«Se, do ponto de vista orçamental, a estratégia do Governo ainda não é conhecida, apenas o objectivo de redução do défice público para 2,5% em 2015, e se os cortes nos consumos intermédios não chegam para explicar o que vai suceder, começa a ser mais clara a estratégia política para um ciclo eleitoral que começou esta semana e que Passos, já o disse nas entrelinhas, quer ganhar com as legislativas.
(...)
Vamos por partes: a reforma do Estado terá de passar, necessariamente, por um novo modelo de financiamento de pensões e pela tabela salarial na Função Pública, iniciativas políticas que deverão ser conhecidas, em pormenor, já no final deste mês, com o Documento de Estratégia Orçamental (DEO). Não há reforma sem mudanças nestas duas áreas, o resto é ilusionismo orçamental ou, na melhor das hipóteses, uma repressão da despesa ou cortes temporários. Passos Coelho já garantiu que as alterações às pensões e salários vão aparecer, para substituir os cortes que estão agora em vigor. Com modulações.
É precisamente este pormenor que permite perceber a estratégia política do Governo. Não é possível ganhar eleições contra o ‘partido do Estado', contra dois milhões de pensionistas, contra meio milhão de funcionários públicos, contra as respectivas famílias, e todos votam. Por isso, será aqui, na reforma da Segurança Social e na nova tabela salarial que Passos vai usar a margem de manobra, limitada, que tiver em 2015. Para recuperar parte destes votos, os que o levaram ao poder em 2011. A entrevista desta semana tinha esse objectivo, não foi bem conseguido, mas tinha claramente a intenção de falar para pensionistas e funcionários públicos, para lhes dizer que a vida vai melhorar a partir de 2015. Será um factor de pressão sobre a reforma do Estado, uma limitação, mas, para alguns, pelo menos, quando o primeiro-ministro sublinhou a enorme progressividade das medidas de corte e de aumento de impostos que estão em vigor, o crescimento económico vai ter consequências práticas.»
António Costa no Económico
O que é aceitável se esperarmos que Passos Coelho actue como (mais um) líder de um partido que procura o interesse dos seus militantes, é inaceitável se esperarmos que Passos Coelho actue como um estadista prosseguindo o interesse do país.
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