28/04/2014

SERVIÇO PÚBLICO: À atenção dos adeptos da reestruturação da dívida e dos defendem a saída da UE

Começo por esclarecer não considerar desprezível, como aqui esclareci há 2 anos, a probabilidade de ser indispensável um haircut (e não apenas um reescalonamento das maturidades ou uma redução dos juros, ambos, aliás, já conseguidos com a troika). Daí a ser adepto de um haircut vai a mesma distância que vai de aceitar o risco de morrer à decisão de suicídio.

Admiti também várias vezes, ainda antes da crise de 2008, por exemplo aqui, que a decisão de adoptarmos o euro foi obviamente errada e admito que a entrada e permanência na União teve, tem e terá alguns efeitos negativos e não é indiscutível. Daí a ser adepto hoje de uma saída do Euro e de uma saída da União vai a mesma distância que vai de iniciar uma dieta dolorosa e prolongada a ir ao magarefe e cortar postas de tecidos e gordura para perder peso.

Dito isto, vejamos sumariamente algumas consequências da reestruturação (meaning haircut) da dívida e da saída da UE, defendida por alguns.

Aos adeptos da reestruturação convém recordar que à parte da dívida da troika (72 mil milhões ou 35,2%) e do BCE - Securities Markets Programm (22,8 mil milhões ou 11,1%), que em conjunto representam 46,4%, um haircut é inaplicável, como já se viu com a Grécia. Dos restantes 109,5 mil milhões, 72,7 mil milhões, equivalentes a 2/3 da parte negociável, estão em mãos nacionais, FEFSS, bancos e particulares.

Fonte: Expresso (02-2014)
Daqui resulta que por cada mil milhões de euros que cortássemos à dívida 660 milhões sair-nos-iam dos nossos próprios bolsos.

Segundo o estudo «Economic Growth and European Integration: A Counterfactual Analysis» de Nauro Campos, Fabrizio Coricelli e Luigi Moretti (disponível aqui) citado e comentado pela Economist, o efeito estimado da adesão de Portugal à UE no PIB per capita ultrapassou 20% até 2008.

Fonte: Economist
A menos que os adeptos da saída da UE consigam o milagre de ter simultaneamente sol na eira e chuva no nabal, convém ter em conta as consequências do que defendem.

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