30/04/2014

SERVIÇO PÚBLICO: Regresso ao passado

Como já aqui referi, por via das portarias de extensão, os contratos colectivos negociados pelos sindicatos que representam 10% dos trabalhadores têm influenciado 90% dos contratos de trabalho, em empresas e sectores sem condições para pagarem a bitola das maiores empresas e continuarem competitivas. Por esta via, a concertação social tem tido principalmente o papel de defender os «direitos adquiridos» das corporações empresariais e sindicais, aumentar o desemprego e assim manter o statu quo.

Desde Outubro de 2012, por pressão da troika, as portarias de extensões passaram a ter um alcance mais limitado só podendo aplicar-se à totalidade do sector se a associação patronal que assinou a convenção colectiva representar pelo menos metade desse sector.

Pois bem o governo acabou de apresentar aos parceiros sociais uma alteração quer, em termos práticos, coloca tudo como era no passado: as portarias de extensão terão lugar a associação patronal que assina a convenção colectiva tiver como associados pelo menos 30% de micro, pequenas e médias empresas. Devem contar-se pelos dedos de uma mão, ainda sobrando, as associações empresariais com menos de 30% dessas empresas.

Serão já os efeitos de uma «saída limpa» que pode acabar por sujar tudo?

Lost in translation (200) – Seguro não fala a mesma língua dos socialistas europeus que o deixam a falar sozinho

Se por cá António José Seguro, um líder a prazo acossado por socratistas e soaristas, não tem boas notícias, de França, a sua grande esperança, as notícias não são melhores. À croissance, seguiu-se a solidarité, a esta o redressement, e por fim o Programme de stabilité com 50 mil milhões de euros de cortes proposto por Manuel Valls foi ontem aprovado na assembleia nacional francesa pela maioria socialista, com a particularidade do voto contra da UMP, o maior partido do centro direita. Veja-se a infografia do Libération.


É uma espécie de Portugal ao invés, o que demonstra estar o emagrecimento do Estado pletórico (e o francês é ainda mais gordo do que o português) a ser imposto mais pela sua insustentabilidade do que por opções ideológicas ou programáticas. Se e quando Seguro, ou o seu sucessor ganharem as próximas eleições, o PS vai engolir toda a conversa fiada que anda a impingir aos ignaros e fará aproximadamente o mesmo que o governo PSD-CDS, provavelmente com piores resultados - por várias razões, desde a falta de convicção às concessões às clientelas internas, e ao previsível coro do protesto dos jarretas atacados de irremediável esquerdismo senil.

Como se fosse pouco, Seguro teve mais um desgosto ao ouvir Martin Schulz, candidato do Partido Socialista Europeu à presidência da Comissão Europeia, a dizer que o PS não deve fazer promessas que sabe não poder cumprir, como a mutualização do seguro de desemprego ou os eurobonds.

29/04/2014

Bons exemplos (78) - Uma receita para o Serviço Nacional de Saúde

Já sabemos que as reformas do Estado devem ter aqueles requisitos todos que permitem adiá-las para as calendas gregas. Que tal começar por uma coisa simples (?): alterar o estatuto do SNS e nomear um líder executivo para o gerir como uma organização eficaz e eficiente? Leia-se o artigo seguinte já com uns meses (o que não lhe retira actualidade porque dentro de 10 anos ainda andamos a remoer a coisa), onde Gonçalo Reis descreve a contratação de Simon Stevens para CEO do National Health Service.

«O Governo inglês, liderado por David Cameron, fez nas últimas semanas uma contratação exemplar: nomeou para a liderança executiva do National Health Service o arquitecto da política de saúde de Tony Blair, Simon Stevens, que trabalhava actualmente nos Estados Unidos. Vale a pena dissecar os ingredientes desta escolha tão ousada que a tornaria infelizmente improvável no nosso país. Descubra as diferenças. Em primeiro lugar, registe-se que um Governo de coligação entre Conservadores e Liberais vai buscar para um posto de enorme responsabilidade e visibilidade alguém que não é das suas fileiras políticas. Antes pelo contrário, aposta-se num homem dos Trabalhistas, agora na oposição.

Em segundo lugar, registe-se que este quadro, quando era conselheiro de Tony Blair, iniciou políticas inovadoras face à cartilha tradicional da esquerda, introduzindo a concorrência de operadores privados dentro do próprio sistema público, para forçar a redução dos tempos de espera. O pragmatismo reina sobre os dogmas ideológicos, ao longo de sucessivos Governos.

Em terceiro lugar, registe-se a existência do cargo de CEO do famosíssimo National Health Service. Tal significa que se atribui a um gestor, com nome e apelido, a responsabilidade máxima de assegurar uma administração eficaz de todo o sistema, coordenando o desempenho das várias unidades e actuando numa lógica de resultados, sob a orientação política que naturalmente cabe ao Ministro da Saúde.


De boas intenções está o inferno cheio (21) – Está a chegar o momento (outra vez) em que o não alinhamento é um alinhamento do lado errado

Excerto de uma entrevista da Foreign Policy (FP) a Vitali Klitschko (VK), um antigo campeão de boxe e actual líder da oposição ucraniana:

«FP: Have the sanctions so far been sufficient or do they need to be increased?

VK: If Russia continues we have to go a new level of financial and political sanctions.

FP: How can NATO help in this crisis?

VK: It is now abundantly clear that our decision to become a non-aligned state was a mistake...

FP: ... So you think Ukraine should join NATO?

VK: Russia has taken the decision for us. It has driven us into NATO.

FP: Will it be possible for Ukraine to join NATO?

VK: I don't want to talk about that because it's like waving a red flag under Russia's nose.

FP: Is joining the EU still possible?

VK: I am very pro-European and as I said before Russians enjoy Europe very much. Whenever I speak to Russians about the Ukraine-EU issue, I always say: "We are doing everything we can to bring Europe closer to you! It will make it easier for you to enjoy your European luxuries!"»

28/04/2014

ESTÓRIA E MORAL: O comunismo e as galinhas

Estória

Joaquim Chissano, sucessor de Samora Machel, ex-líder da Frelimo e ex-presidente de Moçambique, participou a semana passada na Fundação Gulbenkian na conferência «A Ditadura portuguesa – porque durou, porque acabou».


Para explicar a longevidade do antigo regime, Chissano referiu a «agitação do espantalho da ameaça comunista para garantir o apoio ocidental» e, a título de exemplo, contou que «os régulos eram convocados para lhes dizerem: 'Cuidado, vem aí o comunismo, vêm aí os russos. As vossas galinhas serão deles, as vossas mulheres serão deles, as vossas crianças serão deles'».

Moral

Com a verdade me enganas.

[Não deixa de ser significativo o facto de Chissano considerar como um «espantalho» a ameaça de um sistema responsável por muitos milhões de mortes, opressão mais abjecta, submissão e miséria do povo em todos os países onde foi imposto.]

SERVIÇO PÚBLICO: À atenção dos adeptos da reestruturação da dívida e dos defendem a saída da UE

Começo por esclarecer não considerar desprezível, como aqui esclareci há 2 anos, a probabilidade de ser indispensável um haircut (e não apenas um reescalonamento das maturidades ou uma redução dos juros, ambos, aliás, já conseguidos com a troika). Daí a ser adepto de um haircut vai a mesma distância que vai de aceitar o risco de morrer à decisão de suicídio.

Admiti também várias vezes, ainda antes da crise de 2008, por exemplo aqui, que a decisão de adoptarmos o euro foi obviamente errada e admito que a entrada e permanência na União teve, tem e terá alguns efeitos negativos e não é indiscutível. Daí a ser adepto hoje de uma saída do Euro e de uma saída da União vai a mesma distância que vai de iniciar uma dieta dolorosa e prolongada a ir ao magarefe e cortar postas de tecidos e gordura para perder peso.

Dito isto, vejamos sumariamente algumas consequências da reestruturação (meaning haircut) da dívida e da saída da UE, defendida por alguns.

Aos adeptos da reestruturação convém recordar que à parte da dívida da troika (72 mil milhões ou 35,2%) e do BCE - Securities Markets Programm (22,8 mil milhões ou 11,1%), que em conjunto representam 46,4%, um haircut é inaplicável, como já se viu com a Grécia. Dos restantes 109,5 mil milhões, 72,7 mil milhões, equivalentes a 2/3 da parte negociável, estão em mãos nacionais, FEFSS, bancos e particulares.

