcoin peaked last month at over $19,000. Today its price dipped below $10,000. To understand the cryptocurrency it is useful to study the five stages of a bubble: displacement, boom, euphoria, financial distress and revulsion. November saw euphoria. Now distress is approaching. And once people realise how hard it is to set a price floor for Bitcoin, they will reach revulsion, warns our financial-markets columnist. (The Economist News Desk)

Comparem-se as cinco fases das bolhas (deslocamento, crescimento, euforia, aflição financeira e repulsa), fases a que a Bitcoin pode estar sujeita, com as cinco fases das doenças terminais: negação, revolta, negociação, depressão e aceitação.

Não será por acaso que Warren Buffet, o sage of Omaha, um dois maiores investidores e o que melhores performances sustentáveis tem conseguido, nunca investirá em Bitcoin.

17/01/2018

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (11) - A maldição do jornalismo promocional, outra vez?

Como se poderá confirmar em outros posts desta série, o jornalismo promocional - uma variedade do jornalismo de causas - está frequentemente associado a uma maldição que leva as empresas promovidas a passar pelas maiores trapalhadas e no limite algumas delas a desaparecerem.

Desta vez foram a Nutrigreen (sumos e barras de fruta) e a Sousacamp (cogumelos) ambas praticamente falidas depois de PER (processos especiais de revitalização) falhados. O que têm ambas em comum, além dos PER? Várias coisas: (1) ambas foram financiadas pelo BES, cuja falta foi muito sentida; (2) têm como investidor comum a Espírito Santos Ventures; (3) foram "acarinhadas" pelos poderes do regime e muito visitadas pelas figuras de cera (a Sousacamp ainda em Julho do ano passado estava a receber com «pompa e circunstância» - palavras do semanário de reverência - o PR em exercício que lá foi verter os seus afectos) e, last but not least (4) ambas foram levadas ao colo pelo jornalismo promocional, com destaque para o venerável Nicolau Santos agora assolapado na presidência da Agência Lusa, a Tass do Dr. Costa.

CASE STUDY: Correlação não é causação. Apesar disso, é melhor ligar o desconfiómetro


Parece haver uma correlação significativa entre o número de posts na página do Facebook da AfD (o partido de extrema-direita alemão) e os ataques a refugiados. Pode ser porque esses posts excitam os alemães excitáveis ou porque os alemães excitáveis se excitam com os ataques a refugiados e publicam posts excitados.

16/01/2018

ACREDITE SE QUISER: Perguntem a Marcelo pela licença de utilização

«Câmara desconhece se edifício onde morreram 8 pessoas tem licença de utilização»

Num país normal seria estranho que a entidade que a emite não saiba se tem licença de utilização um edifício que, por acaso, acabou de ter um incêndio onde morreram 8 pessoas. Mas isso seria num país normal.

Em qualquer caso, Marcelo descobriu que a «porta que não abriu é ao lado de outra que abria» e já postulou que «foi uma situação difícil e todos foram excepcionais». Só falta ir à câmara procurar a licença de utilização ou então pedir ao Moedas para dar cá mais um saltinho e ir vasculhar aos arquivos de Tondela.

BREIQUINGUE NIUZ: Marcelo em Arraiolos

Marcelo esteve em Arraiolos a observar o epicentro do sismo de ontem, a confortar as pessoas assustadas, a abraçar velhinhas e a tirar selfies com as crianças das escolas. No final da visita, antes de partir para três inaugurações, uma vernissage, duas visitas a lares de idosos e uma inspecção à porta da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha, disse:
Foi feito tudo, mas mesmo tudo, que era possível fazer. O epicentro está lá em baixo e a Protecção Civil está a caminho. Já disse ao primeiro-ministro que é preciso tomar medidas e que isto não se pode repetir.

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (49)

Outras preces.

«Um sindicato médico pediu a intervenção do Presidente da República no caso do diretor do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Santa Maria, em Lisboa, que acusa de irregularidades e perseguição.» (Expresso)

Mal o presidente tinha acabado de chegar de uma vistoria à porta da Associação Recreativa de Vila Nova da Rainha, já o estavam a encarregar de uma arbitragem. Assim não dá!

