A anti-selecção (adverse selection) é um conceito originário das ciências actuariais aplicado principalmente à actividade seguradora e resulta da chamada assimetria da informação. Um exemplo clássico: uma pessoa com uma doença grave sabe que a sua esperança de vida é mais curta do que uma pessoa saudável e as suas despesas médicas e hospitalares serão mais elevadas enquanto viver e terá por isso, em média, uma propensão maior a procurar um seguro de vida ou um seguro de doença; uma seguradora se não tiver essa informação aceitará o seguro com um prémio para um risco "normal"; pior ainda, se essa seguradora tiver uma tarifa mais elevada do que a média do mercado não será atractiva para os clientes de risco "normal" e os clientes com risco agravado para quem o prémio é secundário tenderão por isso a representar uma proporção maior da carteira dessa seguradora.
O que faz uma seguradora para evitar a ruína do seu negócio de risco? Faz a selecção de riscos obtendo mais informação sobre os riscos que lhe são propostos (no exemplo, com questionários e exames médicos) e desincentivando a procura dos clientes que representam "maus riscos" (no exemplo, com agravamento do prémio, limitações do capital seguro, franquias, etc.). Uma seguradora que não contrarie a anti-selecção está condenada a ir à ruína.
O que se passa na "selecção" de professores pelo ministério da Educação proporciona um outro exemplo de anti-selecção. Actualmente o ambiente nas escolas públicas é geralmente mau, as infraestruturas estão frequentemente degradadas, em consequência de décadas de influência esquerdista não existe uma cultura de exigência e de mérito e, inevitavelmente, a profissão de professor é socialmente desprestigiada e relativamente mal-paga. Nada disto atrai a competência e, pelo contrário, constitui uma saída profissional escapista para os menos competentes e menos diligentes que uma vez colocados nas fábricas de inducação produzem maus alunos. Como o governo pode usar os impostos dos sujeitos passivos o ensino público nunca irá à ruína. Está criada a espiral do demérito.
Leia-se o ensaio «Os bons alunos não querem ser professores. E isso é um problema» de Alexandre Homem Cristo no Observador de onde roubo o diagrama acima que mostra os «desempenhos no PISA 2006 a matemática e leitura dos alunos que ambicionam ser professores (azul) e os restantes alunos (castanho), por país.» Repare-se como o desempenho dos alunos que pretendem vir a ser professores só é substancialmente diferente dos restantes em Portugal e é significativamente mais baixo do que os outros países e nomeadamente da Finlândia.
Outro indicador que confirma esta inferência são as notas médias de entrada no ensino superior em 2017 (ver o respectivo quadro no ensaio de Homem Cristo) que mostram a área Professores/ Ciências Educação com as notas mais baixas, a uma distância de quase 30 pontos em 200 das áreas de matemática, saúde e engenharia.
O que fazer? Muitas coisas diferentes e também começar a fazer como as seguradoras e esperar que as coisas melhorem gradualmente. Como sempre, é preciso pouco tempo para estragar e serão precisos muitos anos para recuperar.
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