Fonte: Expresso (02-2014)
Daqui resulta que por cada mil milhões de euros que cortássemos à dívida 660 milhões sair-nos-iam dos nossos próprios bolsos.

Segundo o estudo «Economic Growth and European Integration: A Counterfactual Analysis» de Nauro Campos, Fabrizio Coricelli e Luigi Moretti (disponível aqui) citado e comentado pela Economist, o efeito estimado da adesão de Portugal à UE no PIB per capita ultrapassou 20% até 2008.

Fonte: Economist
A menos que os adeptos da saída da UE consigam o milagre de ter simultaneamente sol na eira e chuva no nabal, convém ter em conta as consequências do que defendem.

27/04/2014

PUBLIC SERVICE: «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making

«The banking sector has tended to become even more concentrated. Furthermore, the total assets of a number of big banks have continued to soar: institutions with assets of $2tn are commonplace. Such banks remain highly interconnected, though the extent of this might have diminished recently.

Reforms introduced after the crisis aimed at reducing the likelihood of state support seem to have increased the perceived riskiness of SIBs (systemically important banks), just as the imposition of lower leverage ratios reduced it. Both outcomes were desirable. Yet the implied subsidies remain large – as high as $312bn in the eurozone, on one approach. In terms of the funding cost advantage to SIBs the subsidies are at least 15 basis points in the US; 25-60 basis points in Japan; 20-60 basis points in the UK; and 60-90 basis points in the eurozone

‘Too big to fail’ is too big to ignore, Martin Wolf, Financial Times

«The implicit subsidies take the form of the benefits that accrue to banks and their investors because of the bailout assumption. If bankers know the government is likely to bail them out, they may take more risk. In addition, investors are willing to lend to such banks at lower cost because they see the likelihood of a bailout as a form of insurance. This creates an effective subsidy for the biggest banks that distorts competition and makes the financial system overall more risky.

According to IMF estimates, the largest, globally active banks alone benefit from implicit subsidies worth $15bn-$70bn in the US, $25bn-$110bn in Japan, $20bn-$110bn in the UK and $90bn-$300bn in the eurozone, depending on the method used to calculate them.»

Problem of banks seen as ‘too big to fail’ still unsolved, IMF warns, Robin Harding and Ralph Atkins, Financial Times

Será isto inerente ao sistema financeiro? Talvez sim ou talvez não. É certamente inerente à intervenção militante dos governos, resgatando indiscriminadamente bancos, anestesiando a percepção do risco com garantias elevadas de depósitos (até USD 250 mil nos EU e Eur 100 mil na maioria dos estados europeus) e injectando artificialmente liquidez com a impressora do Quantitative Easing, terapêuticas para debelar uma crise que criam as condições para gerar a próxima.

Um governo à deriva (15) – Se da redução da TSU talvez não resultassem benefícios, do aumento resultam certamente malefícios

Por muito que no (Im)pertinências se tenha colocado em dúvida a bondade da medida anunciada pelo governo de redução da TSU para melhorar a competitividade (ver a este respeito as séries «CASE STUDY: Efeitos da redução indiscriminada da TSU compensada por um aumento do IVA» e «Mitos - a redução indiscriminada da TSU é equivalente a uma desvalorização da moeda»), a medida simétrica agora aparentemente a ser avaliada pelo governo, segundo notícia do Expresso, de aumentar a TSU para substituir a CES parece completamente disparatada.

Se a redução da TSU de que se falou em 2011, compensada pelo aumento do IVA, duvidosamente aumentaria a competitividade, podemos estar certos que do aumento da TSU só poderá resultar redução da competitividade.

26/04/2014

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: MST teve outro surto de lucidez. Oxalá dure.

Já por aqui tenho zurzido bastas vezes Miguel Sousa Tavares pelos seus acessos de tudologia. E também, menos vezes, tenho louvado algumas ideias e opiniões num ou noutro dos seus escritos. Nenhuma vez, porém, que me recorde, me dispus, como agora, a assinar por baixo praticamente tudo o que escreveu no seu artigo «Peço desculpa…» no Expresso.

Sumo sacerdote dos bonzos do 25-04
Praticamente tudo, mas não tudo – por exemplo, não pediria desculpa e esperaria que, ao invés, a legião de bonzos que se apresentam como proprietários do 25 de Abril e se tomam por pais da pátria pedisse desculpa, a mim e aos muitos agoniados com tal abuso.

Apesar de demasiado extenso para os padrões de um blogue, vou reproduzi-lo na totalidade para eu próprio poder relê-lo para me compensar das costumeiras (e inevitáveis?) recaídas de MST na tudologia.

«1 Vou repetir que o 25 de Abril foi o dia mais feliz da minha vida. A tal ponto que nem sequer consigo entender o significado e a seriedade da pergunta "o 25 de Abril valeu a pena?". É como se me perguntassem se prefiro ser saudável ou doente. Mas percebo que a pergunta faz sentido para aqueles portugueses (e são bem mais do que se imagina) para quem a liberdade não é o principal valor da vida em sociedade.

Porém, e dito isto, estou a ficar cansado do discurso dos que se consideram donos do 25 de Abril. Da sua autoproclamada legitimidade e estatuto de excepção, da sua suficiência, do seu desprezo pelos factos, pelos números e pela realidade, da sua rejeição em tentar perceber que o mundo mudou e que há novos desafios, novos problemas e novas gerações para quem não basta ou nada significa remeter tudo para os "valores de Abril". Peço desculpa.

Mitos (167) – Se os bancários ganham muito, os seus reguladores ganham mais…

… nos States. (Fonte: «Guess Who Makes More Than Bankers: Their Regulators», Paul Kupiec no WSJ).

«The Bureau of Labor Statistics reports that the average annual salary of a bank employee was $49,540 in 2012, not much higher than the average annual across all occupations, $45,790.

Yet one group in banking stands out as highly paid—federal bank regulators. Before the Dodd-Frank Act, the average employee of a federal bank regulatory agency received 2.3 times the average compensation of a private banker. By 2013 this ratio increased to more than 2.7—and in some cases considerably more.

The average compensation at the Office of the Comptroller of the Currency (OCC), the Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC) and the Consumer Financial Protection Bureau (CFPB) exceeded $190,000 in 2012. The staff at the Federal Reserve is likely even better compensated, but the Fed refuses to release employee salaries.

You might think high-paying jobs at these agencies require special skills. Not so. At the OCC, secretaries make on average $79,182 per annum. Motor vehicle operators (the agency's limo drivers) at the FDIC earn $82,130. Human resources management trainees at the CFPB make $110,759 a year.

Averages tell only part of the story. In 2012, 68% of FDIC and CFPB staff—and 66% at the OCC—earned above $100,000 a year. Nearly 19% of the CFPB and OCC staff earn more than $180,000 a year. At the OCC, 10.5% of workers earn above $200,000 a year, at the FDIC 9.3%.

Fewer than 7% of employees in any of these regulatory agencies earned less than $50,000. In other words, 93% of the employees in these federal bank regulatory agencies earned more than the average banker's salary in 2012.»

Também por cá os salários dos reguladores são um múltiplo mais modesto dos salários dos regulados. O salário médio anual dos primeiros ronda os 42,3 mil euros (segundo o relatório do BdeP de 2012, as remunerações 1.682 empregados atingiram 71,1 milhões de euros), contra 27,1 mil dos empregados do sector «Actividades financeiras e de seguros» (dados de 2011 da Pordata), ou seja 1,6.

25/04/2014

Estado empreendedor (81) – A saga do «Atlântida» continua (actualização)

Recorde-se que o Governo Regional dos Açores, presidido pelo socialista Carlos César, encomendou o «Atlântida» e modificou o projecto para a seguir recusar aceitar o navio construído pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo por não cumprir os requisitos de velocidade em consequência dessa alteração.

Recorde-se igualmente que o governo socialista de José Sócrates anunciou por várias vezes a venda do navio ao amigo falecido coronel Chávez - uma dessas vezes em que a negócio foi dado como fechado o preço anunciado foi de 42,5 milhões.