Por este caminho chegará o dia em que duas criaturas que têm uma colisão numa daquelas ruas da cidade do Medina que o primo do Dono Disto Tudo tornou intransitáveis, em vez de telefonaram à polícia, uma delas dirá à outra - ou, mais provavelmente, as duas dirão em coro - vou telefonar ao Marcelo para ele vir aqui tratar disto.

15/01/2018

Lost in translation (300) - Não é ao diabo e o que eles têm para vender não é alma

Uma espécie de continuação deste post.

Entrevista do SOL a Costa; 22-08-2015
«Da mesma forma que o Bloco de Esquerda e o PCP têm vendido a alma ao diabo, exclusivamente com o objetivo de pôr a direita na rua, eu acho que ao PSD lhe fica muito bem se vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua». 
Manuela Ferreira Leite em entrevista à TSF.
Tradução do «vender a alma ao diabo»: transformar o PSD no PS-D, numa espécie de muleta do PS para chafurdar num pântano de negociatas, encurtar a travessia do deserto e distribuir sinecuras antes dos apparatchiks do PS-D morrerem de inanição.

Mensagem subliminar do «vender a alma ao diabo»: não percam tempo porque o PS-D fará o mesmo; votem logo no PS e dêem-lhe a maioria. 

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (118)

Outras avarias da geringonça.

Em mais uma manobra, ao anunciar pela boca da ministra da Justiça que a procuradora-geral Joana Marques Vidal não poderia ser reconduzida - uma treta jurídica como se veio a confirmar - Costa parece pretender evitar que caiam na sua sopa em pleno ano de eleições as moscas que o rodeiam vindas da lixeira socrática e que o dono da lixeira poderia indicar como testemunhas (ler aqui "Chico-espertismo" de Maria de Fátima Bonifácio).

Beneficiando das reposições de que resultaram aumentos de salários e, consequentemente, das bases de cálculo das pensões, mais de 12 mil utentes da vaca marsupial pública aposentaram-se no ano passado com belas pensões - belas quando comparadas com as do sector privado, entenda-se. Falando de privilégios dos utentes da vaca, que constituem o núcleo da clientela eleitoral da geringonça, está a caminho a ampliação da clientela para incluir os contratados a prazo e o pessoal das empresas públicas no acesso à ADSE - o melhor e mais barato seguro de saúde fora do alcance da generalidade dos sujeitos passivos que o pagam.

14/01/2018

ACREDITE SE QUISER: A toponímia do politicamente correcto

Um dos propósitos do politicamente correcto, que, recordemos, se funda no chamado marxismo cultural, é a tentativa de impor uma nova linguagem, uma espécie de newspeak orwelliano. Nos últimos anos o newspeak politicamente correcto entrou no domínio da toponímia fazendo campanhas para mudar o nome de ruas e de cidades.

No Canadá, um dos países onde o politicamente correcto é mais influente, a começar pelo primeiro-ministro Justin Trudeau, arvorado em sacerdote desta religião, a toponímia revisionista está a mudar o nome a quase tudo.

Só o ano passado foram acrescentados mais de 600 nomes indígenas de localidades. A coisa assume foros de ridículo, como o nome indígena de uma das localidades canadianas que significa «o lago onde as trutas selvagens são pescadas com anzóis» e que se escreve Pekwachnamaykoskwaskwaypinwanik.

Nalguns casos são propostos e aceites vários nomes e atinge-se a insanidade. O rio Mackenzie nos Territórios do Noroeste foi rebaptizado em 2015 com cinco nomes alternativos: Dehcho, Deho, Kuukpak, Nagwichoonjik ou Grande Rivière. (fonte)

BREIQUINGUE NIUZ: Nas eleições do PSD o PS-D ganhou ao PPD-PSD


A abstenção ganhou folgadamente com quase 50% dos inscritos, Rui Rio ficou em segundo lugar com 22.681 votos e Santana Lopes em terceiro com 18.974 votos.

13/01/2018

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (167) - O móbil de Costa

À primeira vista poderá parecer uma teoria da conspiração a especulação de Maria de Fátima Bonifácio ("Chico-espertismo" no Público) sobre o móbil de Costa ao colocar a ministra da Justiça a concluir numa entrevista, a dez meses de distância do termo do mandato e com fundamento num descosido imaginário jurídico, que a procuradora-geral Joana Marques Vidal não poderia ser reconduzida. Joana Marques Vidal, que foi, recorde-se, a primeira PGR a abrir a possibilidade das figuras de cera do regime, dos políticos e dos donos disto tudo serem investigados.

