Outras avarias da geringonça.
Até pode ser que se venha a confirmar, mas a familiaridade de Costa com as meias verdades é tão grande que é melhor esperar para saber o que no final virá a ser o que ele anunciou, com pompa e circunstância perante a selecta plateia de Davos, como sendo um hub tecnológico da Google em Oeiras e que esta diz que será um centro «totalmente dedicado aos fornecedores». (fonte)
Falando de meias verdades, especialidade que o governo de Costa tem na generalidade, a estória das creches abertas aos sábados que seriam já perto de mil e que se extensivas ao pessoal da Autoeuropa não constituiriam um tratamento de excepção, é mais uma grande peta e, ainda para mais, estupidamente inútil porque ainda que fosse excepção poderia perfeitamente justificar-se.
Outra especialidade que os socialistas têm na generalidade é o nepotismo a que não escapa a coutada da câmara de Lisboa, agora entregue ao herdeiro de Costa. As opiniões dividem-se. Não quanto ao nepotismo mas quanto à modalidade. Uns dizem que o fotógrafo de Medina irá receber 10 mil euros por evento, outros que serão 4 mil euros por mês.
Os leitores habituais do (Im)pertinências que tenham tropeçado num dos posts da série «Vivemos num estado policial?» não terão ficado surpreendidos pelo anúncio do recrutamento de 600 militares GNRs e de 200 tropas a pretexto da prevenção e do combate aos incêndios florestais. Se é certo que Portugal já «tem 432 polícias por 100 mil habitantes, um valor que torna a polícia portuguesa 36% mais bem equipada do que as polícias na média dos países europeus», é igualmente certo que não devemos dormir à sombra dos louros. Se no posto da GNR de Pedrógão na altura do incêndio dos 15 militares estavam 13 de folga ou de férias, não teria sido preferível que do "dobro" que o presidente da Associação dos Profissionais da Guarda acha que deveriam ser os efectivos estivessem 26 de folga ou de férias?
Se para a policia há fartura, para a saúde há falta: os tempos de espera nas consultas chegam a 4 anos (veja-se este vídeo de José Manuel Fernandes com vários casos). Há até exemplos caricatos de organismos como o Turismo do Porto que ficará sem dinheiro no fim deste mês.
Continuam as boas notícias sobre o saldo orçamental que em Portugal no 3.º trimestre foi um muito celebrado excedente de 1,5%, isto sem contar com a recapitalização da Caixa que vale 2,1% do PIB mas ainda não se sabe se será considerado no défice. O que se sabe que contou para o défice foi o resgate do Banif feito à 25.ª hora no final de 2015 por Costa numa negociação opaca com o Santander, à pressa para ainda contar para o défice nas contas do governo PSD-CDS.
Quanto ao défice previsto para o ano de 2017 em contabilidade pública é inferior em 1,6 mil milhões ao de 2016, tudo por obra e graça do aumento de quase 2 mil milhões da receita fiscal que ultrapassou 42 mil milhões e da redução das despesas de investimento (investimento que era o alfa e ómega da politica orçamental socialista, lembram-se?) que ficou 850 milhões abaixo do orçamentado, apesar do aumento de 423 milhões das autarquias em ano de eleições.
Segundo o Eurostat, no final do 3.º trimestre a dívida pública portuguesa atingiu 130,8%, ou seja mais de 40 pontos percentuais acima da média da Zona Euro o que nos coloca num honroso 3.º lugar apenas atrás da Grécia e da Itália (fonte).
Os dados do BdP quando ao endividamento do sector não financeiro até Novembro também não inspiram tranquilidade: a dívida do sector público está praticamente estabilizada a um nível insustentável a longo prazo; quanto à dos particulares, também estabilizada depois de um decréscimo ate 2015, é possível que venha a crescer rapidamente pelo acréscimo do consumo que já quase anulou a poupança; também a dívida das empresas mostra novamente tendência para subir.
A poupança dos particulares há muito insuficiente, segundo o inquérito do Intrum Justitia terá diminuído outra vez em 2017 de uns incríveis 70%. Ao mesmo tempo, o crédito a particulares que em Novembro já tinha atingido 13 mil milhões, continuará a aumentar segundo os bancos.
Olhando para futuro em relação à divida, em contraste com a fartura de boas noticias que a boa imprensa da geringonça nos faz chegar de Bruxelas, a Direcção Geral dos Assuntos Económicos e Financeiros (ECFIN) no relatório “Debt Sustainability Monitor 2017″ classifica a dívida pública portuguesa como de alto risco (fonte). Segundo a ECFIN, da subida de um ponto percentual nas taxas de juro (provavelmente a médio prazo o aumento será maior) a dívida portuguesa aumentara 7,4 pontos percentuais até 2028 e sua estimativa para a divida em 2021 é de 119%, 10 pontos percentuais acima da estimativa do governo. Ainda segundo ECFIN, a probabilidade da dívida aumentar em vez diminuir é de 30% pelo que recomenda a reconstituição das almofadas financeiras, exactamente o contrário do que o governo está a fazer.
Olhando para o futuro do crescimento da economia (e consequentemente da capacidade de reduzir a dívida, se não a aumentássemos com défices), não é certo que cantem os amanhãs de Costa, ou melhor que cantem os amanhãs que Costa nos vai deixar. Por várias razões, a começar pelo facto da recuperação em curso que se segue à crise está a ser bem menos intensa do que as recuperações das crises anteriores de 1975, 1984 e 1993, e a acabar em várias outras razões como aqui mostra Helena Gameiro.
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