E chegamos assim há dois meses atrás em que a empresa pública açoriana Atlanticoline, a quem se destinava o navio, requereu ao tribunal a venda imediata do navio, do qual é fiel depositário a empresa ENVC, por 20 milhões, metade do preço de construção, para se ver ressarcida dos adiantamentos que pagou. Com esta execução pela Atlanticoline estava ameaçado o concurso público internacional para venda do «Atlântida».

Estava mas já não está. Abertas as 3 propostas, a mais elevada foi de 13 milhões. E assim talvez termine a saga do «Atlântida», concluída como todas as sagas socialistas com um basto prejuízo: de um custo para os ENVC que ultrapassou os 40 milhões até 2009, talvez se recuperem, na melhor hipótese, 13 milhões.

O título mais estúpido do ano (até agora) para um texto que consegue superá-lo

«Solidariedade" da troika custa 124 milhões por mês só em juros» titula o ionline. Como se o título não fosse só por si bastante estúpido, quando se sabe que estamos a pagar no programa de assistência os juros mais baixos que alguma vez pagámos na nossa história, o que segue arrisca-se a ser um paradigma de incompetência e manipulação primária num estilo panfletário. Cito apenas alguns trechos arriscando o vómito dos leitores:

«Só em juros e comissões, crédito europeu ao governo PSD/CDS já custou 3,34 mil milhões de euros aos contribuintes. Entretanto, a dívida não pára de subir.» Como se os juros não resultassem das respectivas mais baixas de sempre. O plumitivo espanta-se com a subida da dívida não compreendendo que o défice de um ano é dívida do seguinte.

«… o preço a cobrar aos contribuintes portugueses pelo empréstimo solidário.» Onde terá a criatura aprendido a escrever tais besteiras?

«DIREITA CADA VEZ MAIS GORDA…» Aqui a criatura distraiu-se.

«Quanto ao défice, em Março explodiu: nos dois primeiros meses do ano o valor estava nos 38 milhões e agora, considerando todo o trimestre, o défice ascende a 825,5 milhões, valor que compara com os 1,358 mil milhões registado até Março de 2013 - isto pelo critério da troika.» O que explodiu foram as meninges do escrivão.

«Apesar da quebra de 3,7% nas despesas com pessoal nos primeiros três meses do ano, a Administração Central continua a aumentar o seu nível de despesa este ano: entre Janeiro e Março a despesa efectiva foi de 13,245 mil milhões, contra os 12,987 mil milhões de 2013. Para esta subida também contribuiu o aumento da factura passada aos contribuintes pelos juros da dívida pública». Fará a criatura uma ideia mínima sobre o que escreve?

Só tenho uma explicação: o jornalista publicou a peça às 5 horas e deve tê-la escrito sob o efeito de substâncias alucinogénias uma hora antes - ou seja às 4 da madrugada ouvindo o passarinho cantar.

24/04/2014

OFERTA aos infelizes premiados nos sorteios das facturas (2.ª VIA)

Agora que se sabe terem sido emitidas mais 18% ou 109 milhões de facturas nos dois primeiros meses do ano em relação ao passado, venho lembrar a minha oferta do dia 3 de Abril para ajudar um premiado com um Audi 6 a libertar-se das maçadas e chatices que o governo lhe quer impor.


Aproveito para pedir três esclarecimentos a quem possa fazer-me luz:
  1. Correspondendo estes 109 milhões de facturas a uma redução da evasão fiscal, o sorteio que putativamente lhes deu origem é positivo ou negativo para manter a flutuar o nosso querido Estado Social?
  2. Sendo voluntária a indicação do NIF, podem os casos em que contribuintes o informam ser considerados uma intrusão na vida privada das pessoas, tipo escutas da NSA?
  3. E as informações obtidas a partir de compras de mercearias, cafés et cetera podem ser consideradas mais privadas do que o estendal que muitos contribuintes fazem das suas vidinhas nas redes sociais?

Vivemos num estado policial? (6)

Numa louvável acção patriótica «Polícias vão avisar turistas nos aeroportos que políticas do Governo colocam em causa segurança do país», segundo o Público, ele próprio um produtor muito patriótico de notícias de causas.

O aviso parece dever-se à escassez de recursos policiais que é uma coisa que nem carece de demonstração uma vez que, segundo os números da UNODC, somos o terceiro estado mais policiado da Europa apenas ultrapassados por Malta e pela Irlanda do Norte, pudera! (ver os outros posts desta série).

Nas notícias de causas nunca houve uma sobre a iniciativa dos senhores agentes da PSP se terem proposto avisar a seu tempo os turistas que as políticas adoptadas durante duas décadas por vários governos (principalmente socialistas) colocariam em causa a própria soberania do país. O que, aliás se percebe, porque até então ainda nenhum desses governos se tinha lembrado de testar o patriotismo das forças de segurança cortando-lhes o subsídio de fardamento .

É uma iniciativa a todos os títulos demonstrativa do dinamismo dos senhores agentes da PSP que se propõem abandonar o conforto das suas esquadras, de onde até os mais atrevidos bandidos têm dificuldade em fazê-los sair, e mostrar os seus uniformes aos turistas estrangeiros que por cá dificilmente terão outra oportunidade de os ver, a menos que visitem as esquadras onde eles tomam conta das ocorrências.

Outros casos de polícia: (1), (2), (3), (4) e (5).

23/04/2014

Ressabiados do regime (10) – O caso notável do professor Freitas do Amaral (outra vez)

(Uma espécie de continuação daqui)

Depois deste post do Impertinente fiquei sem motivação para seviciar o professor doutor Freitas do Amaral, mas não resisto a citar uns excertos das sevícias perpetradas ao emérito por Camilo Lourenço no Negócio.

«Freitas chegou, ao fim de 40 anos de política (se descontarmos as ligações ao anterior regime), ao zénite da imbecilidade: participou num dos piores governos da Democracia, de onde saiu empurrado, e nos anos mais recentes vem-se desdobrando em intervenções a roçar a indigência.

Estranho destino este, o de um político que comandava o único partido que teve a coragem de votar contra a Constituição de 1976 (a falta que fazes, Amaro da Costa). Um político que defendeu a eleição do general Soares Carneiro, que pretendia convocar um referendo para mudar a Constituição (contra a própria CRP). Porque essa Constituição era socialista. O mesmo socialismo que Freitas defende agora.»

ESTÓRIA E MORAL: Já se têm ganho batalhas em guerra perdidas

Estória

«Portugal realizou, hoje, um leilão de dívida de longo prazo, através de um aumento da emissão já existente para Fevereiro de 2024. Torna se relevante referir que esta foi a primeira emissão de divida de longo prazo após o pedido de ajuda financeira, sem o apoio de um sindicato bancário.

O montante desta operação ascendeu a 750 milhões de euros, o valor máximo do intervalo inicialmente indicado pelo Instituto de Gestão do Crédito Público (IGCP), de 500 a 750 milhões de euros. A taxa de juro implícita situou se nos 3.575%, o valor mais baixo pago em emissões comparáveis desde 2005 (3.436%). De referir, ainda, que o último leilão de dívida de longo prazo não sindicado realizado pelo Estado português ocorreu em Janeiro de 2011, meses antes do pedido de ajuda externa, com a yield média da emissão a situar se nos 6.72%.

De referir que a procura por esta emissão superou a oferta de forma significativa, com o rácio bid to cover a situar se em 3.5 vezes.

Por último, torna se relevante referir que, no mercado secundário, as yields da dívida soberana portuguesa mantêm a tendência de redução, com a maturidade a 10 anos a transaccionar nos 3.64%, o valor mais baixo dos últimos oito anos (2006).»

(Fonte: newsletter do BPI)

Moral da estória

Não deitemos foguetes antes de tempo porque a procissão ainda vai no adro.

Declaração de interesse

Só quem denunciou as políticas suicidas de endividamento, não embarcou na ilusão dos governos socialistas de que as taxas baixas resultavam da saúde financeira do Estado, não inventou teorias da conspiração acerca das agências de rating, da dona Merkel, dos ianques and so on, como os contribuintes do (Im)pertinências, entre não muitos outros, tem legitimidade para referir-se ao acesso aos mercados desta maneira.