À segunda vista, conhecendo-se os dotes comprovados de Costa, a sua cobardia e a ainda considerável influência de Sócrates, o animal feroz que se referiu a ele como «o merdas do Costa que não tem tomates», e o círculo dos seus fiéis que cerca Costa, a especulação ganha verosimilhança.

«O julgamento, a iniciar-se, como deve (ou deveria), lá para o Outono do ano corrente, vai certamente prolongar-se por muitos meses (ou até anos). Com toda a probabilidade, o julgamento de José Sócrates estará em curso ao longo de 2019, ano de eleições em Maio/Junho (para o Parlamento Europeu) e em Setembro/Outubro (para a Assembleia da República). Ora a “ferocidade” do “animal” (“eu sou um animal feroz”, disse Sócrates) não deve entretanto ter-se amansado, bem pelo contrário, deve ter-se assanhado. E, portanto, é certo e sabido que o acusado usará do direito legal de indicar as suas testemunhas, que não podem recusar-se a depor, presencialmente ou por escrito. E que testemunhas chamará ele de preferência? Os seus anteriores cúmplices ou simplesmente coniventes, alguns deles hoje no Governo, a começar pelo primeiro-ministro. Estão a imaginar ministros e quadros do PS a peregrinar para o Campus de Justiça na Expo? Estão a imaginar a que maquinações Sócrates recorrerá para produzir o máximo de escândalo público?

A remoção de Joana Marques Vidal, per se, não evitará o julgamento. Mas poderá facilitar ou promover o adiamento para depois das eleições, quando já nada afectará os resultados eleitorais.»

CASE STUDY: Trumpologia (27) - Uma inesperada epifania sobre o Donaldo

Mais trumpologia.


O jornalista de causas / militante / comentador / analista Daniel Oliveira teve uma epifania e escreveu a frase acima numa peça no Expresso Diário. Sim, já era altura de perceber como isso aconteceu em vez de escrever inanidades como faz a esquerdalhada.

12/01/2018

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Em resumo

«Vamos resumir o debate no PSD: o problema de Santana Lopes foram os erros que cometeu no passado; o de Rui Rio, os erros que parece disposto a cometer no futuro. Curiosamente, os erros de um e do outro são do mesmo género. (...)

O PSD tem de decidir qual é mais arriscado: se apostar nos que cometeram erros em 2004, ou se confiar nos que parecem preparar-se para cometer erros do mesmo tipo em 2019. Mais fundamentalmente, o PSD terá de escolher entre ser uma alternativa de governo ao PS, ou um mero apêndice da governação socialista. Talvez que essa ainda não seja a escolha de sábado, mas a escolha de sábado pode impedir essa outra escolha mais fundamental no futuro.»

O PSD entre os erros de ontem e os erros de amanhã, Rui Ramos no Observador

Por falar em escolha entre dois males, alguém reparou na estranheza e indignação que suscitou a falta de nível dos debates entre Rio e Lopes por parte dos mesmos opinion dealers que não estranharam nem se indignaram com a falta de nível dos debates entre Costa e Seguro?

Fake news: An abusive producer assaulted by Hollywood stars (republished post)

Posted here and now completed after singer Seal has written «when you have been part of the problem for decades but suddenly they all think you are the solution.»

Harvey Weinstein with Heidi Klum and Uma Thurman at a 2014
Golden Globes afterparty (Telegraph)


Oprah Winfrey with the abuser, three years before the exciting anti-abuse speech
Backstage at the Critics' Choice Awards 2014

The truth is rarely pure and never simple.
Oscar Wilde

11/01/2018

ACREDITE SE QUISER: Campeões da inovação? Chamem-lhe outra coisa

«CES 2018. Portugal é um dos 13 campeões mundiais da inovação» é um dos muitos títulos a propósito do relatório da Consumer Technology Association (CTA), apresentado na Consumer Electronics Show em Las Vegas, incluir Portugal em 9.º lugar entre os 13 países mais inovadores.

Portugal um dos países mais inovadores? Terei andado distraído? Afinal o que é a inovação? Segundo o Oslo Manual, há quatro tipos de inovação que a OCDE descreve assim:

«Product innovation: A good or service that is new or significantly improved. This includes significant improvements in technical specifications, components and materials, software in the product, user friendliness or other functional characteristics.

