Outras avarias da geringonça.
No ano que agora terminou batemos vários recordes. Tivemos o recorde do número de turistas, do crescimento do PIB, do défice do OE, do número de mortos em incêndios florestais e em área de floresta ardida, de portugueses no topo do mundo e, já agora, também do crédito ao consumo que atingiu o máximo dos últimos treze anos e, inevitavelmente, da poupança das famílias que todos os anos tem atingido um novo mínimo.
E um recorde dos impostos, cuja receita deve ter aumentado em 3 a 4 mil milhões só por via do aumento nominal do PIB. E um recorde da produtividade do trabalho medida pelo PIB por empregado que voltou a cair 0,3% (estimativas de João Vieira Pereira no Expresso).
Também tivemos um recorde de trapalhadas que foram desde o desaparecimento do armamento que talvez não tenha desaparecido e depois apareceu, até à cimeira secreta onde apparatchiks de quase todos os partidos votaram alterações à lei do financiamento que alguns desses partidos rejeitaram no dia seguinte, no caso do PCP alegando que era antidemocrática e inconstitucional. O PS manteve uma invejável coerência, infelizmente desacompanhada da indispensável consistência, como se pode confirmar por este Fact Check.
Entre os recordes de trapalhadas não podemos esquecer a compra que o governo quer que a Santa Casa faça de 10% do Montepio pelo dobro do preço, uma operação sem qualquer sentido, que Costa atribuiu à vontade de Santana que já foi demonstrado ser mais uma mentira.
Outro recorde notável foi batido no antigo domínio de Costa deixado em herança ao delfim Medina que não se fez rogado e além de ter multiplicado o número de ASPON (ASsessores de POrra Nenhuma) na câmara de Lisboa aumentou-lhes as avenças, aumentos que chegaram a atingir 80%.
Também tivemos um recorde de vagas de indignação, que incluíram Costa e os seus ajudantes, a propósito do jantar no Panteão, vagas que morrem na praia da aprovação de um regulamento que permite «comes e bebes nos mosteiros dos Jerónimos e Batalhão», segundo o sempre bem informado semanário de reverência.
À geringonça que já viu melhores dias é cada vez mais aplicável aquele conhecido aforismo devidamente modificado: não tem muito passado, tem pouco presente e nenhum futuro, aproximando-se cada vez mais da avaria irreparável que porá fim a esta crónica. O controleiro da CGTP já deixou de se policiar e em entrevista ao Expresso disse «exigimos isso (o aumento do SMN e das férias) e muito mais. (...) estamos aqui para exigir a sua concretização. Como se costuma dizer, estamos aqui para cobrar.»
Se faltassem exemplos da capacidade do Estado Sucial para arruinar qualquer empreendimento, o caso dos transportes públicos seria suficiente para a demonstração. Na CP, após décadas de prejuízos, o governo enterrou lá este ano, por três vezes, capital no total de 446 milhões e enterrou 900 milhões nos últimos três anos.
Não satisfeito com a ruína dos seus empreendimentos, o Estado Sucial tenta arruinar os da iniciativa privada de várias maneiras, incluindo não lhes pagando os bens comprados e os serviços prestados. É conhecida a dívida pantagruélica às farmacêuticas, por exemplo, em que a uma só delas são devidos mais de 100 milhões de euros fazendo de Portugal «o país com maior dívida à Roche» como revelou o seu chairman que nos visitou como uma espécie de cobrador do fraque.
Ainda é cedo para concluir por uma tendência, mas o certo é que os juros da divida pública portuguesa voltaram a subir para maturidades de médio e longo prazo (dois, cinco e dez anos). Em qualquer caso, o nível actual é historicamente tão baixo que as taxas só podem aumentar, sobretudo quando as taxas do Fed estão a subir e as do BCE acompanharão com toda a probabilidade durante 2018.
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