Quem andou anos a viver de mitologias e a inventar teorias da conspiração terá de:  1.º reconhecer a sua burrice e/ou falta da honestidade intelectual; 2.º bater com a cabeça na parede e pedir desculpa aos visados; 3.º estudar estas matérias e, só então, 4.º escrever sobre elas com a humildade que os ignorantes e/ou arrependidos devem demonstrar.

ESTÓRIA E MORAL: O arrependido (continuação)

Estória (mais um episódio)

Anunciando a tempestade socrática
Depois de ter lido estas declarações em mais um congresso de jarretas do cristão-democrata, rigorosamente centrista, social-democrata, socialista, visionário de tempestades socráticas, social-frentista Freitas do Amaral, pensei escrever sobre ele mais uma catilinária.

Mudei de ideias, não que ele não merecesse ser desancado, mas porque já o fiz tantas vezes nos posts do (Im)pertinências que uma mais não acrescenta verrina.

Vou, por isso, apenas continuar um post do fim de 2011, a propósito de mais um dos seus inúmeros flip-flops, acrescentando a minha inesgotável surpresa por uma criatura que conviveu sem problemas de consciências com o antigo regime na versão Marcello Caetano atormentar-se agora com o governo «mais à direita nos últimos 40 anos».

Moral (a mesma)

«O nosso arrependimento não é tanto um remorso pelo mal que fizemos, mas um receio das suas consequências». (La Rochefoucauld)

22/04/2014

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Le communisme est mort et le socialisme se meurt. Pour l'instant en France.

Alain Minc, economista desalinhado, antigo conselheiro de Sarkozy, sobre o fim do comunismo e o princípio do fim do socialismo em França, numa entrevista a L’Express:

«Les socialistes, pour la première fois, reconnaissent le monde tel qu'il existe. Avant, ils se comportaient d'une manière qui montrait qu'ils l'avaient compris, mais ils ne voulaient pas l'assumer idéologiquement. C'était la "parenthèse", même au moment où Pierre Bérégovoy menait une politique si intelligemment libérale.

C'était toujours la parenthèse lorsque Lionel Jospin nous inventait son : "Oui à l'économie de marché, non à la société de marché." Là, les choses sont dites. Au fond, Mitterrand nous avait débarrassés du communisme, Hollande nous débarrasse du socialisme. C'est, pour la France, un pas en avant gigantesque

[A partir de um post de Joaquim Couto]

ACREDITE SE QUISER: O mistério do voo 370 - a melhor explicação é muitas vezes a mais simples


Um simples fogo de origem eléctrica que inutiliza vários sistemas, a mudança súbita de rumo para um aeroporto alternativo e as prioridades dos pilotos profissionais - aviate, navigate, and lastly, communicate – podem explicar quase tudo, sem necessidade de teorias da conspiração.

A ler: «A Startlingly Simple Theory About the Missing Malaysia Airlines Jet» por Chris Goodfellow, um comandante experiente

21/04/2014

Dúvidas (38) – Terá o eleitorado um resíduo de bom senso?

Surpreendentemente, pelo menos para mim, segundo uma sondagem CM/Aximage, o PS ainda continuava com intenções de voto inferiores às do conjunto PSD-CDS (36,1% contra 37,6%). Surpreendentemente porque várias sondagens recentes mostravam o PS à frente.

Ainda mais surpreendente, à pergunta «em quem tem maior confiança para primeiro-ministro?» 38,4% responderam Passos e 35,5% Seguro.

Se as coisas continuarem assim para o Tozé, não tarda é comido por todos inimigos internos (Churchill dixit). A menos que nenhum dos challengers antecipe em 2015 uma vitória do PS suficiente para governar – nesse caso é bem possível que o deixem ficar a torrar.

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: Here we go again

Fonte: Bloomberg
Para encontrar uma yield das OT a 10 anos inferior à do fecho de sexta-feira (3,736%) é preciso recuar 8 anos. Porém, não é caso para embandeirar em arco por várias e sensatas razões.

Desde logo porque há 8 anos as yields baixas resultavam mais do contexto dos mercados do que da confiança que a nossa situação inspirasse aos investidores. Nessa altura, o crescimento da economia era já medíocre, apesar do endividamento externo galopante, e ainda mais se à taxa de crescimento deduzíssemos a taxa de crescimento da dívida externa, como aqui fez Mário Amorim Lopes no Insurgente.

Ora se as nossas yields caíram para metade desde Setembro do ano passado, nuns escassos 7 meses, isso não se deve às nossas modestas realizações, quase todas perfeitamente reversíveis a curto prazo, nem se deve às profundas reformas que não fizemos, mas deve-se à procura de aplicações rentáveis por parte dos investidores cuja percepção de risco os está a conduzir a desinvestir nos países emergentes que viveram os últimos anos à boleia do boom de matérias-primas agora em fase de esvaziamento.

Expresso
De onde, devemos estar conscientes que a nossa dependência atávica da conjuntura internacional, que nos proporcionou dinheiro fácil e barato durante mais de uma década e nos conduziu a um endividamento pletórico, tem virtualidades de nos deixar enterrados nele remoendo a ilusão de que «desta vez é diferente».

Há vários sinais dessa ilusão, quer no governo, quer nas famílias. O governo prepara-se para aumentar o salário mínimo e afrouxar as reformas, já de si frouxas. As famílias estão a voltar à euforia consumista do passado: a poupança e depósitos estão a encolher; a classe média está a voltar em massa aos ginásios para queimar as banhas; as vendas de automóveis no 1.º trimestre aumentaram mais de 40% face a 2013; as reservas nas agências de viagens cresceram significativamente esta Páscoa. E não é apenas um fenómeno pontual – é a continuação de uma tendência já revelada no 3.º trimestre do ano passado.

20/04/2014

Lost in translation (199) - A acusação mais injusta do PS desde a queda do fascismo

O Acção Socialista Expresso informa os seus militantes leitores que o «PS acusa Governo de querer criar um "Estado mínimo"». É totalmente mentira. O governo procura manter o Estado mais ou menos do tamanho com que o recebeu das mãos do PS.

DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.


Rubin (Hurricane) Carter, um grande pugilista, injustamente condenado por
 assassinato a quem um grande cantor e compositor dedicou uma inspirada canção

Um dia como os outros na vida do estado sucial (17) – É uma questão de perspectiva

O Esquerda.net Expresso usou o título «Profissionais de Santa Cruz impedidos de defender o próprio hospital» para publicar a indignação do cabeça de casal dirigente do BE em nome (eles estão sempre a falar em nome de alguém) dos «médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares, administrativos e todos os outros funcionários do Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, (que) estiveram impedidos de utilizar a rede interna para acederem a uma petição na Internet em defesa da unidade hospitalar», ou seja impedidos de aceder através da internet do seu empregador a uma petição para contestar uma decisão do accionista de fechar no hospital a cirurgia cardiotorácica e a cardiologia pediátrica.

Sem surpresa, a presidente do hospital, em vez de dizer algo como os «funcionários são pagos para prestaram serviço aos utentes e não para navegarem na internet», deu a desculpa esfarrapadas de «um problema técnico com consequente bloqueio temporário do acesso».

PUBLIC SERVICE: Keep it cool

Quase em simultâneo com publicação do relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), no princípio deste mês, cientistas agrupados no Nongovernmental International Panel on Climate Change (NIPCC) publicaram um outro relatório com conclusões em vários aspectos divergentes do primeiro.

Joe Bast, um dos cientistas do NIPCC sistematizou no seu blogue Somewhat Reasonable essas divergências:

IPCC: “Risk of death, injury, and disrupted livelihoods in low-lying coastal zones and small island developing states, due to sea-level rise, coastal flooding, and storm surges.”

NIPCC: “Flood frequency and severity in many areas of the world were higher historically during the Little Ice Age and other cool eras than during the twentieth century. Climate change ranks well below other contributors, such as dikes and levee construction, to increased flooding.”

IPCC: “Risk of food insecurity linked to warming, drought, and precipitation variability, particularly for poorer populations.”

NIPCC: “There is little or no risk of increasing food insecurity due to global warming or rising atmospheric CO2 levels. Farmers and others who depend on rural livelihoods for income are benefitting from rising agricultural productivity throughout the world, including in parts of Asia and Africa where the need for increased food supplies is most critical. Rising temperatures and atmospheric CO2 levels play a key role in the realization of such benefits.