Process innovation: A new or significantly improved production or delivery method. This includes significant changes in techniques, equipment and/or software.

Marketing innovation: A new marketing method involving significant changes in product design or packaging, product placement, product promotion or pricing.

Organisational innovation: A new organisational method in business practices, workplace organisation or external relations.»

Sei que o complexo de inferioridade dos portugueses precisa de constantes afagos e reconhecimento fundado ou infundado, mas, chegado aqui, pergunto-me em qual ou quais destes tipos de inovação Portugal se distinguiu? Fui procurar resposta à Consumer Technology Association (CTA) que nos premiou. Eis a explicação pelas palavras da CTA:

«Portugal was named an Innovation Champion for:
  1. Its fair percentage of immigrants in its population, and high gender parity among workers aged 25-54
  2. High levels of personal and political freedom
  3. Average internet speeds of 9.9 mbps
  4. A middling share of highly skilled workers and 27.8 percent of graduates in the country earning STEM degrees
  5. A federal corporate tax rate of 21 percent and a tax on streaming media services
  6. Spending 1.28 percent of its GDP on R&D
  7. An impressive annual new business entry rate of 4.62 per 1,000 people aged 15-64 and zero unicorns (companies worth over $1 billion)
  8. Policies that generally allow people to fly drones for recreational and commercial purposes
  9. Placing undue regulatory burdens on ridesharing services
  10. Largely allowing people to use short-term rentals
  11. Allowing the testing and use of self-driving vehicles
  12. Air quality above World Health Organization standards and 100 percent of the population with access to WHO-qualified improved drinking water sources»
Algumas dúvidas quanto ao rigor dos indicadores: 1. 4%  de imigrantes é fair? se temos high gender parity porque se indignam os movimentos feministas?; 4. Alguém disse à CTA qual a percentagem de trabalhadores com o secundário completo e qual a taxa de desemprego entre os licenciados? 5. Alguém falou na derrama que pode chegar a 4,5% a somar aos 21%?  6. Alguém lhes explicou onde são aplicados os dinheiros de I&D? Alguém lhes disse que Portugal é o país da UE28 que mais gasta em I&D mas os resultados são medíocres8., 9. e 10. Esperem até ver o oceano de ejaculações regulatórias que vai ser produzido logo que os apparatchiks acabem de tratar das reposições.

Dando de barato o rigor dos indicadores, o que tem isto a ver com inovação?

10/01/2018

A mentira como política oficial (41) - O transformismo costista

É para mim um mistério tão pouca gente reparar no prodigioso transformismo da governação de Costa.

Com um programa de governo cujos drivers de crescimento eram a despesa pública, incluindo investimento, e o consumo, isto é a procura interna, deixou-os cair para cumprir as metas do défice orçamental, a que chamava na oposição a ditadura de Bruxelas, e aproveitou a boleia das exportações e do turismo, isto é da procura externa, para a qual o governo em nada contribuiu, para se enfeitar com as grandes realizações da economia, ao mesmo tempo que falhava em toda a linha nas áreas da governação da sua directa responsabilidade.

Semelhante transformismo foi realizado também com a austeridade que, segundo o programa, teria a página voltada e na realidade consistiu na substituição dos cortes de salários e pensões por cortes no investimento e na despesa em bens e serviços, através das cativações que deixam as escolas sem dinheiro para o aquecimento, os hospitais sem meios para tratar os doentes e os fornecedores com facturas penduradas. E, claro, na troca dos impostos directos pelos indirectos disfarçados no preço dos bens e serviços.

Contra o histerismo da manada que odeia os homens

«Nous défendons une liberté d’importuner, indispensable à la liberté sexuelle»

Dans une tribune au « Monde », un collectif de 100 femmes, dont Catherine Millet, Ingrid Caven et Catherine Deneuve, affirme son rejet d’un certain féminisme qui exprime une « haine des hommes ».

(Le Monde)

09/01/2018

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: As elites merdosas e os inexistentes conflitos de interesse

«Na verdade, as elites portuguesas convivem com os conflitos de interesses há séculos. A tradição dos múltiplos chapéus, da acumulação de sinecuras, da plasticidade de nomeações, das amplas portas giratórias entre o Estado e o mundo económico é, em si mesma, o cimento de uma cultura que tolera e estimula os conflitos de interesses. Isso distingue as elites inclusivas e produtivas de outras sociedades daquilo que sempre foram as nossas elites predadoras e rentistas.

Em Portugal, os órgãos sociais não executivos de uma qualquer organização são meros ornamentos de Natal (por mera coincidência da época do ano). Quanto mais bonitos (com nomes de figuras públicas conhecidas), melhor. Mas não servem para absolutamente nada. E estão longe de ter a mais mínima responsabilidade seja no que for.

Por um lado, sabemos que um capitalismo com concentração de capital (como é a tradição portuguesa) não requer estruturas de governança com fiscalização ou supervisão (porque não há disseminação de autoridade que justifique os custos de uma governança complexa). Por isso, os órgãos sociais não executivos não foram uma invenção local, mas mais uma importação para ficar bem na fotografia europeia. Por outro lado, dominados por uma cultura profundamente não confrontacional (qualquer crítica é sempre um insulto pessoal) e elites cooptadas (em vez de concorrentes), os órgãos sociais não executivos encontram um terreno árido e hostil para exercer o papel para que foram criados. A cultura das elites portugueses sempre apreciou mais o "entrar mudo e sair quedo".»

As lições raríssimas, Nuno Garoupa no DN

08/01/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (117)

Outras avarias da geringonça.

Se há matérias em que se deve reconhecer os méritos deste governo é na esperteza saloia de manipular as mentes de um eleitorado amorfo, desejoso de boas notícias e anestesiado pela «boa imprensa». Como foi o caso das tabelas de retenção na fonte do IRS construídas por forma a ser retido um imposto mais elevado que aumentará as devoluções de imposto no próximo ano... de eleições.

Onde a geringonça também consegue resultados de excelência é na construção de um estado orwelliano a que agora acrescentou mais um tijolo com a proposta de lei impondo às empresas com mais de 100 trabalhadores um «certificado de igualdade de género» atestando a inexistência de salários diferenciados entre homens e mulheres que, se entendida como salários diferentes para a mesma função na mesma empresa (que é como deve ser entendida), só existe na realidade alternativa da esquerdalhada (ver a série Mitos - Diferenças salariais entre homens e mulheres).

07/01/2018

CAMINHO PARA A SERVIDÃO: O Estado Sucial como estado orwelliano

«Nessa proposta, agora em discussão no Parlamento, prevê-se que as empresas com mais de 100 trabalhadores sejam notificadas pela Autoridade das Condições do Trabalho sempre que forem detectadas desigualdades salariais. Mas tudo isto aparece pouco escassos dois meses depois. E assim num projecto liderado pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) aí iremos ter o certificado de igualdade de género para empresas.

A primeira reacção seria a de sorrir com condescendência como se este “certificado de igualdade de género” fosse mais uma na longa série de decisões grotescas de um governo que não consegue garantir a segurança dos cidadãos mas não os deixa comer arroz doce nos bares dos hospitais,um governo que legislou no sentido de adolescentes de 16 anos puderem mudar de sexo sem relatórios médicos nem consentimento dos pais mas que não permite aos mesmos adolescente e já agora aos seus pais comer uma sandes de presunto num bar de hospital ou pegarem num saleiro num restaurante. (...)

Portugal é hoje muito menos livre do que era há anos. Em nome da igualdade e do combate às discriminações criámos um monstro. Ou o enfrentamos ou ele toma conta das nossas vidas

Certificadamente autoritários, Helena Matos no Observador

06/01/2018

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (58) Unintended consequences (XVIII)

Outras marteladas.

Em linha com os posts anteriores sublinhando as prováveis consequências indesejadas de um longo período de alívio quantitativo e de taxas de juro nulas ou negativas que tem alimentado um oceano de liquidez, cito agora alguns excertos de um interessante artigo de Pascal Blanque e Amin Rajan publicado há dias no FT.

«The world economy is recovering but it is still panic stations for central banks. For them, global debt is like the sword of Damocles — an ever-present danger.

It stands at about 330 per cent of annual economic output, up from 225 per cent in 2008, according to the Bank for International Settlements.

After the 2008-09 financial crisis, the hope was that a combination of economic recovery, inflation and austerity would shrink the debt mountain. This, though, was too optimistic. Growth has been below par, inflation subdued and austerity self-defeating. (...) 