IPCC: “Risk of severe harm for large urban populations due to inland flooding.”

NIPCC: “No changes in precipitation patterns, snow, monsoons, or river flows that might be considered harmful to human well-being or plants or wildlife have been observed that could be attributed to rising CO2 levels. What changes have been observed tend to be beneficial.”

IPCC: “Risk of loss of rural livelihoods and income due to insufficient access to drinking and irrigation water and reduced agricultural productivity, particularly for farmers and pastoralists with minimal capital in semi-arid regions.” NIPCC: “Higher atmospheric CO2 concentrations benefit plant growth-promoting microorganisms that help land plants overcome drought conditions, a potentially negative aspect of future climate change. Continued atmospheric CO2 enrichment should prove to be a huge benefit to plants by directly enhancing their growth rates and water use efficiencies.”

IPCC: “Systemic risks due to extreme [weather] events leading to breakdown of infrastructure networks and critical services.”

NIPCC: “There is no support for the model-based projection that precipitation in a warming world becomes more variable and intense. In fact, some observational data suggest just the opposite, and provide support for the proposition that precipitation responds more to cyclical variations in solar activity.”

IPCC: “Risk of loss of marine ecosystems and the services they provide for coastal livelihoods, especially for fishing communities in the tropics and the Arctic.”

NIPCC: “Rising temperatures and atmospheric CO2 levels do not pose a significant threat to aquatic life. Many aquatic species have shown considerable tolerance to temperatures and CO2 values predicted for the next few centuries, and many have demonstrated a likelihood of positive responses in empirical studies. Any projected adverse impacts of rising temperatures or declining seawater and freshwater pH levels (“acidification”) will be largely mitigated through phenotypic adaptation or evolution during the many decades to centuries it is expected to take for pH levels to fall.”

IPCC: “Risk of loss of terrestrial ecosystems and the services they provide for terrestrial livelihoods.”

NIPCC: “Terrestrial ecosystems have thrived throughout the world as a result of warming temperatures and rising levels of atmospheric CO2. Empirical data pertaining to numerous animal species, including amphibians, birds, butterflies, other insects, reptiles, and mammals, indicate global warming and its myriad ecological effects tend to foster the expansion and proliferation of animal habitats, ranges, and populations, or otherwise have no observable impacts one way or the other. Multiple lines of evidence indicate animal species are adapting, and in some cases evolving, to cope with climate change of the modern era.”

IPCC: “Risk of mortality, morbidity, and other harms during periods of extreme heat, particularly for vulnerable urban populations.”

NIPCC: “A modest warming of the planet will result in a net reduction of human mortality from temperature-related events. More lives are saved by global warming via the amelioration of cold-related deaths than those lost under excessive heat. Global warming will have a negligible influence on human morbidity and the spread of infectious diseases, a phenomenon observed in virtually all parts of the world.”

No que respeita aos conflitos de interesses, Joe Bast coloca as coisas nos seguintes termos:

«We know the authors of the IPCC’s reports have financial conflicts of interest, since the government bureaucracies that select them and the UN that oversees and edits the final reports stand to profit from public alarm over the possibility that global warming will be harmful. The authors of the NIPCC series have no such conflicts. The series is funded by three private family foundations without any financial interest in the outcome of the global warming debate. The publisher, The Heartland Institute, neither solicits nor receives any government or corporation funding for the Climate Change Reconsidered series. (It does receive some corporate funding for its other research and educational programs.)»

19/04/2014

Pro memoria (165) – A génese da espiral recessiva


A propósito das «Projeções para a economia portuguesa: 2014-2016» do BdeP resumidas no quadro acima, divulgadas 4.ª feira, pareceu-me oportuno revisitar as previsões da «espiral recessiva» que percorreram um caminho que descrevo a seguir por ordem cronológica.

«Portugal corre o risco de entrar numa espiral recessiva» postulou em Outubro de 2011, Manuela Ferreira Leite, várias vezes ministra em governos anteriores, que parece ter sido a criadora da versão doméstica desta espiral, fazendo o papel de precursora das análises da Mouse Square School of Economics.

«Todos os indicadores económicos e financeiros apontam para que Portugal esteja numa clara e indiscutível espiral recessiva», disse em Janeiro de 2012 Carlos Zorrinho, nessa altura líder parlamentar do PS.

«É a espiral recessiva, estúpido!», titulou num artigo publicado em Novembro de 2012, João Maynard Galamba da Mouse Square School of Economics, talvez o maior teórico nestas matérias.

«Temos urgentemente de pôr cobro a esta espiral recessiva, em que a redução drástica da procura leva ao encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego», prescreveu na mensagem de ano novo de 2013, Cavaco Silva, economista da escola do Maynard adoptando assim, com mais de um ano de atraso, o prognóstico da sua amiga MFL.

«Estamos mergulhados numa espiral recessiva», garantiu em Março de 2013 Eugénio Rosa, um especialista em economia soviética.

Passos Coelho colocou o país «nesta crise social e na espiral recessiva», disse em Abril de 2013 António José Seguro, o sucessor de José Sócrates que colocou o país na bancarrota.

«Urge uma inflexão das políticas do Governo porque mais políticas de austeridade agravam a espiral recessiva do país», advertiu em Maio de 2013 Carlos Silva secretário-geral da UGT.

«Portugal está numa espiral recessiva que leva à harmonização no retrocesso e só há uma forma de responder a isto, é vencer o medo, o que implica promover o colectivo e a coesão», vaticinou em Janeiro de 2014 Carvalho da Silva, ex-dirigente do PCP, ex-dirigente durante 35 anos da CGTP, putativo proto candidato a presidente da República e promotor do movimento 3D para as eleições europeias.

«Política de desastre nacional, que aumenta o desemprego, a exploração, as injustiças e desigualdades sociais, compromete a soberania e independência nacionais e mergulha o País numa perigosa espiral recessiva», escreveu-se no editorial do Avante em Fevereiro de 2014, com bastante atraso, que devemos relativizar porque ainda hoje, decorrido um quarto de século, os comunistas não se aperceberam do colapso da Pátria do Socialismo e continuam a prescrever a colectivização da economia que os seus homólogos em todo o mundo (excepto, por enquanto, da Coreia do Norte) já abandonaram.

Não é extraordinário que todos estes videntes, e ainda a legião que ficou por citar, tivessem antecipado uma espiral recessiva, que de facto poderia acontecer, e não tivessem antecipado a espiral progressiva da dívida pública e privada?

DIÁRIO DE BORDO: A terra vista do céu (25)

Islândia pela câmara do fotógrafo Emmanuel Coupe-Kalomiris (via Wired)

18/04/2014

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (19) – Os donos do «25 de Abril»

«Uma “revolução” (ou um pronunciamento militar) contra um regime político ilegítimo é, por definição, legítima. Mas dela não deriva uma legitimidade revolucionária. A legitimidade revolucionária não existe. Não passa de um poder de facto.

Desde o primeiro momento que os “capitães de Abril” não perceberam (ou mesmo rejeitaram) esta realidade. Quando saíram à rua, já traziam um “programa” para Portugal, feito não se sabe por quem e largamente copiado do programa do PCP. Não viram, ou viram bem de mais, que estavam assim a substituir a sua vontade à vontade do país. Por outras palavras, que estavam a criar uma nova ilegitimidade. Isto não os comoveu. Os putativos “valores” da “revolução” serviram para justificar qualquer espécie de arbítrio ou de violência.

Sob a tutela, e com a colaboração, do PC e da extrema-esquerda, o MFA descolonizou, nacionalizou, ajudou a ocupar a terra no Alentejo e no Ribatejo, “saneou”, onde o deixaram, personagens que não lhe pareciam, e às vezes não eram, de confiança, censurou a imprensa e a televisão, prendeu a torto e a direito, sem processo ou mandato, e acabou com uma campanha que se destinava a desprestigiar e a suprimir a Assembleia Constituinte. Em quase tudo, seguiu, letra a letra, o manual de Lenine. Quando, em 2014, as “luminárias” da política, do jornalismo e da cultura e até a dra. Assunção Esteves, a segunda figura do Estado, se esforçam por manifestar aos “capitães de Abril” o seu “carinho”, o seu “afecto” e a sua “gratidão”, esquecem que, entre os primeiros dias do Verão de 1974 e o “25 de Novembro” de 1975, não existiu em Portugal verdadeira liberdade; e que só oito anos mais tarde os portugueses conseguiram abolir a tutela militar do Conselho da Revolução.