No one knows all the cracks into which excess liquidity has seeped — or what risks are being stored up.

Debt means consumption brought forward while low rates mean the survival of zombie borrowers and companies. They face liquidity risks as credit matures. Additionally, investors’ capacity to absorb higher rates is a key concern. (...)

In any event, spiralling global debt appears to be so out of control that the world will struggle to pay off the interest, let alone make a material dent in its size.

The global economy is vulnerable to the butterfly effect, the part of chaos theory that says small changes can lead to big outcomes. Rates will have to remain lower for longer, forcing investors seeking decent returns to move ever higher on the risk curve.

High debt is not intrinsically bad so long as it is used to fund investments that deliver profits or create financial assets worth more than the debt. Data on this score are hard to come by.

One thing is clear, though. The origins of the current worries predate the 2008 crisis which was caused when lending standards went from responsible to reckless: the siphoning of money into dodgy ventures such as subprime mortgages, covenant-light loans or sovereign lending based on creative accounting.

Ironically, all this happened in the two decades often described as the age of “great moderation”. The sins of the past may well take just as long to redeem.»

05/01/2018

NÓS VISTOS POR ELES: Costa e Centeno, o Robin dos Bosques e o João Pequeno dos bancos

«Dinero de los pobres para salvar un banco portugués 

La Santa Casa de Misericordia compromete sus recursos en una inversión especulativa

Si Robin Hood levantara la cabeza se quedaría atónito de cómo están cambiando los tiempos. En Portugal se va a usar el dinero de la caridad para salvar un banco. La Santa Casa de Misericordia, primera institución benéfica del país, destinará la quinta parte de sus activos, unos 200 millones de euros, para conseguir el 10% del Montepío, el último banco con problemas de Portugal. La extraña inversión, calificada por las agencias de rating como “especulativa” y “basura”, no ha levantado la más mínima crítica de la clase política, de la derecha a la extrema izquierda, que han pasado de rondón sobre tan delicada situación.»

El País, Javier M. del Barrio | Lisboa

Comissão de Censura do Politicamente Correcto

Chocado por um documentário televisivo mostrando a "transformação" de um homem numa mulher com cirurgia às cordas vocais, corte do pénis e "construção" de uma vagina, José António Saraiva escreveu no SOL o artigo de opinião «E se um homem se sentir galinha?»

Não foi preciso mais para a  Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) apresentar uma queixa-crime junto do Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP), por considerar o artigo «profundamente atentatório da dignidade das pessoas transexuais». (Público)

Repare-se que a CIG não se limita a ter uma opinião sobre a opinião de JAS. A CIG quer criminalizar a opinião de JAS.

Ao que parece, ainda ninguém considerou a queixa-crime da CIG - a nova Comissão de Censura do Politicamente Correcto - profundamente atentatória da liberdade de expressão. Os cidadãos deste país que prezam as liberdades (se ainda houver alguns) devem rebelar-se contra esta ditadura salazarenta.

Vem a propósito evocar a epígrafe deste blogue citando António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano: 
«Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» 

04/01/2018

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Portugueses no topo do mundo (6)

Outros portugueses no topo do mundo.

Não obstante o título, este post não é sobre os portugueses no topo do mundo é sobre os 16 mil
alemães da cidadezinha de Baiersbronn do Estado de Baden-Württemberg, no sudoeste alemão em plena Floresta Negra, a 70 km de Estrasburgo e portanto ao alcance dos eurodeputados. E vem a propósito da prosápia dos oito restaurantes portugueses de La Liste que deixaram os mídia portugueses excitados.

Baiersbronn tem três restaurantes com estrelas Michelin: o Restaurante Schwarzwaldstube do Hotel Traube Tonbach, o Hotel Bareiss e o Restaurante Schlossberg. No total são oito estrelas Michelin, três de cada um dos dois primeiros e dois do terceiro.

Mas há mais. Baiersbronn incluiu as artes culinárias no currículo das escolas da cidade e hoje orgulha-se de ter espalhados por todo o mundo chefs que frequentaram essas escolas e que no total representam 82 estrelas Michelin fazendo de Baiersbronn, se fosse um país, o 12.º mais estrelado.

O que diriam os mídia portugueses, excitados pelas 26 estrelas Michelin de Valença a Vila real de Santo António, se Cabeceiras de Basto (16.710 habitantes no último censo) tivesse oito estrelas Michelin e se pelas suas escolas C+S tivessem passado 82 estrelas Michelin?