O coronel Vasco Lourenço e os seus consócios querem agora falar na Assembleia da República, presumivelmente para defender aquilo a que chamam “ideais” de Abril, que, na sua douta opinião, o Governo anda por aí a trair. Sucede que o Governo foi eleito e que nenhum título assiste aos militares, que se consideram depositários de uma herança hoje desacreditada e morta, para expender no Parlamento as suas frustrações. Verdade que a fúria contra a “austeridade” vai tomando formas cada vez mais dúbias. Mas seria intolerável que a República se comprometesse com um gesto que afectaria gravemente a sua própria legitimidade.
»

«Legitimidades», VASCO PULIDO VALENTE no Público

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Obrigado papá!


- Bom dia, senhoras directoras e senhores directores

- Bom dia, senhor presidente, respondem (quase) todos os directores e directoras

(Pigarro na assistência)

- É com grande prazer que vos anuncio que o conselho de administração, reconhecendo o prestimoso desempenho do Dr. João, que está entre nós há 6 meses, decidiu nomeá-lo vice-presidente

(Pigarro na assistência, algumas palmas tímidas)

- Obrigado papá!

- Parabéns Dr. João, gritam (quase) todos.

(Palmas calorosas)

CASE STUDY: Correlation is not causation. However, nunca fiando…

«Scary 1929 market chart gains traction», Mark Hulbert, Market Watch

É certo que, se estabelecermos um paralelo entre a Grande Depressão de 1929 e a crise de 2008, hoje já não estaríamos em 1929 mas por voltas de 1934. Contudo, também é certo que a impressora do Quantitative Easing da Fed, há 5 anos a funcionar a todo o vapor, não funcionou na crise de 1929.

«The Light At The End Of The Quantitative Easing Tunnel», Jieming See, Seaking Alpha

17/04/2014

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: «Que se lixem as eleições?» Que se lixe a reforma do Estado!

«Se, do ponto de vista orçamental, a estratégia do Governo ainda não é conhecida, apenas o objectivo de redução do défice público para 2,5% em 2015, e se os cortes nos consumos intermédios não chegam para explicar o que vai suceder, começa a ser mais clara a estratégia política para um ciclo eleitoral que começou esta semana e que Passos, já o disse nas entrelinhas, quer ganhar com as legislativas.

(...)

Vamos por partes: a reforma do Estado terá de passar, necessariamente, por um novo modelo de financiamento de pensões e pela tabela salarial na Função Pública, iniciativas políticas que deverão ser conhecidas, em pormenor, já no final deste mês, com o Documento de Estratégia Orçamental (DEO). Não há reforma sem mudanças nestas duas áreas, o resto é ilusionismo orçamental ou, na melhor das hipóteses, uma repressão da despesa ou cortes temporários. Passos Coelho já garantiu que as alterações às pensões e salários vão aparecer, para substituir os cortes que estão agora em vigor. Com modulações.

É precisamente este pormenor que permite perceber a estratégia política do Governo. Não é possível ganhar eleições contra o ‘partido do Estado', contra dois milhões de pensionistas, contra meio milhão de funcionários públicos, contra as respectivas famílias, e todos votam. Por isso, será aqui, na reforma da Segurança Social e na nova tabela salarial que Passos vai usar a margem de manobra, limitada, que tiver em 2015. Para recuperar parte destes votos, os que o levaram ao poder em 2011. A entrevista desta semana tinha esse objectivo, não foi bem conseguido, mas tinha claramente a intenção de falar para pensionistas e funcionários públicos, para lhes dizer que a vida vai melhorar a partir de 2015. Será um factor de pressão sobre a reforma do Estado, uma limitação, mas, para alguns, pelo menos, quando o primeiro-ministro sublinhou a enorme progressividade das medidas de corte e de aumento de impostos que estão em vigor, o crescimento económico vai ter consequências práticas.»

António Costa no Económico

O que é aceitável se esperarmos que Passos Coelho actue como (mais um) líder de um partido que procura o interesse dos seus militantes, é inaceitável se esperarmos que Passos Coelho actue como um estadista prosseguindo o interesse do país.

ARTIGO DEFUNTO: A arte de bem titular (5)

«Passos escutado dez vezes a falar com Ricciardi no processo Monte Branco» foi o título fabricado pelo Expresso para uma notícia onde informa que «as escutas estão relacionadas com alegados crimes de tráfico de influências, corrupção e informação privilegiada no caso das privatizações da REN e da EDP. Passos Coelho não era o alvo das escutas, nem é suspeito de qualquer crime e o que o Ministério Público investiga é uma alegada tentativa de pressão do banqueiro sobre o primeiro-ministro.»


A notícia em si podia ter vários títulos adequados ao conteúdo, como, por exemplo, Ricciardi escutado dez vezes a falar com Passos no processo Monte Branco, mas não seriam eficazes a titilar as meninges dos leitores.

SERVIÇO PÚBLICO: A concertação social é desconcertante (2)

Como a querer confirmar a tese, que subscrevi aqui, de José Ferreira Machado de as associações empresariais cujos associados pagam acima ou muito acima do salário mínimo defenderem o seu aumento com um propósito que só pode ser o de criar uma barreira artificial à entrada de concorrentes sem capacidade para pagar salários mais elevados, o Barómetro Kaizen/RH Magazine apurou que quase 90% dos directores de recursos humanos de 76 grandes empresas ou instituições concordaram com uma subida do salário mínimo para mais de 500 euros.

Faça-se o mesmo estudo nas micro empresas e nas PME (que não têm directores de RH) e vejam-se as conclusões.

16/04/2014

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (83) – Agora é oficial. Se ele o diz, podeis crer.

«O governo apresentou um acto de ilusionismo orçamental». Duvidais? Podeis crer. Quem assim o diz é uma das maiores autoridades em ilusionismo orçamental: o professor doutor Teixeira dos Santos. O mesmo professor doutor principal ajudante de José Sócrates no caminho para a insolvência, a quem, em particular, foi creditada a maior derrapagem orçamental a norte do paralelo 35º desde dona Maria II: o défice de 2009 que foi passando sucessivamente de 2,2% até chegar a 10,0%.

Pro memoria (164) – O passado reconstruído à medida do presente

Qualquer pessoa que tenha atingido a idade adulta por alturas do PREC lembrar-se-á que a facção militar de inspiração comunista-esquerdista, dominante a partir do golpe falhado de 11 de Março de 1975, fez tudo o que pôde para se agarrar ao poder com procuração do PCP e dos grupelhos esquerdistas. Essa facção teve que ser varrida por outra facção mais moderada de inspiração socialista e social-democrata (na altura considerada direita) no golpe de 25 de Novembro.

Por seu turno, a facção militar moderada agarrou-se igualmente ao poder instalando-se no Conselho da Revolução para tutelar a classe política, o que fez até à extinção desse órgão com a revisão constitucional de 1982. Apesar ser bastante óbvia a necessidade de tutela por parte dos tutelados, como se viu mais tarde com 3 intervenções do FMI, os tutores em causa não eram certamente os mais indicados. Finalmente, com grande desgosto por parte de muitos dos seus cabecilhas, os  militares conformaram-se com o regresso aos quartéis, não sem alguns episódios próprios de uma república das bananas como o do general Eanes, à época presidente da República, que fabricou, ou deixou fabricar em seu nome, um partido – o celebrado PRD que partindo com mais de um milhão de votos nas eleições de 1985 se desintegrou nas eleições de 1991 com 35 mil.

Houve dois líderes políticos determinantes no desmantelamento do PREC que empurraram os militares para fora dos centros de decisão política: Francisco Sá Carneiro, até à sua morte no final de 1980, e, principalmente, Mário Soares, a quem devemos uma parte significativa de não sermos hoje uma espécie de Venezuela na Europa do Sul e, em particular, não termos no lugar do coronel Chávez o general Eanes, por quem Mário Soares nutria um mal disfarçado ódio de estimação.