03/01/2018

ACREDITE SE QUISER: O incêndio de automóveis por ociosidade

Parfois, ils essaient même de "brûler les flics"
Na passagem de ano foram incendiados intencionalmente 1.031 automóveis em França. Nada de extraordinário, os franceses desde há duas décadas incendeiam automóveis, talvez como ersatz da tomada da Bastilha. São incendiados anualmente entre 35 a 40 mil automóveis ou seja entre 100 a 110 em média por dia. Nas datas festivas os números podem subir para dez vezes mais, como na passagem deste ano (1.031) ou no 14 Juillet (897).

A coisa tornou-se tão habitual que, se não tiverem cobertura de incêndio intencional nos seus seguros, os proprietários das bagnoles brûlées podem ser indemnizados pela CIVI (commission d’indemnisation des victimes d’infraction) até um montante máximo de 4 531,19 euros.

Porquê incendiar automóveis? perguntareis. Segundo um especialista, «em muitos casos, esta é uma prática que pode ser descrita como "recreativa". O termo pode chocar, mas um estudo interno da Direcção Central de Segurança Pública em 2013 mostrou que cerca de um quarto dos incendiários de automóveis declararam fazê-lo por ociosidade

02/01/2018

CASE STUDY: O que sabem os suecos que os americanos não sabem (e os portugueses nem querem saber)?

«Eighty percent of Swedes express positive views about robots and artificial intelligence, according to a survey this year by the European Commission. By contrast, a survey by the Pew Research Center found that 72 percent of Americans were “worried” about a future in which robots and computers substitute for humans.

In the United States, where most people depend on employers for health insurance, losing a job can trigger a descent to catastrophic depths. It makes workers reluctant to leave jobs to forge potentially more lucrative careers. It makes unions inclined to protect jobs above all else.

Yet in Sweden and the rest of Scandinavia, governments provide health care along with free education. They pay generous unemployment benefits, while employers finance extensive job training programs. Unions generally embrace automation as a competitive advantage that makes jobs more secure


(The Robots Are Coming, and Sweden Is Fine, NYT)

Onde os americanos vêem uma ameaça (e os portugueses veriam se não estivessem distraídos com as compras, as trapalhadas de Costa e as palhaçadas dos afectos), os suecos não vêem o progresso tecnológico como uma catástrofe para o emprego mas como uma oportunidade de se livrarem de trabalhos desinteressantes e perigosos, como por exemplo estar enterrado a centenas de metros abaixo do solo a manobrar uma máquina numa mina e, em vez disso, comandar remotamente um robot.

E não, a explicação não reside apenas na generosidade do sistema de segurança sueco que só custa mais 3% do PIB do que o português (27,1% contra 24,1%).

A diferença entre liberalismo e socialismo, vista pelo avô e contada pelo pai ao filho

«Ele achava que havia uma diferença decisiva entre o liberalismo e e socialismo: enquanto o liberalismo era uma coisa que tinha nascido, como ele dizia, como uma larva dentro de uma maçã e tinha comido a sociedade feudal por dentro, o socialismo era uma coisa teorizada no papel e depois imposta de cima para baixo pelo Estado.»

José António Saraiva recordando o pensamento do seu pai (António José Saraiva) em entrevista ao filho José Cabrita Saraiva no SOL.

Para quem quiser revisitar o pensamento desalinhado de António José Saraiva pode ler no (Im)pertinências vários posts com excertos de «Filhos de Saturno».

01/01/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (116)

Outras avarias da geringonça.

No ano que agora terminou batemos vários recordes. Tivemos o recorde do número de turistas, do crescimento do PIB, do défice do OE, do número de mortos em incêndios florestais e em área de floresta ardida, de portugueses no topo do mundo e, já agora, também do crédito ao consumo que atingiu o máximo dos últimos treze anos e, inevitavelmente, da poupança das famílias que todos os anos tem atingido um novo mínimo.

E um recorde dos impostos, cuja receita deve ter aumentado em 3 a 4 mil milhões só por via do aumento nominal do PIB. E um recorde da produtividade do trabalho medida pelo PIB por empregado que voltou a cair 0,3% (estimativas de João Vieira Pereira no Expresso).