Passados trinta anos, seja por um processo de radicalização caracterizável como esquerdismo senil, seja por outra razão qualquer, o Dr. Soares reconstruiu essa parte da história recente portuguesa e hoje (ou melhor na 2.ª feira, na romagem de saudade dos jarretas na Gulbenkian) tece laudas aos «militares de Abril»: «quem fez o 25 de Abril foram exclusivamente os militares» (é verdade, se reduzirmos o «25 de Abril» ao golpe militar dos oficiais subalternos com fins corporativos relacionados com a promoção a capitão dos milicianos que iam dar o couro na guerra colonial); «não foram os civis, nem os partidos políticos»; revelaram «uma enorme tolerância» (se esquecermos os episódios grotescos do general Otelo e do COPCON que pretendia engavetar e fuzilar os reaccionários no Campo Pequeno); «não quiseram o poder político, pelo contrário, abriram a porta aos partidos políticos. Revelaram um desinteresse extraordinário» (na verdade, revelaram um grande apego ao poder ainda hoje visível quando se consideram uma espécie de pais da pátria) e last but not least, surpreendentemente classificou Eanes com «um excelente Presidente da República».

Ao tentar reconstruir o passado, estará o Dr. Soares a tentar a aplicar a segunda parte do postulado de George Orwell («quem domina o presente domina o passado»), na esperança de tirar proveito da primeira («quem domina o passado domina o futuro»)?

15/04/2014

Mitos (166) – O contrário do dogma do aquecimento global (IV)

Continuação de (I), (II) e (III)

LEMA: O contrário do dogma do aquecimento global não é o dogma do não aquecimento global. É a dúvida sistemática sobre a evolução do clima e dos factores que a condicionam.

Uma vez mais se confirma o lema com o último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) se, como escreveu a Economist, «the final version appears to have been fought over paragraph and comma between those who want to describe dispassionately what they think is happening and those who want to scare the world into taking action.»

ARTIGO DEFUNTO: Se queremos alinhar o salário mínimo com a Óropa devemos diminui-lo

O governo com a sua pequena jogada promocional colocou na ordem do dia a questão do salário mínimo e não foi preciso mais para se levantar um enorme clamor comparando o actual com o de 1974, tentando demonstrar que as «conquistas de Abril» estariam a ser atacadas pelo governo «neoliberal» ou comparando-o com os salários mínimos na Óropa.

Quanto à primeira comparação, o Pertinente já aqui mostrou fazer mais sentido comparar os salários actuais com os dos períodos anteriores de intervenção do FMI, e constatar que o salário mínimo actual é mais alto, em termos reais.

Quanto à segunda comparação, se o jornalismo de causas não fosse, mais uma vez, tão incompetente, não faria tais comparações. Ao fazê-las, sem se dar conta, está a fundamentar uma redução do salário mínimo. Exemplo: quando o Expresso publica este diagrama mostrando que o salário mínimo português era de 86,1% da média europeia e desceu para 83,2% em 2009, arrisca a que alguém publique um diagrama comparando a produtividade portuguesa com a média europeia, como o abaixo.

Fonte: Labour productivity per hour worked (Eurostat)
Ao fazer esta outra comparação, constataria que a produtividade portuguesa já era baixa e ainda diminuiu nos últimos anos, representando em 2012 apenas 52,6% da produtividade média europeia. Dito de outro modo, se queremos alinhar pela Europa devemos reduzir o salário mínimo para 296 euros = (52,6% x 485) : 83,2%.

14/04/2014

Mitos (165) - a pesada herança da longa noite fascista (X)

No lugar do jornalismo de causas e das figuras de cera do regime, pensaria duas ou mais vezes em aproveitar as festividades das comemorações dos 40 anos da queda do Estado Novo para colocar em confronto as suas realizações com as do Estado a Caminho do Socialismo, entretanto reconvertido em Estado Social. Ambos duraram praticamente o mesmo tempo, descontando a diferente duração dos respectivos PRECs com a tropa em destaque em ambos: o PREC fassista durou de 7 anos de 1926 a 1933 e o PREC socialista durou 19 meses.

Em particular, o jornalismo de causas e as figuras de cera do regime não deveriam promover sondagens ao povo ignaro, como estas:

Sondagem i/Pitagórica publicada no ionline

Já agora, não se lembrem de perguntar se a populaça acha mais confiável o general Gomes da Costa ou o general Costa Gomes. Ou se acha mais mentiroso o professor António Oliveira Salazar ou o engenheiro José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: «The women who created the technology industry» (6)

Emmy Noether, matemática judia alemã

Noether, considerada por Einstein a matemática mais criativa de sempre, foi afastada da universidade em 1933 pelo nacional-socialismo. Demonstrou em 1915 o teorema de Noether que relaciona as leis da simetria com as leis da conservação da energia.

 [De uma série de Lyndsey Gilpin no TechRepublic no Women's History Month]

13/04/2014

Mitos (164) - a pesada herança da longa noite fascista (IX)

[Mais heranças: I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII]

Agora que o governo achou que poderia aplacar os sindicatos e tirar o tapete à oposição aumentando o salário mínimo, com os inevitáveis danos colaterais (dificultar a viabilidade de dezenas de milhar de pequenas empresas, proteger da concorrência as empresas que pagam salários mais elevados e não aumentar o emprego, para já não falar da possibilidade real de aumentar o desemprego), o jornalismo de causas tirou da gaveta um novo mote, adequado a época festiva e escreveu em coro: «o salário mínimo vale hoje menos do que em 1974».

Sem se dar conta, o novo situacionismo de hoje está a homenagear o situacionismo do «antigo regime» cujas reservas em ouro e em divisas tornaram possível durante muitos meses continuar a importar os bens essenciais para compensar o que as empresas fechadas ou paralisadas com greves e a população activa inactiva nas manifs não produzia durante o PREC e ainda assim fixar um salário mínimo em 577 euros, a preços actuais.

É uma comparação simpática para o «antigo regime». Simpática mas inadequada porque a comparação objectivamente mais adequada seria a do período de intervenção da troika a partir de Junho de 2011 com os dois períodos anteriores de intervenção do FMI, nos quais os salários mínimos desceram para 419 euros em 1977 e 346 euros em 1984, a preços actuais, valores abaixo 14% e 29%, respectivamente, do salário actual de 485 euros.

Em conclusão, pelo menos do ponto de vista do salário mínimo, os resultados da governação comunista sobre a herança de 40 anos do antigo regime conseguem, apesar de tudo, ser mais danosos do que os resultados de 40 anos de governação de inspiração socialista sobre a herança da governação comunista.

Mitos (163) – No socialismo não há despedimentos

É geralmente verdade. Há subemprego, prateleiras vazias e prisões cheias. A não ser quando a clique dirigente percebe que a situação é insustentável - as prateleiras continuam vazias e as prisões cheias - e despede de uma só vez 100 mil funcionários do ministério da Saúde, como agora em Cuba.

12/04/2014

CASE STUDY: Uma correlação cromática - implantação local da esquerda e parkinsonismo autárquico

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Na infografia da esquerda (fonte: Expresso) estão representados os resultados das eleições autárquicas de 2013 - as cores identificam cada partido. Na infografia da direita (fonte: Negócios) representa-se o rácio do número de funcionários camarários por 1.000 habitantes em 2010 – as cores representam o rácio por ordem crescente: verde, amarelo, rosa e vermelho.

Compare-se primeiro o vermelho nos dois mapas: no da esquerda representando os concelhos ganhos pelo PC e filiais, no da direita os concelhos com aparelhos camarários mais pesados, a maioria com vermelhos, seguida de amarelos-torrados.

Compare-se de seguida o rosa no mapa da esquerda representado o PS, com o amarelo-torrado no mapa da direita. A correspondência não é tão perfeita mas encontramos uma clara maioria de amarelos e amarelos-torrados e até vermelhos.

Se tivéssemos uma coligação PS-PC, essa coligação reinaria em quase todos os concelhos que sofrem de parkinsonismo autárquico. Refiro-me ao parkinsonismo de Cyril Northcote Parkinson, jornalista da Economist que descreveu um fenómeno organizacional conhecido como Lei de Parkinson, e não à doença de Parkinson, pela primeira vez descrita pelo médico James Parkinson - têm de comum serem ambos processos degenerativos.

11/04/2014

SERVIÇO PÚBLICO: O milagre do défice tarifário faz toda a gente feliz? (7)

É preciso reconhecer que se não fossem os ódios de estimação do Eng. Mira Amaral o desastre das políticas energéticas do Eng. José Sócrates seria ainda menos conhecido do que é. Fui repescar, uma vez mais, um dos seus artigos vitriólicos de onde respigo alguns trechos esclarecedores para a compreensão da formação dos preços da electricidade e da génese do infame défice tarifário que segundo algumas estimativas poderá atingir 8 mil milhões em 2020 ou 1.400 euros em média por alojamento.

«Sempre que escrevo sobre energia, o lóbi eólico, a EDP e ajudantes multiplicam-se imediatamente em artigos e entrevistas! Agora disseram que o preço das eólicas era €70/Mwh, mas a ERSE diz-nos que era em 2013 de €102/Mwh! Também escamoteiam sempre a intermitência do vento que leva a que as novas centrais tenham que ter sempre duas muletas, a bombagem de noite e as térmicas de reserva de dia. Obviamente que tais muletas têm de ser imputadas às eólicas e por isso temos que somar ao seu preço nominal os €62/Mwh calculados no IST pelo prof. Clemente Nunes e chegamos aos €164/Mwh!

As novas barragens não vão produzir energia, vão apenas servir de muleta às eólicas para acumular o excesso de produção da noite! E a CIP veio agora chamar a atenção para os investimentos de 150 milhões de euros, pagos por nós, que têm que ser feitos na rede de transporte para a ligação de tais barragens à rede! Segundo a ERSE, em 2013, Portugal consumiu a mesma eletricidade que em 2006, enquanto que nesse ano os famosos Custos de Interesse Económico Geral (CIEG) eram apenas de 500 milhões de euros e em 2013 foram de 2500 milhões de euros! Eis o monstro elétrico em todo o seu esplendor! Contra factos não há argumentos!

Também recentemente Mexia, para desviar as atenções sobre o alto preço da eletricidade, veio dizer que o mais importante não é o preço mas sim a segurança de abastecimento, problema que não se põe em Portugal pois temos excesso de capacidade instalada e temos excelentes interligações com Espanha. Portugal é o campeão mundial da potência eólica instalada por unidade do PIB e o terceiro em termos de eólica por habitante!»

«As eólicas e a biomassa», Luís Mira Amaral no Expresso

Para uma revisão da matéria dada ver etiqueta «défice tarifário».

10/04/2014

BREIQUINGUE NIUZ: Here we go, again

Resumindo e baralhando, segundo as últimas «Estatísticas do Comércio Internacional» publicadas ontem pelo INE:

«As exportações de bens aumentaram 5,4% e as importações de bens 7,0% no trimestre terminado em fevereiro de 2014, face ao período homólogo (+5,9% e +6,1% respetivamente no período de novembro de 2013 a janeiro de 2014). O défice da balança comercial aumentou 333,3 milhões de euros e a taxa de cobertura diminuiu 1,2 pontos percentuais para 80,7%. Em fevereiro de 2014 as exportações de bens aumentaram 4,7% e as importações de bens 5,0% face ao mês homólogo (respetivamente +2,4% e +10,1% em janeiro de 2014)

BREIQUINGUE NIUZ: «Pastelaria Mexicana monumento de interesse público»

Diferentemente dos intelectuais, da gente da Cóltura e dos diletantes em geral, tenho muita dificuldade em ver o «valor estético, técnico e material intrínseco, … conceção arquitetónica e urbanística, … extensão (e o que reflecte do) ponto de vista da memória colectiva» (DN). Talvez porque, como George Orwell terá dito, há ideias e opiniões tão obviamente idiotas que é preciso ser-se um intelectual para se acreditar nelas.

Monumento de interesse público
Aposto singelo contra dobrado que esta promoção da Mexicana se deve a um lóbi de pedantes locais da terceira idade encalhados nos anos 60.

BREIQUINGUE NIUZ: Tugas da bola no top 3 (outra vez)


É oportuno lembrar aos intelectuais, à gente da Cóltura e aos diletantes em geral, sempre agoniados com o futebol, que não é nas humanidades, seja nas letras ou nas artes, nem é nas ciências, duras ou moles, nem em particular na investigação, que os nossos profissionais se encontram entre os melhores do mundo. É no chuto.

Mitos (162) – as teorias da conspiração sobre as agências de rating (XII)

Lembram-se da legião dos detractores das agências de rating rasgando as vestes de indignação? Que não senhor, não havia risco de default, que sim senhor, era uma conspiração – afinal eram quase todas americanas e o preclaro doutor Marcelo teve uma epifania e, qual catavento soprado por brisas visionárias, declarou urbi et orbi que era uma «estratégia americana contra o Euro e contra a Europa, em que as agências de 'rating' têm um papel muito importante».

Pois bem, parte dessa legião encontra-se entre os signatários do manifesto de reestruturação da dívida cuja premissa subjacente é a inevitabilidade do default se não houver uma combinação de haircut, reescalonamento das maturidades e perdão de juros. Outra parte da legião não assinou porque não teve tempo ou não lhe pediram. Um resíduo da legião se mudou de posição não foi, provavelmente, por genuinamente ter mudado de opinião mas por fenómenos meteorológicos.

Se esta gente tivesse um resquício de coerência assinaria um manifesto a pedir desculpa às agências de rating.

Mais do mesmo no (Im)pertinências: clique aqui.

09/04/2014

Pro memoria (163) – O défice estrutural de memória das luminárias nacionais (ADITAMENTO)

A propósito do manifesto da reestruturação da dívida, escrevi neste post «lembrar-se-ão esses «notáveis» que a banca portuguesa detém uns 40 mil milhões de euros da dívida pública, aos quais será necessário somar talvez mais de uma dezena de milhar de milhões detida por seguradoras…»

Pois bem, agora que acabou de ser publicado pelo ISP, a autoridade de regulação dos seguros, o relatório de «Análise de Riscos do Setor Segurador e dos Fundos de Pensões» ficámos a saber que o meu palpite estava bastante próximo da realidade visto que, cito:

«No final do exercício de 2013, o investimento total do setor segurador e dos fundos de pensões em dívida pública nacional ascendia a 10,7 mil milhões de euros, representando 18,9% do total dos ativos afetos das empresas de seguros, enquanto nas carteiras dos fundos de pensões o peso dessa exposição se situava em 8,0%.»

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: «The women who created the technology industry» (5)

Jean Bartik (à direita) e Kay McNulty Mauchly Antonelli participaram
no desenho e na programação do computador ENIAC
[De uma série de Lyndsey Gilpin no TechRepublic no Women's History Month]

08/04/2014

Mitos (161) – O enterro discreto da mutualização da dívida pública

Em Julho do ano passado a Comissão Europeia criou um grupo de peritos (que incluiu Vítor Bento e um único alemão, esta discreta economista, beldade de quem o Impertinente parece ser admirador) para estudar e apresentar um relatório sobre fundo de mutualização da dívida e as eurobills. O relatório concluído a semana passada teve a seguinte conclusão global:

«Both a DRF/P (Debt Redemption Fund and Pact) and eurobills would have merits in stabilising government debt markets, supporting monetary policy transmission, promoting financial stability and integration, although in different ways and with different long term implications. These merits are coupled with economic, financial and moral hazard risks, and the trade-offs depend on various design options. Given the very limited experience with the EU’s reformed economic governance, it may be considered prudent to first collect evidence on the efficiency of that governance before any decisions on schemes of joint issuance are taken. Without EU Treaty amendments, joint issuance schemes could be established only in a pro rata form, and - at least for the DRF/P - only through a purely intergovernmental construction raising democratic accountability issues. Treaty amendments would be necessary to arrive at joint issuance schemes including joint and several liability, certain forms of protection against moral hazard and appropriate attention to democratic legitimacy.»

[Expert Group on Debt Redemption Fund and Eurobills - Final Report submitted on 31 March 2014 – Conclusions]


Para quem tenha dúvidas na interpretação do texto em europês, recomenda-se a tradução para língua franca feita pelo Eurozone Blog EVRO INTELLIGENCE, especialistas na hermenêutica bruxelense:

«An expert group that raises lots of concerns and does not come to any conclusion is by far the most effective way to bury an issue. We conclude that the experts have done the job for which they were appointed